Fanfics Brasil - Capítulo 30 Destinado - As Memórias Secretas do Sr. Uckermann (Vondy) [TERMINADA]

Fanfic: Destinado - As Memórias Secretas do Sr. Uckermann (Vondy) [TERMINADA] | Tema: Vondy [Adaptada]


Capítulo: Capítulo 30

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Quando abri os olhos, meu coração batia rápido, a respiração estava curta.
Meu corpo se portava como se eu estivesse em grande perigo. Esfreguei o rosto, tentando acalmar a pulsação e ajustar a vista. Um suave calor me envolvia o peito. Baixei o olhar e me deparei com o emaranhado ondulado de...
Deus do céu!
Cobri o rosto com as mãos, amaldiçoando-me. Por todos os demônios, aquilo não podia ter acontecido.
Com muito cuidado, afastei sua cabeça para o lado e escorreguei para a beirada da cama, tentando ser silencioso para não acordar Dulce.
Não funcionou.
— Christopher? — Ela se ergueu sobre os cotovelos, o lençol branco escorrendo por suas
costas como se fosse líquido. Sua voz estava rouca pelo sono, seus olhos duas fendas estreitas, os cabelos selvagens como nunca, caindo feito duas cortinas douradas sobre os seios. Ela estava nua. Como eu.
Eu devia estar sonhando. Sim, sem dúvida se tratava de um sonho.
Que outra explicação haveria para que aquela mulher estivesse em minha cama?
Bastou uma olhada ao redor para que eu reformulasse o pensamento.
Que outra explicação haveria para que aquela mulher estivesse naquela cama, fosse de quem fosse?
Um sonho. Era isso.
Tinha de ser.
— O que faz aí? — ela perguntou.
— Ainda estou tentando decidir.
— Que horas são? — Ela se esticou em direção à mesa de cabeceira. Os cabelos escorregaram, revelando um dos seios.
Meu Deus, era ainda mais perfeito do que eu imaginara! Do tamanho certo, com o rosado mamilo intumescido no ar frio da manhã. Tentei desviar o olhar, tentei mesmo, mas me flagrei pensando em... em nada muito cavalheiresco, para ser honesto. E, ora, mas que inferno, era de manhã. É sabido que os homens tendem a acordar em “alerta” sem nem precisar de estímulos. Com aquela visão? Foi instantâneo.
Levantei-me, tentando ao máximo cobrir a orgulhosa ereção que me saltava dos quadris. O quarto era pequeno, e minha percepção de espaço estava ligeiramente alterada — quem poderia me culpar? Eu tinha acordado nu em pelo ao lado de uma Dulce igualmente nua! Acabei por bater o pé na base do criado-mudo. Xingando baixo, sentei-me na cama, envolvendo com uma das mãos o dedão latejante enquanto Dulce soltava uma risadinha.
Foi assim que eu soube. Quando a topada me fez soltar uma quantidade de imprecações das quais não me orgulhava muito, eu soube que aquilo não se tratava de uma ilusão. Eu realmente estava naquele aposento com Dulce. Eu havia feito amor com aquela mulher. Pela primeira vez, devo ressaltar. E, ca*ralho, não me lembrava de absolutamente nada. Como chegamos ali, o momento em que lhe tirara a roupa... e todo o restante pelo qual eu ansiava desde que pusera os olhos nela. Nada!
Olhei para ela me perguntando se estivera bêbado na noite passada. Tinha passado dos limites a ponto de minha memória se apagar como o toco de uma vela?
Deus do céu, não! Eu não podia ter me embebedado tanto a ponto de não me lembrar da noite mais importante da minha vida — assumindo que ela realmente tivesse se entregado a mim, claro. Mas, ora, estávamos nus. O que mais poderíamos ter feito?
— Senhorita Dulce, eu...
— Do que me chamou? — Ela se sentou lentamente, a mão procurando o lençol para cobrir-lhe os seios, os olhos muito abertos.
Acabei grunhindo. Eu não podia não lembrar. Isso seria o mesmo que tratá-la como uma mulher qualquer, quando na verdade ela significava o mundo para mim. Deixei a cabeça tombar para trás e encarei o teto, tentando recordar o que havia feito na noite passada, mas tudo o que me vinha eram cenas soltas e nada esclarecedoras de um jantar, depois do qual cada um de nós terminou em seu próprio quarto. Quartos em minha casa, adicionei, fitando o teto. Por que diabos alguém pregara um prato ali?
Pressionei os lábios com força. Eu tinha um assunto mais urgente a resolver do que tentar descobrir onde tínhamos passado a noite.
— Eu... não sei o que lhe dizer, senhorita Dulce, exceto que lamento muito por tê-la colocado nesta situação delicada. Não sei o que me motivou a... — tive de clarear a garganta — a seduzi-la na noite passada. Apenas posso supor que o desejo que sinto por você tenha sobrepujado quaisquer outros anseios.
— Não... — ela sussurrou, desamparada.
Peguei o travesseiro, cobri o quadril com ele e fiquei de pé. Contornei a cama até ficar de frente para ela e me coloquei sobre um joelho. Admito, não era a
melhor maneira nem o momento mais apropriado para lhe oferecer minha mão, mas tive de aproveitar a rodada de cartas que me coube e fazer bom uso dela.
— Dulce — peguei sua mão esquerda. — Desde que a conheci, não faço outra coisa que não seja pensar na senhorita. Por isso me ofereço por inteiro a você, meu corpo, minha alma e meu coração. E imploro que aceite se tornar minha esposa.
Ela fechou os olhos. Duas lágrimas silenciosas escorreram por seu rosto. Aquilo não podia ser bom. Nada bom.
— Não quero que pense que estou lhe oferecendo minha mão apenas por... pelo que aconteceu — adicionei depressa. — Estou esperando pelo momento certo há dias.
Esperei sobre um joelho, o travesseiro cobrindo parte de minha nudez, o coração na garganta. Quando ela finalmente reabriu os olhos, parecia devastada. E me diria não, sem dúvida. Ela me entregara seu corpo, mas não seu coração. Eu jamais o alcançaria, não é?
— Christopher, eu... vem cá.
Tentando manter o orgulho — e falhando miseravelmente —, ajeitei melhor o travesseiro e me sentei na beirada do colchão, esperando que ela verbalizasse sua recusa.
— Quero que você me escute, ok? — Apertou meus dedos entre os seus. — Apenas ouça tudo até eu terminar.
— Certamente. — Minha expressão deve ter revelado minha agonia, pois ela gemeu, prendeu o lençol entre os braços e acariciou meu queixo com a mão livre.
— Eu amo você, Christopher. E a minha resposta é sim. Sempre será sim, não importa
quantas vezes você pergunte.
— Dulce... — Envolvi sua mão com a minha, trazendo-a para os meus lábios. E me detive.
Havia uma maldita aliança em seu dedo.
— E era isso que eu pretendia te contar. Nós já casamos. — Ela deliberadamente tocou meu dedo anular, onde uma aliança idêntica à dela reluzia, orgulhosa.
— O quê?! — Eu devia ter fumado todo o ópio da vila na noite anterior. E como diabos consegui me casar tão rapidamente, sem correr os proclamas e...
Espere um momento.
Isso significava que Dulce era minha esposa?
— Tudo bem, só respira. Vai ficar tudo bem, tá? Só me escuta. — Então Dulce se pôs a narrar uma história cheia de palavras que não me diziam nada. Estávamos casados havia mais de um ano e meio. Isso foi tudo o que consegui compreender.
— Onde estamos? — balbuciei.
— No lugar onde eu vivi minha vida toda. No... humm... futuro.
— Futuro — repeti devagar.
Ela me avaliou por um momento antes de estreitar os olhos, parecendo ligeiramente aborrecida. Apenas isso, nada além disso. Nada que deixasse transparecer que ela havia perdido o juízo.
A menos que ela tivesse fumado ópio também e ainda estivesse fora de si.
— Não faça isso de novo, Christopher. Eu não estou louca.
— Eu não...
— Você anda tendo lapsos de memória e se esquecendo de umas coisas.
— Coisas como fazer amor com você? — Busquei seu olhar. — Como me casar com você? Como tudo... isso? — Abri os braços. O travesseiro ameaçou cair, então voltei a pressioná-lo contra o quadril.
Dulce ergueu as mãos em uma súplica.
— Tudo bem, tenta não pirar, tá bom? Vou explicar tudo com mais calma.
Quanto mais ela falava, menos sentido fazia. Fada madrinha, viagem no tempo, suborno de padre, guerra de rolhas, Maite sendo sequestrada, uma garotinha concebida quando ela retornara para mim.
Ela havia partido?
E eu era pai?
Eu me lembrava das vitaminas que minha mãe me obrigava a engolir quando eu não passava de um garotinho, das broncas que ela me dava toda vez que me apanhava voltando de uma pescaria às escondidas, da vez em que me arrebentei em uma cerca por achar que já estava pronto para praticar saltos com um cavalo, das conversas infinitas com meu pai, das terríveis aulas de alemão. Eu me lembrava de cada um de meus arrendatários, dos números que escrevera pela última vez no livro-caixa... ou ao menos achava que lembrava. Mas não me
recordava de nada do que Dulce dizia. Ou ela estava brincando comigo, ou aquilo tudo realmente acontecera, pois nem mesmo o mais louco dos seres seria capaz de criar algo com tantos requintes de estranheza e detalhes descabidos. E, a julgar pela seriedade de sua expressão, a segunda opção era a mais plausível, embora meu cérebro discordasse.
Ainda assim, mesmo com todos aqueles fatos absurdos pairando em minha mente, outro fato, um que trouxe um sorriso bobo a meu rosto, dominou meus pensamentos.
— Você me ama — murmurei. — Se aceitou se casar comigo, então me ama.
Seu olhar se tornou doce, apaixonado.
— Ah, eu amo, Christopher. Tipo, loucamente!
Se ouvir isso não fez meu peito inflar como o de um pavão...
— Eu pretendia pedi-la em casamento. Ainda ontem... — Esfreguei a testa quando a memória me falhou. — Fiz um esboço do anel que eu... — Ela me mostrou a mão esquerda, girando a pedra que estava na direção de sua palma. O anel em formato de flor que eu havia idealizado. — Ah. Bem, parece que fui bem-sucedido.
— É, você foi.
Ela se arrastou sobre o colchão, uma das mãos se prendeu em meus cabelos, e não hesitei em trazê-la para mais perto. Minha pulsação disparou quando nossos lábios se colaram e eu senti sua doçura. Um beijo que, pela primeira vez, não continha incerteza de sua parte. Ou não, corrigi depressa. Quantas vezes eu a tivera em meus braços assim, entregue? Eu esperava que tivessem sido muitas.
E, mesmo ouvindo tudo o que ela contara, que estávamos casados havia mais de um ano, aquela era a primeira vez que eu tinha Dulce em meus braços sem roupa alguma. Diabos, era a primeira vez que eu tinha uma mulher sem roupa alguma em meus braços, ponto.
Algo começou a zunir. De início pensei que fosse apenas em minha cabeça, já que meu sangue fervilhava e sibilava em minhas orelhas, mas Dulce se deteve, então ela também tinha ouvido. Uma sineta irritante e alta que se repetia sem cessar.
A fonte do ruído era uma pequena caixa preta deixada sobre a cômoda. A coisa se acendeu como uma brasa. Ela se apartou de mim com uma careta e desceu da cama, o lençol que lhe cobria o corpo caindo ao chão.
Um chiado me escapou da garganta. Aquilo podia já ter acontecido centenas de vezes — milhares, com sorte —, mas aquela era a primeira vez de que eu me lembrava.
Dulce me olhou por sobre o ombro. Um minúsculo sorriso lhe curvava os lábios.
— Você não pode me olhar desse jeito, Christopher. Senão não sairemos deste quarto antes da noite cair.
— Não consigo evitar. Eu poderia passar o restante de meus dias olhando para você e ainda não seria suficiente para mim.
Ela se deteve, a diversão em seu rosto dando lugar a outra coisa.
— Você disse algo parecido na nossa noite de núpcias — murmurou, com a voz embargada.
Eu me levantei, ainda segurando o travesseiro sobre os quadris. Chegando mais perto, mantive os olhos atrelados aos dela e, meu Deus, eles me diziam tudo aquilo que eu não conseguia lembrar.
— Eu também disse que a amo mais que qualquer coisa neste mundo? Porque eu a amo, Dulce. Amo tanto que me dói.
Ela fez que sim, os lábios entreabertos, a respiração se tornando superficial. A minha não estava diferente. Ao que parecia, minha cabeça não andava boa, mas meu corpo tinha suas próprias memórias e se recordava de Dulce com muita exatidão.
Inclinei-me para beijá-la.
A maldita sineta voltou a tocar. Dulce piscou algumas vezes e então sacudiu a cabeça, indo até a cômoda para pegar a fonte daquele ruído infernal. Ela levou a caixinha preta à orelha.
— Oi. Sou eu, Dulce.
— Eu sei que é você — eu disse a ela, confuso.
— Telefone... — Ela apontou para o retângulo, como se aquilo fizesse algum sentido. Antes que eu pudesse questionar, seu corpo se retesou, a boca se entreabriu em um o mudo, os olhos muito largos. — Ah, não, Nina. Como é que ele tá agora? Tá legal, fica calma. Estamos indo pra aí.
Ela afastou a caixinha da cabeça e, com um movimento do polegar, fez a coisa se apagar.
— O Rafa piorou. Teve que ser internado. A febre voltou com tudo, e apareceram umas bolotas por todo o corpo. O tratamento parece que não tá fazendo efeito. — Seu rosto estava pálido.
Nina e Rafa. Os amigos de Dulce naquele mundo. Não era de espantar que ela estivesse tão alarmada.
— Como podemos ajudar?
Ela sacudiu a cabeça.
— Não sei, Christopher. Acho melhor irmos pra lá e ver se podemos fazer alguma coisa por ele ou pela Nina. Ela está muito assustada. Vou chamar um táxi enquanto a gente se arruma.
Táxi?


Mesmo sem saber do que ela falava, aquiesci, a cabeça latejando.


 


 


                                                                 * * *


 


Nina era uma mulher muito bonita, embora seu rosto estivesse contorcido em angústia ao abraçar Dulce, aos soluços, tão logo entramos no quarto, no segundo andar do hospital.
Dulce me atualizara sobre algumas coisas no trajeto até ali. Rafael estava com pneumonia. Eu já o conhecia, assim como a sua mulher. Eles haviam se casado pouco antes de ela voltar para mim. E, sim, ela havia ido embora. Desde que eu acordara naquele mundo, desorientado e esquecido, essa era a primeira vez em que me sentia grato por não ter todas as minhas lembranças. Não estava certo se gostaria de recordar o momento de sua partida.
— Como é que ele tá? — Dulce perguntou, ainda abraçada à amiga.
— Mal. Ele não está mais reagindo. Não sei o que fazer, Dulce. Os médicos também estão perdidos.
— Ah, Nina... — Dulcebeijou seu ombro e a apertou com força. — Eles vão encontrar uma solução. Têm que encontrar!
Elas se soltaram e Nina fixou os olhos verdes em mim.
— Lamento muito, senhora Nina — murmurei.
Ela fez uma careta.
— Sua cabeça continua pifada, né?
— Parece que sim.
Um gemido veio do fundo do quarto. Nina se precipitou em direção à cama estreita onde estava Rafael, um homenzarrão que mal cabia naquele leito. Havia uma espécie de máscara cobrindo-lhe a boca. Sua luta para levar o ar para dentro dos pulmões me trouxe recordações e uma sensação de agonia e impotência que havia muito tempo eu não sentia.
Dulce e eu nos aproximamos dele. Ela pegou sua mão.
— Ei.
Ele olhou para ela. Seus olhos estavam brilhantes, avermelhados em decorrência da febre, mas um sorriso frouxo surgiu por trás da máscara.
— Tá certo que eu não tô legal... — A voz dele saiu abafada. — Mas também não precisa me olhar assim, Dulce.
— Desculpa. Se não quer que eu te olhe assim, então fique bom logo.
— Não é por falta de vontade, Dul. Tá me dando nos nervos ficar aqui deitado, com essas enfermeiras me espetando toda hora. Poderia me fazer um favor?
— Claro, Rafa. Qualquer coisa.
Ele franziu o cenho. Um furinho se fez visível em sua testa.
— Leve a Nina para comer alguma coisa.
— Rafa... — sua mulher começou a protestar, mas ele seguiu em frente.
— Ela não come nada desde ontem à noite. Só enfia qualquer coisa na goela dela.
— Eu estou bem! — Nina deslizou os dedos por sua testa.
— Um café que seja, Nina — ele suplicou. — Você não pode ficar sem comer.
Vai acabar desmaiando, e eu não estou em condições de te acudir.
— Eu não posso te deixar sozinho!
— Eu fico com ele — ofereci. — Seu marido tem razão. Não deve ficar sem se alimentar. Ou não será capaz de cuidar dele.
Os olhos do rapaz encontraram os meus. Gratidão reluzia neles.
Nina resmungou alguma coisa, mas acabou cedendo. Eu me acomodei na cadeira ao lado da cama enquanto Dulce e ela deixavam o quarto. Assim que a porta se fechou, Rafael girou a cabeça para me encarar.
— Eu tô morrendo... não tô? — perguntou sem rodeios, entre uma inspiração e outra. — O médico disse... alguma coisa pra Nina e ela não teve coragem de... me contar, não é?
Seu estado era tão semelhante ao de meu pai em seus últimos dias que me deu calafrios.
— Fala a verdade, Christopher. Não tenta... me poupar. Se eu estou morrendo, tenho o direito... de saber.
— Até onde eu sei, seu estado é grave, mas Dulce me disse que agora há medicamentos para combater a pneumonia.
Ele fechou os olhos e sacudiu a cabeça.
— Essa porcaria não anda fazendo nada além de mexer com o meu estômago.
— Lamento muito. Espero que se cure o mais rápido possível.
Ele me fitou por um instante.
— Sua cabeça ainda tá fodida?
Eu não teria escolhido palavra melhor.
— Completamente, Rafael. Acordei hoje sem saber que sou um homem casado.
— Pu*ta que pa*riu! Não consigo imaginar como deve... ser isso. — Ele esfregou o esterno com a mão, onde um tubo transparente havia sido fixado. — Acordar um dia e se ver casado sem saber como... aconteceu.
— É um inferno — garanti a ele.
— Faço ideia. A Dulce deve estar arrasada com isso. Eu acho que... ah, caralh...
— Rafael levou a mão ao rosto, empurrando a máscara para o lado, e cobriu a boca. Seu peito se sacudia em espasmos. Ele tentou se sentar. Olhando em volta, avistei um balde pequeno e corri para pegá-lo. Estava repleto de papéis rasgados.
Virei-o no chão e me apressei de volta para a cama. Posicionei o cesto de lixo sob a cabeça de Rafael bem a tempo de ele colocar para fora tudo o que tinha no estômago, engasgando-se muitas vezes. Dei leves batidas em suas costas, tentando ajudá-lo de alguma maneira.
— Odeio... isso — comentou Rafael quando as ânsias começaram a ceder, recostando-se na cabeceira.
Havia um cômodo conjugado àquele quarto e eu divisei o toucador moderno, semelhante ao da casa de Dulce. Deixei o balde na mesa ao lado da cama e marchei até ele, pegando a toalha pendurada em uma argola. Tive um pouco de dificuldade para fazer a bica funcionar, mas acabei conseguindo e umedeci o tecido macio.
Quando voltei para junto de Rafael, ele tinha os olhos fechados, a testa encrespada, lutando para controlar as necessidades do próprio corpo. O pobre perdeu a batalha. Ajudei-o outra vez, e me peguei pensando que gostaria que o doutor Almeida pudesse examiná-lo. Enquanto ele se contorcia, esvaziando o estômago, a camisola com abertura nas costas se abriu, revelando seu pescoço e parte do peito.
Havia muitas coisas naquele mundo, dentro daquele quarto, que eu não fazia ideia do que eram, não sabia nomear ou para que serviam. Mas as pequenas marcas vermelhas no corpo do rapaz, essas eu reconheci de imediato.
Meu estômago embrulhou.
Não. Claro que não devia ser isso, apressei-me. Se Rafael vivesse em meu mundo, não restariam dúvidas. Mas ali, naquele lugar onde tudo era movido a óleo ou eletricidade, não havia a menor possibilidade.
Ainda assim, ouvi-me perguntando:
— Rafael, você se locomove utilizando o carro, certo? — Coloquei o balde no chão quando ele terminou e entreguei a toalha a ele.
Ele a pegou, agradecido, e a esfregou no rosto pálido.
— Você às vezes pergunta as coisas mais esquisitas, Christopher.
— Mas este é o seu meio de transporte — insisti.
— É claro que é. Às vezes pego ônibus, mas só de vez em quando.
O alívio me derrubou na cadeira.
— Por que você me perguntou isso? — Rafael me fitou, com a máscara pendendo do rosto.
— Apenas queria me certificar de que você não teve nenhum contato com cavalos.
— Ah. Isso não é pra mim. — Ele puxou a máscara sobre a boca e inspirou fundo. O chiado em seu peito ecoou pelo quarto. — Tem uns quinze dias que tentei montar um cavalo e acabei... com a bun/da no chão.
— O quê?! — Meu peito começou a retumbar.
— Levei a Nina para um hotel fazenda. Ela até que se... saiu bem, mas eu acabei com o traseiro dolorido e a cara... coberta de baba de cavalo.
— Virgem Santíssima! — Fiquei de pé.
— O quê? O que foi?
A porta se abriu, e Nina e Dulce entraram. Eu me antecipei e peguei Dulce pelo braço.
— Preciso falar com a senhorita. — E comecei a conduzi-la para fora.
Fechei a porta, deixando Rafael sem resposta e Nina com a confusão estampada no rosto. Dulce exibia uma expressão semelhante. Eu só comecei a falar quando estávamos longe o bastante para que seus amigos não me ouvissem.
— O que foi, Christopher? Ele piorou?
— Rafael tem manchas e caroços por todo o pescoço e o tórax. Preciso falar com o médico dele. Sabe como posso encontrá-lo?
— Sei, é só avisar uma das enfermeiras que elas mandam chamá-lo. Mas o que está acontecendo?
Respirei fundo, criando coragem para dizer aquilo em voz alta. Deus do céu, nem eu mesmo podia acreditar.
— Acho que sei por que Rafael piorou — contei a ela. — Ele não está com pneumonia, Sofia. É muito fácil confundir as doenças, os sintomas são parecidos, mas essas manchas não aparecem no doente de pneumonia.
— O quê? Como você sabe?
— Porque eu já testemunhei o ataque das duas doenças. — E em nenhuma delas o paciente sobrevivera.
— E o que ele tem? — Seu olhar escrutinou meu rosto.
— Uma doença avassaladora que dizima os estábulos. Às vezes um ou outro tratador acaba se contaminando. É um pesadelo chamado mormo.
— Nunca ouvi falar. E como é que se trata isso?
É claro que ela faria a única pergunta que eu não queria responder. Eu devia ter esperado por isso.
Tentei rebater as imagens do incidente na fazenda do finado senhor Dornelles, das carcaças dos animais em chamas naquela imensa fogueira, o cheiro acre da fumaça impregnado em meus cabelos, em minha pele, em minha alma.
— Com os cavalos, não há muito a fazer além de... — Minha voz, mesmo que eu tenha me esforçado muito para mantê-la estável, me traiu.
Dulce me encarou por um momento, os olhos perdendo o foco, como se ela estivesse presa em uma memória. Pela palidez e pela maneira como seus joelhos bambearam, suspeitei de que não fosse uma lembrança agradável.
— Ah, meu Deus, Christopher! — Ela tombou para o lado. Passei o braço em torno de sua cintura, impedindo que ela caísse.
Acomodei Dulce na cadeira verde mais próxima e olhei para a porta do quarto onde estava Rafael, meu coração se condoendo. Tão jovem. Rafael era ainda tão jovem. Tinha uma vida inteira esperando para ser vivida, provavelmente muitos sonhos, tantos planos a serem concretizados.
Tudo em vão. O homem sobre aquela cama não teria sequer uma chance.




GrazihUckermann: Continuando linda bjss {#emotions_dlg.kiss} S2


 


tahhvondy: Ele ta kk bjss {#emotions_dlg.kiss} 


 


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Autor(a): Fer Linhares

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 63



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  • tahhvondy Postado em 14/02/2017 - 17:51:28

    nossa simplismente amei!cada um dos livros maravilhosos essa historia e incrível que não tem como não ser apaixonar por ela o amor deles e lindo o Christopher e mt fofo vou sentir saudades dessas confussões deles

  • GrazihUckermann Postado em 13/02/2017 - 19:10:55

    Eu AMEI! não sei qual dos livros foi o melhor. obrigada por postar essa história incrível, essa história é muito linda. Christopher é muito fofo <3 O amor deles é incrível. Quando ele a esqueceu ele se apaixonou por ela de novo, e eu tive que me segurar pra não chorar nessa parte s2 Fiquei feliz com o final da Madelena e do Seu gomes. Espero que tenha outro Baby vondy no livro da Maite, dessa vez tem que ser menino kkjk e não terá um nome melhor que Alexander para dar ao menino neh?? Estarei na próxima fanfic com você, comentando em todos os capitulos. Tchau. um diaa eu volto para ler de novo. (Acho que não demora muito, por amei a história e quero muito ler de novo) s2

  • tahhvondy Postado em 13/02/2017 - 10:57:28

    ai já ta acabando que triste mas ainda bem q vx consequiu baixa o da Maite

  • GrazihUckermann Postado em 10/02/2017 - 20:35:51

    Continuaaaaaaaaaaaaa! s2

  • tahhvondy Postado em 09/02/2017 - 11:28:34

    chequei continua por favor

  • GrazihUckermann Postado em 09/02/2017 - 09:49:37

    Continuaaaaa! s2

  • GrazihUckermann Postado em 07/02/2017 - 16:32:39

    FINALMENTE! CONTINUAAAAAAAAAAAAAA s2

  • GrazihUckermann Postado em 06/02/2017 - 21:08:32

    T-T

  • GrazihUckermann Postado em 06/02/2017 - 21:02:21

    Caraca essa confusão me deixou confusa kkkjk quando ele esquecer ela, ele meio que vai sumir?? vai aparecer no século dezenove como se nada tivesse acontecido?? é isso? não entendi kkkjk Continue mulher, não me deixe ansiosa! s2

  • GrazihUckermann Postado em 05/02/2017 - 22:21:37

    ai me deus!!!! CONTINUAAAAAA T-T


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