Fanfic: Death Note: Ressurreição | Tema: Death Note
Death Note
Ressurreição
Introdução
Bem, antes de iniciar a fanfic propriamente dita, acho que cabem algumas palavras.
Primeiramente, esta é minha primeira história baseada num anime/mangá. Portanto posso acabar pisando em ovos no começo até me familiarizar com a narrativa, peço que tentem relevar isso o máximo que puderem.
Em segundo lugar, preciso fazer alguns agradecimentos:
- À Miss Valentine, por meio da qual conheci Death Note.
- Ao Raphael_Redfield, já que foi numa conversa com ele por MSN que a idéia central desta fic tomou corpo.
- À Nathália Santa Rosa, que me "desafiou" a escrever uma fanfic de Death Note.
- A todos que me apóiam como ficwriter e que espero também conseguir entreter com este novo projeto.
Sem mais delongas, vamos ao que interessa...
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A marola da revolução morre na praia do marasmo
E eu ainda espero a ressurreição
Eu ainda aguardo, aguardo a cada manhã
Pois sem a Justiça, com ela morta
Quem me protegerá nas noites mais frias?
Pois só a Justiça trará meu futuro
Sem que eu me renda às maçãs verdes
A Justiça não me trairá
E eu ainda espero a ressurreição
Porque a Justiça não pode morrer
E é nisso que irei acreditar
Pois ela mais uma vez se fará sentir
Abalará o mundo como nunca abalou
A Justiça ressuscitará
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Capítulo I
"Marasmo"
O Mundo Shinigami.
A paisagem é de plena desolação, desesperança. Um eterno céu cinzento cobrindo uma terra desértica, destruída, estéril. Vê-se no amplo panorama apenas ruínas, esqueletos, carcaças.
Um mundo morto para os deuses da morte.
Há quem se pergunte se o Mundo Shinigami não é um reflexo do que o Mundo Humano se tornará no futuro, depois de tantas guerras, distúrbios e destruição entre seus seres. É preciso convir que o planeta Terra realmente se aproxima cada vez mais desse tipo de cenário, dados os persistentes espectros das catástrofes naturais e climáticas, sem contar a sempre presente ameaça de um conflito total e incomparavelmente devastador.
Seriam os Shinigamis, apesar de deuses da morte, entidades destinadas a servirem de arautos à humanidade para que esta evitasse chegar a tal ponto?
Bem, mesmo se fossem, não se importavam. Nunca dariam tal tipo de aviso...
A verdade era que o Mundo Shinigami mudara muito pouco nos três últimos anos humanos. Um pesado marasmo continuava a dominar todas aquelas criaturas. Muitas delas permaneciam o tempo todo desocupadas, outras chegando até a esboçar algum tipo de atividade entre si através de jogos e apostas repetitivos. Parecia que a paisagem devastada só fomentava ainda mais seus ânimos já tão desestimulados...
Num local em particular dessa dimensão atroz, encostados a uma grande rocha negra e pontuda, dois Shinigamis estavam deitados de modo desajeitado, voltados na direção do infindável horizonte incolor. O primeiro tinha uma cabeça que lembrava um tomate do Mundo Humano, a diferença era que ao invés de vermelha, dominava-lhe um tom que se aproximava mais do azul. Seu corpo se resumia a um tórax comprido com costelas expostas, os membros tanto superiores quanto inferiores sendo tão finos que lembravam até meros gravetos.
Seu nome era Namake.
- Sabe, eu estive pensando... – manifestou-se com sua voz cavernosa.
- Pensando? – rebateu o outro ao lado, dono de uma voz fina e um tanto irritante. – Você ainda faz isso?
Esse segundo Shinigami assemelhava-se a um ser insetóide, algo como uma mistura de mosca, zangão e pernilongo, sendo o corpo cinza e as patas pretas e raquíticas todas cobertas por grossos pêlos marrons. Tinha duas fileiras de olhos pegajosos na cabeça, somando no total doze deles, e, no lugar do nariz, logo acima da boca, possuía um órgão em forma de cone com um pequeno orifício na ponta. As asas presas às suas costas estavam secas, amassadas, como se há um bom tempo não fossem utilizadas.
Tal curiosa união de características atendia pelo nome de Gokiburi.
- Sem brincadeiras, Goki! – incomodou-se Namake. – Eu realmente estive pensando em algo!
- Isso você já disse... Mas o que é esse algo?
O deus da morte que lembrava um tomate moveu de leve a cabeça para os lados, como se não quisesse que outros Shinigamis ouvissem o que tinha para dizer, para só então matar a curiosidade do amigo:
- Sabe... Eu me questiono sobre os nossos vínculos com o Mundo Humano...
- Como assim?
- A respeito de até que ponto nossas ações aqui trazem conseqüências a eles...
- Está falando dos Death Notes?
- Não apenas disso...
Uma súbita e cortante brisa atingiu a dupla de Shinigamis, logo se transformando num vento carregado de poeira e ar gelado. Era, porém, também dotado de algum tipo de significado; como se aquela repentina corrente viesse para romper ao menos temporariamente com o marasmo em que viviam, o constante tédio que parecia nunca passar. Não era um vento comum, mas sim um vento que trazia em suas partículas algum tipo de mudança. Algo... interessante.
- Vou lhe confidenciar uma coisa, Namake... – falou Gokiburi com inesperada naturalidade. – Nossas ações por aqui nunca afetaram tanto o Mundo Humano quanto agora!
O vento emitiu um som que se assemelhava a um uivo de concordância com o que o Shinigami acabara de afirmar, e em seguida os dois tornaram a perder-se em sua contemplação do horizonte, o céu cinzento, estático, observando-os em seus imperturbáveis silêncio e ausência de expressão.
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Paris, França. Inverno.
A neve branca se acumula sobre os graciosos telhados da Cidade-Luz, seus habitantes andando devidamente agasalhados por suas ruas naquele início de manhã, o céu lentamente passando do tom laranja preguiçoso para o azul vívido. A Torre Eiffel, cartão-postal eterno, surge imponente acima da maioria das construções, os motores dos carros e ônibus se tornando cada vez mais presentes conforme as horas avançam.
Por uma dessas vias que aos poucos se enchem de pessoas, a jovem Justine Clare, com sua mochila às costas, dois livros embaixo do braço, gorro listrado na cabeça ocultando-lhe boa parte dos cabelos loiros e cachecol ao redor do pescoço, sem contar as duas blusas que está trajando, caminha distraída na direção da universidade.
Divaga, como sempre, perdida entre memórias, pensamentos, convicções... Ideais. É uma garota que, em seus vinte e um anos, parece viver isolada dentro de seu próprio mundo, só participando da sociedade quanto realmente lhe é propício. Por isso tem poucas amigas, mas alegra-se em saber que aquelas compondo esse pequeno número são as que mais lhe têm afinidade. É uma estudante muito esforçada, e tal empenho muitas vezes irrita aqueles ao seu redor que não conseguem ou não querem se dedicar a alcançá-la. É por isso que Justine é segregada dentro da universidade, e também é pela mesma razão que quase sempre percebe cochichos e burburinhos difamando sua pessoa, tanto na sala de aula quanto pelos corredores.
Mas isso não a incomoda. Justine Clare é alguém acima de tudo isso.
Por ter um físico atraente, é alvo dos desejos de muitos dos rapazes que a cercam, tanto na academia quanto fora dela. Mas só aqueles que já tentaram conquistá-la sabem como Justine é uma mulher difícil. Saiu com pouquíssimos garotos em sua vida, e tais felizardos só o conseguiram porque tinham princípios e idéias bastante parecidos com os da moça. Mesmo assim, ela jamais saiu com algum deles duas vezes. Até hoje nunca encontrou um homem com o qual realmente quisesse tentar um relacionamento duradouro, porém não se importa com o assunto, mesmo se vier a nunca encontrar.
Justine Clare, a melhor aluna do curso de Direito da Sorbonne, também vive acima disso.
Logo chegou à imponente fachada barroca da universidade, os alunos já se dirigindo ao interior do prédio para o início das aulas. Justine parou por um momento, erguendo de leve o pescoço à procura de alguém em meio à multidão de jovens que conversavam e riam. A amiga Paule avistou-a primeiro, acenando para que Clare também pudesse vê-la, ao mesmo tempo em que exclamava:
- Aqui, Justine!
A recém-chegada sorriu, mas foi um sorriso discreto, um tanto sério, assim como costumavam ser todos os outros sorrisos que brotavam em seus lábios finos. Caminhou até Paule e, pondo-se ao lado dela, tomaram a direção da entrada do edifício.
- Como você está? – a colega que a aguardava perguntou.
- Do mesmo jeito... Nada na minha vida muda, mas não sei que tipo de mudança poderia melhorá-la. E você?
- Estou bem. Ansiosa para a aula do professor Pasquale hoje. É uma das melhores aulas da semana!
Clare fechou o rosto, mas a amiga aparentou nem perceber. Não podia dizer o mesmo a respeito da aula do dito professor, já que suas opiniões batiam de frente com quase todas as dele. Todavia, debater era sempre estimulante e sadio, sendo por essa óptica que Justine procurava encarar as horas que passaria com Pasquale numa das salas do segundo semestre de Direito. Seria divertido...
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Tóquio, Japão.
É noite na capital nipônica. A porta de um escuro apartamento é aberta pelo lado de fora, a luz do corredor invadindo brevemente seu interior enquanto o recém-chegado adentra a morada. Tranca a fechadura logo depois, retira os sapatos e seu próximo movimento fatigado é pressionar um interruptor na parede próxima, clareando a sala de estar do recinto.
Coloca a maleta e o casaco sobre uma poltrona, olhando então para o relógio de pulso. Já é tarde. Num suspiro de cansaço, acomoda-se num sofá, apanhando um controle remoto que está sobre ele e usando-o para ligar um aparelho de TV do outro lado do cômodo. Logo que a imagem surge, apressa-se em diminuir o volume do áudio: não quer acordar a esposa, a qual certamente já está dormindo.
O apartamento não é muito grande, mas confortável. Vivia ali com a mulher já há um ano e meio e, mesmo ganhando um salário que permitia a compra de uma casa maior, preferia, assim como ela, permanecer ali, pois julgavam o condomínio tranqüilo e bem-localizado. Esticando as pernas e sentindo os ossos estalarem, o homem dá um bocejo enquanto assiste ao noticiário de um canal local.
- E prosseguem as sanções da ONU contra o atual governo do Mali – informa um jornalista na tela. – Estima-se que a sangrenta ditadura imposta há cinco meses pelo general Bantu já tenha feito mais de duzentas e cinqüenta mil vítimas civis. Analistas políticos também afirmam que as ações expansionistas do líder podem acarretar um total desequilíbrio de forças na região. Mais notícias internacionais logo após os nossos comerciais.
Seguiu-se a voz de uma mulher anunciando, conforme diversas imagens referentes ao que falava passavam pelo televisor, o programa que teria início logo depois do noticiário:
- Hoje, no Mundo das Celebridades, trataremos da maior tragédia que pode ocorrer a qualquer ser humano e que já atingiu vários integrantes do mundo dos famosos: o suicídio. Desde a controversa morte de Marilyn Monroe – suicídio ou assassinato? – passando pela descoberta do corpo de Kurt Cobain, roqueiro cujo ato autodestrutivo abalou fãs da banda Nirvana no mundo todo, e até um caso mais recente, quando a modelo japonesa Misa Amane, no auge de uma brilhante carreira, atirou-se do alto de um prédio no centro de Tóquio dois anos atrás. Esses tristes episódios e vários outros você verá hoje, no Mundo das Celebridades, logo após as notícias da noite.
O portador do controle remoto se preparava para mudar de canal, quando sentiu duas mãos massagearem deliciosamente seus ombros doloridos. Ele conhecia aquelas delicadas e belas mãos como ninguém e, sorrindo, moveu a cabeça para trás com o intuito de visualizar a serena face da esposa.
- Ainda acordada, querida? – ele indagou.
- Estava esperando você... Preparei seu jantar e comprei saquê.
- Você levanta cedo amanhã para dar aula, não devia ter me esperado... – murmurou o marido enquanto acariciava os dedos da jovem. – De qualquer forma, irei comer e logo depois me deitar... Amanhã terei um dia cheio. O pessoal da Interpol já está na cidade.
- Sabe muito bem que, depois de tudo que aconteceu, eu tenho horror a essas operações das quais participa... Mas, afinal, é o seu trabalho.
- Não é apenas meu trabalho, amor. É fazer o que é certo. Se tudo correr bem, amanhã a esta hora uma das maiores quadrilhas mundiais de pedofilia estará desmantelada. E eu quero cumprir meu papel nisso!
Conformada, a mulher segurou a cabeça do amado e, depois de beijar-lhe a testa, despediu-se:
- Boa noite, querido.
- Boa noite, Sayu...
Ela retirou-se e, instantes depois, o capitão Touta Matsuda, membro da Agência Nacional de Polícia, desligou a TV e dirigiu-se até a cozinha para jantar e em seguida deitar-se o quanto antes. Se aquele dia fora exaustivo, então o seguinte seria exaustivo ao triplo...
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Sorbonne.
A aula do professor Pasquale seguia como de costume, um tanto monótona. Os desinteressados não conversavam, mas demonstravam em seus semblantes que gostariam de estar bem longe dali. Justine estava sentada em seu lugar de costume, mais ao fundo e acima da sala em forma de concha que lembrava um anfiteatro, Paule numa outra cadeira ao seu lado direito. O docente terminou de fazer algumas anotações na lousa branca usando uma caneta e então se voltou para os pupilos, explicando:
- Como vimos, uma das maiores contribuições do filósofo Montesquieu às constituições modernas foi a Teoria dos Três Poderes. Propondo a divisão do governo em poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, procurava estabelecer um equilíbrio na execução, elaboração e cumprimento das leis, respectivamente, para que todas essas funções não fossem delegadas somente a uma pessoa, na época o rei, como ocorria aqui na França e em várias outras nações absolutistas da Europa. Felizmente, hoje praticamente todas as nações do mundo têm em suas constituições os três poderes devidamente definidos e delimitados.
- Perdoe-me, professor, mas eu discordo! – alguma aluna se manifestou.
A atenção geral se voltou para o fundo da sala, onde, numa das últimas bancadas, Justine Clare, como já era esperado, acabara de se colocar contra a opinião do acadêmico. Vários alunos que não simpatizavam com a loira expressaram seu incômodo de forma não muito discreta, alguns chegando até a xingá-la quase em alta voz. No entanto isso não chegou nem perto de intimidá-la.
- Discorda de que ponto, mademoiselle Clare? – Pasquale não conteve uma rápida risada.
- Sobre ser algo negativo todos os poderes relativos às leis estarem nas mãos de uma só pessoa. Não vejo o que poderia haver de errado num governo assim. Aliás, acho-o bastante superior ao governo dividido em três poderes.
- Deixe-me explicar melhor...
O professor caminhou pacientemente até sua mesa e, abrindo a bolsa que deixara sobre ela, retirou de seu interior uma brilhante e suculenta maçã vermelha, que ergueu para a classe poder visualizá-la.
- Temos aqui uma maçã. Vamos supor que, na época do rei Luís XVI, eu a tivesse roubado da barraca de um feirante.
- Certo – Justine acompanhava o raciocínio do educador.
- Pois bem. Então vieram os guardas reais e me prenderam, levando-me à presença do soberano para ser julgado por ele próprio. Sumariamente, o rei alega que roubar qualquer coisa é um ato vil e imperdoável, condenando-me à morte. Mas... Logo após ter sido decretada minha sentença, você, Justine, é trazida por outros soldados, tendo cometido o mesmo delito: roubou uma maçã. Só que, para você, o monarca afirma que o fez porque tinha fome e na falta do que comer, recorreu a um ato desesperado. É então absolvida.
- Eu entendo, professor, mas...
- Ou seja: um mesmo crime com duas penas totalmente diferentes, dependendo apenas do humor e caprichos do rei. A importância dos três poderes é justamente evitar que uma pessoa sozinha delibere sobre as leis e a justiça como bem entenda!
- Mas eu acredito que é possível a existência de uma pessoa apta a tomar a justiça em suas mãos, professor, alguém que tenha coragem e sangue frio para punir os criminosos que a sociedade muitas vezes deixa escapar impunes devido a leis falhas e valores distorcidos! O próprio Montesquieu alega que as leis humanas são imperfeitas e que apenas as leis naturais, instituídas por Deus, podem fazer o ser humano agir corretamente. Se houvesse um digno representante de Deus entre nós, professor, que fizesse justiça entre os homens... O mundo seria um lugar bem melhor.
A classe desabou em gargalhadas e assovios, reação já aguardada por Justine. A maioria das pessoas não compreendia sua forma de pensamento, e para ela isso se dava devido aos seus intelectos limitados. Num mundo que ela se esforçava dia e noite para tornar mais maduro, todos eles ainda eram maçãs verdes. Coube a Pasquale acalmar os ânimos e responder à determinada aluna, ao mesmo tempo em que depositava sua maçã sobre a mesa:
- Os reis não só europeus, mas de vários outros povos e culturas, eram considerados representantes de Deus na Terra, Justine. E a História nos mostra que suas deliberações estiveram bem distantes da perfeição. Recentemente, uma outra pessoa também desejou usar um poder especial para fazer justiça com as próprias mãos... Seu nome era "Kira" e, levando em consideração que as mortes em massa de criminosos já não ocorrem há cerca de três anos, não é difícil deduzir que fim ele teve...
O sinal bateu logo que o professor terminou de pronunciar a última frase. Os alunos deixaram seus assentos e se encaminharam todos até a saída da sala, e Pasquale, logo que estendeu uma das mãos para apanhar de volta a maçã e guardá-la em sua bolsa, foi surpreendido pelo fato de ela não se encontrar mais em cima da mesa! Olhou ao redor para verificar se o fruto não havia caído no chão por algum descuido seu, porém não o achou. Julgando que algum aluno o havia surrupiado num momento de distração, talvez inspirado pelo exemplo que tinha dado para explicar a aplicação da justiça no absolutismo, Pasquale deu um sorriso sem graça e também deixou o local.
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Death Note – Como usar:
1 – O humano cujo nome for escrito neste caderno morrerá.
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Uma chuva fina e gelada caía sobre Tóquio na manhã seguinte, um céu de nuvens escuras e fechadas englobando os arranha-céus.
Numa dessas imponentes e modernas construções, num ambiente similar a um escritório bastante iluminado, vários homens vestidos como típicos adeptos do ramo de negócios trabalhavam tranqüilamente diante de computadores e mesas. O lugar, todavia, não possuía janelas, nenhuma paisagem urbana a ser admirada por quem cruzasse os corredores... Já que na verdade se encontravam no subsolo. Mais precisamente, sob a sede de uma das maiores empresas de consultoria do Japão. E a maior parte das pessoas nem fazia idéia de que aquele anexo embaixo da terra existia.
Pelo menos até aquela manhã...
- Todo mundo parado, mãos na cabeça e joelhos no chão, agora!
A repentina ordem, que serviu para disparar os corações de todos que se encontravam naquele local oculto aos olhos da sociedade, veio do policial comandando uma equipe do Time de Assalto Especial da polícia japonesa, que chegara de repente ao recinto através do insuspeito elevador de serviço que conduzia à superfície. Eram cerca de dez homens trajando seus uniformes azuis-escuros, capacetes negros ocultando quase por completo suas faces e portando armas como fuzis e submetralhadoras, a inscrição "Police" gravada em suas costas.
Quase todos os suspeitos que ali estavam se renderam de imediato, posicionando-se da maneira ordenada pelo líder e sendo rapidamente algemados. Dois deles, todavia, caíram na besteira de tentar reagir, apenas confirmando que as atividades que realizavam não estavam dentro da lei. Um sacou um revólver e, buscando abrigo atrás de uma divisória do escritório, tentou revidar contra os policiais. Estes porém notaram a atitude a tempo e, antes que o meliante pudesse atirar, derrubaram-no com duas balas, uma em cada perna. Caindo num gemido, o agressor, já fora de ação, foi detido o quanto antes.
Havia ainda o outro. Tendo se escondido embaixo de uma mesa, abrira, sem que os invasores notassem, uma gaveta de onde retirou silenciosamente uma espingarda calibre 12 de coronha serrada. Colocou três balas na arma e, e depois de por um instante morder os lábios, levantou-se berrando para dispará-la contra os inimigos.
Teria feito vítimas se um dos policiais não fosse incrivelmente veloz com sua submetralhadora, incapacitando o oponente com um tiro no ombro esquerdo. Ele caiu de costas sobre uma outra mesa, a espingarda escapando de seus dedos. Simultaneamente dois outros homens da lei aproximaram-se para colocá-lo sob custódia.
- Belo tiro, Hoshi! – o líder do grupo elogiou o responsável pela ação.
- Arigatou, capitão.
Nisso, um outro integrante do esquadrão havia se sentado diante de um dos computadores ligados e verificava o que havia na memória do HD. Logo encontrou, protegida por uma senha que facilmente burlou, uma pasta repleta de fotografias de menores nus com conotação sexual. Minimizou a janela, já que não era agradável deixar aqueles arquivos à vista, e chamou o comandante:
- Capitão, aqui!
Este se aproximou, o soldado voltando a exibir o conteúdo da pasta brevemente enquanto concluía:
- É a quadrilha, capitão. Não há dúvidas.
O líder assentiu com a cabeça, fazendo um gesto para que três policiais se unissem a si enquanto averiguava as demais salas do lugar. Uma dupla que permanecera perto do elevador conversava a respeito da operação:
- E não é que a tal quadrilha internacional de pedofilia estava mesmo se escondendo embaixo do centro de Tóquio?
- Hai. Mas não me surpreendo. O tal de "L" nunca erra...
Enquanto o capitão avançava por um corredor estreito e pouco iluminado com seus homens, as lâmpadas vermelhas e fracas fazendo o ambiente lembrar uma sala de revelação de fotos, o comunicador embutido dentro de seu capacete emitiu um som parecido com um apito. Ele já esperava tal contato.
- Matsuda-san? – a voz do outro lado falou.
- Estou ouvindo alto e claro.
- Continuo acompanhando seus passos pela planta digital do prédio, mas acredito que algumas salas não estão mapeadas nela. Já encontrou alguém cuja descrição física bate com a do chefe da quadrilha?
- Ainda não, mas...
- Capitão, venha ver isto, depressa!
O chamado fora dado por um dos policiais que o acompanhavam, o qual havia se detido diante de uma porta de ferro que acabara de abrir. Matsuda e os outros se aproximaram com cautela, adentrando a passos lentos o interior do escuro cômodo... Até que, em meio à penumbra, surgiu um rostinho sujo e sofrido, cabelos totalmente desgrenhados, e outro, e mais outro... Os que ainda tinham forças para se levantar do chão o fizeram e revelaram aos invasores corpos maltratados, violados, quase todos estando sem roupa... Crianças. Crianças traficadas como mercadoria sexual.
O silêncio adveio da perplexidade e horror sentidos pelos policiais. Não conseguiram efetuar qualquer fala ou movimento por bons segundos.
- Matsuda, o que houve? – a voz inquiriu pelo comunicador.
O capitão não respondeu. Apenas fez um gesto brusco ordenando que o trio de oficiais permanecesse na sala cuidando das crianças, fechou os punhos e acelerou pelo corredor rumo à porta que havia em seu final. Chutou-a com violência, ganhando um banheiro pequeno, sujo e aparentemente vazio. Havia um cubículo cerrado, onde se encontrava o vaso sanitário. Matsuda também chutou a porta deste... Encontrando um homem gordo, calvo e suado encolhido junto à divisória, um charuto pendendo-lhe da boca trêmula. Aliás, todo o seu corpo volumoso tremia como nunca.
No auge da raiva, o policial agarrou o criminoso pela camisa e berrou, encarando-o nos olhos desprezíveis:
- Seu crápula, idiota! Porco imundo, demônio! Você tem idéia do que está me tentando a fazer? Você tem idéia?
Porém logo se controlou ao lembrar-se de Sayu, dos colegas da polícia, de "L". Afrouxando as mãos, deixou que o chefe da quadrilha tornasse a cair sentado no chão úmido chorando aterrorizado. Era o capitão quem agora tremia quando retirou um par de algemas do uniforme, prendendo uma extremidade ao pulso direito do bandido e a outra ao cano logo atrás do vaso sanitário.
- Em nome da força-tarefa conjunta entre Interpol e Agência Nacional de Polícia, você está preso... Tuomo Sanbashi!
Desde o encerramento do Caso Kira, Touta Matsuda nunca mais fora o mesmo. Perdera para sempre sua antiga visão de mundo, a forma esperançosa e um tanto ingênua pela qual o enxergava. E tinha que confessar: em ocasiões como aquela, sentia um pouco de saudades de seu antigo eu...
- Matsuda-san? Está me ouvindo?
Em seus trajes totalmente brancos assim como seus cabelos, sentado sobre o assoalho, ele tentou contatar o capitão mais uma vez. Conhecendo a personalidade dele, temia pelo pior. Segurando o microfone conectado ao notebook diante de si numa mão e o boneco articulado de um dos personagens do desenho "Transformers" na outra, desejou profundamente que o amigo respondesse.
- Estou aqui – a réplica finalmente veio. – Sanbashi está detido, assim como o resto da quadrilha.
- Excelente trabalho, capitão.
- Há mais uma coisa...
- Diga.
- Encontramos... Crianças aqui. Provenientes de várias partes do mundo.
Calou-se. Era realmente hediondo, ainda mais devido àquilo lembrar sua origem, os outros com quem convivera durante um bom período de sua vida... Aquelas crianças encontradas pela equipe também eram órfãs, provavelmente. Fitou de modo vazio a letra "L" estilizada presente no desktop do computador, dizendo a si mesmo que fora certa sua decisão em abandonar o codinome "N" para assumir o de seu predecessor após as mortes deste e de Raito Yagami. O mito de "L" era algo que deveria ser mantido, o peso do posto de "maior detetive do mundo" constituindo uma forma legítima de amedrontar os criminosos de todo o planeta. Ele era o segundo a preencher essa posição após a morte do original, porém o mundo não precisava e nem deveria saber disso. Para a população, "L" sempre fora e continuaria sendo apenas um. E todos os casos em que se envolvia terminavam plenamente solucionados. Aquele não era diferente.
- Não se alarme, Matsuda. Todos os responsáveis irão pagar.
- Eu sei disso, e é o que me tranqüiliza. Estamos deixando o prédio junto com a quadrilha. Isto vai ser um prato cheio para a imprensa. Nossa operação acabou chamando muita atenção.
- Acredito que você saiba lidar muito bem com os jornalistas, meu amigo – o detetive deu um sorriso mínimo. – Até mais!
- Hai!
A comunicação foi encerrada e, botando o boneco no chão, Near usou a mão livre para enrolar uma mexa de seus cabelos prateados...
O tumulto era intenso diante do edifício da empresa de consultoria. Enquanto os policiais deixavam seu interior encaminhando os criminosos algemados para as viaturas e furgões ali estacionados, o som das sirenes alto e insistente, assistentes sociais e funcionários do governo conduziam as crianças resgatadas, de mãos dadas, para a promessa de um futuro melhor. A mídia, como previra Matsuda, também marcava presença em peso, praticamente todas as emissoras de rádio e TV do Japão, além dos jornais impressos, tendo no local pelo menos um enviado.
- Estamos aqui no distrito financeiro de Tóquio onde uma das maiores operações já orquestradas contra a rede internacional de pedofilia acabou de terminar – informava uma bonita repórter de um canal conhecido, microfone na mão, diante da câmera. – A Interpol, trabalhando em conjunto com a polícia do Japão, conseguiu prender em flagrante vários dos principais criminosos de tal rede, incluindo seu atual chefe, Tuomo Sanbashi. Rumores dizem que o famoso detetive "L" também esteve envolvido na ação contra os meliantes.
O cinegrafista então focalizou por um momento o semblante de Sanbashi, que era escoltado por dois oficiais pela longa escadaria existente na frente do prédio. Alguns curiosos que haviam se aglomerado pela rua xingavam e ameaçavam o bandido, desejando inclusive linchá-lo, porém eram impedidos pelos policiais. Enquanto isso, a mesma repórter se dirigia até Matsuda, o qual já era importunado por jornalistas provenientes de outros veículos de comunicação.
- Capitão Matsuda, há pistas de outras atividades dessa quadrilha dentro ou fora do Japão? – ela perguntou, estendendo o microfone com o braço por cima dos ombros de seus colegas de profissão.
- Capitão, é verdade que após o sucesso desta operação, o senhor será promovido a comissário? – especulou um outro.
- Senhor Matsuda – o repórter da vez trabalhava para um tablóide. – Já que trabalhou em ambos os casos, é possível confirmar os rumores de que Kira era pedófilo?
- Calma, calma, uma pergunta de cada vez! – o pobre marido de Sayu Yagami não sabia nem por onde começar, quando algo aconteceu...
IIIAAAAARRRRRGGGGHHHHH!
O grito foi extremamente alto, doloroso, angustiante. Assustados, todos diante do edifício se voltaram para a escadaria de concreto, assim como as câmeras... Testemunhando Tuomo Sanbashi cair desfalecido com as mãos no peito e rolar pelos degraus até atingir a calçada, totalmente imóvel, os olhos bem abertos, porém sem vida, fixos no firmamento. Matsuda não conseguiu reagir, tamanho terror o havia tomado. Permaneceu de pé, atônito, enquanto era abandonado pelos jornalistas que logo cercaram o cadáver do criminoso. Um policial correu e abriu caminho entre eles, abaixando-se ao lado do corpo para em seguida constatar, após breve exame:
- Ele está morto. Infarto fulminante.
- x - x - x - x -
Aguardando a Justiça
Eu quero quebrar com o marasmo deste mundo
Com a inércia das pessoas
Com a preguiça das maçãs verdes
Eu me tornarei luz
O sol da humanidade cega e tola
Eu me tornarei luz
E irei guilhotinar os maus
Eu posso conduzir a Justiça em minhas mãos, eu sei
Eu sei que posso trazer a luz a este mundo
Eu sei que posso amadurecer estas maçãs
Eu sei que posso fazer a ressurreição
- x - x - x - x -
Prévia:
Matsuda... Terá sido a morte de Sanbashi apenas uma assustadora coincidência?
Mesmo se for, quero que mantenha a força policial em alerta. E deixe os abutres da imprensa o mais distante possível de qualquer prisão que vocês venham a efetuar.
É duro confessar isto, meu amigo... Mas eu estou com medo.
Próximo capítulo: Temor
Autor(a): Goldfield
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