Fanfic: Destinado - As Memórias Secretas do Sr. Uckermann (Vondy) [TERMINADA] | Tema: Vondy [Adaptada]
— Não acredito que a gente vai fazer isso — sussurrou Dulce, enquanto andávamos pelo largo corredor acarpetado do quarto andar.
— Se tivesse me escutado e esperado do lado de fora, não estaria tão nervosa assim.
— Até parece! Eu já teria tido um piripaq... ah... ah... atchim! Porcaria de arcondicionado.
— Ela coçou o nariz com o dorso da mão, antes que eu pudesse lhe oferecer o lenço.
— Não é a solução que eu teria idealizado também, meu amor, mas é a única que me parece possível. O que é ar-condicionado?
— Aquilo ali — apontou para uma grelha presa ao teto. — E anda me causando essa alergia.
Eu prestava atenção nas portas, em busca da que pertencia aos recursos humanos. Encontrei-a bem ao centro. Estava fechada.
Havia uma fileira com cinco cadeiras ali perto.
— Venha. — Peguei Sofia pelo cotovelo e a levei até lá. Bem em frente havia outra sala. “Administração”, lia-se em uma placa branca.
Dulce esfregou a palma das mãos nas pernas da calça.
— Você não precisa fazer isso — garanti a ela. — Ainda há tempo de sair daqui.
— E deixar você se meter em encrenca sozinho? Nem pensar.
— Não corro nenhum risco. — Pelo menos eu esperava que não. — Mas Rafael me preocupa. Não quero que ele arranje problemas.
Eu havia pensado em algo simples, que permitisse nossa entrada na sala sem atrair muita atenção. Rafael refutou a ideia de imediato, garantindo-me que precisávamos de algo grande. Eu não tinha ideia do que ele pretendia, mas podia apostar, pela maneira como seus olhos brilharam, que o colocaria em problemas.
Por essa razão, Nina o acompanharia. Não que isso tivesse me trazido alento. Os dois podiam acabar em maus lençóis. Mas, diabos, eu realmente precisava daquele documento.
— O Rafa já é encrenqueiro sem motivo, imagina quando tem permissão para arranjar confusão. — Dulce olhou para os dois lados do corredor. — Não sei por que demorei tanto para perceber que ele era nosso tataraneto. Tava na cara.
Propenso a desastres, igualzinho a mim.
Pisquei algumas vezes, então a segurei pelos ombros para poder olhar em seus olhos.
— Ele é o quê?
Sua boca se contorceu em frustração.
— Você não se lembra nem disso, né?
Fiz que não.
— Ah, Christopher... — Sua mão delicada acariciou meu bíceps. — O Rafa é nosso tataraneto ou algo assim. Descobrimos isso quando você sugeriu o nome da minha empresa de cosméticos.
— Você transformou seu negócio do condicionador em uma empresa?! — Eu precisava me lembrar das coisas. Com urgência!
— A ideia foi sua! — ela disse depressa.
— Não, não. Eu estou apenas... surpreso. — O que mais eu havia perdido?
Passei a mão pelos cabelos, tentando organizar as ideias, e tudo o que consegui foi uma baita dor ao esbarrar em um calombo. Não me admirava que tivesse perdido a memória. O galo tinha o tamanho de um ovo de pata!
— O Rafa não sabe de nada disso — prosseguiu Dulce —, muito menos sobre a viagem no tempo. Acho que ele não acreditaria se soubesse. Vai ser difícil para você fingir que pertence a este mundo. Acredite, eu tentei e ainda tento, quando estamos em casa. Por isso, toma cuidado quando estiver perto dele, tá bom?
Ela não percebeu o que suas palavras fizeram comigo. Eram tão simples,
suponho, mas para mim tinham um imenso significado.
Acredite, eu tentei e ainda tento, quando estamos em casa.
Quando estamos em casa.
Dulce já não via o tempo em que nascera como seu. E isso era tudo o que meu coração precisava saber.
— Serei cuidadoso.
A porta metálica do elevador se abriu e lá de dentro surgiu justamente o homem em questão. Nina estava com ele e parecia nervosa. Eles discutiam, mas minha atenção estava no jovem de porte atlético e cabelos claros, buscando alguma semelhança. Não havia nenhuma. Ele percebeu que eu o observava e franziu o cenho.
Ah, ali estava.
Uma covinha bem no meio da testa. Exatamente igual àquela que Dulce exibia quando se sentia preocupada. Deus do céu, eu estava olhando para o meu próprio sangue!
— E lá vamos nós! — minha esposa grunhiu. — Espero que dê certo.
— Eu também.
— Você achou que eu não ia descobrir? — gritava Rafael. — Que eu sou tão idiota que poderia me enganar para sempre?
— Eu já disse que você está sendo ridículo! — retrucou Nina.
— Ah, agora eu sou ridículo?
A porta diante de mim se abriu. Um rapaz tão franzino que seus ombros se curvavam para a frente espiou o que estava acontecendo.
— Aí está o filho da mãe. — Rafael olhou para ele com uma fúria assassina.
O rapaz olhou para os lados, procurando. A porta do RH também se abriu. Uma mulher de óculos e cabelos na altura dos ombros observou a cena com a testa eriçada.
— Tô falando com você, babaca. — Rafael deu dois passos e pegou pela gola da camisa o rapaz duas vezes menor que ele. — Achou que eu não ia descobrir que você andou decorando a minha testa?
— E-e-e-eu?
— Larga ele! — Nina deu socos em suas costas. Eu esperava que não tivessem doído.
— Se você continuar defendendo este merdinha, só vai piorar as coisas, mulher.
De repente, o corredor ficou lotado. As pessoas saíam de suas salas e se amontoavam para assistir à discussão.
— Quem é esse cara? — ouvi alguém perguntar.
— Não sei. Parece que o Serginho andou tendo um caso com a mulher dele.
— Ué, mas o Serginho não tem namorado?
— Pois é.
— Xiiii, isso vai ser uma confusão federal...
Observei a porta do RH aberta. A sala parecia vazia.
— Vamos — murmurei a Dulce.
Nós nos afastamos discretamente da multidão e paramos em frente à sala de recursos humanos. Dulce deu uma espiada lá dentro enquanto eu me certificava de que ninguém prestava atenção em nós.
— Não tem ninguém aqui.
— Ótimo. — Eu a empurrei para dentro, fechando a porta com cuidado para não fazer barulho. Ainda podia ouvir a voz exaltada de Rafael e os resmungos gaguejantes de Serginho.
— O Rafa podia ter seguido carreira de ator. Tadinho daquele cara.
— Não temos muito tempo. Onde devemos procurar?
Ela olhou em volta. Havia três mesas, todas soterradas de papéis. Uma delas tinha uma bandeja com um monte organizado. Dulce apontou para ela.
— Você procura nessa pilha. Vou tentar o computador. — Ela contornou a mesa, rapidamente afastou a cadeira e começou a tamborilar os dedos naquela placa cheia de letras e números.
Apressei-me em direção à papelada, levando certo tempo para encontrar o nome dos pacientes em meio a tanta informação. Assim que descobri onde ficava, tornou-se fácil.
João, Ana, Lucélia, Bruna, Tiago, Maria, Anna, Berenice. Nenhuma Maite. Onde estava o maldito papel?
— Teve sorte? — perguntei a Dulce, correndo os olhos pelas fichas tão rápido quando podia.
— Ainda não.
Roseli, Carlos Eduardo, Ivan, Maria Paula...
— Ai, cacete, acho que vem vindo alguém. — Dulce pulou da cadeira, juntandose a mim.
Claudio, Denise, M...
A porta se abriu. Dulce se virou, as mãos nas costas arrumando disfarçadamente a pilha que eu bagunçara. Ajudei-a a colocar tudo no lugar.
— O que estão fazendo aqui?
— Hã... Não te falei que aqui não tinha banheiro? — ela me disse, a voz instável.
— Vi um no andar de baixo. Desculpa, senhora. Ele não tá passando bem do estômago. Estávamos esperando por um documento na administração, mas aquela confusão começou e... ele precisou de um banheiro.
— Pelo amor de Deus, me diz que ele não vomitou na minha sala!
— Não. — Eu me virei, a mão em punho pressionada na barriga. — Ainda não.
— Tem um banheiro no final do corredor, à direita! — A mulher de óculos se afastou da porta para me dar passagem.
Não perdi tempo, tampouco Dulce, que me pegou pela mão e praticamente começou a correr em direção às escadas. Olhei por sobre o ombro. Rafael mantinha o rapaz pressionado contra a parede. Um homem de uniforme azul tentava imobilizá-lo. Nina nos viu, e lhe fiz um aceno discreto de cabeça.
— Já deu! — ela disse. No mesmo instante, Rafael soltou o garoto, que desabou no chão feito um saco de batatas.
Dulce e eu não paramos em momento algum, descendo os quatro andares em uma pressa insana. Só diminuímos o ritmo quando já estávamos do lado de fora.
Ela se deixou cair na mureta que cercava o jardim em frente ao prédio, tomando fôlego.
— Essa foi... por pouco. Por muito... pouco — falou, sem ar.
Um homem saiu do prédio aos tropeções. Na verdade, havia sido empurrado porta afora e caiu na calçada.
Rafael.
— Vá curar sua dor de cotovelo longe daqui! — o homem de uniforme berrou.
Nina apareceu logo depois e se apressou em verificar se o marido estava bem.
Ele sorriu para ela de um jeito afetuoso. Então os dois nos viram.
— Deus do céu, Rafa. — Dulce se levantou e se aproximou. Eu a segui e ajudei Rafael a ficar de pé. — Achei que você fosse acabar sendo preso por estrangular aquele rapaz.
— Deixa de drama. Eu nem tava apertando a garganta dele. — Ele endireitou as roupas.
— O pobrezinho não entendeu nada. Aposto que ele vai ter pesadelos esta noite
— Nina olhou torto para o marido.
Rafael a ignorou, erguendo os ombros.
— Tive que trabalhar de improviso. E funcionou.
— E eu lhe sou muito grato por isso — dirigi-me a ele.
— Nada disso. — Ele me deu um soco no braço. — Amigo é pra essas coisas.
Mas e aí, deu certo? Acharam os papéis da Elisa?
— Não! — Dulce bateu o pé, como se quisesse chutar alguma coisa. — Uma mulher apareceu antes que pudéssemos encontrar a ficha.
— Cara/lho!
— Saco — Nina resmungou. — Tudo isso pra nada.
— Na verdade... — Abri a mão que mantinha cerrada, revelando uma bolinha branca.
* * *
— O que vão querer? — perguntou Rafael, estudando o cardápio da cantina italiana. O pequeno restaurante era agradável. Queijos e garrafas de vinho pendiam por todo o teto. Sobre a toalha xadrez de verde e branco em cada mesa, um copo baixo abrigava uma rosa vermelha. O cheiro de molho de tomate permeava o ambiente e estava me deixando louco.
Eu não havia percebido que estava tão faminto. Toda aquela agitação sobre o desaparecimento de Maiteme deixou impaciente, e eu não fazia ideia de quando
tinha sido minha última refeição. A julgar pela sensação dolorosa que retorcia minhas tripas, devia fazer muito tempo. Ainda assim, eu teria suportado mais algumas horas, se não tivesse ouvido o estômago de Dulce roncar alto.
— Pizza! — Os olhos Dulce chisparam de prazer.
— O mesmo para mim. — Faminto como estava, eu comeria qualquer coisa, fosse o que fosse.
— Para mim também! — concordou Nina.
Rafael chamou o garçom e pediu duas pizzas. Não ouvi o que ele disse, pois minha atenção estava em uma tela. Era fina com uma moldura negra, mas no centro imagens e cores mudavam a todo instante. E tinha som! Quando os lábios das pessoas se moviam, eu as ouvia. Seria a tal TV, que Dulce tentara descrever para mim? Ou seria um cinema? Eu não saberia dizer.
— Preciso ir ao toalete lavar as mãos. — Dulce se levantou.
Fiquei de pé no mesmo instante.
— Eu a acompanho.
— Até o banheiro? — Rafael me olhou com escárnio.
— Até onde ela precisar.
— Ah, que coisa mais fofa — suspirou Nina, levantando-se. — Mas pode deixar, Christopher. Também preciso ir ao banheiro. Vamos, Dulce. — E enganchou o braço no de minha esposa.
As duas desapareceram por uma porta lateral. Voltei a me sentar. O garçom apareceu com o vinho e uma cesta de pãezinhos. Fiquei satisfeito que ao menos isso não tivesse sido modernizado. Vinho ainda tinha gosto de vinho. Pão ainda era pão.
— Faz alguma ideia do que levou sua irmã a fugir de casa? — Rafael quis saber, tomando um bom gole da bebida. — E vir para um lugar tão distante de onde vocês vivem?
Eu não queria que ninguém pensasse que Maite havia se metido naquela confusão por vontade própria, porém contar a verdade só nos traria problemas e, consequentemente, perguntas que eu não saberia responder. Mesmo que me lembrasse o que de fato havia ocorrido, quero dizer.
— Suponho que ela não soubesse onde estava se metendo — falei por fim, pois não era de todo mentira. — Nós vivemos em um mundo totalmente diferente deste, por isso estou tão preocupado com ela.
— Imagino, se nem tem internet por lá. Como é isso? Viver em um lugar isolado do mundo?
— Não o vejo como isolado. — Ou não o via, ponderei. — É apenas diferente de tudo isso. Mais simples. Parece que o tempo passa mais devagar.
— E a Dulce conseguiu se adaptar num lugar assim? — ele perguntou, bebericando o vinho.
— Levou um tempo, mas ela está conseguindo se virar muito bem. É espantosa a capacidade que Dulce tem de se adaptar às situações mais adversas. — E de se meter em confusão, eu quis acrescentar, partindo um pãozinho. — Não que ela aceite de imediato; sempre acaba dando um jeito de contornar e fazer tudo à sua maneira. E, claro, agora que ela está vivendo lá, a vida já não é tão pacata assim.
Sua inteligência e sagacidade me deixam constantemente boquiaberto.
— Que bom. Pensei que minha amiga tivesse sofrido uma lavagem cerebral ou coisa parecida. — Rafael se recostou na cadeira, os olhos fixos na porta onde sua esposa havia entrado. — Posso fazer uma pergunta?
— Fique à vontade. — Levei um naco de pão à boca.
— A Nina anda com umas ideias. E eu não sei se estou pronto pra... Acho que não estou, mas ela quer tanto! E, cara, eu queria... — Ele se deteve, fez uma careta e tomou outro gole de vinho.
— Dar o que ela deseja? — arrisquei.
Ele fez que sim, descansando a taça na mesa. Cruzou os braços. Depois os descruzou.
Acabei rindo.
— Não pode ser tão terrível assim, Rafael.
— A Nina quer um bebê.
— Ah. — Isso, de fato, podia fazer um homem perder as estribeiras. Sobretudo na questão do parto. Eu não sabia se me sentia irritado ou agradecido por não me lembrar.
— Então eu queria saber sua opinião. Mas de verdade, não aquelas baboseiras que todo mundo diz. Como é ser pai?
Xingando baixinho, esfreguei o centro do peito, pois parecia estar em brasa.
— Essa é uma das coisas das quais eu não me lembro.
— Ah, cacete, cara! Foi mal. — Ele se esticou sobre a mesa e deu dois tapas ligeiros em meu ombro. — Não fica assim. Daqui a pouco a sua memória volta, você vai ver.
— Eu realmente espero que esteja certo. É um inferno não lembrar da própria filha.
Ele me fitou especulativamente.
— A gente podia tentar trazer sua memória na marra.
— Como? — eu quis saber.
Ele ergueu os ombros.
— Que nem nos filmes. A gente podia tentar, se demorar muito pra voltar.
Desde que trouxesse minha memória de volta, para mim estava tudo bem.
— Quanto a sua pergunta — continuei —, eu não me lembro de minha filha, mas me lembro de quando soube que ela estava a caminho. Foi o melhor dia da minha vida. E o pior também.
— Eu sabia! — Ele deu um soco na mesa. Os talheres e as taças tilintaram.
— Fiquei feliz e orgulhoso pelos motivos óbvios. E apavorado com a lembrança de quantas mulheres eu conhecia que haviam perdido a vida ao trazer o filho a este mundo. A do meu mordomo, por exemplo.
— Você tem mordomo? — Seus olhos se alargaram.
— Sim, é claro. — Que pergunta mais tola. — Não sei como foi o nascimento de Marina e, de certa maneira, acho que estou grato por não lembrar. Imaginar que Dulce possa ter sofrido me deixa doente.
— Ah, po/rra. Eu não tinha pensado nisso ainda!
— E o pensamento de que aquela pequena vida ainda no ventre de Dulce era responsabilidade minha me deixou paralisado de medo. Como eu podia ter certeza que faria tudo direito? Que o manteria seguro? Que cresceria saudável?
— É isso. Tá resolvido. Não vale a pena.
Eu o fitei com seriedade.
— Eu não disse isso.
— Não, mas por que alguém ia querer passar por um pesadelo desses?
— Porque eu posso não me recordar, mas, ao ouvir Dulce falar de nossa filha, a maneira como seus olhos cintilaram... Isso por si só já teria valido a pena. Mas eu vi o retrato de Marina. E eu lhe juro, Rafael, eu me apaixonei por ela assim que vi seu rosto. Na verdade, se pudesse me lembrar de tudo, aposto que lhe diria que me apaixonei antes mesmo disso. Não consigo explicar essa ligação. É quase primitiva.
Ele acenou uma vez, pegou sua taça, mas não bebeu, o olhar perdido em um canto da cantina. Deixei-o imerso em seus pensamentos, esperando ter sido útil, enquanto me perdia nos meus.
Onde estaria Maite agora? Teria um prato de comida para lhe saciar o estômago?
Teria um teto sobre a cabeça? Quem diabos a havia levado?
O documento que eu pegara no hospital jazia em meu bolso, e lutei contra a vontade de dar uma olhada nele outra vez. Havia algumas informações ali, como os remédios que deram a Maite, o relato de sua crise nervosa, seu nome e sua idade. Mas a assinatura de quem se dissera responsável por ela no fim da página era ilegível. Não havia nenhuma identificação, nenhum documento, nada além da assinatura corrida e ligeiramente pontuda. Não era possível distinguir nem mesmo se pertencia a um cavalheiro ou a uma dama.
A alegria por ter encontrado o papel em tempo, por ter conseguido sair da Santa Casa sem ir parar na cadeia outra vez, transformou-se em desespero. Voltamos ao ponto de partida. Sem a menor ideia a respeito do paradeiro de Maite.
Rafael tossiu, me trazendo de volta para o presente. Eu o fitei com atenção. Seu rosto estava um pouco afogueado, os olhos ligeiramente brilhantes.
— Você está se sentindo bem, Rafael?
— Tranquilo. Mas acho que peguei uma gripe.
As garotas retornaram no momento em que as pizzas chegaram. O pão redondo e fino recoberto de queijo e linguiça fez meu estômago roncar, e me lancei sobre a comida assim que meu prato estava cheio.
— Essa é a melhor comida do mundo. — Dulce se serviu de mais um triângulo.
— Uma das melhores coisas que já provei — concordei.
Apesar do estado de espírito infeliz, acabei comendo uma daquelas quase inteira.
Em menos de meia hora, as duas bandejas estavam vazias.
— Cara, não cabe mais uma azeitona. — Rafael arrotou alto.
— Olha os modos. — Nina o cutucou com o cotovelo, mas riu.
Assim que terminamos, os pratos foram recolhidos. Ninguém pediu sobremesa, porém ainda sobrara vinho. Nina e Rafael se entreolharam, e ela assentiu uma vez antes de se pôr a falar.
— Dulce, bom... Lembra que você sumiu do mapa sem deixar nenhum recado e tal?
— Você sabia que eu estava indo embora. Ou tentando, pelo menos — minha esposa se defendeu.
— Eu sei disso. A questão é que... Bem, algumas coisas são meio complicadas e eu não sabia muito bem o que tinha acontecido até você começar a me escrever.
Você deixou tudo meio que em suspenso. Seu contrato de aluguel terminou e o dono do imóvel me procurou. Ele pediu uma ordem de despejo. Avisei que você não voltaria mais, e ele ficou bem furioso...
— Imaginei. O que foi feito das minhas coisas?
— Nada. — Nina sorriu de leve, ao passo que Dulce franziu a testa.
— Como assim, nada?
— O apartamento foi vendido antes disso. O novo dono não decidiu ainda o que vai fazer com ele, e não se importou de deixar suas coisas ali, por enquanto.
— Isso foi muito generoso — comentei.
— Generosidade é o meu nome do meio. — Rafael levou a mão ao bolso da calça e jogou um molho de chaves sobre a mesa.
Dulce olhou para elas, então para Rafael, a boca escancarada.
— O quê?! — perguntou, sem fôlego. — Rafa, por que você fez isso?
— Foi um bom negócio. — Ele ergueu os ombros. — O antigo proprietário estava afundado em dívidas e me ofereceu o apê pela metade do valor de mercado.
Fiquei com ele.
— Mas, Rafa...
Ele revirou os olhos.
— Antes que você pire, me escuta. Não teve nada a ver com você. Vi uma boa oportunidade e aproveitei. Esse não é o primeiro imóvel que eu compro. Tenho vários pela cidade. Alguns eu alugo, outros reformo e vendo. Outros ficam ali parados esperando a hora certa.
Dulce pareceu ainda mais atônita. Rafael riu.
— Está pronta pra me pedir desculpas por todas as vezes em que me chamou de encostado com a vida ganha?
— Não liga pra ele. — Nina o olhou torto. — O importante é que as suas coisas ainda estão lá, do jeitinho que você deixou. Ah, e seu carro tá na garagem. Nem sei se funciona ainda. Mas a documentação tá toda atrasada. Se quiser dar uma olhada...
— Caramba, eu... nem sei o que dizer, além de que o Rafa ficou doido.
— Fiquei? — Ele apoiou os cotovelos na mesa. — Seu antigo vizinho me procurou perguntando se eu estava interessado em vender. Ofereceu três vezes mais do
que eu paguei. E vai valorizar ainda mais. Estão construindo um shopping de alto padrão ali perto.
— Obrigada — Dulce disse aos dois com intensidade. Então me fitou. — Quer ver onde eu morava antes de te conhecer?
— Claro. — Por muitas vezes me flagrei tentando adivinhar o mundo de Dulce, mas mais frequente ainda era tentar imaginar sua casa, seus objetos preferidos, a maneira como ela vivia e cuidava de si. Nunca pensei que um dia teria a chance de ver tudo com meus próprios olhos. Essa era uma das coisas de viver com Dulce. Eu nunca sabia o que viria a seguir.
Ela olhou para Rafael, hesitante.
— Você se importaria se eu usasse o apê só por esta noite? Eu queria muito mostrar pro Christopher de onde eu vim.
— Credo, Dulce. Você fala como se o cara fosse de outro planeta!
— Não está muito longe da verdade — murmurei, sorvendo o que restava do vinho em minha taça.
— Fique lá o tempo que quiser. — Rafael apoiou o braço no encosto da cadeira de Nina. Ela se aconchegou nele. — Então, qual é o plano pra amanhã?
Nós quatro nos entreolhamos. Esperei que um deles apresentasse alguma ideia, uma moderna, que pudesse ser mais eficiente que a minha. Quando ninguém disse nada, obriguei-me a dizer:
— Pensei em espalhar alguns cartazes com o retrato de Maite pela cidade.
— Porr/a, Christopher, por que você não disse antes que tinha uma foto dela? — Rafael estendeu a mão. — Passa pra cá. Vou imprimir.
— Eu não disse que tenho.
Ele revirou os olhos.
— Não é possível que você não tenha nenhuma foto da sua irmã no celular!
— Como ele teria um celular, Rafa? — Nina se endireitou. — Já te disse que não tem essas coisas onde a Dulce mora agora.
Rafael me observou de maneira muito estranha.
— Tem certeza que você não caiu de um dos livros da Dulce? — E sacudiu a cabeça. — Onde podemos conseguir uma foto dela? No Facebook? Instagram?
Eu não sabia a respeito do que ele estava falando, mas, se pertencia àquele mundo, então a resposta era uma só:
— Não.
— A Maite não tem Facebook — Dulce ajudou.
— Mas eu posso fazer um retrato dela — contei. — Foi isso o que eu quis dizer.
Não garanto que será fiel, mas acredito que seja melhor que nada.
Os olhos do rapaz se alargaram.
— Fazer um retrato, tipo, desenhando?
— Sim.
—Tá legal, Michelangelo. — Coçando a cabeça, ele tentou se manter sério. — Vamos ver o que você sabe fazer.
Rafael pediu a conta e eu imediatamente levei a mão ao bolso, lembrando então que minhas moedas não tinham valor algum naquele tempo. Demônios. Eu precisava pensar também em uma maneira de conseguir algum dinheiro.
GrazihUckermann: Ele não mas o Rafa adora confusão kkk bjss S2
tahhvondy: A memória dele não volta tão cedo assim não, claro pq não kk bjss
Comentem!!!
Autor(a): Fer Linhares
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— Você acha que consegue encarar o elevador? — Dulce perguntou ao entrarmos no prédio de fachada amarela. Rafael e Nina tinham nos deixado lá antes de retornar para casa. — Tô exausta. Não consigo enfrentar seis andares de escada.— Claro. — Embora sua pergunta tenha me deixado confuso. Não d ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 63
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tahhvondy Postado em 14/02/2017 - 17:51:28
nossa simplismente amei!cada um dos livros maravilhosos essa historia e incrível que não tem como não ser apaixonar por ela o amor deles e lindo o Christopher e mt fofo vou sentir saudades dessas confussões deles
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GrazihUckermann Postado em 13/02/2017 - 19:10:55
Eu AMEI! não sei qual dos livros foi o melhor. obrigada por postar essa história incrível, essa história é muito linda. Christopher é muito fofo <3 O amor deles é incrível. Quando ele a esqueceu ele se apaixonou por ela de novo, e eu tive que me segurar pra não chorar nessa parte s2 Fiquei feliz com o final da Madelena e do Seu gomes. Espero que tenha outro Baby vondy no livro da Maite, dessa vez tem que ser menino kkjk e não terá um nome melhor que Alexander para dar ao menino neh?? Estarei na próxima fanfic com você, comentando em todos os capitulos. Tchau. um diaa eu volto para ler de novo. (Acho que não demora muito, por amei a história e quero muito ler de novo) s2
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tahhvondy Postado em 13/02/2017 - 10:57:28
ai já ta acabando que triste mas ainda bem q vx consequiu baixa o da Maite
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GrazihUckermann Postado em 10/02/2017 - 20:35:51
Continuaaaaaaaaaaaaa! s2
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tahhvondy Postado em 09/02/2017 - 11:28:34
chequei continua por favor
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GrazihUckermann Postado em 09/02/2017 - 09:49:37
Continuaaaaa! s2
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GrazihUckermann Postado em 07/02/2017 - 16:32:39
FINALMENTE! CONTINUAAAAAAAAAAAAAA s2
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GrazihUckermann Postado em 06/02/2017 - 21:08:32
T-T
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GrazihUckermann Postado em 06/02/2017 - 21:02:21
Caraca essa confusão me deixou confusa kkkjk quando ele esquecer ela, ele meio que vai sumir?? vai aparecer no século dezenove como se nada tivesse acontecido?? é isso? não entendi kkkjk Continue mulher, não me deixe ansiosa! s2
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GrazihUckermann Postado em 05/02/2017 - 22:21:37
ai me deus!!!! CONTINUAAAAAA T-T