Fanfics Brasil - Capítulo 37 Destinado - As Memórias Secretas do Sr. Uckermann (Vondy) [TERMINADA]

Fanfic: Destinado - As Memórias Secretas do Sr. Uckermann (Vondy) [TERMINADA] | Tema: Vondy [Adaptada]


Capítulo: Capítulo 37

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O sol já ia alto. O céu sem nuvens fazia daquela uma manhã perfeita para a pesca. Quem sabe no dia seguinte. Tudo o que eu queria era uma boa cama e mais nada. Tinha cavalgado quase a noite toda e estava perto de casa agora.
Graças a Deus, pois estava todo dolorido. Não gostava de me ausentar por tanto tempo, e havia deixado Maite sozinha por quase uma semana inteira. Minha irmã era gentil demais para se queixar, mas eu sabia que se sentia solitária, mesmo tendo Madalena e Gomes por perto. Além do mais, eu me sentia extremamente ansioso por voltar, embora não pudesse precisar o motivo.
Tive de refrear a vontade de esporear Meia-Noite para acelerar a corrida assim que atingi os limites de minha propriedade. Ele também estava cansado, pois tínhamos parado apenas uma vez. Tomei a estrada que me levaria para casa, já antecipando a alegria de Maite. No entanto, por um breve instante pensei que toda aquela cavalgada alucinada tivesse derretido meus miolos, pois avistei um brilho dourado esvoaçando perto do cedro.
Encurtei as guias e me inclinei, fazendo Meia-Noite disparar. Conforme eu me aproximava, o reluzir se tornava mais e mais nítido, até que percebi que não se tratava de uma aparição, e sim de uma jovem. Ela estava no chão, e, pela expressão em seu rosto, suspeitei de que não era para descansar.
Parei bem perto dela, pulando da sela rapidamente, apenas para hesitar quando os grandes olhos castanhos encontraram os meus. Seu olhar se tornava mais intrigante com aqueles cílios escuros e longos. Senti-me tragado pelo marrom intenso, como se caísse em um profundo abismo, em um vórtice vertiginoso em que tudo o que eu podia fazer era cair, cair e cair...
Meu coração enlouqueceu, como se não soubesse o que fazer. Desacelerou, errou uma batida, disparou feito louco. Isso se repetiu por alguns segundos. Ele estava... dançando?
A jovem piscou, libertando-me de seu encanto, e aproveitei para examinar seu rosto em busca de sinais que pudessem explicar a razão pela qual ela se encontrava caída em minhas terras. Comecei pela boca rosada, então o nariz delicado que carregava um ar de petulância, o queixo ligeiramente elevado com atrevimento. Sua pele clara parecia ser tão macia quanto o mais fino veludo. E estava maculada de vermelho.
Por Deus, o que havia acontecido com ela?
O talho em sua testa deixou claro o que havia acontecido: aquela jovem fora atacada. E em minhas terras. Procurei em volta apenas por instinto. É claro que os bastardos haviam fugido àquela altura.
— Está bem, senhorita? — perguntei, estupidamente, ao me aproximar dela.
Claro que ela não estava bem. O pavor era nítido em seus olhos. Pobrezinha.
Era incompreensível que alguém tivesse tido coragem de atacar uma jovem tão delicada e indefesa. Como tinham se atrevido a assustar alguém tão frágil?
— O-o quê? — sussurrou ela, com a voz tão abalada que tive de me inclinar um pouco para poder ouvi-la.
— A senhorita tem um ferimento na cabeça. Está sangrando muito.
Estaria ferida em outras partes? Desci os olhos por seu corpo, procurando algum indício de ferimento ou sangue, mas tudo o que encontrei foi um pouco de grama e pele cor de alabastro. Muita pele, aliás. Apenas uma tira azul cobria seus quadris, e uma camisa branca sem mangas era tudo o que protegia seu tronco. E, por Deus, todo o restante estava ali, exposto, para o deleite de meus olhos.
Mas que diabos. Que espécie de homem eu me tornara, que não conseguia parar de olhar para as belas e muito bem feitas coxas daquela pobre moça ferida?
Sim, era a primeira vez que eu via pernas em toda sua magnitude, e não por meio das gravuras de livros que não me orgulhava muito de olhar vez ou outra. E, sendo franco, nenhum daqueles desenhos beirava a perfeição do que eu tinha bem à minha frente agora. Um tornozelo aqui e acolá quando a crinolina se eriçava por conta de um movimento mais brusco era toda a sorte que um cavalheiro podia esperar. Mas aquilo? Pernas completamente perfeitas em tantos graciosos detalhes?
Um suspiro suave escapou-lhe, fazendo-me perceber que eu a fitava de uma maneira que provavelmente apenas a assustaria ainda mais.
Estúpido!
Envergonhado por assediar a frágil jovem, voltei a observar seu rosto e jurei que jamais voltaria a olhar para qualquer lugar abaixo de seu pescoço.
Para minha sorte, minha falta de compostura — ou educação — lhe passou despercebida. Ela contemplava os arredores como se tentasse entender o que via.
Eu, porém, concentrei-me no talho em sua testa. Apesar de pequeno, o corte era profundo. Só esperava que não houvesse a necessidade de uma sutura.
Instintivamente, ergui a mão para tentar estancar o sangramento, mas me detive.
Ela parecia assustada, atordoada até. Ter mais um estranho a tocando não faria nenhum bem.
E se os assaltantes tivessem lhe roubado bem mais que alguns pertences? E se ela se encontrasse naquele estado seminu por uma razão ainda mais alarmante?
Minhas mãos se fecharam, e subitamente senti um desejo incontrolável de bater em alguma coisa.
— O que aconteceu? Parece assustada e... suas roupas... hã...
— Cadê a cidade? — ela atalhou.
Não. Não podia ser isso, podia? Se ela tivesse sido molestada, não estaria agora preocupada com sua localização. E haveria outros sinais. Marcas que suas parcas vestes não seriam capazes de esconder.
— Foi de lá que a senhorita veio?
Ela se agarrou à gola de meu paletó e, olhando em volta, desatou a fazer perguntas sem sentido, os olhos dardejando. Definitivamente, eu queria socar alguma coisa.
Não sei ao certo o que me atingiu primeiro, se o seu perfume — doce como uma manhã de primavera — ou o calor de sua pele perpassando minhas roupas e incendiando meu peito. Minhas mãos suadas tremeram na ânsia de tocá-la, a boca ficou seca enquanto eu só conseguia fitar a dela. Desejei enterrar os dedos entre seus cabelos para descobrir se eram tão macios quanto eu imaginava.
Havia alguma coisa errada comigo, disso eu estava certo. Meu coração batia de maneira diferente, errante, uma batida atropelando a outra.
Uma lágrima de sangue desceu por sua têmpora, trazendo minha atenção para o que realmente importava.
— Melhor levá-la até minha casa e chamar o médico. Depois arrumarei uma carruagem para levá-la até sua casa.
Ela concordou, fitando-me com a testa franzida. Já nos conhecíamos? Eu achava difícil, pois me lembraria dela. Mas algo naquela garota parecia me dizer que já tínhamos nos visto antes.
De súbito, ela soltou meu paletó, deixando-me com uma estranha sensação.
Caindo de novo.
Recompondo-me, ofereci ajuda, pois me pareceu que naquele estado ela não seria capaz de se firmar sobre as próprias pernas sozinha. Ela concordou com a cabeça outra vez. Seus dedos quase tocaram os meus, então ela os puxou bruscamente.
— Carruagem?
Sangue ainda gotejava da ferida em sua testa, e isso estava me deixando nervoso.
— Talvez seja mais prudente permitir que o doutor Almeida a examine primeiro.
Um ferimento na cabeça pode ser muito perigoso. — Ou até mesmo fatal.
Estremeci ao pensar nessa possibilidade.
— Não é nada. Nem sei como aconteceu. Você também viu aquela luz?
— Luz? Refere-se à luz do sol?
— Não! A luz branca insuportável que fez tudo desaparecer! — ela esbravejou, consternada.
Presumi que fosse normal, depois de ter sofrido um ataque, ela estar abalada e não dizer coisa com coisa.
Consegui persuadi-la a me acompanhar até em casa. Dessa vez ela aceitou minha ajuda, mas quase desfiz o contato. Sua mão na minha queimava, como se eu tivesse mergulhado os dedos nas labaredas de uma fogueira. Um rugido feroz me sacudiu por dentro.
Levantar-se deve ter causado algum mal-estar na jovem, pois ela balançou, de modo que passei o braço ao redor de sua cintura fina, amparando-a, e tentei o melhor que pude ignorar aquele grito infernal que demandava que eu a beijasse.
— Não é prudente que uma jovem como a senhorita fique sozinha neste lugar, ainda mais com seus trajes nestas condições — tagarelei, ridiculamente instável com tamanha proximidade, enquanto a guiava até Meia-Noite.
— Por que está vestido desse jeito? Estava indo para alguma festa? — Ela tocou a lapela de meu casaco.
— Estou voltando de uma viagem longa.
— Não acha que seria melhor usar uma roupa mais confortável? E por que você foi a cavalo?
— Creio que estou vestido adequadamente, senhorita. E prefiro ir a cavalo. É bem mais rápido que a carruagem. — E muito mais prazeroso. Não havia nada melhor que sentir o vento batendo no rosto, sacudindo as roupas, o trote vigoroso do animal fazendo o sangue correr rápido. Bem, não havia nada melhor que eu já tivesse experimentado. Podia apostar que beijar aquela dama seria algo... Pare de pensar nisso! — Contudo, sei que é pouco prudente de minha parte. Muitas coisas mudaram nessa última década. Acredito que não seja mais tão seguro, com tantos vândalos e golpistas por aí se aproveitando de viajantes solitários. — Eu a olhei de soslaio. Não sabia como abordar o assunto sem lhe causar agitação.
Ela já parecia instável o bastante.
— Ah! Não. Eu não fui atacada por ninguém. Eu não sei o que aconteceu. — Ela se deteve ao alcançar Meia-Noite. — Num minuto, eu estava na praça e, segundos depois, estava aqui neste... campo, e tudo... puf! — Ela gesticulou com as mãos. — Sumiu.
— Tenho certeza que se lembrará de tudo assim que sua cabeça melhorar. Mas penso que foi atacada por ladrões sem escrúpulos. Seria essa a única explicação para terem deixado uma dama nestas condições! — E fitei minhas botas.
— Que condições?
— Suas vestes, senhorita. Mal posso crer na audácia de tais bárbaros! — Não podia acreditar que tiveram a audácia de tocar nela. Se não estivesse tão preocupado com sua cabeça, teria montado Meia-Noite e revirado as redondezas até encontrar aqueles malditos e dar-lhes uma boa surra.
— O que é que tem minhas roupas? — A jovem examinou suas parcas vestes como se não entendesse.
Diabos, toda aquela falação só estava nos atrasando. E eu ainda teria de ir buscar o médico depois que a deixasse confortavelmente instalada em minha casa.
— As coisas mudaram muito depressa, como eu disse. Não acho prudente que mais alguém a veja praticamente sem... — Não acredito que estou tendo essa conversa. — ... roupas.
— Como assim, sem roupas? — Ela apoiou as mãos na cintura, desvencilhandose de meu toque. Seu olhar reluzia faíscas furiosas, o queixo empinado com indignação, a boca puro atrevimento.
Aquele rugido bestial se repetiu dentro de mim. Eu tinha de beijá-la.
Ah, esplêndido. Eu estava me transformando em um libertino. O primeiro libertino virgem da história da humanidade. Eu teria rido se uma súbita e incômoda fisgada na virilha tivesse me permitido. Reprimi um grunhido e inspirei fundo. Eu era um homem, pelo amor de Deus, não mais um garoto de quinze anos com o corpo e os hormônios fora de controle.
Eu disse alguma coisa a ela e, mal a tocando para evitar pensamentos indesejados, indiquei que subisse.
A moça, porém, recuou.
— Sabe de uma coisa? Eu tô legal! Vou tentar descobrir como cheguei aqui e depois vou voltar para casa. Mas valeu pela ajuda, moço.
Ela me deu as costas e começou a se afastar. Eu estava prestes a ir atrás dela, mas por alguma razão ela se deteve a poucos passos, os cabelos ondulando nas costas. Sem se virar, perguntou:
— Está tendo um desfile ou coisa parecida por aqui?
Uma carruagem se aproximava. Maldição, era o senhor Albuquerque. E o cocheiro já havia notado a dama. Eu não queria ter de bater nele. Juro que não.
Mas, se ele olhasse para a jovem de qualquer maneira que não fosse respeitosa, eu o sovaria como a uma massa de pão. Na verdade, seria melhor se ele nem voltasse os olhos na direção dela. O mesmo valia para o senhor Albuquerque e para qualquer cavalheiro que o acompanhasse.
A jovem fez uma pergunta sobre o destino da carruagem. Agitado, dei uma resposta qualquer, mas a dama de maneiras e linguagem peculiares me interrompeu. Não que isso já tivesse acontecido antes.
De onde ela vem?, eu quis saber. Seu sotaque era totalmente estranho para mim, assim como a maioria de suas palavras.
Não tive tempo de ponderar sobre o assunto, já que a carruagem parou na estrada antes que eu pudesse levar a jovem para longe de olhares curiosos — o cocheiro quase caiu do assento ao observá-la. O rosto do senhor Albuquerque apareceu na janela e não tardou a adquirir um tom rosado na pele e um arquear de apreciação nas sobrancelhas. Era só o que faltava!
Eu os encarei de maxilar trincado, colocando-me à frente da garota. Era tudo o que me restara para protegê-la. Isso fez os dois homens perceberem que se excediam; o cocheiro se virou para o outro lado, e o senhor Albuquerque ao menos teve a decência de baixar os olhos, envergonhado.
— Está tudo bem, senhor Uckermann? Algum problema? — perguntou ele.
— Esta jovem foi assaltada, senhor Albuquerque. Vou levá-la para minha casa. A pobre tem um ferimento na cabeça.
Ele ofereceu ajuda, espiando a garota curiosa, que se inclinava para o lado e dava uma boa olhada na cena, fazendo-me engolir uma imprecação. No entanto, havia algo que ele poderia fazer: sem cerimônia, pedi que avisasse ao médico da vila que eu precisaria de seus serviços. Ele concordou prontamente.
— Avise-me se precisar de mais alguma ajuda — falou, antes de acenar para o cocheiro e de partirem em alta velocidade.
Apenas quando vi a carruagem fazer a curva e sumir de vista me permiti respirar. Virei-me para a jovem:
— Podemos ir, senhorita?
Seu rosto estava ainda mais pálido, a boca escancarada em um O mudo.
— O que está acontecendo aqui? — Sua voz tremeu quando voltou a falar.
— Não tenho certeza se a compreendi.
— Por que você fala desse jeito estranho, tá vestido com essas roupas e tem carruagens passando pela estrada?
Ah, senhor. Ela estava sofrendo dos nervos. Eu já ouvira falar disso. Era grave e precisava de muito repouso e silêncio para se curar. E ela encontraria as duas coisas em minha propriedade. Eu garantiria isso.
Insisti que a jovem fosse razoável e aceitasse minha ajuda. Tentei alcançá-la, mas ela se afastou. Assustada, desconfiada, zangada e, não pude deixar de notar, absurdamente encantadora.
— Não vou pra sua casa, ficou doido? Eu sei lá o que você pretende fazer comigo? Você pode muito bem ser um psicopata que quer me cortar em pedacinhos e me guardar dentro do freezer pra comer aos poucos. Não sabe em que ano estamos?
— Estamos no ano de 1830 e garanto-lhe que sou um homem de bem. — Perdi a paciência. Já dera provas de que não lhe faria nenhum mal. Está certo, só Deus sabia o que aqueles malditos assaltantes haviam feito com ela, mas ela precisava me diferenciar deles. Simplesmente precisava nos colocar em categorias diferentes. E o que diabos era um freezer? — Não tenho outra intenção que não seja ajudá-la!
E foi então que ela começou a gargalhar de um jeito tão escandaloso e natural como há muito eu não via em uma dama. Meu rosto esquentou. Não tenho certeza se de vergonha por ser motivo de escárnio ou — embaraçosamente, devo acrescentar — por conseguir fazê-la rir daquela maneira.
— Mil... Mil... oitocentos e trinta! — ela articulou em meio à crise de riso. — Boa piada! Muito engraçada mesmo!
— Não lhe contei piada alguma.
— Então acha que eu tenho cara de idiota!
Engoli um gemido. Por quê? Por que ela não poderia ser como as outras damas que eu conhecia e aceitar minha ajuda? Qual o motivo para tanta petulância? E por que, em nome de Deus, eu gostei tanto disso?
Depois de argumentar que minha única intenção era ajudá-la, afinal fora em minhas terras que ela havia sido atacada — querendo ou não, eu me tornara o responsável por ela daquele momento em diante —, ela acabou aceitando meu auxílio. Secou as lágrimas de diversão que se empoçavam naqueles olhos de topázio antes que eu pudesse lhe oferecer o lenço.
— Tá bom, maluco. Vamos até sua casa. Láááá no século dezenove!
Ignorei seu comentário disparatado e indiquei o cavalo. Ela se aproximou de Meia-Noite, mas se deteve. Parecia estar com medo. Lutei para não bufar e me fiz útil, ajudando-a a subir. Entretanto, no instante em que nossa pele se encontrou de novo, aquele grito infernal em minha cabeça retornou.
Ela hesitou por um instante, os olhos nos meus, a testa encrespada em confusão, então piscou uma vez e tomou impulso para montar o cavalo. Tive de me esticar e segurá-la pelo cotovelo para que não caísse do outro lado, pois, ao que parecia, sua habilidade na arte da montaria era inexistente. Eu não quis olhar para suas pernas — bem, quis sim, mas a questão é que não devia querer —, porém como poderia não ter notado a vastidão de pele nua e lisa praticamente colada ao meu rosto?
Maldito fosse o sujeito que ousou lhe tirar a roupa.
Maldito fosse o sujeito que ousou tocá-la!
Sacudi a cabeça e a alertei para que se segurasse, metendo o pé no estribo. A garota se agarrou à sela, resmungando um “opa!” quando esta balançou sob meu peso. Passei o braço por sua cintura, pretendendo lhe oferecer alguma segurança. Ao menos eu tentava me convencer de que aquele era o motivo do abraço. Não tinha relação alguma com sua pele quente e macia se grudando em mim. Muito menos com o fato de cada curva dela se acomodar perfeitamente aos contornos ásperos e duros de meu corpo. E, naturalmente, nada tinha a ver com seu delicado perfume me embriagando os sentidos. De maneira alguma.


— Você precisa mesmo me apertar tanto? — Ela se agitou em meus braços, o quadril roçando o meu e... Diabos, um homem simplesmente não consegue evitar que certas reações físicas aconteçam.
Praguejando baixo, afastei-me dela o pouco que pude, esporeei o cavalo e pela primeira vez desde que me tornara adulto me senti tentado a dar ouvidos aos conselhos de meu mordomo e ir até a cidade, ao estabelecimento da senhorita Anne Marie — de cuja existência Maite não fazia ideia, e eu preferia que permanecesse assim — em busca de algum alívio. Era bobagem, eu sabia disso.
O tipo de fome que eu sentia agora era diferente daquela a que estava habituado.
Esta era específica. Quando se tem fome de um bom filé, é idiotice tentar enganar o estômago com legumes. Ele pode até se aquietar por um tempo, mas a fome não cessa até que se lhe dê o que ele quer. E eu estava faminto por aquela jovem.
— Posso soltá-la, se estiver disposta a cair e bater a cabeça novamente.
Ela se prendeu em meu braço como uma gata assustada, e eu acabei rindo.
— Não tente nenhuma gracinha — falou, em um tom deliciosamente irritado que fez muito pouco por minha sanidade. — Eu sei alguns golpes de jiu-jítsu. Quebro seu nariz em dois tempos!
Apesar da ameaça — tão doce e quase infantil —, percebi que ela voltara a falar coisas sem nexo, o que varreu de minha mente toda aquela porcaria pouco honrosa.
— Estou, de fato, muito preocupado com sua cabeça, senhorita. Não está dizendo palavras coerentes. A senhorita precisa ver o doutor Almeida.
— É... Acho que você tem razão. Preciso muito. Muito mesmo!
Então ordenei que Meia-Noite voasse pela estrada. Em menos de dez minutos eu a ajudava a desmontar em frente a minha casa. Sua atenção, porém, estava na fachada.
— Por aqui. — Eu a conduzi para dentro, segurando seu cotovelo.
Andamos apenas alguns metros antes de Gomes nos interceptar. Justamente quem eu queria ver.
— Senhor Gomes, prepare o quarto de hóspedes. Já mandei chamar o doutor Almeida. Onde está a senhora Madalena?
— Por Deus, senhor Uckermann! O que houve? — O olhar do homem se prendeu na jovem a meu lado, o assombramento lhe esticando a cara toda.
Maite entrou na sala, acompanhada da senhorita Anahí.
— Meu irmão, voc... Oh! — Ambas notaram a presença da jovem de imediato.
Minha irmã levou a mão à boca enquanto sua amiga soltava um gritinho agudo que fez minha cabeça latejar.
— Mas que gritaria é... — Madalena apareceu, secando as mãos no avental, e sua reação ao ver a jovem ferida foi semelhante à das garotas. — Oh, minha Virgem Santíssima!
— Senhora Madalena, prepare um chá e o leve ao quarto de hóspedes. — Voltei-me para a jovem, que analisava tudo boquiaberta. — Deseja comer alguma coisa?
Ela negou com a cabeça, mas não tenho certeza se chegou a ouvir minha pergunta.
Elisa se antecipou e me abraçou, cheia de saudade e preocupação.
— Meu irmão, o que está havendo? Você está bem? Quem é esta jovem?
— Estou ótimo, Maite. E não sei quem ela é. Eu a encontrei caída em nossas terras. Foi vítima de um assalto, suponho.
Ela arfou, afastando-se um pouco, mas me segurou pelos ombros.
— Assalto, aqui? Tão perto da nossa casa?
— Receio que sim.
— Por Deus, Christopher! — Suas mãos se apertaram contra o peito, os olhos esbugalhados de pavor.
— Não se preocupe, Maite. Estou aqui. Nada de mau vai lhe acontecer. — Então me dirigi a meu mordomo. — Mande alguns criados percorrerem a propriedade, e outro para avisar a guarda. Quero ser informado caso surja qualquer...
— Oh, céus, Christopher! — exclamou Maite. — A pobrezinha vai cair desmaiada!
A jovem oscilou para a frente. Eu me adiantei e a peguei no colo quando seu corpo se rendia à exaustão. O pedaço de tecido que lhe cobria os quadris subiu um pouco e eu imediatamente fitei Gomes. Mas ele desviara o olhar muito antes disso.
Deixei as três mulheres matraqueando na sala e atravessei a casa com aquela bela jovem de língua afiada e olhar misterioso inconsciente em meus braços.
— Não se preocupe — murmurei para ela, embora não pudesse me ouvir. — Vou cuidar de você. Ficará bem. Está em casa agora...
Um solavanco me arrancou de onde quer que eu estivesse e me lançou ao inferno. Perdi o equilíbrio e cambaleei como um bêbado enquanto minha mente entrava em colapso. Então me vi no centro de uma praça tomada de pessoas vestidas de maneira estranha e quase imprópria, gritando feito loucas. Havia explosões, corre-corre, gritos. Muitos gritos.
Onde diabos eu havia me metido?



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Autor(a): Fer Linhares

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Onde é que eu estava? E, o mais importante, como tinha ido parar ali? A última coisa da qual me lembrava era ter ido até a Fazenda Boa Esperança em busca de novos garanhões. E aquele lugar não se parecia em nada com o que havia no percurso entre a fazenda e minha propriedade. Nada mesmo!— Quer protestar comigo? & ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 63



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  • tahhvondy Postado em 14/02/2017 - 17:51:28

    nossa simplismente amei!cada um dos livros maravilhosos essa historia e incrível que não tem como não ser apaixonar por ela o amor deles e lindo o Christopher e mt fofo vou sentir saudades dessas confussões deles

  • GrazihUckermann Postado em 13/02/2017 - 19:10:55

    Eu AMEI! não sei qual dos livros foi o melhor. obrigada por postar essa história incrível, essa história é muito linda. Christopher é muito fofo <3 O amor deles é incrível. Quando ele a esqueceu ele se apaixonou por ela de novo, e eu tive que me segurar pra não chorar nessa parte s2 Fiquei feliz com o final da Madelena e do Seu gomes. Espero que tenha outro Baby vondy no livro da Maite, dessa vez tem que ser menino kkjk e não terá um nome melhor que Alexander para dar ao menino neh?? Estarei na próxima fanfic com você, comentando em todos os capitulos. Tchau. um diaa eu volto para ler de novo. (Acho que não demora muito, por amei a história e quero muito ler de novo) s2

  • tahhvondy Postado em 13/02/2017 - 10:57:28

    ai já ta acabando que triste mas ainda bem q vx consequiu baixa o da Maite

  • GrazihUckermann Postado em 10/02/2017 - 20:35:51

    Continuaaaaaaaaaaaaa! s2

  • tahhvondy Postado em 09/02/2017 - 11:28:34

    chequei continua por favor

  • GrazihUckermann Postado em 09/02/2017 - 09:49:37

    Continuaaaaa! s2

  • GrazihUckermann Postado em 07/02/2017 - 16:32:39

    FINALMENTE! CONTINUAAAAAAAAAAAAAA s2

  • GrazihUckermann Postado em 06/02/2017 - 21:08:32

    T-T

  • GrazihUckermann Postado em 06/02/2017 - 21:02:21

    Caraca essa confusão me deixou confusa kkkjk quando ele esquecer ela, ele meio que vai sumir?? vai aparecer no século dezenove como se nada tivesse acontecido?? é isso? não entendi kkkjk Continue mulher, não me deixe ansiosa! s2

  • GrazihUckermann Postado em 05/02/2017 - 22:21:37

    ai me deus!!!! CONTINUAAAAAA T-T


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