Fanfic: Destinado - As Memórias Secretas do Sr. Uckermann (Vondy) [TERMINADA] | Tema: Vondy [Adaptada]
Despertei com o corpo inteiro protestando, dolorido. Meu pescoço estava rígido, a coluna gritava, as costelas latejavam. Gemendo baixo, rolei para o lado na tentativa de me ajeitar na cama e acabei caindo no chão. Abri os olhos ao desalojar a cabeça de dentro de uma de minhas botas, perscrutando o quarto.
Ora, mas que inferno! Aquilo não era um quarto, e a cama não passava de um minúsculo sofá! E, devo ressaltar, não era um sofá com o qual eu estivesse familiarizado.
Com o corpo todo reclamando, consegui me sentar no chão. Esfreguei o rosto em busca de alguma clareza. A desordem reinava absoluta naquele aposento, entre vários objetos curiosos.
— Que diabos...
— Bom dia — veio a voz suave do outro lado da sala.
Fiquei de pé no mesmo instante, tropeçando nas botas abandonadas no assoalho e engolindo uma imprecação. Havia uma toalha em torno de meus quadris, e ela ameaçou ir ao chão. Segurei-a firme, tentando prendê-la com os dedos atrapalhados.
Dulce estava parada sob o umbral da porta, examinando-me com atenção por detrás de uma caneca lilás de porcelana.
— Bom dia, senhorita Dulce.
Algo no que eu disse a desagradou. Não que eu soubesse o que era, mas seu olhar entristeceu e seu suspiro de desamparo me atingiu direto no peito. Ela olhou para
sua caneca e eu para ela. Suas roupas eram... bem... bastante escandalosas, para ser franco. Algo muito semelhante ao que vestia quando a encontrei: uma blusa justa sem mangas, que mais lembrava uma roupa de baixo do que algo que pudesse ser exibido em público, e um pequeno retalho que lhe cobria os quadris e mal chegava a esconder as coxas. Coxas firmes, bem torneadas, da cor do alabastro. Imaginei como seria deslizar os dedos por elas de alto a baixo. Depois, refazer o caminho com a boca.
Pare com isso, idiota!
Com algum esforço, consegui desviar o olhar para o chão, o rosto pegando fogo, e encontrei seus sapatos vermelhos incomuns.
— Eu... tentei fazer café. — Ela se aproximou e me ofereceu a caneca. — Não ficou muito bom.
Era essa a razão de sua tristeza? Porque o café não saíra a contento?
— O cheiro está delicioso. — Peguei a caneca e experimentei um grande gole.
E tive de reprimir a vontade de cuspir tudo de volta. Deus do céu, o que ela havia colocado ali dentro? Terebintina?
Inexplicavelmente, sua pouca habilidade na cozinha me fez sorrir. Ela não era perfeita, afinal. Seria mais fácil tentar convencer meu cérebro de que eu não andava fantasiando aquela mulher.
— Não precisa tomar. Tem uma padaria logo ali na esquina — Dulce se apressou.
— Não será necessário. — Engoli o restante da bebida com algum custo. E ela cumpriu seu papel: senti-me subitamente desperto, então pude examinar o ambiente mais uma vez. Mesmo agora, com os pensamentos desanuviados, eu ainda não fazia ideia do que estava vendo. — Senhorita Dulce , onde estamos?
— Nós estamos... — Ela se virou e começou a recolher algumas peças de roupa jogadas sobre uma mesa. — Na minha casa. É isso. Você... hã... me ajudou a... encontrar o caminho e... hummm... me trouxe pra cá na noite passada.
— Ah. — Infelizmente, meu desânimo ficou evidente.
O que me surpreendeu foi seu tom se assemelhar ao meu ao responder, o olhar em qualquer coisa que não fosse no meu:
— Pois é.
Franzi a testa, fazendo um esforço hercúleo para evocar as lembranças da noite passada. Por mais que me esforçasse, sempre acabava deparando com um muro de absoluto nada.
— Não consigo me recordar disso.
— Deve ser culpa do vinho. Nós bebemos um pouco pra comemorar. Vai ver você tá de ressaca. — Ela continuava recolhendo objetos, dando-me as costas enquanto falava, mantendo aqueles olhos de topázio fora do meu alcance, então não tive certeza se estava me dizendo toda a verdade. Mas suspeitava que não.
Dulce media as palavras, como se tivesse algo a esconder.
Então a questão era: Por que ela mentiria? Qual o intuito de ocultar de mim o que tinha acontecido na noite passada? Ela estava desesperada para voltar para casa desde que nos vimos pela primeira vez, e eu sempre soube disso. Por que, agora que estava ali, parecia qualquer coisa exceto satisfeita?
Deixei a caneca sobre a baixa mesa de centro, bem ao lado de um estojo repleto de botões com números. Diabos, o que era aquilo?
— Sua casa é muito... peculiar, senhorita.
— É, acho que é mesmo. — Com os braços cheios de roupas amassadas, ela seguiu em direção à porta por onde entrara minutos antes.
Eu a segui.
— Por que está fugindo de mim?
Ela se deteve sob o batente, mas não se virou.
— Não estou, Christopher.
Estava, sim. Isso era evidente. Por quê? Por que ela fugiria de mim se...
Um pensamento terrível me fez deter as passadas e estancar no chão como um burro xucro. Minhas bochechas esquentaram, e, mesmo que Dulce permanecesse de costas e não pudesse ver o rubor que surgiu em meu rosto, tive de desviar o olhar para meus pés descalços.
E então me lembrei da falta de roupas.
Por todos os infernos!
Estiquei o braço e alcancei a primeira coisa que encontrei — um roupão macio e fofo, mas curto demais e com corações por toda parte. Passei os braços por ele, fechando-o como pude.
— Senhorita Dulce, por acaso ontem à noite eu fiz algo de que deveria me desculpar?
Ela se virou, abraçando com força as roupas em seus braços.
— Claro que não, Christopher! Você é e sempre foi um homem muito correto.
— Então por que... — Detive-me quando outra linha de raciocínio surgiu. A casa estava silenciosa. Muito silenciosa. — Há mais alguém aqui? Criados?
— Não. Estamos só nós dois.
Assenti uma vez, finalmente entendendo tudo. Pela primeira vez Dulce agia com prudência. Ela estava se mantendo longe para preservar sua honra. Sua reputação estaria arruinada caso alguém descobrisse que passamos a noite em sua casa, completamente a sós. A única maneira de salvá-la da ruína seria eu me casar com ela.
Humm... Uma ideia bastante agradável, de fato. Tentadora seria a palavra mais adequada. Talvez comprometê-la não fosse assim tão ruim...
Praguejei baixo, correndo a mão pelos cabelos. Eu nunca seria capaz de fazer isso com ela, não de caso pensado. Além disso, Dulce não veria a situação com meus olhos. Dado tudo o que eu sabia sobre ela, estava certo de que se oporia veementemente a um casamento por obrigação. Eu não sabia se o que a desagradava era o casamento em si ou o possível noivo. Considerando a maneira como meu coração se portava perto dela, eu realmente esperava que fosse a primeira alternativa.
Recuei um passo e assisti a Dulce desaparecer no cômodo seguinte.
Comecei então a procurar minhas roupas em meio àquela baderna. Era muito irritante tentar recordar como cheguei ali, como descobri o caminho para sua casa, e não conseguir. Mais enervante ainda era não lembrar o motivo que me fez levar Dulce para casa tão depressa. Não que eu não estivesse disposto a ajudá-la.
Eu estava! Mas também queria mais tempo com ela. Um pouco mais de tempo para... bem... descobrir por que meu coração se comportava daquela maneira em sua presença. Ou quando eu pensava nela. E, obviamente, investigar se havia alguma possibilidade, ainda que ínfima, de que seu coração também perdesse a cadência quando eu estava por perto. Se por acaso ela viesse a me conhecer melhor e, quem sabe, decidisse viver na vila por uns tempos, digamos que eu pouco veria minha irmã nos próximos meses. Desconfiava de que aquilo tinha um nome, mas não ousava sequer pensar nele. Ainda não.
Seja lá o que tivesse me motivado a agir tão depressa, o que importava agora era que ela estava em casa. Um apartamento pequenino, ao que parecia, onde o sofá ainda era um sofá, mas não exatamente. O mesmo ocorria com os livros que encontrei espremidos em uma estante. Afastei a cortina e dei uma espiada pela janela. E então congelei. Estávamos no alto, muito alto, rodeados por outras imensas construções. Lá embaixo, a rua era um tapete escuro e estreito, coberto por coisas que se moviam rápido demais e sem cavalo algum à vista. As pessoas andavam em direções diversas e, pelo pouco que pude enxergar, vestiam-se como a senhorita Dulce. E os sons, tão indistintos e ainda assim altos o bastante para me fazer encolher os ombros.
Não me admirava que ela tivesse estranhado tanto os costumes e os hábitos da vila. Aquilo era, sem dúvida alguma, o lugar mais caótico que eu já vira. Na verdade, eu nunca tinha nem ao menos ouvido falar de algo como aquilo. Era como se o que eu estava vendo pertencesse a outro mundo, a outra realidade.
— Bem diferente, né? — Dulce estava de volta, parada a poucos passos, as mãos se retorcendo uma na outra.
— Para dizer o mínimo.
A cidade — pois era imensa demais para ser um vilarejo — se derramava no horizonte até onde a vista alcançava. Nem mesmo a enorme Londres, a mais populosa da Europa, se equipararia àquilo. Agora que ela estava em casa, não havia mais desculpas para minha permanência. Eu teria de partir em breve, mas não sem antes me assegurar de que poderia encontrar aquele lugar outra vez.
Não era possível simplesmente esquecer Dulce e seguir com a vida.
— Aqui você vai ver um monte de coisas que nem poderia imaginar que já existem, Christopher.
— Vou ver? — perguntei, cético, observando a rua lá embaixo, aqueles carros sem condutores ou cavalos. Uma espécie de pequeno trem, talvez? Não, não havia trilhos à vista.
Voltei-me para Dulce disposto a perguntar sobre o funcionamento do que quer que fosse aquilo. Mas, quando olhei para ela, vi os raios de sol incidirem sobre sua figura, fazendo reluzir algo que ela trazia no pescoço. Havia dois colares. Do mais curto, pendia um delicado relicário. Do outro, mais longo, uma letra C lhe caía na altura dos seios e... aquilo era uma aliança?
Meus olhos instantaneamente vagaram até sua mão esquerda. Não havia anel algum.
— Christopher, eu preciso sair e adoraria que você me acompanhasse.
— Será um prazer, senhorita.
Eu devia ter perguntado para onde iríamos, mas tudo em que podia pensar era a quem pertencia aquela maldita aliança em seu pescoço.
— Vou pegar sua roupa. Aí vamos para o hospital primeiro. Estou maluca de preocupação com o Rafa. — Pelo seu tom, a voz embargada, eu soube que era esse o motivo pelo qual Dulce estava com tanta pressa de voltar para casa. Ela era comprometida. E o sujeito estava doente.
* * *
Dulce falou pouco a caminho do hospital, tão perdida estava em pensamentos.
Minha situação não era muito diferente, sobretudo quando eu olhava pela janela do carro — era assim que ela chamava aquele veículo que se movia sozinho.
Aquela cidade era ainda mais impressionante vista do chão, e havia algo, uma informação que eu sabia estar ali em algum lugar, mas não era capaz de discernir. No entanto, não era isso que preenchia minha cabeça. Não, o que estava me tirando a paz era o fato de que passei a viagem toda guerreando contra o pensamento odioso e pouco honroso de que, se o tal Rafa estivesse gravemente doente, Dulce poderia ficar livre.
Que belo calhorda eu tinha me tornado.
Cerca de três quartos de hora depois, entramos no grande edifício de vidraças altas e portas largas. Dulce trouxera uma maleta e eu me ofereci para carregar para ela.
Ela foi entrando nas instalações sem esperar que eu lhe oferecesse o braço, mas me puxou pela mão e se dirigiu a uma área onde as letras UTI se penduravam no teto. Uma mulher nos informou que o tal Rafa não estava mais ali. Tinha sido removido para outro local. Então seguimos para o segundo andar e o encontramos na porta de número 243.
Dulce parou e bateu.
— Entra — disse uma voz feminina.
Eu respirei fundo, abri a porta e dei passagem a ela.
Dentro do quarto bem iluminado, a jovem de olhos verdes saiu de perto da cama onde um homenzarrão estava deitado e, para meu espanto, agarrou-se a meu pescoço.
— Obrigada, Christopher. Meu Deus do céu, obrigada! — murmurou em meu peito.
Um tanto sem jeito — e sem ter ideia de como ela me conhecia —, acabei dando leves tapinhas em seus ombros.
— Eu... humm...
— O Rafa melhorou, Nina? — indagou Dulce.
Ah. Dulce mencionara esse nome uma vez. Aquela devia ser sua melhor amiga.
— Muito! Ainda tem febre, mas está mais baixa e os intervalos estão ficando maiores. E isso graças ao Christopher. — Ela fixou aqueles olhos de joias em mim. — Se não fosse por você, eu nem sei o que teria acontecido. Você salvou o meu Rafa, Christopher. Se eu já te amava antes, agora amo dez vezes mais!
O seu Rafa? Então esse tal de Rafa não era o homem com quem Dulce estava comprometida?
Era bom eu estar perto de um mancebo ou teria tombado no chão, já que minhas pernas ameaçaram se dobrar de alívio.
— Trouxe pra você. — Dulce pegou a bolsa que eu carregava para ela e entregou à amiga. — Tem roupas e produtos de higiene, além de uns lanchinhos.
— Valeu, Dulce.
— Eu não sei se gosto da ideia de você ficar dizendo que ama outro cara bem na minha frente — veio a voz abafada do sujeito sobre a cama, logo seguida por uma crise de tosse. Ele tinha uma máscara tapando parte do rosto, a pele coberta de manchas avermelhadas, sobretudo na região do pescoço. Alguns caroços também estavam aparentes. Havia apenas uma doença que eu conhecia que apresentava aqueles sintomas. Meu. Deus.
— Deixa de ser besta! — Nina colocou a maleta na mesinha ao lado da porta e fitou a amiga. — Meu exame deu negativo.
— Graças a Deus — suspirou Dulce, abraçando-a.
— É. O médico disse que o Rafa pode receber visitas, mas não podemos tocar nas lesões ou ter contato com qualquer secreção — explicou Nina. — Não é bom vocês chegarem muito perto.
Minha atenção continuava no rapaz. Algumas das manchas haviam supurado, tornando-se feridas úmidas e, eu podia apostar, muito doloridas. Mormo.
— Meu bom Deus — murmurei.
O olhar de Rafa encontrou o meu.
— Eu sei. Fiquei uma gracinha nessa camisola. — Os cantos de seus olhos se enrugaram. Ele sorria sob a máscara transparente.
— Uma belezinha. — Apesar do alerta da jovem, não resisti e me aproximei da cama. — No momento, estou lutando para não perder meu coração — tentei brincar para ocultar meu pesar. Que inferno! O rapaz parecia ter a mesma idade que eu! E, no entanto, seu futuro se perdera no momento em que ele se encontrara com o mormo.
— É o que todos dizem.
Dulce se juntou a mim, ficando a meu lado. A mão se encostou à minha. Sem parecer ter consciência do que fazia, seu dedo procurou o meu. Abri a mão e tomei a dela, nossos dedos se tornando um embolado tal qual um novelo de lã.
Ela sorriu para o rapaz.
— Você quase nos matou de susto, sabia?
— E isso serviu de lição. Melhor deixar os cavalos para o Christopher. — Ele pigarreou, então fez uma careta. — Poderiam me dar um pouco de água?
— É claro. — Mas a jarra sobre a mesa ao lado da cama estava seca.
— Vou pegar mais no corredor e já volto — anunciou Nina, alcançando o recipiente e indo em direção ao corredor. Ela mal acabara de fechar a porta quando esta se abriu de novo e um jovem entrou. Ele vestia um longo paletó branco e tinha uma maleta nas mãos.
— Que bom vê-lo acordado, Rafael — disse ao entrar.
— Pode acreditar que eu também estou feliz com isso, doutor Inácio.
— Vim apenas checar seus sinais vitais. Já reportei seu caso à vigilância sanitária.
Eles virão falar com você ainda hoje.
— Preciso olhar minha agenda e verificar se não tenho nenhum compromisso para hoje... — ele brincou.
— Humm... Eu vou ajudar a Nina — Dulce se apressou em direção à porta para dar privacidade a Rafael, enquanto o médico calçava luvas brancas e removia a camisola de seus ombros feridos.
Afastei-me da cama para lhes dar espaço e sentei-me na cadeira ao lado de uma mesinha logo na entrada do quarto. Havia jornais sobre ela. Coloridos e repletos de retratos muito vivos, devo ressaltar. Curioso, empurrei para o lado a maleta que Dulce trouxera e peguei um deles, examinando a imagem de perto.
Minúsculos pontinhos se juntavam para formar o retrato. Uma técnica que não reconheci, mas achei muito interessante. Ergui o olhar para a manchete, mas acabei lendo o cabeçalho.
Oito de novembro de 2011.
Fui para a página seguinte. O erro estava em todas as folhas.
A imagem de um... ah, eu não fazia ideia do que era aquilo... surgiu em preto e branco quando fechei a impressão. Sobre a figura, a seguinte frase:
Rússia lança sonda para explorar Fobos, a maior lua de Marte, retomando missões ao Planeta Vermelho
— O quê?! — Levantei-me da cadeira.
O artigo sob aquela manchete? Dizia que uma espaçonave chegaria ao planeta Marte. Marte! Bom Deus!
— O que foi? O dólar disparou outra vez? — Rafael perguntou, enquanto o médico examinava suas costas.
Sacudi a cabeça, não querendo interromper o exame.
— É um pouco cedo — disse o doutor, ao retirar as luvas e descartá-las em um cesto de lixo. — Mas arrisco dizer que você está totalmente fora de perigo. A medicação está funcionando, seu corpo está reagindo bem. O mormo está cedendo.
Medicação? Havia medicação para mormo? E realmente podia combater a doença?
Voltei a olhar o cabeçalho do jornal ainda em minhas mãos.
Oito de novembro de 2011.
Eu precisava mostrar aquele jornal a Dulce. Precisava perguntar a ela se a data naquele papel estava certa. Eu já estava na porta, a mão na maçaneta, quando me detive.
Ela já sabia, não é?
A maneira hesitante como sempre se referiu ao lugar onde vivia, as palavras vagas ao descrevê-lo. Agora fazia sentido. Ela nunca dissera nada porque ninguém acreditaria. Nem mesmo eu.
O médico terminou o exame e prometeu que voltaria mais tarde. Antes de sair, parou diante de mim e sorriu.
— Obrigado, Christopher. Se não fosse por sua sugestão, eu teria perdido um paciente. É muito chato quando isso acontece.
— Sobretudo para o paciente — ouvi-me dizer. Inúmeras perguntas giravam em minha cabeça, deixando-me tonto a ponto de ser obrigado a me apoiar no encosto da cadeira para conter o atordoamento.
O médico ainda ria ao deixar o quarto.
— Então você salvou a minha vida — Rafael disse.
— Não vejo como. — Ainda mais porque eu tinha acabado de conhecê-lo e...
Espere um pouco. “Se não fosse por sua sugestão, eu teria perdido um paciente”, dissera o médico. Isso significava que eu já o conhecia? O mesmo acontecia com Nina e Rafael?
Era possível. Havia uma lacuna em minhas memórias que eu não conseguia preencher.
— Deixa disso, cara. Eu sei que é por sua causa que eu ainda tô aqui. E eu... não sei como te agradecer. Vou te dever para sempre, Christopher. Você tem em mim um irmão agora. Mexeu com você, mexeu comigo. — Com o punho fechado, ele bateu duas vezes no peito, sobre o coração, então esticou dois dedos em minha direção.
— Humm... Eu fico grato, suponho.
Ele franziu a testa.
— Você não lembra de ter dito para o médico que o que eu tinha não era pneumonia, e sim mormo, não é?
— Não. — Coloquei as mãos nos bolsos da calça ao me aproximar da cama.
Diabos, eram apertados demais. Além disso, havia uma caixinha de papelão ali dentro.
A porta se abriu. Nina e Dulce retornaram.
— Aqui, meu amor. Trouxe um pouco de gelo também.
Afastei-me da cama para que Nina pudesse cuidar dele. Percebendo a fadiga de Rafael, sugeri a Dulce que o deixássemos descansar.
— É, nós temos mesmo que ir — ela concordou antes de se dirigir à amiga. — Nina, me liga a qualquer momento. Não me deixe sem notícias.
— Pode deixar. — E beijou o rosto de Sofia.
— Pode ir tranquila, Dul. — Rafael pegou uma pedra de gelo e afastou a máscara do rosto. — Não vai ser dessa vez que eu vou bater as botas.
— Ainda bem — ela disse, soprando-lhe um beijo. — Vê se melhora logo.
Despedi-me de Nina, em seguida de Rafael. Antes que eu pudesse me afastar, porém, ele me chamou de volta.
— Se cuida, cara — disse com intensidade.
— Você também... cara. Adeus.
— Boa sorte com a sua irmã.
Minha irmã? O que Maite tinha a ver com tudo aquilo?
Já estávamos do lado de fora do quarto quando Sofia perguntou:
— Você já se deu conta de que salvou a vida do Rafa? — E me fitou com os olhos cintilando feito duas estrelas. — Nunca tinha ouvido falar nessa tal mormo.
Ou é esse tal mormo?
— Quando você pretendia me contar que veio do futuro? — soltei, impaciente.
Ela se encolheu.
— Agora...?
— Por que não me contou antes? — bufei, correndo a mão pelos cabelos e lutando contra a urgência de sacudi-la. E depois beijá-la.
— Porque você não reagiu bem das outras vezes. Eu só queria te proteger, de algum jeito.
— Me proteger de... Outras vezes? — Então minha suspeita estava correta. Eu havia me esquecido muito mais do que a noite passada. — Senhorita, há quanto tempo estamos aqui?
— Cinco dias. Você anda tendo alguns lapsos de memória. É por isso que não se lembra de como chegamos aqui... e de mais algumas coisas.
Vasculhei a cabeça em busca de minha última memória antes de acordar em sua casa. Eu me lembrava de ter discutido com Dulce por conta de sua resistência em aceitar alguns vestidos de presente. Entretanto, olhando para ela agora, notei algumas coisas que antes me escaparam. Seus cabelos pareciam um pouco mais longos do que eu me lembrava. Seu rosto estava mais fino, mas seu corpo, talvez por culpa das roupas apertadas, parecia ligeiramente mais curvilíneo. Sobretudo a parte superior do corpo. Mudanças sutis que poderiam passar quase despercebidas. Sutis, sim, mas que não podiam ter acontecido no decorrer de uma noite.
— De quanto tempo estamos falando? — Escrutinei seu rosto, seu corpo, guardando na memória cada uma daquelas pequenas mudanças.
— Eu não sei mais, Ian. Um ano e dez meses, acho. Talvez um pouco mais.
— O quê?!
— E é por isso que eu não queria te contar nada dessa vez. — Ela soltou um longo suspiro.
— Como nós viajamos no tempo?
— Já te expliquei isso antes.
— E quanto à aliança em seu colar?
— Expliquei isso também. — Ela fez uma careta.
— E vai explicar novamente?
Ela gemeu, olhando para a frente, enfiando as mãos nos bolsos daquele pequeno retalho que lhe cobria os quadris.
— Provavelmente só vai te deixar mais confuso.
— Você o ama?
Ela voltou os olhos para os meus no mesmo instante, sem hesitação alguma.
— Mais que qualquer coisa no mundo, Christopher.
Ouvir aquilo abriu um buraco em meu peito.
— E onde ele está agora? Por que não está aqui com você, compartilhando de
sua angústia?
— Ele... — ela voltou a olhar para a frente — precisou se ausentar. Foi forçado a isso.
— Entendo. — Muito embora não entendesse. Que o diabo o carregasse, se era assim que ele costumava lidar com Dulce, deixando-a sozinha com um completo estranho que estava louco para estreitá-la nos braços. — Mas ele não está aqui agora.
— De certa maneira, eu diria que está, sim.
— Só há uma maneira, senhorita Dulce. E o único homem a seu lado sou eu.
— Dulce. Apenas Dulce, Christopher. — Ela empurrou os cabelos para trás, como se eles a irritassem ou a tivessem ofendido.
— Já me pediu isso antes.
Ela fixou os olhos nos meus.
— E você vive esquecendo.
Estávamos do lado de fora do prédio àquela altura. Ofereci o braço a ela e tentei lembrar onde ela havia deixado seu veículo.
— Senhorita, o que Rafael quis dizer com “boa sorte com a sua irmã”?
— Ah... éééé... — resmungou Dulce, desviando os olhos para os sapatos vermelhos.
E foi assim que eu soube. Estar no futuro, ter perdido a memória, ter descoberto que Dulce estava noiva de outro homem? Não. Nenhuma dessas coisas era o meu maior problema.
GrazihUckermann: Não posso garantir nada kk bjss S2
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Autor(a): Fer Linhares
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 63
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tahhvondy Postado em 14/02/2017 - 17:51:28
nossa simplismente amei!cada um dos livros maravilhosos essa historia e incrível que não tem como não ser apaixonar por ela o amor deles e lindo o Christopher e mt fofo vou sentir saudades dessas confussões deles
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GrazihUckermann Postado em 13/02/2017 - 19:10:55
Eu AMEI! não sei qual dos livros foi o melhor. obrigada por postar essa história incrível, essa história é muito linda. Christopher é muito fofo <3 O amor deles é incrível. Quando ele a esqueceu ele se apaixonou por ela de novo, e eu tive que me segurar pra não chorar nessa parte s2 Fiquei feliz com o final da Madelena e do Seu gomes. Espero que tenha outro Baby vondy no livro da Maite, dessa vez tem que ser menino kkjk e não terá um nome melhor que Alexander para dar ao menino neh?? Estarei na próxima fanfic com você, comentando em todos os capitulos. Tchau. um diaa eu volto para ler de novo. (Acho que não demora muito, por amei a história e quero muito ler de novo) s2
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tahhvondy Postado em 13/02/2017 - 10:57:28
ai já ta acabando que triste mas ainda bem q vx consequiu baixa o da Maite
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GrazihUckermann Postado em 10/02/2017 - 20:35:51
Continuaaaaaaaaaaaaa! s2
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tahhvondy Postado em 09/02/2017 - 11:28:34
chequei continua por favor
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GrazihUckermann Postado em 09/02/2017 - 09:49:37
Continuaaaaa! s2
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GrazihUckermann Postado em 07/02/2017 - 16:32:39
FINALMENTE! CONTINUAAAAAAAAAAAAAA s2
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GrazihUckermann Postado em 06/02/2017 - 21:08:32
T-T
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GrazihUckermann Postado em 06/02/2017 - 21:02:21
Caraca essa confusão me deixou confusa kkkjk quando ele esquecer ela, ele meio que vai sumir?? vai aparecer no século dezenove como se nada tivesse acontecido?? é isso? não entendi kkkjk Continue mulher, não me deixe ansiosa! s2
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GrazihUckermann Postado em 05/02/2017 - 22:21:37
ai me deus!!!! CONTINUAAAAAA T-T