Fanfic:  Uma Babá em Minha Vida - AyA | Tema: AyA Ponny CEO Romance Hot

Ficar aqui com Anahí estava sendo um desafio. Eu apenas ia trabalhar duas vezes na semana em meu consultório, odiava deixa-la sozinha. Na primeira semana fiquei preocupado que ela cometesse uma loucura, mas graças a Deus ela ficou bem. Quer dizer, bem não é exatamente a definição do que ela se encontra agora. Se me permite dizer, ela está literalmente, no fundo do poço. Eu queria poder jogar uma escada, uma corda ou apenas estender a minha mão e puxá-la de lá. 

O problema da maioria dessas pessoas é que quando elas não querem ser ajudadas, não importa o esforço que você faça. Elas irão continuar lá. Definhando. Sozinhas.

De qualquer forma, eu não a conheço tão bem assim. O nosso quase beijo no parque, foi o auge do meu mês, confesso. Sei que ela ama o tal bilionário, mas um homem pode sonhar, afinal. Sabe quando você vê a mesma pessoa, todos os dias, mas não consegue notar as mudanças sutis dela, porque está com ela sempre? Mas aí quando você deixa de ver essa mesma pessoa durante alguns meses ou anos, mas quando se encontram consegue ver se ele engordou ou se o cabelo está diferente ou até mesmo outras mudanças? 

Esse foi o meu erro com Anahí. Eu não vi suas mudanças.

Todos os dias, ela levantava, brincava com o café da manhã e passava o dia todo sentada na varanda observando o mar. Com chuva ou com sol, lá estava ela, na cadeira de balanço, vestindo um dos moletons que eu fiz questão de comprar no Walmart só porque ela ameaçou usar a mesma roupa todos os dias. Nas duas primeiras semanas, ela só sabia chorar e eu entendi que seu apetite havia diminuído pela tristeza, isso é comum em várias pessoas. Sua febre havia cedido a muito custo, creio que ela me esconderia se voltasse, só para não me preocupar.

Mas como eu comentei antes, esse é o problema quando nós convivemos com uma pessoa diariamente: nós não conseguimos notar as mudanças.

- Você quer dar uma volta no centro comigo? – Perguntei, pela milésima vez. Estava escorado na porta da varanda e ela me olhou, com um sorriso forçado. Ela segurou o celular descartável com força, como se tivesse alguma resposta ali e que ela não pudesse deixa-la escapar. Franzi o cenho.

- Obrigada, eu passo dessa vez. – Ela voltou a olhar o horizonte, totalmente perdida. Eu suspirei.

- Você tem passado todas as vezes, Any. Precisa sair um pouco dessa casa, isso não faz bem pra você. – Falei, gentilmente. Ela colocou uma mexa do cabelo atrás da orelha, toda delicada. Eu quis puxá-la para os meus braços e não a soltar mais.

- Você quer que eu vá embora? – Murmurou e voltou a olhar pra mim, com os olhos úmidos. Passei a mão pelo rosto, cansado.

Tinha sido assim, todas as vezes que eu sugeria que ela fizesse algo fora de casa, ela pensava que eu não a queria ali.

- Por Deus, não vamos ter essa conversa novamente. Já disse que você pode ficar aqui o tempo que precisar, não disse? – Me aproximei e me ajoelhei, acariciando seu braço. Ela apenas assentiu. – Porque não vamos fazer um lanche? Hoje você não tomou café, eu vi. – Impliquei e ela mordeu o lábio, com a cara de quem acabou de ser pega fazendo algo errado.

- Eu estou sem fome. – Respondeu. Essa era sua resposta, todas as vezes. Até ai não pensava que existia algo estranho. Ela havia emagrecido, mas não se percebia tanto pelo moletom folgado que estava sempre usando.

Eu iria rebater, mas meu celular tocou e eu atendi por alguns minutos.

- O hospital precisa de mim, uma consulta de urgência.  - Eu olhei para Anahí, pensando se seria ruim se a deixasse sozinha.

- Pode ir, eu vou ficar bem. Prometo não tentar me matar ou algo assim... – Dessa vez ela deu um sorriso de canto, já era alguma coisa.

- Talvez eu tenha que ficar mais de uma semana fora. Tem certeza? – Perguntei, indeciso. Ela assentiu, então eu me levantei.

Para me certificar de que ia ficar bem, ela até me ajudou a arrumar algumas roupas na mala. Falava pouco, o básico. Não fazia perguntas, mas suas respostas eram sucintas.

- Preciso de algumas meias, será que pode ir na lavanderia buscar pra mim? – Pedi enquanto conferia a gaveta da cômoda. Realmente não havia sobrado nenhuma limpa, já que eu e Any estávamos dividindo.

Ela saiu do quarto, puxando as mangas do moletom e eu achei aquilo sexy pra caralho. Fui terminar de arrumar minha mala, enquanto ela não voltava e vi um brilho no colchão. Era o celular dela. Fiquei tentado a mexer, mas se eu lesse ela ia perceber e não iria mais confiar em mim. Ela precisava de pessoas em quem confiar, já não bastava o odioso do Alfonso Herrera, que tripudiou com os sentimentos dela de todas as formas. Consegui ver o número no visor e rapidamente anotei no meu telefone. A mensagem dizia que a tal de Dulce estava preocupada, pedindo 'Pelo amor de Deus' que ela aparecesse e também haviam mensagens não lidas na caixa postal e chamadas perdidas. Fiquei em uma posição ruim, pois se eu era amigo de Anahí e não soubesse sobre ela, também ficaria desesperado. Soltei o celular onde estava, quando ouvi os passos dela pela escada.

- Any, posso te fazer uma pergunta? – Tentaria sondá-la, ela era como uma ostra fechada.

- Claro... – Murmurou, enquanto enrolava as meias e colocava na minha mala.

- Seus amigos... – Ela me olhou, assustada – Sabem que você está aqui, comigo? – Ela meio que suspirou aliviada, talvez pensasse que eu iria dizer alguma outra coisa.

- Eles não precisam saber onde eu estou. Tenho certeza que ele – Era assim que ela se referia à Alfonso, eu não discuti. – Descobriria rápido. Só disse que estava bem, que não era para se preocuparem. Satisfeito? – Eu estava encarando ela, ainda não tinha uma opinião formada sobre isso. Ela apontou para a mala, que já estava pronta e fechada. Eu assenti, grato.

- Não sente saudade? – Coloquei a mala no chão e a encarei. Ela abraçou a si mesma, indo em direção a porta. Eu a acompanhei, pensei até mesmo que ela não me responderia, assim como outras mil perguntas que já havia feito naqueles dias.

- Eles são adultos, sabem se cuidar. Mas Faith, ela é tão pequena e não pode entender ainda... – Ela limpou duas lágrimas que rolaram em seu rosto, sempre acontecia quando ela falava da filha de Alfonso. Eu apertei com tanta força a mala, que meus dedos ficaram brancos. – Ei, eu tenho certeza que ela está bem. Sei que você está com raiva por ele ter arrastado uma pessoa inocente pra essa merda, mas ela vai esquecer. É só um bebê. – Murmurou, alisando minha mão. Eu afrouxei o aperto e dei um sorriso forçado.

- Sim, claro que sim. – Beijei sua testa e fui paro o carro, acenando assim que dei partida. Peguei meu celular, olhando novamente para o número da tal Dulce. Talvez alguma hora Anahí precisasse dela, talvez...

Infelizmente, minha estadia de duas semanas acabou se tornando três. Ligava para Anahí todos os dias e ela me dizia que estava bem. Pensei que estava, pois ela até mesmo ria das minhas piadas. No dia em que eu iria voltar para o Hamptons, eu liguei, mas ela não atendia. Tentei tirar a preocupação da minha cabeça, afinal ela poderia ter ido caminhar na praia ou até se animado para sair. Três horas depois eu consegui chegar em casa e a chamei.

A encontrei no mesmo lugar de sempre e o que eu vi, por Deus... Tive que me escorar na porta com o susto que levei, pois doía vê-la naquele estado. 

Nada como passar alguns dias fora e ver alguém, como ele realmente é. Ela havia acabado de tirar o moletom e percebi que era a primeira vez dentro de um mês que eu havia com uma blusa comum.

- Kit... – Sussurrou, assustada. Mas antes que pudesse falar algo mais, Anahí desfaleceu e eu consegui segurá-la a tempo. Seu pulso estava fraco, quase inexistente.

A mulher linda que eu conheci, cheia de vida e espontânea, estava apenas pele e osso. Eu me perguntei como...como eu deixei isso acontecer debaixo do meu nariz? Saquei o celular do bolso e liguei para a emergência desesperado. Eles me deram três minutos. Três preciosos minutos. Aproximei meu rosto do nariz dela, a respiração estava tão superficial...

Seus braços pareciam dois gravetos colados ao corpo, a boca estava seca e descascada – culpa da extrema desidratação – os ossos da clavícula estavam salientes, assim como os da coluna. Eu conseguia sentir nas minhas mãos, cada um deles. Eu não sou muito de chorar, mas ver Anahí assim, quase sem vida, trouxe lágrimas aos meus olhos e puta que pariu...eu não podia chorar agora, ela precisava de mim. Segurei sua mão com delicadeza, os dedos finos estavam ainda mais finos. Parecia que iriam quebrar a qualquer momento. As maças do rosto dela estavam tão salientes, não haviam mais bochechas saudáveis ali. Haviam círculos negros em volta dos olhos azuis que eu tanto gostava de admirar, ela estava fria. Parecia...parecia um cadáver. Segurei o corpo frágil junto a mim, murmurando baixinho que ela não partisse.

Suspirei com alívio, quando ouvi a sirene das ambulâncias.

- Aqui, ESTAMOS AQUI! – Gritei e dois paramédicos chegaram, colocando-a em uma maca.

Ela vai quebrar, meu Deus ela vai quebrar... só conseguia pensar nisso.

Ultrapassei todos os limites de velocidade para chegar no hospital junto com a ambulância. Anahí desapareceu com os médicos por trás das portas brancas e eu tive que ficar por conta da papelada. Sentei, mentalmente exausto, quando percebi que não sabia quase nada sobre ela. Eu não poderia preencher aquilo, mas sabia de alguém que poderia. Liguei para Dulce. Eu ouvi muita merda no telefone, aquela mulher era louca. Mas Anahí precisava dela, por isso relevei.