Fanfics Brasil - Capítulo 15 Destinado - As Memórias Secretas do Sr. Uckermann (Vondy) [TERMINADA]

Fanfic: Destinado - As Memórias Secretas do Sr. Uckermann (Vondy) [TERMINADA] | Tema: Vondy [Adaptada]


Capítulo: Capítulo 15

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— Você sabe pra onde ela foi levada! — Dulce exclamou, antes que eu me recuperasse da surpresa.
— Claro — a jovem oficial respondeu, mas continuava olhando para mim. — Eu a levei para a Santa Casa. A menina estava bastante agitada. E assustada.
— Eu posso imaginar, senhorita. — Sobretudo porque Maite vira tão pouco do mundo. Seu conhecimento ia até os limites da cidade mais próxima de onde vivíamos. — Viu quem a levou de lá?
— Não. Eu tinha outras coisas para fazer, e um outro policial ficou por lá.
Quando voltei para ver se a menina estava bem, ele me contou que alguém da família tinha levado ela pra casa.
Praguejei em voz baixa.
— Se lembra de mais alguma coisa? — Dulce quis saber.
— Não, lamento. Isso é tudo o que eu sei. E achei que devia te contar. — Ela corou, sorrindo de leve para mim. — Não concordei com a maneira como o delegado Cerqueira te tratou. É óbvio que você agiu daquele jeito movido pelo desespero.
— Eu lhe sou muito grato por ter se dado o trabalho de vir me procurar. — Sua informação era a única pista que eu tinha do paradeiro de minha irmã.
— Foi um prazer ajudar. Vou deixar meu número com você. — Estendeu-me um pedaço de papel. — Caso não consiga localizar sua irmã, posso ajudá-lo a registrar a queixa do desaparecimento. Sou investigadora. Me procure se precisar de alguma coisa ou... você sabe. — Então fez um aceno de mão meio desajeitado e começou a se afastar.
Dulce continuou observando até a jovem desaparecer dentro da delegacia, as mãos nos quadris.
— Humpf! — ela resmungou.
— Qual é o problema, meu amor?
Dulce não me respondeu. Nem ao menos se virou. Algo estava muito errado ali.
Além do fato de Maite estar desaparecida, quero dizer.
— Recuar, soldado — Rafael murmurou de canto de boca, me deixando confuso.
— Por que razão?
— Não acredito no que ela acabou de fazer! — exclamou Nina. — Com a Dulce bem aqui! Que abusada!
— Suponho que não tenha sido a maneira mais adequada de nos abordar — falei, sem entender o que estava acontecendo —, mas ela foi muito gentil em vir nos procurar. Nos deu algo muito importante. Agora sabemos por onde começar.
Dulce girou lentamente sobre os calcanhares. O que vi em seus olhos me fez trincar o maxilar. O que exatamente eu tinha feito de errado? Ela estava furiosa e eu não tinha dúvida de que era comigo. Eu a conhecia o suficiente para saber que o problema era eu.
— Procurar você — ela enfatizou, zangada. — Ela veio procurar você, especificamente.
— Bater em retirada. Repito, bater em retirada. — Rafael colocou a mão sobre a boca para que ninguém além de mim o ouvisse.
Eu o ignorei.
— Dulce, você não pode estar com ciúme daquela moça porque ela tentou me ajudar. — Tentei tocar seu rosto, mas ela retrocedeu. Diabos, eu odiava quando ela fazia isso.
— Ah, cara, agora você fo/deu com tudo! — Sacudindo a cabeça, Rafael se afastou.
— Nós vamos... humm... esperar ali. — Nina e o marido começaram a andar, parando assim que chegaram à esquina, como se quisessem nos dar alguma privacidade.
— Eu não estou com ciúme coisíssima nenhuma! — rugiu Dulce, confirmando minhas suspeitas. — Tô é furiosa porque aquela garota foi cara de pa/u a ponto de te dar o número dela. E você aceitou!
Que número? Da sua altura? Idade? O número da sua matrícula no colégio?
— E, aparentemente, eu não devia. — Com a testa encrespada, olhei para o conjunto de números no papel, logo abaixo dos dizeres “Investigadora de polícia Isadora Santana”.
— É claro que não! — Seus punhos estavam cerrados ao lado do corpo. — Agora ela deve estar pensando que pode rolar alguma coisa entre vocês. A menos que seja isso que você quer. E aí... Droga, Christopher! — Ela me deu um soco no braço.
Segurei-a pelo pulso, tentando fazê-la olhar em meus olhos, mas ela fugia.
— Dulce, olhe para mim.
Ela ergueu a cabeça, fuzilando-me. Então me empurrou e começou a andar em direção aos amigos. Eu a segurei pela cintura.
— Que inferno, Dulce! Eu não sei o que está acontecendo nem por que você está tão brava comigo. Ao menos me explique, para que eu possa me defender. Ao que parece, eu a magoei ao aceitar este papel.
— Muito perceptivo! Me solta!
— Não. E por que esses números a ofendem tanto?
Ela bufou e tentou se livrar de mim outra vez. Não conseguiu.
— Por quê? — insisti, a voz abafada por seus cabelos. — Por favor, me explique.
Não percebi que estava cometendo um erro.
— Merda, Christopher. Ela estava te azarando! Agora me larga.
— Azarando? Por que ela precisaria fazer tal coisa? Perdi a memória, minha irmã, esqueci até que tenho uma filha. E você está furiosa comigo sem que eu entenda. No momento, não consigo pensar em uma pessoa mais azarada do que eu, Dulce.
— Não esse tipo de azarar! Ela estava... — soprou o ar com força para se livrar dos fios de cabelo que lhe caíam no rosto enquanto se contorcia em meus braços — ... flertando com você. Me solta, Christopher!
Naturalmente, não a soltei. E estava surpreso. Em parte, ao menos. A reação de Dulce me dizia que ela estava com ciúme, mas eu não conseguia entender como a investigadora havia flertado comigo.
— Dar esses números a alguém é uma espécie de flerte?
Sua boca era apenas uma linha apertada quando assentiu. E voltou a se debater em meus braços, sem chegar a lugar algum.
— Então... — prossegui —, aqui, em vez de poesias ou cartas românticas, se enviam números para tentar conquistar o coração de alguém?
Dulce parou de lutar, mas seus ombros se sacudiam. Deus do céu! Eu a tinha magoado a ponto de fazê-la chorar!
— Não, Dulce... — Apavorado, comecei a pensar na maneira mais apropriada de lhe pedir perdão, quando percebi que o estremecimento de seu corpo não era causado pelo choro.
— Desculpa, Christopher. — Ela tentou se controlar, mas acabou falhando e gargalhou alto. — Eu... fiquei tão pu/ta da vida que esqueci que você não conhece os costumes daqui. — Girou em meus braços, ainda rindo.
— Não tive intenção de magoá-la, Dulce. Nunca mais aceitarei os números de alguém enquanto eu viver.
Ela riu de novo.
— Você não vai precisar, já que vamos encontrar a Maite e voltar pra casa. — Ela levou a mão ao pescoço e seus dedos se fecharam ao redor de um delicado relicário que eu nunca tinha visto, o rosto repleto de saudade.
Afastei seus dedos com delicadeza, então pressionei o relicário para que se abrisse. O minúsculo retrato de um bebê de cabelos negros e grandes olhos castanhos me fez prender o fôlego. Marina.
— Ela é linda — murmurei, tentando conter a emoção. Aquela era minha filha.
Tinha um pouco de Dulce e muito de mim. Seria impossível não a reconhecer como uma Uckermann. E ainda mais impraticável não a amar à primeira vista.
— Ela é. — Dulce admirou o retrato, acariciando a borda do relicário como se tocasse a bebezinha. — Você ainda não se lembra dela?
Sacudi a cabeça, com vontade de gritar. Ou socar alguma coisa. Como eu podia não me lembrar dela?
Aquele mundo não me fazia bem, concluí. Tudo o que eu queria era encontrar Maite e voltar para casa, onde eu pudesse me lembrar de minha filha, ou ao menos conhecê-la outra vez, caso minha cabeça não melhorasse.
— A gente tem que encontrar a Maite o quanto antes e voltar pra nossa Nina — disse Dulce ao fechar o relicário, como se soubesse o rumo que meus pensamentos tomavam.
— Acha que minha irmã está bem?
— Eu não sei, Christopher. Não sei quem pode tê-la levado e nem para onde. Pode ser que... alguém legal tenha ficado com pena dela, e não um... — Ela desviou o olhar e isso, mais que qualquer outra coisa, me disse o que ela não conseguiu articular.
— Entendo. — Minha voz falhou.
— Também não é assim! — Ela segurou meu rosto entre as mãos. — Nem todo mundo aqui é psicopata. Talvez ela tenha encontrado uma pessoa legal que a levou para casa para ajudar a procurar a família, só isso. O melhor agora é ir até o hospital e tentar descobrir quem é essa pessoa.
Concordei, ofereci o braço a ela e nos juntamos a seus amigos. Era melhor que ela estivesse certa, ponderei. Que quem a levara do hospital não tivesse outra intenção a não ser ajudar Maite. Do contrário, eu acabaria voltando para aquela cela fétida tão logo botasse as mãos na tal pessoa.


 


                                                                   * * *


 


O hospital era um prédio mais largo do que alto, repleto de janelas e caixas com os dizeres LG pendurados na fachada. Nina estacionou o carro longe da entrada. Havia um jardim cercado de muretas baixas onde algumas pessoas decidiram se sentar.
Lá dentro, quase tudo era branco e cinza, e fileiras de cadeiras verdes se esparramavam em frente a um balcão. Uma espécie de janela de vidro impedia que as três jovens sentadas atrás dele tivessem qualquer contato com quem estava do outro lado. Dulce se dirigiu para lá.
— Vou tentar ligar para a Natália. O sinal aqui dentro é péssimo. — Nina começou a puxar Rafael em direção à porta. — Nós fizemos curso de inglês juntas, e a última vez que eu falei com ela ainda trabalhava aqui. Quem sabe ela viu alguma coisa.
Assenti e me juntei a minha esposa. Uma das damas confinadas no que eu achava ser um balcão de informações usava um adorno de cabeça de maneira curiosa. Em vez de enfeitar os cabelos, a haste preta com uma pequena bola de mesma cor lhe pendia de apenas um lado e seguia em direção à boca. Por alguma razão, ela não parava de dizer:
— Santa Casa, um momento. Santa Casa, vou transferir. Santa Casa, boa tarde.
— Boa tarde, nós estamos... — comecei, mas Dulce me deteve, pousando a mão em meu braço.
— Ela não está falando com a gente. Tá no telefone.
Olhei para a caixa quadrada em que ela apertava botões que se iluminavam.
Não, não era parecido com a máquina que eu tinha no bolso.
— Boa tarde, em que posso ajudar? — uma das damas perguntou. A que não tinha o adereço de cabeça.
— Boa tarde, senhora. — Esta trazia um anel na mão esquerda. — Minha irmã esteve sob seus cuidados esta manhã. Procuro por ela. Seu nome é Maite Uckermann.
Ela não se deu o trabalho de me olhar. Em vez disso, fitou a máquina a sua frente.
Uma com um tapete de letras e números, onde tamborilou os dedos.
— Isto é...? — sussurrei a Dulce pelo canto da boca e esperei que ela completasse.
— Um computador. Meio ultrapassado, mas é.
— Excelente! — Dulce me contara que o computador sempre sabia a resposta a qualquer pergunta. Era bom que tivéssemos um desses a nosso favor.
— Ela foi atendida no pronto-socorro e já foi liberada — a jovem atendente disse.
— Sim, eu sei, senhora. O que eu gostaria de saber é para onde ela foi.
— O quê? — Ela me lançou um olhar cético.
— Ele se expressou mal — interferiu Dulce. — Queremos saber quem a liberou. Este é o irmão da Maite.
— Ah. Seu documento, senhor.
Eu apenas a fitei.
— Merda — ouvi Dulcemurmurar.
— Senhor, o documento.
— Eu... — Maldição!
— Deixou em casa! — atalhou minha esposa. — Ele saiu tão apressado quando soube que a irmã tinha passado mal que esqueceu a carteira em casa!
A mulher exibiu uma expressão de enfado.
— Lamento, mas sem um documento que comprove o parentesco não posso ajudá-los.
— E permitir que minha irmã deixasse o hospital com um suposto parente, que provavelmente não apresentou quaisquer documentos, é aceitável, suponho — retruquei.
— Claro que não. — Ela estreitou os olhos para mim. — Quem a liberou apresentou tudo o que era necessário.
— Isso é uma grande...
— Tá legal. Obrigada mesmo assim. — Dulce me puxou para longe do balcão, o rosto fechado. — Não vai adiantar, Christopher. Ninguém vai admitir que errou. E sem documento não vamos conseguir nenhuma informação.
— Isso é ridículo. Sou o irmão da Maite.
— Mas não pode provar.
Rafael e Nina retornaram. Nina avisou que a amiga trabalhava no segundo andar, então não perdemos tempo. Rafael insistiu que usássemos o elevador, mas Dulce preferiu subir pelas escadas.
Natália era uma jovem pequena, de olhos puxados. A calma oriental parecia emanar dela. Depois de feitas as apresentações, Nina se apressou em explicar o que estava acontecendo.
— Ah, eu soube. — Natália balançou a cabeça e seus lisos cabelos negros reluziram como veludo. — Todo mundo ficou com pena da menina. Ela não parava de chorar, pobrezinha. Eu a vi só de relance.
— Precisamos saber quem a levou, Natália. A pessoa mentiu, não era parente da Maite. Pode descobrir quem foi? — suplicou Nina.
— Ah, meu Deus! Que coisa horrível! Vou verificar se o prontuário de atendimento ainda está por aqui.
Natália se afastou e entrou em uma saleta.
Analisei a grande sala de emergência, os cubículos repletos de camas altas, tentando imaginar Maite em uma delas, o seu desespero, o medo ao se deparar com aquele mundo desconhecido. Se eu, que ouvira muitas histórias sobre ele, estava tendo dificuldade para manter a sanidade, podia imaginar o terror de minha irmã.
No momento menos oportuno possível, a última conversa que tive com meu pai me veio à cabeça.
Era um fim de tarde de inverno, estávamos em seu quarto. Ele estava sentado em frente à janela, observando a paisagem amarelada. Seus pulmões não eram os mesmos havia alguns dias. Ele havia perdido muito peso. Sua pele refletia uma palidez atípica, os fios negros em suas têmporas se misturavam aos brancos, agora em maior número. Ainda era um homem de porte, mas me doía olhar para ele assim. Era como se olhasse para um esboço de seu antigo físico. Sua decadência teve início no mês de dezembro do ano anterior, quando minha mãe teve uma de suas crises de enxaqueca. Dessa vez, no entanto, a dor foi tão forte que lhe tirou os sentidos e também a vida. Meu pai jamais se conformou com sua morte, e desde então vinha definhando pouco a pouco. Maite e eu sofremos como o diabo a morte dela, mas ninguém sofreu mais que meu pai. O doutor Almeida dizia que a perda deixara sua saúde mais frágil, por isso ele não conseguia combater a pneumonia agora.
Um pic-pic-pic me fez virar a cabeça em direção à janela. Um azulão bicava o vidro.
— Ora, que pássaro mais tolo! — meu pai comentou. — Eu aqui, louco para sair deste claustro, e ele querendo entrar? O que acha de trocarmos de lugar, camarada? — O pássaro bateu as asas e voou para longe. Meu pai suspirou. — Diga-me uma coisa, Christopher. Acha que teremos um bom ano no estábulo?
Na época eu tinha quinze anos, mas fazia certo tempo que o ajudava nas contas da propriedade. Eu sabia que aquele seria o melhor de todos os anos na propriedade dos Uckermann. Ao menos financeiramente. Eu disse isso a ele, e meu pai sorriu, os olhos ainda na vidraça.
— Que bom. Este inverno tem sido muito rigoroso e acabou com a maior parte da plantação de café. Os cavalos não são afetados pelo frio, desde que se cuide para que o estábulo esteja sempre em ord... — A tosse o impediu de continuar.
— Por que não se deita um pouco, pai? — sugeri.
Víctor Uckermann me observou por sobre o ombro, uma careta de desgosto no rosto encovado.
— Isso me mataria mais depressa que a maldita pneumonia. Não suporto mais ficar confinado. Tudo o que eu preciso é de um pouco daquele xarope que a sua mãe fazia e subir no lombo de um cavalo. Isso sim vai me curar!
Mas a verdade era outra, e na época me recusei a encará-la. O tratamento com xaropes e os banhos de imersão em ervas não estavam funcionando. Eu estava aterrorizado. Toda vez que o doutor Almeida saía daquele quarto, sua expressão era sombria.
Aproximei-me de meu pai, pousando a mão em seu ombro, rezando para que a doença fosse embora e ele voltasse à vida de antes. Ele descansou a mão pesada e calejada na minha enquanto lutava para respirar.
Aquilo foi a gota-d’água. Gostasse ele ou não, eu o arrastaria para a cama, nem que fosse à força.
— Vamos, pai — inclinei-me sobre ele, passando um braço por baixo dos seus e o ajudando a ficar de pé. Meu pai era mais alto que eu na época, e, mesmo tendo emagrecido, era mais pesado também. Cambaleamos pelo quarto até eu conseguir acomodá-lo sobre o colchão.
Assim que a tosse deu trégua, obriguei-o a beber mais um pouco do xarope.
Ajeitei os travesseiros em suas costas e pousei a mão em sua testa. Ele estava muito quente.
Aterrorizado, mas tentando ser o homem que meu pai esperava que eu fosse, lutei para manter os sentimentos sob controle ao dizer:
— A febre retornou. Vou buscar o doutor Almeida.
Ele me segurou pelo pulso, impedindo-me de sair de perto da cama.
— Fique, Christopher. Quero falar com você. É apenas mais uma crise de tosse. É parte da doença. Já estou me sentindo melhor. Não há muito mais que o Almeida possa fazer quanto a isso.
Sim, e isso me assustava feito o diabo.
Ele me fitou com seus exaustos olhos negros, que pareciam pertencer a um velho e não ao homem forte que eu tanto admirava. Era como se meu pai tivesse envelhecido dez anos no último ano.
Acabei puxando a cadeira para perto da cama e me sentando apenas para não o contrariar. O doutor Almeida já devia estar a caminho, de toda forma. Vinha todas as tardes e só ia embora quando a lua já ia alta no céu.
— Christopher, sabe que eu confio em você. — Quando assenti uma vez, ele prosseguiu:
— Quero que me prometa uma coisa. Que cuidará de sua irmã quando eu me for.
— O senhor não vai a lugar algum!
— Claro que não pretendo ir agora, meu filho. Mas um dia eu me juntarei a sua mãe. E, quando isso acontecer, seria um alívio partir sabendo que você cuidará de Maite, que a protegerá quando eu não puder mais fazer isso.
— Pai...
— Prometa, Christopher. Apenas me prometa que cuidará dela como eu cuidaria.
Prometa que defenderá sua honra e a ajudará a encontrar o caminho da felicidade.
Eu não queria prometer nada. Não por não estar disposto a proteger Maite, pois eu estava, faria tudo por ela. No entanto, se eu prometesse, meu pai poderia entender aquilo como um consentimento para se render à enfermidade.
— Ela o ama mais que qualquer pessoa. Ouve o que você diz — ele insistiu. — E você se tornou um rapaz muito prudente. Eu me orgulho muito de você, meu filho. Sei que se tornará um grande homem nos próximos três ou quatro anos, porque já é um agora. Chegará à idade adulta, estudará e saberá conduzir esta propriedade muito melhor do que eu ou o seu avô. Assim como também sei que será um excelente marido. E um pai muito melhor do que eu fui.
Levantei-me da cadeira e comecei a andar pelo quarto, tremendo dos pés à cabeça. A fúria começava a me dominar. Não era dirigida ao homem prostrado na cama, portando-se como alguém que está entregando os pontos. Não. Minha cólera era dirigida à vida e seu fim inevitável. E a minha completa incapacidade de fazer algo para evitar o que, de alguma maneira, eu pressentia que estava prestes a acontecer.
— Eu não quero ouvir nada disso, pai.
— Mas precisa. Sabe que sim. Sente-se aqui, Christopher. Está me deixando zonzo com esse vaivém.
Relutante, acabei fazendo o que ele pediu. Meu pai virou a cabeça no travesseiro e me encarou.
— Agora escute. Quando chegar o momento de escolher sua mulher, seja cauteloso e não se deixe enfeitiçar por olhos encantadores ou... — tossiu algumas vezes — ... um belo par de seios.
Todo o sangue do meu corpo seguiu direto para o rosto.
— Pai...
— Estou falando sério. É claro que deve escolher alguém que lhe agrade os olhos. Você acordará ao lado dela todos os dias, e, acredite, nem todas são as beldades dos salões de baile pela manhã. Sua mãe tinha dias ruins às vezes. Os cabelos pareciam um amontoado de lã de vez em quando — ele sorriu com a lembrança. — Ainda assim, continuava linda para mim. Mas, veja, não era apenas pela maneira como seus olhos brilhavam ou os belos seios que...
— Pai! — Eu não queria ouvir nada a respeito dos seios de minha mãe!
Ele gargalhou e engasgou quando a tosse o assaltou. Peguei a escarradeira no chão e a aproximei de seu rosto, ajudando-o a se inclinar um pouco. O sangue no fundo da tigela me embrulhou o estômago.
Assim que ele se acalmou, ofereci um pouco de água, mas ele recusou.
— Maldita tosse. Onde eu estava? Ah, sim. Muitas damas vão despertar seu corpo, meu filho. Mas apenas uma fará seu coração valsar.
— Corações não dançam, pai.
Ele riu de leve.
— Você diz isso porque o seu ainda é jovem demais. Espere mais alguns anos e então me dará razão.
— O único propósito desta conversa é me constranger, não é?
Ele riu com alguma dificuldade.
— O que mais um homem acamado pode fazer para passar os dias?
Acabei rindo com ele.
— Vou pegar o baralho. Isso deve pôr fim a esta conversa embaraçosa.
Ele ergueu a mão, detendo-me.
— Estou cansado, meu filho. Acho que vou aproveitar e tirar um cochilo. E você devia sair um pouco. Não se afasta da minha cabeceira faz mais de uma semana.
— Prefiro ficar com o senhor.
Ele me lançou um olhar zangado.
— Pelo amor de Deus, Christopher, preciso dormir um pouco e não consigo com você batendo a sola da bota no chão a cada dois minutos. É enervante.
— Se sair deste quarto, mandarei buscar o doutor Almeida. — Cruzei os braços.
— O senhor sabe disso, não sabe?
— Faça como achar melhor. Meu velho amigo deve aparecer em breve, de todo jeito.
Eu o examinei com atenção. O rubor em suas faces se devia ao aumento da temperatura, o cansaço se tornara ainda mais pronunciado devido ao fraco movimento de sua caixa torácica. Respirar se tornava mais e mais difícil. Era hora de chamar o médico.
— Está bem, vou deixar que descanse. — Levantei-me e arrumei as cobertas ao redor dele. Sua mão pegou a minha abruptamente.
— Christopher, quanto a Maite... — Seu olhar desvairado e febril me partiu o coração ao meio.
Inferno.
— Eu... eu prometo, pai. Vou protegê-la. E vou defender sua honra com minha própria vida, se for preciso.
O sorriso que lhe curvou a boca era satisfação pura.
— Ela nasceu com a teimosia dos Uckermann. Ainda vai nos surpreender. — Ele deu dois tapinhas em minha mão. — Agora vá tomar um pouco de ar.
Eu o fitei por um longo minuto.
— Não estarei longe.
— Você nunca esteve, Christopher. Nunca esteve, meu filho.
E aquela foi a última vez que vi seus olhos abertos. Desde então, dei meu melhor para cumprir a promessa que fizera a ele. Por isso me doía duplamente saber que eu havia falhado com Maite, enquanto esperava que a enfermeira retornasse com alguma notícia sobre ela. Meu pai nunca teria permitido que ela estivesse em tamanho perigo.
Natália retornou cinco minutos depois, mas não trazia boas notícias.
— A ficha já foi encaminhada para o RH. O único jeito é pedir uma cópia na recepção.
— RH? — perguntei.
— Recursos humanos — explicou Sofia. — Já tentamos isso, Natália. Mas o Christopher esqueceu a carteira em casa.
— Poxa, que saco. Não tenho acesso ao RH.
— Tudo bem. Obrigada por tentar — Nina disse a ela.
Meus pés pareciam pesar uma tonelada conforme deixávamos o segundo andar.
Em algum lugar naquele prédio havia um documento que me levaria até Maite e...
Eu não sairia dali sem ele!
— Onde fica o tal RH? — eu quis saber, quando já estávamos na escada.
— Provavelmente no último andar. O administrativo sempre fica no último andar — explicou Rafael.
Olhei para o alto, para os lances de escada acima de minha cabeça.
— Christopher...? — Dulce me fitou com preocupação, depois com descrença. — Me diz que você não tá falando sério! — Muito embora eu não tenha dito nada.
— Precisamos do documento, Dulce.
— O quê? Você tá pensando em invadir o RH? — indagou Nina, perplexa.
— Não há outra maneira. — Coloquei as mãos nos bolsos. Mas eram estreitos demais e eu acabei desistindo. — Maite pode estar em perigo. Cada segundo é precioso, e já perdi muito tempo.
— E vai perder mais, se for preso de novo! — minha esposa apontou.
— Não se a gente fizer tudo direitinho. — Rafael, que até então apenas ouvia a conversa, decidiu intervir. — Em que você está pensando, Christopher? — Um sorriso cúmplice lhe esticou a cara toda.
Dulce o xingou, os olhos de Nina soltavam faíscas em direção ao marido. Mas eu...
Olhei para ele cheio de gratidão.
— Suponho que vou precisar de uma distração.




GrazihUckermann: Ele vai ficar assim até quase o final do livro, eles vão ficar no seculo vinte e um até o cap 39, claro que vai pq não kkkk bjss {#emotions_dlg.kiss} S2 S2 S2


 


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Autor(a): Fer Linhares

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— Não acredito que a gente vai fazer isso — sussurrou Dulce, enquanto andávamos pelo largo corredor acarpetado do quarto andar.— Se tivesse me escutado e esperado do lado de fora, não estaria tão nervosa assim.— Até parece! Eu já teria tido um piripaq... ah... ah... atchim! Porcaria de arcondicionado ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 63



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  • tahhvondy Postado em 14/02/2017 - 17:51:28

    nossa simplismente amei!cada um dos livros maravilhosos essa historia e incrível que não tem como não ser apaixonar por ela o amor deles e lindo o Christopher e mt fofo vou sentir saudades dessas confussões deles

  • GrazihUckermann Postado em 13/02/2017 - 19:10:55

    Eu AMEI! não sei qual dos livros foi o melhor. obrigada por postar essa história incrível, essa história é muito linda. Christopher é muito fofo <3 O amor deles é incrível. Quando ele a esqueceu ele se apaixonou por ela de novo, e eu tive que me segurar pra não chorar nessa parte s2 Fiquei feliz com o final da Madelena e do Seu gomes. Espero que tenha outro Baby vondy no livro da Maite, dessa vez tem que ser menino kkjk e não terá um nome melhor que Alexander para dar ao menino neh?? Estarei na próxima fanfic com você, comentando em todos os capitulos. Tchau. um diaa eu volto para ler de novo. (Acho que não demora muito, por amei a história e quero muito ler de novo) s2

  • tahhvondy Postado em 13/02/2017 - 10:57:28

    ai já ta acabando que triste mas ainda bem q vx consequiu baixa o da Maite

  • GrazihUckermann Postado em 10/02/2017 - 20:35:51

    Continuaaaaaaaaaaaaa! s2

  • tahhvondy Postado em 09/02/2017 - 11:28:34

    chequei continua por favor

  • GrazihUckermann Postado em 09/02/2017 - 09:49:37

    Continuaaaaa! s2

  • GrazihUckermann Postado em 07/02/2017 - 16:32:39

    FINALMENTE! CONTINUAAAAAAAAAAAAAA s2

  • GrazihUckermann Postado em 06/02/2017 - 21:08:32

    T-T

  • GrazihUckermann Postado em 06/02/2017 - 21:02:21

    Caraca essa confusão me deixou confusa kkkjk quando ele esquecer ela, ele meio que vai sumir?? vai aparecer no século dezenove como se nada tivesse acontecido?? é isso? não entendi kkkjk Continue mulher, não me deixe ansiosa! s2

  • GrazihUckermann Postado em 05/02/2017 - 22:21:37

    ai me deus!!!! CONTINUAAAAAA T-T


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