Fanfics Brasil - A Carta da Ansiedade Cartas para Elainy

Fanfic: Cartas para Elainy | Tema: Crises Existenciais


Capítulo: A Carta da Ansiedade

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Primeira Carta: Ansiedade


 


São 6 horas da manhã e a jovem Elainy permanece sentada em sua cama, assustada, tentando se recompor do sonho que teve minutos atrás. Seus olhos estão fixos na penteadeira, mais especificamente sobre a Caneta Dourada.


 


A jovem segue tentando entender: “Como é possível um objeto que foi visto apenas em seu sonho ter ido parar no mundo real”?


 


Neste momento, sua mãe, dona Laura interrompe a introspecção de Elainy com um sonoro grito:


 


(…) Filhaa, você precisa tomar café senão irá perder a hora! Não esqueça que hoje é seu primeiro dia como professora da escola Parque Bela Vista.


 


Elainy então lembra que, faz dois anos desde que concluiu a faculdade de Química e fizera concurso para o Município de Arcoverde, a moça tinha tantas preocupações interiores que acabou passando despercebido.




  •  


    (…) Sim, mãe estou ciente disso. Me dê uns cinco minutos e eu irei tomar café com a senhora , tá bom? (Não, ela não estava ciente de nada só queria mesmo que sua mãe lhe desse um pouco de espaço para organizar suas ideias).




 


(…) Tudo bem minha filha, mas não demore hein?! Finalizou a senhora Laura.


 


Laura era uma mulher exigente, com 53 anos de idade, criou a filha sozinha depois do falecimento de seu esposo aos 43 anos vítima de um atropelamento. Desde então, com muita força de vontade e determinação criou a filha, trabalhou como doméstica e no tempo livre que tinha estudava para o cargo de Técnico Administrativo ofertado pelo Tribunal Regional do Trabalho de sua região, ao passo que, com muito afinco conseguiu a aprovação e com a remuneração comprou um sobrado antigo mas bem conservado, elainy gostava muito daquela casa porque havia um sótão onde podia ficar isolada com seus pensamentos.


 


Elainy poderava consigo mesma se era prudente pegar aquela caneta.




  •  


    (…) Por que não?! Pensou a garota. Elainy tomou coragem pegou o objeto e rapidamente guardou em sua bolsa ao lado da cama. A jovem pensou que ao tocar na caneta poderia lhe acontecer algo esquisito, mas não, foi como segurar um objeto normal. Rapidamente, fez sua higiene pessoal, tomou banho e desceu as escadas para tomar café com a mãe.




  •  


    (…) Já estava na hora! Falou dona Laura impaciente.


    (…) Desculpe, demorei um pouco no banho.


    Dona Laura percebe uma feição diferente na filha, um tanto nervosa, ansiosa, e pergunta:


    (…) Está tudo bem contigo minha filha?


    (...)Sim, mamãe, estou bem só um pouco cansada.




 


Para Elainy, pouco importava se era o primeiro dia de aula, sua mente só tinha espaço para dois questionamentos: Quem era Wallafe e por que um objeto transcedeu a barreira dos sonhos para realidade. Essa expectativa em saber a verdade a corroia por dentro e causava-lhe uma profunda angústia uma vez que, segundo o ser que lhe falara no sonho ao utilizar a caneta dourada poderia minimizar algumas das suas piores sensações: (Ansiedade) mas que teria um preço a se pagar. Mas como perder algo que não tenho? Pensava Elainy...


 


Ao se dirigir até a porta, Elainy não percebe que o tempo está fechado, muitas nuvens negras e, em sua bolsa não constava o guarda-chuva recém presentado por sua mãe. Mas naquela altura, sua mente pouco se preocupava com o mau tempo e o que este poderia lhe causar.


 


A cada passo que dava em direção ao ponto de ônibus, suas emoções se afloravam mais... Ela não queria ir a escola, ela desejava voltar para casa, se trancar no sótão e começar a escrever a fim de provar se o que lhe foi dito era de fato verdade ou não, se teria como aliviar toda aquela aflição que planava por sua alma.


 


Ao chegar ao ponto de ônibus, a chuva começou a cair de forma torrencial, elainy estava há 10 minutos de casa e não havia nenhuma marquise por perto que pudesse abriga-l da chuva, a estrada era de terra, o que facilitava a formação de lamas e poeira. O tempo passava e a chuva caia impiedosamente sobre a moça.


 


Elainy pensou: (…) Meu Deus, por que? Me responde por que eu não tenho um mínimo de sorte nem para chegar ao meu trabalho no horário e em condições apresentáveis? Ponderou a moça com semblante tristonho. Naquela altura, sua roupa já estava completamente molhada. Seus óculos embaçados, sua blusa preta e calça jeans encharcadas e quando ela considerava a ideia de não ir à escola, eis que surge o ônibus. Apressadamente, ela dá sinal e o motorista para. Ao subir no coletivo elainy nota que somente ela está molhada e que os olhares dos passageiros estão fixos nela que com muita rapidez passa pela roleta e senta-se nos últimos bancos ao lado da janela.


 


Enquanto o veículos ganhava velocidade, sua mente era alvo de uma frase apavorante que dizia: “Elainy, seu sofrimento está apenas começando” Tal afirmação causou pânico interno na garota que mudou o semblante instantaneamente aparentando um enorme pavor que não a fez perceber que o ônibus havia chegado ao seu destino final que era justamente ao lado da escola Parque Bela vista.


 


Disse o Motorista, (…) Ei!, moça, ponto final. É hora de descer.


(…) Elainy, Oi, falou comigo? (ainda perturbada).


(…) Sim, moça. Pois é a única que ainda está no coletivo.


(…) Elainy voltou a si e reparou que todos já haviam descido e se desculpou: (…) Perdão, eu não percebi, já estou descendo.


 


Elainy segue apressadamente em direção a escola, tinha que estar em sala às 8:30 e já são 8:25 da manhã. Ao chegar em frente ao colégio, reparou na sua arquitetura o legado deixado desde os tempos do Brasil Imperial com construções similares ao Teatro Municipal, era a escola mais linda da cidade, sem dúvida alguma o cuidado da prefeitura era periódico com aquele patrimônio tombado da cidade de Arcoverde.


 


Equanto caminhava por dentro da escola elainy notou que a mesma está vazia... cada sala que passava não havia ninguém, nem professores, nem alunos foi aí que pensou: Será que estou na escola certa? Foi então que uma voz gritou lá da entrada do colégio: (…) Eiiiii, moça faz favor!!!!!


 


Elainy, olhou para trás e viu uma senhora falando alto e acenando para ela e resolveu se aproximar.


 


(...)Filha, eu me chamo Elizabeth e sou a diretora desta escola. Você está meio perdida por aqui não é mesmo? Então, entra vamos conversar um pouco na secretaria.


 


(..) Elainy, sim senhora.


(…) Qual o seu nome minha filha?


(…) Eu me chamo Elainy Lima e sou a nova Professora de Química, recém-empossada pelo Prefeito.


(…) Ah, sim é verdade. Como eu pude me esquecer disso? Ponderou a dona Elizabeth. (referindo-se a nova professora designada para o colégio naquele ano de 2001).


 


(…) Não liga não minha filha mas é que quando passamos dos 60 anos e temos tantas coisas para administrar todos os dias nós acabamos por esquecer algumas informações. (sorriu).


 


(…) Não tem problema, eu só estou achando estranho porque não estou vendo nenhum aluno ou professor nessa escola e hoje é segunda-feira, dia em que estava marcado para eu iniciar as minhas aulas.


 


(…) É que hoje estamos sem energia elétrica e o nosso gerador está ruim, por esse motivo tive que dispensar os alunos e os professores de suas atividades de hoje e,infelizmente, como ainda não tinha o seu cadastrado e telefone, não pude contata-la a tempo de você não vir, ponderou a senhora.


 


(…) Tudo bem Dona Elizabeth, eu entendo perfeitamente o que aconteceu. A gente se vê amanhã então, tudo bem?


 


(…) Sim, até amanhã minha filha.


 


Elainy ficou muito desapontada com o que lhe aconteceu e se dirige ao terminal rodoviário para fazer o trajeto de volta para casa. Com muita tristeza dentro de si, ela entra no coletivo e mais uma vez senta-se nos últimos lugares pensando:


 


(…) Eu preciso chegar logo em casa, preciso saber se o que Wallafe disse é realmente verdade. Porque eu não aguento mais essa angústia que cerca o meu coração, parece que quando a desgraça chega ao mundo, a primeira pessoa que ela visita sou eu. Se existe algo que pode me aliviar ou me livrar desse sofrimento eu quero experimentar.


 


Os pensamentos de Elainy seguem confusos, descontrolados, a angústia toma conta da sua alma, ás lágrimas começam a jorrar pelo seu rosto, sua mente segue questionando os motivos que a levam passar por tantas coisas desagradáveis. Terá alguma razão plausível para isso? Existirá algum por quê?


 


Chegando em casa...


 


A menina toma uma ducha rápida, troca a roupa encharcada, sua mãe está no trabalho e aparentemente não há nada que a possa impedir de ficar sozinha no sótão com a misteriosa caneta dourada.


 


Calmamente, ela retira o objeto da bolsa... Procura por seu caderno no empoeirado sótão que está coberto por livros de diversos gêneros, apenas um abaju ilumina o escuro local preferido da casa por Elainy.


 


Já de posse do caderno elainy toma assento na única cadeira daquele sótão e hesita: (…) devo ou não usar? Algo pode me ser tirado mas também posso alcançar alívio... Bem, vou optar por escrever então para quem aparerentemente não tem muito a perder não deve ser tão grave as consequências:


 


Bem, hoje é dia 05/03/2001.


 


ANSIEDADE


 


Eu me chamo Elainy, tenho 23 anos de idade, nascida e criada em Arcoverde e cheia de crises existenciais que são heranças de um passado mau resolvido, um presente mau vivido e um futuro indefinido. Eu não consigo parar de pensar nas minhas ações de anos atrás, nas pessoas que magoei, nas oportunidades que perdi, nas vidas que passaram por mim e não ajudei, no meu pai que se foi de forma trágica.


 


Hoje, passo o meu dia preocupada mas não é uma preocupação qualquer, parece que as coisas em minha mente são multiplicadas por vários pensamentos. Se estou doente, penso logo que não irei sobreviver, se tenho algo para resolver, não consigo dormir, e isso causa uma profunda angústia dentro do meu peito. Me torna impaciente comigo mesma, o engraçado é que na frente das pessoas pareço ser uma garota normal, tranquila, solícita mas o meu interior está deteriorando e meu corpo começa a apresentar sinais perigosos dessa ansiedade me causando grandes dores de cabeça.


 


Se não bastasse todos esses dilemas e males, a minha mente está sendo atormendada por repetidas vozes que me dizem que meu sofrimento só está começando. Isso me deixa agoniada, como é possível que isto ocorra? Eu sei que sou responsável por meus próprios pensamentos. Mas será que alguém pode mudá-los? Existirá algum ser, coisa, sei lá, capaz de oprimir o ser humano em seus pensamentos?


 


Enquanto Elainy escrevia, suas mãos tremiam e as lágrimas escorriam copiosamente... Foi quando a jovem deu uma pausa na escrita e ouviu uma voz que vinha de dentro da caneta:


 


(…) Elainy, Elainy!


 


Trêmula, atônita, apavorada, disse com voz ofegante: (…) Queemm está falando? Tem alguém aí? Elainy sabia que não havia ninguém, sua mãe não estava em casa! Mas o instinto a fez interpelar na esperança de que fosse apenas uma impressão causada por sua mente.


 


A voz prosseguiu: (…) Nós nos conhecemos, por que está com medo?


(…) Como eu te conheço, nem sei de onde está saindo o som da sua voz? Ponderou Elainy.


(…) Que memória curta você tem Elainy, nem parece que nos falamos em seu sonho há algumas horas atrás...


 


(…) Wallafe? É você mesmo? Como isso é possível?


O ser sorrir e diz: (…) Elainy, lembra que eu disse que você não está preparada para saber a verdade ainda? Minha voz vem desta caneta que te dei.


(…) Você começou a escrever conforme lhe recomendei mesmo sabendo que algo pode lhe ser tirado, muito corajosa, devo reconhecer. Os questionamentos que você fez tem muito sentido mas para obter suas respostas, você deverá envelopá-la e levá-la ao correio sem destinatário somente com o seu remetente.


 


Mas isso é loucura! Como os correios aceitariam uma correspondência sem destino? Você já está passando dos limites, Wallafe!


 


(…) Elainy, apenas faça o que lhe disse e confie em mim, isso se quiser respostas para suas inquietudes...


Neste momento, a voz para de interagir, a caneta volta ao normal de sua funcionalidade e Elainy ainda incrédula de como aquilo era possível começa a sentir um alívio inexplicável em seu coração.


 


(…) Tudo bem, farei conforme me recomendou mesmo achando isso uma loucura! A garota não percebeu que ao escrever a carta suas emoções começaram a se aquietar.


 


Elainy tira a folha do caderno e com muito cuidado, recorta, dobra e a envelopa para pôr no correio amanhã de manhã.


 


 


 


 



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Autor(a): brunomj

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