Fanfics Brasil - Capítulo 39 Destinado - As Memórias Secretas do Sr. Uckermann (Vondy) [TERMINADA]

Fanfic: Destinado - As Memórias Secretas do Sr. Uckermann (Vondy) [TERMINADA] | Tema: Vondy [Adaptada]


Capítulo: Capítulo 39

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Libertei seus lábios, embora isso me doesse na alma. Ela abaixou a cabeça, uma das mãos agarrada a meu pescoço, a outra deslizando para o bolso de sua... bem, acredito que aquilo fosse uma roupa, embora mal cobrisse seus quadris. De lá, ela retirou um artefato prateado que reluzia tal qual uma estrela. Ele era a fonte do zunido. A julgar pela falta de cor em suas feições, também era a fonte de seu terror.
A jovem ergueu aqueles olhos castanhos para mim, a dor e o medo tão densos e profundos que os tornaram quase negros. Seus dedos trêmulos se desprenderam de meu pescoço apenas para encontrar outro porto seguro: um delicado relicário aninhado em seu decote.
— Isso veio buscá-la, não é? — perguntei com a voz instável, fitando aquele artefato luminoso.
Ela negou com a cabeça, as lágrimas descendo pelas bochechas pálidas.
— Não, Christopher. Ele vai levar você e tudo... tudo o que nós construímos juntos. Mas não a mim.
Acabou, Christopher.
Eu não entendia o que ela queria dizer, mas de uma coisa estava certo: eu não permitiria que acabasse algo que parecia estar apenas começando. Por isso tomei de suas mãos o que quer que aquela coisa fosse.
— Christopher, não!
Mas já era tarde. Atirei a peça com tanta força que ela voou por uns oito segundos antes de se encontrar com a fachada da igreja. E então explodiu.
Curvei-me sobre a jovem, protegendo-a como podia, mas foi difícil, já que ela tentou se desvencilhar de mim.
— O que você fez? — Ela me empurrou, o desespero a fazendo tremer por inteiro.
— O que julguei necessário.
Algo zumbiu perto de minha orelha. Um fogo de artifício que se deteve apenas ao encontrar a copa de uma árvore. A batalha estava avançando.
— Venha. — Eu a segurei pelo cotovelo, estudando o melhor trajeto para escaparmos dali.
— Para onde? Não temos mais a máquina do... Aaaahhh!! — Ela se abaixou segundos antes de outro foguete passar muito perto de seus cabelos.
Não esperei mais nada. Coloquei-a na direção certa e, ainda segurando seu braço, comecei a correr, embrenhando-nos na multidão que também recuava, assustada.
Ela tropeçava muito, pálida e com os olhos ainda marejados, enquanto avançávamos. Em determinado momento, ela me puxou, alterando nosso curso.
Alcançamos a rua. Cabines metálicas estavam paradas bem no meio da via, luzes brilhantes piscavam na parte inferior dianteira. Os rostos ali dentro demonstravam impaciência.
Dobramos a esquina, e uma rua relativa e abençoadamente vazia nos recebeu. A jovem me segurou pela roupa, empurrando-me de encontro à parede fria. Eu devia ter imaginado algo assim. Não se pode sair por aí beijando uma garota cujo nome nem se sabe ainda e não esperar um bom acerto de contas.
— Por que você destruiu o celular? Agora nenhum de nós vai conseguir voltar, Christopher!
— E por isso mesmo o destruí. Não sei para onde ou como ele ia me levar, mas estou certo de que era para longe de você.
Ela acenou com a cabeça uma vez, o rosto parcialmente oculto pelas sombras.
— Então eu fiz bem — continuei. — Um mundo sem a senhorita não me parece um lugar bom para estar.
Uma explosão fez o chão sob minhas botas tremer. Um sujeito dobrou a esquina correndo, passando a centímetros dela. Eu a puxei para o lado, colocando-me  sua frente. Não demorou muito para que um homem uniformizado surgisse em seu encalço. Um guarda da cavalaria veio logo a seguir. O cavaleiro conseguiu alcançar o fugitivo primeiro e, quando chegou perto o bastante, saltou sobre ele.
Os dois começaram a lutar. O policial que seguia a pé se juntou à briga.
— Temos de ir — eu disse a ela, com urgência. — Para onde devo levá-la?
— Eu não sei! Temos que ficar aqui e esperar sua...
Outra explosão aconteceu em meio à briga. As labaredas do fogo de artifício que o fugitivo disparou contra os homens da lei se avultaram sobre um deles. Ele rolou no chão, praguejando, debatendo-se contra as chamas em sua calça. O outro policial lutava com o fugitivo, protestante, arruaceiro ou o que quer que ele fosse. O cavalo, assustado, disparou rua abaixo.
Pegando a jovem pelo cotovelo com a maior delicadeza que pude mediante a urgência de tirá-la dali, eu a levei para o outro lado da rua, conservando o corpo na frente do seu. Ela relutava, entretanto.
— Christopher, não. Temos que ficar aqui.
— De maneira alguma permitirei que fique no meio desta guerra!
— Mas nós temos que... Ahhh! — Ela gritou quando, impaciente, eu me abaixei e a joguei sobre um ombro. — Christopher, para! Não podemos sair daqui! Ainda que a máquina...
— Inferno. — Estávamos quase na esquina agora, mas avistei um grupo surgir no fim da rua. Trazia pedaços de madeira nas mãos e o rosto marcado pela obstinação.
— O que... Ah, merda — ela praguejou quando viu o que se aproximava.
O cavalo da guarda passou por mim, perdido e assustado. E era exatamente o que eu precisava. Levei a jovem até o meio do quarteirão e a coloquei sobre os próprios pés, oculta nas sombras de uma árvore.
— Fique aqui — eu disse a ela, mirando o cavalo pouco mais à frente.
— Christopher, você ficou louco? — Ela me puxou pela camisa. — Não pode roubar um cavalo da polícia!
— Não pretendo roubar. Apenas pegarei emprestado.
— Mas, Christopher, nós temos...
— Fique aqui. — E, porque me pareceu a coisa certa a fazer, roubei-lhe um beijo.
Atravessei a rua buscando o olhar do animal. Não consegui precisar sua linhagem. Era alto como um holsteiner, gracioso como um sela francês, musculoso e imponente tal qual um puro-sangue inglês. Talvez fosse resultado de cruzas das três raças, ponderei. De qualquer maneira, era um magnífico animal.
E um tanto arisco, já que fora treinado para obedecer apenas aos comandos do guarda caído em algum lugar na rua de cima. Ainda assim, tentei uma aproximação amistosa, mantendo seus olhos sempre fixos nos meus. Era inteligente o filho da mãe. A cada vez que eu tentava alcançá-lo pela direita, ele se esquivava para o lado oposto, sempre dando um passo à frente, pronto para disparar. Ergui as mãos e me coloquei em seu campo de visão. Alarmado, o animal resfolegou, empinando.
— Calma, não vou machucá-lo. Só preciso da sua ajuda. Vamos lá, rapaz. — Tentei chegar mais perto. O cavalo recuou, patinando no piso duro e áspero, os grandes olhos negros acompanhando cada movimento meu. — Tranquilo. Não vou feri-lo.
Eu estava perto o suficiente para estender a mão e pegar a rédea que lhe caía na lateral. Fiz tudo isso devagar, paciente. Ele bufou uma vez, mas, tão logo toquei seu focinho e permiti que desse uma boa cheirada em mim, a tensão em seu corpo cedeu.
— Isso mesmo, apenas preciso da sua ajuda.
Enfiando o pé no estribo, subi em seu lombo. Experimentei alguns comandos para ter certeza de que ele não se rebelaria. Quando senti que era seguro, levei-o até onde a jovem aguardava. Desviei da copa da árvore e lhe estendi a mão.
Ela olhou para o lado, para o grupo armado com tocos que gritava palavras de ordem e raiva, e de volta para mim.
— Você ficou doido! — Mas aceitou minha mão.
Ofereci o pé a ela, para que tivesse apoio e ganhasse impulso. Ela conseguiu se acomodar entre meus braços com certa facilidade. Familiaridade até.
Então cutuquei as costelas do cavalo, afastando-nos do grupo que subia e deixando aquela batalha para trás em alta velocidade. Nunca em toda minha vida me metera em uma situação como aquela. E, mesmo com toda a confusão, sentia-me contente. Foi naquele caos que a encontrei. Ainda sentia a boca formigando pelo toque de seus lábios. Meu coração continuava executando aquele ritmo estranho que lembrava uma dança.
— Venha comigo — ouvi-me dizendo.
— Para onde?
— Para a minha casa. Moro perto de uma pequena vila, um lugar calmo que destoa e muito deste aqui, mas lá poderei protegê-la. Lá não existirão objetos misteriosos perseguindo você.
— Christopher...
— Eu lhe darei o meu nome. Um lar. — E o meu coração, desejei acrescentar, mas temi assustá-la. — Tenho uma boa renda. Serei capaz de lhe dar tudo o que desejar.
Ela se virou em meus braços, o rosto a um suspiro do meu.
— Você está me pedindo em casamento?
Não pude evitar grunhir.
— Obviamente não de maneira apropriada, tampouco romântica, mas, sim, eu estou.
Ela inclinou a cabeça de leve, e um de seus cachos escorregou por seu ombro.
— Mas você nem sabe o meu nome! Não sabe nada sobre mim. Como pode me pedir em casamento?
— Posso pedi-la em casamento por infinitas razões. Mas meu corpo está pinicando agora. Na verdade, começou no instante em que nossos olhares se encontraram, no meio daquela confusão. É como um formigamento, só que dentro dos ossos. Sinto no corpo todo. Ou se trata de um caso grave de paixão aguda, ou estou tendo um ataque de apoplexia neste exato instante.
Ela riu, e o som de sua risada reverberou em meu peito, aquecendo-o.
Definitivamente, não se tratava de um caso médico.
— Não acredito que você se apaixonou por mim de novo.
De novo?
Eu tinha a intenção de perguntar o que ela quis dizer com aquilo. Tinha mesmo.
Mas como um homem é capaz de formular um pensamento que seja quando a mulher que lhe roubou os pensamentos e o coração lhe furta também um beijo?
Não, é impossível. Ao menos para esse homem.
— Christopher, eu caso com você. Caso quantas vezes você me pedir. Mas temos que voltar para aquela praça. A Maite pode...
Uma sineta ecoou na noite. Olhei para trás. Uma daquelas cabines vinha em vinha direção, luzes azuis e vermelhas dançando no alto do teto.
Exigi mais do animal, suas patas patinaram ao fazer a curva; aquele tipo de piso não era adequado para uma cavalgada tão rápida. Encurtei as guias um pouco mais e tentei controlá-lo. No entanto, um intenso clarão surgiu a minha frente e parou abruptamente. A montaria se assustou, empinando sobre as patas traseiras.
Só tive tempo de passar os braços ao redor da jovem e rezar para que meu corpo absorvesse o pior da queda. Senti o impacto nas costelas, o ar foi expulso de meus pulmões. Ouvi o gemido de dor dela e o grito de rodas contra o concreto. Olhei para a moça, tingida do vermelho e azul das luzes tremulantes.
— Você... está bem? — consegui perguntar.
Ela fez que sim com a cabeça. Estava sem fôlego, mas não parecia ferida. Então voltei o olhar para a fonte daquelas luzes. Uma mulher de uniforme preto descia da cabine e se ocultava parcialmente atrás da porta. Uma pistola surgiu.
Uivando de dor, tentei me sentar.
— Parados! — a guarda ordenou.
— Somos nós, detetive. — A jovem se apoiou em um cotovelo. — Christopher e Dulce.
Dulce — experimentei, enquanto pontos brilhantes dançavam diante de meus olhos. Era um belo nome.
— Ah, pelo amor de Deus! — A guarda... a detetive hesitou, examinando-nos, então baixou a arma. — Eu disse para não se meterem em nenhuma confusão e vocês decidem roubar um animal da cavalaria?
Do outro lado, a porta da cabine que assustara o cavalo se abriu. Aquele veículo trazia uma pequena placa no teto com a palavra “táxi” iluminada. De dentro dele saiu um rapaz. As luzes coloridas do carro de polícia passaram por seu rosto.
Ele me fitou, as mãos enfiadas nos bolsos da calça, o paletó aberto. Um sorriso lento acentuou a cicatriz na lateral de seu rosto.
— Você! — rugiu a detetive, voltando a erguer a pistola e mirando a cabeça do rapaz. — Seu filho da mãe! Mãos onde eu possa ver! Cadê a menina?
— Que menina, detetive? — Ele ergueu as mãos devagar.
— Não se faça de engraçadinho. Você levou Maite Uckermann do hospital. Onde é que ela está?
— Não sei do que você está falando. — Mas seu olhar cruzou com o meu. E, por alguma razão, ele me lançou uma piscadela.
Então o inferno me encontrou.
Minha cabeça foi de encontro ao concreto quando a dor apunhalou meu cérebro.
— Christopher! — A voz da jovem, Dulce, soou muito longe quando imagens explodiram em minha mente, uma atrás da outra.
Senti as mãos dela em meu peito. Ela parecia dizer alguma coisa, mas eu não conseguia juntar as sílabas e colocá-las em ordem. Tudo o que eu podia ouvir, ver ou sentir eram as imagens em minha cabeça, que continuaram surgindo em um ritmo desordenado e furioso. Com cada nova cena, uma emoção também surgia. Era como se um punhal atravessasse meu cérebro de um lado ao outro, como se meu corpo não suportasse todos aqueles sentimentos de uma única vez.
Senti os olhos revirando nas órbitas.
Uma imagem se sobrepunha à outra, e eu já não sabia o que via, o que sentia.
Pareceu-me que o homem parado na frente das luzes dianteiras do táxi continuava a sorrir. Pareceu-me que uma sombra passou atrás dele. Uma silhueta feminina que pouco a pouco foi perdendo a escuridão e se revelou.
— Ma... ite.. — tentei dizer. O que ela fazia ali? E que diabos eram aquelas roupas?
— Christopheeeeer! — minha irmã gritou de volta.
— O quê? — Sofia olhou para trás.
Maite estava ali, correndo em minha direção. Eu quis me levantar, quis perguntar como ela tinha chegado até lá, mas a agonia em que me encontrava não permitiu que eu me movesse. As malditas imagens me rasgavam ao meio.
Acompanhei com o olhar a jovem debruçada sobre mim ficar de pé e disparar em direção a Maite, os braços estendidos. Assisti à minha irmã observá-la com confusão, mas sorrir, ainda que de maneira hesitante. Também a vi se deter e seu rosto se transformar em uma máscara de dor, os olhos revirando nas órbitas.
— Maite! — Dulcetentou segurá-la, inutilmente.
O corpo frouxo de minha irmã foi de encontro ao chão no mesmo instante em que fui tragado pela escuridão.


 


                                                                  * * *


 


— O que você fez com eles? — exigiu saber a voz feminina, com firmeza e autoridade.
— Eu não fiz nada — retrucou a masculina.
— Maite, você consegue me ouvir? — A terceira voz eu reconheci. Teria de estar morto para não reconhecer. — Christopher? Por favor!
Abri os olhos e a primeira coisa que vi foi o rosto da mulher mais linda que eu já contemplara, a um passo de distância, ajoelhada sobre o corpo de Maite. A cabeça de minha irmã descansava sobre seus joelhos e ela lhe acariciava os cabelos, mas os olhos estavam em mim.
— Christopher! — ela arfou, tentando se aproximar. Como sustentava o corpo imóvel de Maite, não conseguiu se mexer muito.
Apoiei-me nos cotovelos para me sentar e reprimi uma imprecação. Diabos, tudo me doía.
— O que você fez com eles? — A detetive Santana, reconheci, apontava a arma para o homem parado em frente às luzes do táxi com o motor ainda ligado, enquanto se agachava para tocar o pescoço de Elisa. O alívio varreu seu rosto e meu peito.
— Já disse que não fiz nada — ele respondeu calmamente.
— Alguma coisa você fez. — Ela se endireitou e firmou a arma na direção do sujeito.
Não consegui ficar de pé, então me arrastei para perto de minha irmã. A mulher a quem meu coração pertencia manejou o corpo de Maite, de modo que a cabeça dela descansasse em suas coxas, e chegou mais perto.
— Você tá bem? — perguntou, trazendo a boca para a minha, a mão percorrendo minha cabeça, meu rosto.
— Estou bem — murmurei com dificuldade, puxando sua palma para minha boca e depositando um beijo ali. — E Maite? — Cheguei mais perto, pegando seu pulso e o sentindo com a ponta de dois dedos. Estava instável, mas forte até.
— Não sei, Christopher. Ela está respirando, mas não acorda! Tem certeza que você tá bem?
— Tenho. Se sobrevivi ao episódio da guerra de rolhas, creio que posso sobreviver a uma queda de cavalo. Não é a primeira vez que isso acontece, como você bem sabe.
— Mas você bateu a cabeça e... — Ela titubeou por um breve instante. Seu olhar buscou o meu.
Isso mesmo, meu amor, eu me lembro de você. A mulher que surgira em minha vida como um meteoro, devastando tudo o que eu conhecia, modificando meu mundo, alterando-o para sempre e o deixando mais bonito, trazendo sentido a ele.
Lembrava-me da mulher que amei desde o primeiro instante, desde o primeiro olhar, que havia me ensinado a enfrentar tudo de maneira diferente, que me mostrara quão maravilhosa a vida pode ser, mesmo quando tudo parece perdido.
Minha mulher. Minha Dulce.
— Ah, Christopher... — Sua cabeça pendeu para a frente, encontrando apoio em meu ombro. Ela soluçou alto. Pousei uma das mãos em suas costas e a apertei contra mim.
— Está tudo bem. Vai ficar tudo bem.
Sobretudo se Maite acordasse logo.
Como se tivesse ouvido meus pensamentos, minha irmã deixou escapar um suave gemido. Dulce e eu nos endireitamos no mesmo instante.
— Maite. — Toquei seu rosto. — Pode me ouvir? Maite, sou eu, Christopher.
— O que você fazia com a garota? — ouvi a investigadora perguntar outra vez.
— Ué, o que um taxista faz. Estava levando a menina para o lugar que ela pediu.
Os olhos de minha irmã tremularam.
— Maite — chamei de novo.
— Maite, acorda. — Dulce tomou sua mão e a esfregou.
Ela abriu os olhos. Um azul intenso e brilhante que demonstrou profunda confusão, mas me causou tanto alívio que pensei ser uma coisa boa eu estar sentado, ou teria tombado de encontro ao chão.
— Christopher...
— Estou aqui, querida. — E afaguei seu rosto.
— Oh, meu irmão! — Ela estendeu o braço e tocou minha bochecha. Lágrimas se empoçaram em seus olhos. — Me perdoe.
Descartei a ideia com um gesto de cabeça.
— Não há nada que perdoar.
— Eu não devia ter mexido nas suas coisas. — Então desviou o olhar para Dulce.
— Suas coisas, suponho, minha querida irmã.
— Me desculpa, Maite. Eu não sabia. — Dulce beijou as costas de sua mão. O lábio inferior de Maite tremulou.
— Shhhh... Vai ficar tudo bem — eu disse às duas.
Mas não ia ficar tudo bem, não é? Porque eu havia destruído a única chance que tínhamos de voltar para casa.
Cara*lho!
Estávamos presos naquele tempo para sempre, já que mais uma vez eu fora um cretino que não pensara nas consequências de seus atos. Não importava que eu não me lembrasse dos riscos. Eu tinha feito, de novo, exatamente a mesma coisa que nos colocara naquela maldita situação. Se eu não tivesse me precipitado e escondido o celular de Dulce, nada disso...
Espere um momento.
— Maite, precisamos da máquina — eu disse a ela.
Minha irmã tentou se sentar, mas não conseguiu.
— Que máquina?
— O celular. O objeto que a trouxe para cá. Precisamos dela para poder ir para casa.
Ela balançou a cabeça.
— Eu não sei onde está. Devo ter deixado cair quando a polícia apareceu em nossa casa, neste tempo, e me levou para a sede da guarda. — Ela balançou a cabeça. — Foi horrível. Primeiro pensaram que eu fosse uma ladra, depois que havia perdido o juízo. Foi um pesadelo! Tenho tanto para lhe contar...
— Inferno! — Esfreguei o rosto com raiva. E agora, o quê? O que faríamos?
— O que foi? — Maite quis saber, apoiando-se com dificuldade em um cotovelo.
— Aquela máquina era a nossa única chance de voltar para casa — Dulce respondeu, já que eu não pude. Tudo o que me ocorria era o rosto perfeito e sorridente de Marina. O que aconteceria agora?
— O que faremos? — minha irmã quis saber.
— O que você fez com eles? — repetiu a voz autoritária da policial.
— Já disse que não fiz nada — o sujeito em frente ao táxi disse. — Por que tanta implicância comigo?
— Eu não sei, Maite. — Dulce sacudiu a cabeça. — De verdade, eu não sei o que faremos.
— Acho muito estranho os dois sofrerem convulsões ao mesmo tempo — a investigadora retorquiu.
— E eu acho muito estranho a detetive desviar sua atenção desse jeito. Tive a impressão de que você estava perseguindo alguém.
Um sussurro reverberou ali perto e foi carregado pelo ar. Os pelos da minha nuca se eriçaram de imediato. Ergui os olhos e pela primeira vez me dei conta de que o taxista na verdade era o meu ex-companheiro de cela.
Também era o filho da mãe que levara Maite do hospital. A ira me dominou.
Apoiando-me com as mãos, preparei-me para levantar e socá-lo até não poder mais, mas o sibilo voltou a se repetir e me paralisou. O ruído vinha do sujeito em frente às luzes do táxi.
Ele levou a mão ao bolso do paletó. A investigadora Santana apertou os olhos, destravando o cão da arma.
— Nem pense nisso, meu chapa. Mantenha as mãos onde eu possa ver.
Ele a estudou por um instante, a cicatriz se tornando mais larga conforme suas sobrancelhas se juntavam.
— Desculpa aí, moça, mas é importante.
E enfiou a mão no paletó.
O som inconfundível de um disparo repercutiu pela noite. A bala encontrou o ombro do rapaz. Maite gritou, os olhos subitamente cortinados de lágrimas e horror.
— Não! — Comecei a me levantar, mas Dulce me puxou e eu caí de joelhos.
Uma mancha rubra tingiu a camisa branca por baixo de seu paletó. Ele caiu de joelhos e apoiou uma das mãos no concreto. Em seguida, seu corpo tombou por inteiro.
Ele não podia morrer antes de me responder por que levara Maite. Por que não me dissera que estava com ela quando nos reencontramos.
Eu me arrastei até ele.
— Não toque nele! — A investigadora Santana tentou me impedir, mas me esquivei de suas mãos e alcancei o rapaz, virando-o.
O sangue que empapava sua roupa me embrulhou o estômago. Levei a mão à ferida, pressionando de leve, tentando deter o sangramento.
— Um médico. Ele precisa de um médico! — gritei.
O rapaz ergueu os olhos nublados para mim, então esboçou um sorriso.
— Você podia parar de tentar bancar o maldito herói e começar a me ajudar de verdade, sabia?
— Central, preciso de uma ambulância. Um homem foi ferido... — ouvi a detetive dizer em algum lugar ali perto.
— Não vou deixar que você morra antes de lhe dar uma boa surra — eu disse a ele. — Depois quero saber por que esteve com Maite esse tempo todo.
Lentamente, ele tirou a mão de dentro do paletó. Havia sangue nela. Ele a escorregou pelo peito até alcançar a minha, empurrando algo frio de encontro a minha palma.
— Se manda, Christopher.
— Mas você...
— Cai fora antes que não seja mais possível.
Fitei o objeto coberto de sangue em minha mão. Ele ainda zumbia.
— Quem é você? — murmurei.
— Um amigo, eu já disse. Agora pare de perder tempo. Volte para casa e salve o seu amor. Vá!
A investigadora estava perto e se abaixou, ainda apontando a arma para ele. Ela disse alguma coisa, mas eu não ouvi. Afastei-me, mantendo o olhar fixo no rosto do homem que acabava de salvar minha vida e tudo o que me era mais precioso no mundo. “Obrigado”, fiz com os lábios. Rezei para que a ferida não fosse fatal.
Que ele se recuperasse e que, de alguma maneira, a vida pudesse lhe retribuir o favor que ele me fazia, já que eu nunca poderia.
Ele assentiu uma vez.
Virei-me para Dulce. Ela ajudara Maite a se sentar. O olhar de minha esposa se iluminou ao reconhecer o que eu tinha na mão.
— Christopher...
— Todos vocês terão que ir para a delegacia! — avisou a investigadora Santana, atrás de mim. — E quero explicações sobre o roubo do cavalo, Christopher.
Eu a olhei por sobre o ombro.
— Lamento muito, detetive. Mas meu futuro está à minha espera.
A confusão que contorceu suas feições me deu tempo suficiente para passar um braço pela cintura de Dulce, sem hesitação, e outro pelos ombros de Maite. Então pressionei o botão verde, que piscava como um vaga-lume. O botão que me levaria de volta ao meu destino.
A luz branca explodiu a nosso redor, mas dessa vez mantive os olhos bem abertos — e pude ver o rosto do rapaz se contorcendo em um sorriso exultante antes de o clarão me cegar.




GrazihUckermann: Ele iria voltar para o seculo dezenove com o celular sem a Dulce, pq o futuro dele ia ser reescrito e a Dulce não estaria nele kk bjss {#emotions_dlg.kiss} s2


 


 


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Autor(a): Fer Linhares

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Eu estava deitado de costas. O matagal espesso pinicava a pele de meu braço.Sentia as pontas duras do carrapicho-picão alfinetar meu dorso cada vez que eu respirava. O aroma de mato e terra se misturava ao cheiro de lenha queimada em algum lugar ali perto. O latido insistente de um cachorro era carregado pela brisa fresca. Assim que minha vis&ati ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 63



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  • tahhvondy Postado em 14/02/2017 - 17:51:28

    nossa simplismente amei!cada um dos livros maravilhosos essa historia e incrível que não tem como não ser apaixonar por ela o amor deles e lindo o Christopher e mt fofo vou sentir saudades dessas confussões deles

  • GrazihUckermann Postado em 13/02/2017 - 19:10:55

    Eu AMEI! não sei qual dos livros foi o melhor. obrigada por postar essa história incrível, essa história é muito linda. Christopher é muito fofo <3 O amor deles é incrível. Quando ele a esqueceu ele se apaixonou por ela de novo, e eu tive que me segurar pra não chorar nessa parte s2 Fiquei feliz com o final da Madelena e do Seu gomes. Espero que tenha outro Baby vondy no livro da Maite, dessa vez tem que ser menino kkjk e não terá um nome melhor que Alexander para dar ao menino neh?? Estarei na próxima fanfic com você, comentando em todos os capitulos. Tchau. um diaa eu volto para ler de novo. (Acho que não demora muito, por amei a história e quero muito ler de novo) s2

  • tahhvondy Postado em 13/02/2017 - 10:57:28

    ai já ta acabando que triste mas ainda bem q vx consequiu baixa o da Maite

  • GrazihUckermann Postado em 10/02/2017 - 20:35:51

    Continuaaaaaaaaaaaaa! s2

  • tahhvondy Postado em 09/02/2017 - 11:28:34

    chequei continua por favor

  • GrazihUckermann Postado em 09/02/2017 - 09:49:37

    Continuaaaaa! s2

  • GrazihUckermann Postado em 07/02/2017 - 16:32:39

    FINALMENTE! CONTINUAAAAAAAAAAAAAA s2

  • GrazihUckermann Postado em 06/02/2017 - 21:08:32

    T-T

  • GrazihUckermann Postado em 06/02/2017 - 21:02:21

    Caraca essa confusão me deixou confusa kkkjk quando ele esquecer ela, ele meio que vai sumir?? vai aparecer no século dezenove como se nada tivesse acontecido?? é isso? não entendi kkkjk Continue mulher, não me deixe ansiosa! s2

  • GrazihUckermann Postado em 05/02/2017 - 22:21:37

    ai me deus!!!! CONTINUAAAAAA T-T


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