Fanfics Brasil - Capítulo 3 Destinado - As Memórias Secretas do Sr. Uckermann (Vondy) [TERMINADA]

Fanfic: Destinado - As Memórias Secretas do Sr. Uckermann (Vondy) [TERMINADA] | Tema: Vondy [Adaptada]


Capítulo: Capítulo 3

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O sol estava quase se pondo quando finalmente consegui entrar em casa.
Cuidar daquele pangaré tinha levado muito mais tempo do que eu imaginara.
Depois de acompanhar Dulce até a casa, eu fora tratar as feridas do animal e agora estava coberto por todo tipo de sujeira. Fiz o melhor que pude por ele: preparei os cataplasmas usando um bocado de arnica e algumas outras ervas, e apliquei em quase todo o seu dorso. Também cuidei das ferraduras, alimentei-o e lhe dei de beber. Agora só me restava torcer para que isso fosse o bastante. Não foi muito animador, devo confessar, ouvir Isaac — meu braço direito no estábulo e filho do meu mordomo — dizer, depois de uma rápida olhada no bicho:
— Não sei não, patrão. Acho que o senhor só está perdendo seu tempo.
Devíamos chamar o açougueiro.
Lancei a ele um olhar enviesado e o garoto se apressou em ir cuidar do veículo de minha esposa, estacionado em frente à casa. Ninguém levaria um dos meus cavalos para o açougueiro!
Então, após fazer tudo o que estava ao meu alcance, fui para casa, louco para tomar um banho. Desviei, ao entrar, dos tijolos que se amontoavam próximos à porta da cozinha. A construção do banheiro de Dulce já tivera início. Não ia muito bem, contudo, pois o mecanismo principal — que seu Domingos, o mestre de obras, encomendara na Europa — ainda não havia chegado. O navio que o trazia fora saqueado por piratas e então tinha sido necessário fazer uma nova encomenda. Dulce não estava contente com isso.
Passei direto pela cozinha, mas o senhor Gomes estava por lá. Meu mordomo lançou um olhar pouco surpreso para minhas roupas imundas e se apressou em colocar uma bacia de água sobre o fogão a lenha.
Eu estava quase em frente ao meu escritório quando avistei Maite saindo da sala de leitura.
— Minha nossa! — Ela fez uma careta ao se aproximar e se abraçou ao livro que tinha nas mãos. Shakespeare, constatei, resignado. Ali não havia nada da menina a quem eu ensinara a tabuada e que gostava de ler os contos de Jean de La Fontaine antes de dormir. Agora preferia poesias e bailes. — Você precisa de um banho.
— Um dos cavalos precisou de cuidados.
— Ah. Fico contente que já tenha terminado as suas tarefas. Em menos de três horas os nossos convidados devem começar a chegar.
— Estarei pronto na hora marcada. Prometo. Agora, entre aqui um instante, Maite. — Abri a porta do meu escritório particular. Ela passou pelo batente, observando com expectativa enquanto eu contornava a mesa, abria uma das gavetas e pegava um pequeno embrulho. Estendi o pacotinho a ela. — Feliz aniversário!
Ela sorriu, abandonando o livro sobre o tampo da mesa, e aceitou o presente.
Desembrulhando-o com graça, apressou-se em espiar o conteúdo da caixinha de veludo.
— Oh, Christopher! — Maite levou a mão à boca, os olhos muito brilhantes. — É maravilhoso!
O colar simples, apenas uma turquesa oval rodeada de minúsculos brilhantes pendurados em um fino cordão dourado, não podia tê-la surpreendido tanto.
Afinal aquela era sua pedra favorita, e ela ganhava uma em todos os seus aniversários, desde o primeiro. Nosso pai insistia que eram do mesmo tom dos olhos de sua caçula.
Era engraçado vê-la agora tão surpresa. Desde pequena, Maite esperava pela data contando os dias no calendário, especulando aqui e ali na tentativa de adivinhar o que ganharia naquele ano. Um anel? Brincos? Um belo broche?
Certa vez, no aniversário de nove anos de minha irmã, meu pai resolvera atormentá-la fingindo que tinha se esquecido de lhe comprar um presente.
Estávamos na sala de leitura. Minha mãe bordava em frente à janela, os pálidos cabelos louros brilhando como cetim. Meu pai tentava ler o jornal, mas Maite discursava com veemência sobre a importância de celebrar a data ganhando um presente. Eu estava à mesa, aprendendo alemão com o senhor Hensler. Era a segunda vez que eu tinha aulas com aquele crápula.
— Não é certo eu não ganhar nada. — Maite fez beicinho. — O Christopher ganhou no aniversário dele!
— E o que você sugere, querida? Devo sair e lhe comprar uma selaria nova? — Meu pai virou a página do jornal.
— Eu preferia algo menor. E brilhante.
— Como o quê?
— Qualquer coisa que tenha uma bonita pedrinha, papai. Aquela pedrinha fria, que o senhor diz que é da cor dos meus olhos.
Fiz de tudo para não rir. Maite era muito pequena e não fazia ideia de quanto custavam as turquesas. Ela as achava bonitas e queria ter tantas quantas pudesse.
Meu pai também tinha dificuldade para se manter sério, e dobrou o jornal para ganhar tempo a fim de se recompor.
— Humm... Não me lembro de nenhuma pedra branca — disse ele.
— Não dessa parte dos meus olhos, papai.
Ele a estudou por um momento, coçando o queixo.
— Sim, me recordo agora. Comprei uma pedra brilhante e preta tem um tempo.
Deve estar aqui em algum lugar. — E tateou os bolsos.
— Não! Essa é a cor dos olhos de Christopher! Os meus são azuis, como os da mamãe!
— Aproximou o rosto do dele até os narizes se tocarem e arregalou os olhos. — Está vendo?
Afastando-se um pouco, ele pousou o polegar no queixo da menina, fingindo examiná-la com atenção.
— Humm.... Ora, mas veja só! São azuis mesmo, minha querida. O que faremos agora? Confundi e comprei o presente para o filho errado!
— Víctor! — Mas a censura de minha mãe se perdeu no momento em que ela sorriu para o marido. — Não atormente Maite. É claro que ele não se esqueceu de lhe comprar um presente, querida.
Eu estava atento à conversa, já que não havia nada que eu odiasse mais do que as aulas de alemão. Era uma tradição da família Uckermann, muito antes de meu avô ter decidido deixar a Inglaterra para se aventurar nas fascinantes e potencialmente lucrativas terras brasileiras. Os homens da minha família eram obrigados a aprender alemão, enquanto as damas se dedicavam ao francês.
Acabei rindo das caretas de minha irmãzinha.
E imediatamente a régua do senhor Hensler mordeu minha mão com um som agudo.
— Passen Sie auf! — vociferou.(Atenção!)
— Mas eu estava prestando atenção! — reclamei.
A régua zuniu no ar antes de encontrar minha mão outra vez. Maldito senhor Hensler.
— Auf Deutsch, bitte! Christopher, sprechen Sie mir nach: ich war gewesen, du warst
gewesen, er/sie/es war gewesen…(Em alemão, por favor. Repita, Christopher: eu tenho sido, tu tens sido, ele/ela tem sido...)
Minha mãe lançou um arquear de sobrancelha a meu pai, que por sua vez fitou meu tutor com as pestanas quase unidas enquanto eu seguia conjugando o verbo estar. Diabos. Eu odiava conjugação verbal. Odiava ainda mais o senhor Hensler, com seu grande corpo de barril e sua maldita régua de madeira. A aula anterior havia sido naquela mesma sala, mas eu ficara sozinho com aquele sujeito, sem nada para me distrair exceto os devaneios de um garoto de quatorze anos.
— Você se esqueceu mesmo da cor dos meus olhos, papai? — Maite insistiu.
Víctor Uckermann sorriu e deslizou os dedos carinhosamente pelas bochechas rosadas da menina.
— Como eu poderia, minha querida, se a cada vez que olho para eles vejo sua mãe me observando de volta? — Seu olhar repousou na bela mulher em frente à janela. Ela retribuiu com um sorriso cheio de mistérios, que na época eu não tinha como compreender. Duas pequenas covinhas surgiram em suas bochechas.
Meu pai então enfiou a mão no bolso do paletó e em seguida pegou o braço de Maite, prendendo uma pulseira de bolotas azuis em seu pulso fino.
— Aqui está. Azuis como os seus olhos. Feliz aniversário, minha querida.
— Ah, papai — Ela o abraçou, depois correu para o colo da mãe. — Olhe, mamãe! Olhe quantas pedrinhas eu ganhei!
— São belíssimas, Maite. Dignas de uma verdadeira dama. — Colocou o bordado para o lado e se inclinou para beijar o rosto da filha.
Minha irmã passou um bom tempo ali, admirando as bolinhas. Então saltou sobre seus sapatos brancos e correu para a mesa onde eu estava.
— Christopher, Christopher! Você ouviu? A mamãe disse que eu sou uma dama agora que tenho todas estas perolazinhas! Não são ainda mais lindas que as últimas?
— São muito bonitas, Mait... Ai! — Tomei mais uma reguada. Desta vez na cabeça. — Die Perlen sind sehr schön, Maite.(As pérolas são muito bonitas,  Maite.)
— Sehr gut, Christopher — elogiou Hensler.(Muito bem, Christopher.)
Minha mãe se levantou, alisando o vestido rosado, e fitou meu pai.
— Muito bem, vamos comer alguma coisa e deixar Christopher com seus estudos.
— Será que tem bolo de coco, mamãe? — Maite pegou a mão dela.
— Se não tiver, nós faremos um, que tal? — meu pai sugeriu, ao ficar em pé.
— Eu adoraria! Mas não sei se posso. Não dá para fazer um bolo sem sujar as roupas, e a mamãe diz que uma dama jamais se suja, e agora que eu ganhei estas pedras... bem, suponho que não poderei mais me sujar. — Maite suspirou com tristeza.
— Ora, hoje é seu aniversário. — Ele acariciou os cabelos negros da filha, presos por fitas brancas. — Todo mundo sabe que uma dama pode se sujar quanto quiser no dia de seu aniversário.
— É verdade, mamãe? — Seu olhar esperançoso disparou para o rosto de Alexandra Uckermann, que fez o melhor que pôde para manter a expressão séria.
— Certamente, querida.
Ao passar pela mesa, meu pai se aproximou do senhor Hensler e o surpreendeu ao tomar-lhe a régua.
— Senhor Uckermann! — A indignação reluziu em seu olhar.
— Vá até o meu escritório assim que a aula terminar. — Não foi um pedido.
Aquela foi a última vez que tive aulas com o senhor Hensler. Também foi o último aniversário de Maite em que meus pais estiveram presentes. Nossa mãe sofreu um ataque de apoplexia e nos deixou pouco antes do Natal de 1823. No inverno do ano seguinte, foi a vez de nosso pai. E foi por essa razão que eu, o Uckermann então responsável por Maite, não admiti que ela perdesse também a tradição das turquesas. Ela era jovem demais para acumular tantas perdas. Não me parecia justo.
— Um colar! — Maite exclamou, trazendo-me para o presente. — Jamais ganhei um colar antes! Você sempre disse que só as moças ganham colares.
— Foi o que me assegurou uma vez a senhora Almeida. — Enfiei as mãos nos bolsos da calça.
Maite sorriu, exibindo as covinhas de Alexandra Uckermann
— Esse é o seu modo de me dizer que eu cresci, Christopher?
Dei de ombros.
Ela contornou a mesa antes que eu pudesse piscar e me abraçou, beijando meu rosto com entusiasmo.
— Não existe em todo o mundo um irmão melhor que você.
— É, bem... — Dei alguns tapinhas em seus ombros.
Rindo, Maite se afastou e me pediu para ajudá-la com o colar. Assim que a pedra lhe caiu no pescoço, ela se virou, seus inseparáveis brincos em formato de lágrima — também de turquesa — sacudindo de leve. Naquele instante me dei conta de quanto ela estava crescida. E muito bonita.
Era melhor conferir se havia balas na caixa da pistola.
— Vou usá-lo esta noite — contou ela, admirando a pedra. — Combina perfeitamente com o meu vestido.
— Imagino que sim. Tem ideia de onde estão Dulce e Marina?
— Escondidas em algum lugar. — Seu rosto se contorceu em uma careta. — Tia Cassandra já chegou e, como de costume, está enlouquecendo a todos! Ainda agora ela me disse que eu não sei arrumar os cabelos como uma fina dama!
Balancei a cabeça.
— Ainda não acredito que você a perdoou.
Algumas semanas após o meu casamento, Cassandra raptara Maite na tentativa de obrigá-la a casar com seu filho. Alfonso também caíra na armadilha. Por sorte, Dulce e eu conseguimos alcançá-los antes que qualquer mal tivesse acontecido. Eu ainda não conseguia olhar para aquela mulher sem querer torcer-lhe o pescoço.
— E de que adiantaria alimentar qualquer rancor, Christopher? Apenas envenenaria a minha alma, e se isso acontecesse ela sairia vitoriosa. Desta maneira eu sou feliz, e a incomodo mais que qualquer outra coisa.
Acabei rindo.
— Tem certeza de que está completando apenas dezessete anos?
— Sim! E, se você não se livrar de toda essa sujeira, não restará uma única pessoa no meu baile, pois espantará a todos! — Ela me pegou pelo braço e me empurrou porta afora. — Vamos. Daqui a pouco os convidados começarão a chegar. E diga a Dulce que, se ela precisar de ajuda com o penteado, basta mandar me chamar.
— Darei o recado.
Maite tomou a direção oposta à minha, e eu me detive por um instante para observá-la. Ela seguia em frente a passos não tão rápidos, distraída pela turquesa.
Acabei sorrindo. Não tão crescida assim, afinal...
Tão logo ela desapareceu no corredor, fui para o quarto, onde a banheira já me esperava. Eu estava louco para ver Marina. Quando saí pela manhã ela ainda dormia, mas de maneira alguma eu me aproximaria dela coberto de cataplasma e baba de cavalo. Encontrei o traje de baile metodicamente esticado sobre a cama. Coisas de meu mordomo. Então não me demorei e em dois quartos de hora estava limpo, adequadamente vestido e morto de fome, mas antes precisava ver minha filha.
Encontrei-a na sala de música, em companhia de minha esposa. A porta estava entreaberta e ninguém percebeu minha chegada.
Meu coração deu um salto enquanto eu as observava. Dulce estava esparramada no tapete, as costas apoiadas no sofá, as saias erguidas até a altura das deliciosas coxas, os inseparáveis tênis vermelhos à mostra. A seu lado, a menina mais linda que qualquer um já viu montava um unicórnio colorido com toda a destreza e o conhecimento de seus dez meses de idade. O brinquedo moderno fora presente da fada madrinha de Dulce, assim como a dezena de chupetas que se espalhava pela casa. Um artefato praticamente milagroso, devo dizer, que tinha o poder de acalmar aquela bebezinha como quase nada mais conseguia. Ela escutava com muita atenção o que sua mãe dizia.
— ... especialmente porque baile é uma coisa muito esquisita — dizia Dulce. — E a princesa não se saía muito bem com as roupas bufantes e a parada de dançar quadrilha. É muito complicado. E meio bobo, na minha opinião. Mas não conta pra ninguém que eu disse isso!
Recostei-me no batente, curioso para descobrir como aquela história acabaria, mas os rápidos olhos castanhos de Marina captaram o movimento sutil. O sorriso que ela me exibiu — uma vastidão de gengivas rosadas, a inferior cingindo os dois únicos dentinhos brancos como pérolas — fez meu peito se aquecer. Aquele pedacinho de gente mal chegara ao mundo e já o modificara. Irreversivelmente.
Minhas noites já não eram minhas. Dulce e eu nos revezávamos na madrugada, e muitas vezes eu acabava adormecendo na poltrona ao lado do berço, com Marina ainda no colo. As refeições também haviam se tornado um espetáculo.
Era costume por ali a criança comer na cozinha até ter idade suficiente para comparecer a jantares sem embaraçar os pais. Dulce não admitira tal coisa, porém. Dizia que nossa filha jamais aprenderia a se portar à mesa se não tivesse a oportunidade de observar como tudo funcionava. Fazia sentido, de alguma forma. Então agora as paredes da sala de jantar estavam decoradas com manchas de comida de cores variadas. Às vezes, Marina parecia ocupar todas as horas do dia, e eu sempre me cansava muito antes dela. Mas bastava ela sorrir, olhar para mim com tanta atenção que chegava a espantar ou molhar meu rosto com a baba de seus beijos descoordenados para que eu me sentisse absolutamente grato por estar tão exausto.
— Então a princesa passou o maior vexame no baile — continuou Dulce. — Porque acabou jogando comida naquela dona chique sem querer. Aí o príncipe tirou a princesa dali e...
— Papa! Papa!
Dulce acariciou os cachos negros que mal chegavam à altura do queixo de nossa filha, afastando os fios de seu rosto.
— Não vale tentar adivinhar o final!
— Papa. — Ela agarrou o pônei pela crina de lã e começou a pular, como se o galopasse. Foi a coisa mais encantadora que já vi.
Dulce suspirou.
— Tudo bem, o papai salvou a princesa. E depois disso eles abriram um negócio, fizeram protestos por toda a vila alertando sobre o perigo de usar a crinolina e viveram felizes para sempre.
— Não é exatamente assim que eu me lembro — falei, anunciando minha presença.
Dulce se virou de súbito, um sorriso brincando em seus lábios.
— Ah, eu não disse, Nina? Quando a gente deseja muito uma coisa, de todo o coração, ela realmente acontece.
— Papa! Papa! Papa! — Nina soltou o brinquedo e começou a engatinhar em minha direção.
Eu a peguei no colo e beijei suas bochechas. Ela tinha gosto de mingau de aveia.
As manchas em seu vestido branco explicavam esse fato.
— E o que você desejava? — perguntei a Dulce, estendendo a mão para ajudá-la a se levantar.
— Você — ela disse simplesmente, fazendo meu peito inflar. Puxei-a para mais perto, beijando-a um pouco mais demoradamente do que pedia a etiqueta. — Mas, sabe, acho que vou desistir de contar histórias para ela. Não tem a menor graça. Ela sempre adivinha o final.
Dei risada.
— Como isso pode ser verdade, se tudo o que Marina aprendeu a falar até agora são algumas poucas sílabas sem sentido e papa?
— É que todas as minhas histórias têm você. Aí ela sempre adivinha. Tô começando a pensar em contar umas histórias sobre bolsa de valores, mercado financeiro e essas paradas, mas aí acho que ela não vai mais prestar atenção.
Ninguém nunca presta.
Acabei me perdendo no meio de sua sentença. Isso acontecia com muita frequência, sobretudo quando ela se referia a seu antigo tempo.
— Dessa vez acredito que ela não tentou adivinhar o final, Dulce. Apenas me viu entrando. Não foi isso, meu amorzinho?
Minha filha arrulhou uma porção de dás, blás e oites que, estou certo, só podia significar algo como “o papai tem razão”. Eu a acomodei melhor no braço.
Minha garotinha estava ficando pesada.
— Já deu o presente da Maite? — Dulce perguntou.
— Acabei de fazer isso. Ela gostou. Obrigado por me ajudar a escolher o colar.
— De nada. — Ela estendeu a mão e ajeitou o nó de minha gravata. — Christopher, ainda não consegui decidir quem vai cuidar da Nina enquanto o baile estiver rolando. Quer me ajudar?
— Quem se prontificou?
— A senhora Portilla, a Madalena, o seu Gomes, o Sebastião, o Isaac... Ah, e a sua tia.
— Qualquer um que não seja Cassandra está bom para mim. — Marina resmungou mais dás, blás e oites, concordando comigo. — Apenas se certifique de que nenhuma caixa com cristais esteja por perto.
— Rá-rá.
Marina enfiou a mão na boca e começou a chupar os dedos. Ouvimos uma batida na porta. Era a governanta.
— Senhora Uckermann, o seu banho já está a sua espera — a senhora Madalena anunciou.
— Valeu, Madalena. — Ela ficou na ponta dos pés outra vez e enfiou o nariz no pescoço da filha, soprando com força. Marina se contorceu, rindo. — Se comporte. E não suje o papai.
Oite papa.
— Te vejo daqui a pouco — Dulce me disse, colando a boca na minha por um breve instante. Brevíssimo, para o meu gosto.
Madalena, que desviara os olhos, mas ainda assim ficou com as faces ruborizadas, saiu do caminho para que a patroa passasse e então a acompanhou.
Eu me sentei no sofá e Marina rapidamente pulou do meu colo. Ajudei-a a ir para o chão e ela engatinhou para cima do cavalo de pelúcia, agarrando-o pela crina. Mas, em sua urgência de domar o brinquedo, acabou se desequilibrando e caiu sobre as fraldas.
Eu a apoiei para que o montasse novamente.
— Está bem. Receio ter chegado o momento de uma conversa séria.
Ela gritou, os grandes olhos presos aos meus.
— Ah, sim. Eu sabia que este momento chegaria, mais cedo ou mais tarde. E
quero que preste bastante atenção, Marina. Isso é muito importante.
Sua resposta foi abaixar a cabeça e morder o chifre prateado do brinquedo.
Lutei contra o riso.
— A primeira coisa que precisa saber sobre cavalos é que eles sentem o que você sente. Por isso a mamãe ainda não conseguiu montá-los. Ela os teme, e eles a ela. Dito isso, vamos começar pelo básico. Antes de mais nada, sempre verifique se o cavalo está em boas condições. Será mais fácil perceber se você o mantiver limpo, por isso é imprescindível escová-lo por inteiro, da crina à cauda, com frequência. — Apontei para as partes equivalentes no brinquedo. — E nunca se esqueça de limpar os cascos.
Pocó?
— Sim. O pocó. O papai vai lhe ensinar tudo sobre os pocós. Mas acho que vou ter que esperar até que você aprenda algumas coisas antes. Andar, por exemplo.
Ainda era cedo para ter aquela conversa com ela, mas seu amor pelos equinos me enchia de orgulho. Não havia um único dia em que ela se afastasse de seu unicórnio colorido e, toda vez que me via sobre um cavalo, esperneava até terminar na sela comigo. Eu mal podia esperar para poder ensinar a ela tudo o que sabia. Não me importava nem um pouco que ela fosse uma menina. Era minha filha, uma Uckermann, e o amor pela montaria corria em seu sangue.
Eu ainda me lembrava de quando meu pai teve uma conversa muito parecida comigo. Eu tinha uns quatro ou cinco anos e estava louco para estar por conta própria sobre o lombo de algum dos animais do estábulo. Qualquer um.
— Muito bem, Christopher. Um cavaleiro aprende a cuidar de seu cavalo antes de aprender a guiá-lo. Acha que está pronto para a tarefa?
— Sim, senhor!
Ele me contou sobre a escovação, prestar atenção em inchaços e ferimentos, e me ensinou a selar o bicho.
— A manta é importante. Você não quer machucar seu cavalo. Ela precisa ficar bem esticada, e só então coloque a sela. A barrigueira o ajudará a encontrar o ponto exato para fixá-la. E lembre-se que alguns cavalos são tinhosos e estufam o peito quando a sela está sendo apertada, então espere um pouco e confira se está bem firme...
Ele me explicara tudo, toda a mecânica da coisa, para só então me permitir chegar perto de um de seus animais. Como era pequeno demais, eu não conseguia fazer todas as coisas sozinho, então ele me ajudou em tudo. Já era noite quando terminamos, e eu me sentia um homem de verdade, andando com o peito estufado. Meu pai riu segurando uma lanterna e verificou todas as baias antes de deixarmos o estábulo.
— Um homem jamais delega suas obrigações a terceiros. Os cavalos são meus.
Cabe a mim verificar se está tudo em ordem no final de cada dia. E um dia essa responsabilidade será sua, Christopher.
Perdi a conta de quantas vezes o acompanhei nessa tarefa.
— Pocó, pocó, pocó. — Marina empurrou o unicórnio em meu rosto.
— Entendi. Você não quer ouvir isso agora. Quer apenas montá-lo. Impaciente feito a sua mãe. Então vamos lá.
Coloquei-a na posição correta e, segurando-a com uma das mãos, fiz o unicórnio cavalgar pela sala toda. Marina gritou de prazer, e sua risada podia ser ouvida até a vila, disso eu tinha certeza. Eu me senti um maldito herói.
A senhora Madalena retornou e nos encontrou no chão meia hora depois.
— Senhor Uckermann! O senhor não devia estar rolando no tapete! Sua roupa ficará cheia de pelos! Por Deus, não sei qual de vocês tem menos bom senso. O senhor ou a menina Marina.
Tive de reprimir uma risada.
— Um homem tem que ensinar sua filha a cavalgar seu unicórnio.
— Pocó! — Marina se desequilibrou do brinquedo e tombou sobre minha coxa.
Eu a peguei e a acomodei no braço.
A senhora Madalena mordeu o lábio, reprimindo o riso.
— Me dê a menina, senhor Uckermann. O senhor precisa se apressar. Está quase na hora.
— Dulce já está pronta?
— Está quase terminando de se arrumar. E a senhora Uckermann me pediu para manter o senhor longe daquele quarto. Não que eu tenha entendido o motivo, mas cumprirei sua ordem à risca!
Engoli uma imprecação. Assistir a Dulce se arrumar era um espetáculo que eu odiava perder. Tinha algo de muito erótico em observá-la fazer a toalete, vestir cada uma das peças de roupa que eu tiraria mais tarde. E era muito, muito difícil mesmo ficar apenas assistindo, então o “mais tarde” se tornava “agora”, e sempre acabávamos nos atrasando. Presumi que essa fosse a razão para que Dulce delegasse a Madalena a tarefa de me manter afastado de nosso quarto.
— Acho que pedirei ao senhor Gomes para escovar o seu paletó outra vez — Madalena prosseguiu, examinando-me com a boca apertada em reprovação. — Não pode aparecer assim diante de seus convidados. O que vão pensar? Que não cuidamos do senhor como deveríamos?
— Humm... Eu mesmo faço isso. Tenho uma escova no escritório. O senhor Gomes já deve estar a postos na porta da sala. — Eu me levantei, levando Marina comigo, e lhe beijei a testa. — Até mais tarde, meu amorzinho. Tente não se meter em confusão, está bem?
Naturalmente, eu não sabia que tal conselho serviria para mim também.




tahhvondy: Olá linda, espero que goste desse livro pq vai ser frenetico (bem pra mim foi) bjss {#emotions_dlg.kiss}


 


vondy_dulcete: Que bom que esta gostando, pra entender a história tem que ler os dois livros anteriores a este bjss {#emotions_dlg.kiss}


 


 


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Pra quem não leu os dois primeiros livros vou deixar o link aqui


https://fanfics.com.br/fanfic/55649/perdida-encontrada-vondy-terminada-vondy-adaptada


 


 


 


 



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Autor(a): Fer Linhares

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A casa estava tomada. Todos os nossos conhecidos vieram comemorar o aniversário de Maite. Até padre Antônio estava ali, mas manteve-se perto da mesa, repleta de todo tipo de guloseimas que Madalena conseguira preparar. Os cristais dançavam sob as chamas das velas no mesmo ritmo dos acordes do quarteto de cordas. O aroma de assad ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 63



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  • tahhvondy Postado em 14/02/2017 - 17:51:28

    nossa simplismente amei!cada um dos livros maravilhosos essa historia e incrível que não tem como não ser apaixonar por ela o amor deles e lindo o Christopher e mt fofo vou sentir saudades dessas confussões deles

  • GrazihUckermann Postado em 13/02/2017 - 19:10:55

    Eu AMEI! não sei qual dos livros foi o melhor. obrigada por postar essa história incrível, essa história é muito linda. Christopher é muito fofo <3 O amor deles é incrível. Quando ele a esqueceu ele se apaixonou por ela de novo, e eu tive que me segurar pra não chorar nessa parte s2 Fiquei feliz com o final da Madelena e do Seu gomes. Espero que tenha outro Baby vondy no livro da Maite, dessa vez tem que ser menino kkjk e não terá um nome melhor que Alexander para dar ao menino neh?? Estarei na próxima fanfic com você, comentando em todos os capitulos. Tchau. um diaa eu volto para ler de novo. (Acho que não demora muito, por amei a história e quero muito ler de novo) s2

  • tahhvondy Postado em 13/02/2017 - 10:57:28

    ai já ta acabando que triste mas ainda bem q vx consequiu baixa o da Maite

  • GrazihUckermann Postado em 10/02/2017 - 20:35:51

    Continuaaaaaaaaaaaaa! s2

  • tahhvondy Postado em 09/02/2017 - 11:28:34

    chequei continua por favor

  • GrazihUckermann Postado em 09/02/2017 - 09:49:37

    Continuaaaaa! s2

  • GrazihUckermann Postado em 07/02/2017 - 16:32:39

    FINALMENTE! CONTINUAAAAAAAAAAAAAA s2

  • GrazihUckermann Postado em 06/02/2017 - 21:08:32

    T-T

  • GrazihUckermann Postado em 06/02/2017 - 21:02:21

    Caraca essa confusão me deixou confusa kkkjk quando ele esquecer ela, ele meio que vai sumir?? vai aparecer no século dezenove como se nada tivesse acontecido?? é isso? não entendi kkkjk Continue mulher, não me deixe ansiosa! s2

  • GrazihUckermann Postado em 05/02/2017 - 22:21:37

    ai me deus!!!! CONTINUAAAAAA T-T


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