Fanfics Brasil - Capítulo 40 Destinado - As Memórias Secretas do Sr. Uckermann (Vondy) [TERMINADA]

Fanfic: Destinado - As Memórias Secretas do Sr. Uckermann (Vondy) [TERMINADA] | Tema: Vondy [Adaptada]


Capítulo: Capítulo 40

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Eu estava deitado de costas. O matagal espesso pinicava a pele de meu braço.
Sentia as pontas duras do carrapicho-picão alfinetar meu dorso cada vez que eu respirava. O aroma de mato e terra se misturava ao cheiro de lenha queimada em algum lugar ali perto. O latido insistente de um cachorro era carregado pela brisa fresca. Assim que minha visão se ajustou, tudo o que vi acima de minha cabeça foi o céu negro repleto de pontos brilhantes onde nada se movia, exceto algumas poucas nuvens que teimavam em encobrir a lua.
Estávamos em casa.
— Vocês estão bem? — eu imediatamente quis saber.
Maite mantinha o rosto escondido em meu ombro e apenas fez que sim com a cabeça. Dulce permanecia abraçada a mim, os olhos apertados, os dedos agarrados ao tecido de minha camisa.
— Me diz que estamos em casa — murmurou ela.
— Não em nossas terras, mas próximos o bastante, meu amor.
— Graças a Deus! — Ela relaxou, os dedos se abrindo.
Minha irmã se ergueu sobre o cotovelo, o olhar sondando a escuridão.
— Estamos na propriedade dos Portilla? — indagou.
— Não é tão longe de casa. — Dulce tentou se sentar, mas não conseguiu. Seus cabelos haviam ficado presos em uma moita de carrapicho. Ajudei-a a se soltar, mas bolotas espinhosas haviam se grudado por todo o comprimento de suas madeixas.
— De modo algum. Podemos ir andando. — Eu me sentei também, e minhas costelas protestaram. — Maldição.
— Oh, que praga. — Minha irmã também havia caído na moita de espinhos e ficou de pé, tentando removê-los das roupas.
Eu a observei com atenção. Ela estava cansada, mas sua aparência era tão diferente que eu mal a reconhecia. É claro que aquelas roupas não combinavam com ela. Naturalmente, eu sempre imaginei que minha irmã tivesse todas as partes do corpo, e isso incluía um traseiro, mas não significava que eu precisasse estar ciente de sua existência, espremido dentro de uma calça. No entanto, não era isso que a tornava tão diferente. Era o olhar. Em algum momento durante os cinco dias em que estivemos separados, ela havia crescido, deixado para trás a menina que era e se tornado mulher.
Levantei-me e estendi a mão para Dulce. Eu ainda segurava o celular sujo de sangue, e ela relanceou a máquina.
— Como aquele cara tinha um desses no bolso? — Ela aceitou a ajuda, batendo as mãos no traseiro para se livrar da sujeira.
— Suspeito de que ele não é apenas um cara, Dulce. — Porque, agora que tinha a memória de volta, percebi algo. Aquele sujeito estivera presente em todos os episódios nos quais encontrar Maite se tornava uma possibilidade. Aliás, ele de alguma maneira sempre dava um jeito de conseguir minha atenção e, dessa forma, garantir que eu não perdesse o rastro de minha irmã. Por quê? Ele sabia que eu estava procurando por ela, eu havia dito a ele naquela cela fétida. Por que então tentar me alertar sobre a presença de Maite para depois desaparecer com ela? Qual era o intuito daquele jogo? E por que ele havia ajudado no fim?
— Você o conhecia, Maite? — questionei.
— Sim, e não entendo por que ele mentiu para aquela mulher. Não sei o que teria acontecido comigo se Alexander não tivesse me acolhido. — Maite arrancou alguns espinhos da calça. — Ele era meio estranho. Discutia sozinho às vezes, mas é um doce de pessoa, apesar de suas roupas me assustarem um pouco no começo. Então ele começou a usar trajes mais comuns para me alegrar. Não vejo a hora de chegar em casa e me livrar destas roupas. Estas calças pinicam muito!
— Há quem discorde — Dulce murmurou. — Mas ele te tratou bem?
— Ah, muitíssimo bem. Me entupia de comida e tentava me fazer sorrir contando histórias engraçadas. Quando a minha memória se embaralhava, era muito compreensivo. — E sorriu.
— Vocês ficaram sozinhos esse tempo todo? — Ah, diabos, era só o que faltava.
Ela hesitou, parecendo assustada.
— Bem, sim. Mas ele é diferente, Christopher. Quando estava com ele, eu me sentia protegida. Me sentia... como me sinto quando você está por perto. E ele jamais me faltou com o respeito. Jamais me olhou de forma que me deixasse constrangida. Ele é um verdadeiro cavalheiro.
— Maite... — Eu me detive ao ouvir o estalar de um galho sendo esmagado por botas pesadas.
No instante seguinte, o cano de uma espingarda estava apontada para o meu
peito.
— Quem vem lá? — perguntou o senhor Portilla, erguendo uma pequena lamparina. Seu rosto iluminado pela chama exibiu primeiro temor, em seguida espanto, ao me reconhecer. — Senhor Uckermann!
— Boa noite, senhor Portilla. Como tem passado?
— Muito preocupado com o senhor e sua família. Estamos há dias esperando por notícias suas. Mas ninguém sabia dos senhores ou da menina Maite. E os boatos que chegavam não eram bons. Nada bons.
— Se importaria de apontar a arma para outra direção, senhor Portilla?
— Ah, decerto! — Ele a jogou no ombro, soltando a trava. — Perdoe-me, senhor. Estou um bocado nervoso e quase não o reconheci nestes trajes tão... humm... diferentes. Diga-me que esta não é a nova moda vinda da Europa.
Acabei rindo.
— Não é, senhor Portilla. Ocorreu um pequeno problema com as nossas roupas e tivemos de improvisar com estas.
— Graças ao bom Deus... — ele suspirou, aliviado.
— Perdoe-nos por tê-lo alarmado a esta hora. Teríamos evitado, se pudéssemos.
— Está tudo bem. Ouvi os cachorros se alvoroçarem e decidi verificar se estava tudo em ordem.
— Desculpa, seu Portilla — se intrometeu Dulce. — Mas a quais boatos o senhor se referiu ainda agora?
— Bem... sobre a sua cunhada, senhora Uckermann. Não que eu e Bernadete tenhamos acreditado em uma única palavra. Imagine se a menina Maite se meteria em uma situação dessas!
— Que situação, seu Portilla? — ela insistiu, puxando alguns carrapichos da roupa imprópria para aquele século.
— Que a senhorita Maite... bem... — Ele fitou suas botas. — Que a menina precisou ser levada para longe e só retornaria depois que o assunto fosse resolvido. — Mesmo com a parca iluminação, eu o vi corar.
Ora, mas que inferno. Era só o que me faltava agora.
— Que assunto? — Dulce perguntou, impaciente.
— Um assunto que demoraria nove meses para ser solucionado — sussurrei a ela.
A indignação coloriu suas faces.
— Mas isso não é verdade, seu Portilla!
— É claro que não, senhora Uckermann. E, assim que todas aquelas mexeriqueiras da vila virem que a menina está em casa, terão de inventar outra história. Agora venham. Vamos para casa. Vou lhes servir uma bebida. Perdoem-me pela franqueza, mas vocês parecem ter saído do inferno.
Meu olhar se encontrou com o de Dulce. Ela enlaçou os dedos nos meus enquanto eu respondia:
— O senhor não poderia estar mais certo, senhor Portilla.


 


                                                                  * * *


 


A carruagem dos Portilla sacolejava na estrada que nos levava para casa. Uma pequena lanterna fornecia a iluminação necessária para que eu pudesse ver Dulce, sentada a meu lado, ainda tentando retirar o carrapicho dos cabelos.
— Não acredito que estão dizendo isso de mim. — Maite coçava os braços. Ela sempre teve essa reação depois de se deitar na grama. — Eu nunca agi de maneira alguma que não a honrada! É injusto que apenas um deslize inocente destrua a reputação de uma vida inteira e que essas mexeriqueiras inventem histórias escabrosas a meu respeito.
— Daremos um jeito nisso — assegurei a ela. — O senhor Portilla estava certo ao dizer que, quando você retornar, os boatos deverão cessar.
— Não imaginei que fosse isso que me esperava. Ainda mais porque agora estou noiva! — E enterrou o rosto nas mãos.
O que ela, em sua inocência, não percebia era que, exatamente por estar noiva, o boato havia se espalhado. Maite, que jamais se metera em escândalos, agora se via bem no centro de um. De um beijo no jardim para uma gravidez inapropriada era um pulo.
— Essa é a parte que eu mais estranho aqui. — Dulce puxava os espinhos grudentos com cuidado. — Todo mundo toma conta da vida de todo mundo.
— Vendo tudo o que vi — Maite se recostou no assento —, me pergunto como você foi capaz de se adaptar tão bem a este tempo, minha irmã. São mundos tão diferentes que, se alguém me dissesse que eu estava em Marte e não na Terra, eu teria acreditado. Como conseguiu viver naquele lugar por tanto tempo sem perder o juízo?
— Não é tão ruim assim, se aquilo for tudo o que você conhece... Ai! — resmungou Dulce quando uma farpa lhe perfurou o dedo.
Tomei sua mão e puxei o espinho preto com delicadeza. Uma lágrima rubra surgiu. Levei seu dedo à boca. Seus olhos chisparam nos meus instantaneamente.
— Suponho que esteja certa — continuou Maite. — Mas, para alguém como eu, aquilo é pior que um manicômio.
O sangramento parou, então libertei seu dedo e, fazendo Dulce se virar levemente para me dar mais acesso a suas madeixas, continuei o trabalho por ela. Havia carrapicho em suas roupas e também no lenço amarrado a seu cotovelo.
— Entendo o que quer dizer, Maite. — Puxei as bolotas espinhosas dos fios, que, sob a parca claridade, ganhavam um tom acobreado.
Dulce inspirou fundo ao passarmos naquela parte da estrada que margeava os estábulos do senhor Portilla.
— Estava com saudade desse cheiro — ela contou.
— De estrume de cavalo? — Lutei para não rir.
Ela me olhou por sobre o ombro.
— Vai me dizer que não é cheiro de casa pra você também?
Dessa vez, não me contive e acabei gargalhando.
— Não, não vou, Dulce, pois estaria mentindo.
— Jamais gostei desse odor, mas estou contente por senti-lo. — Maite olhou pela janela. — Os cheiros daquele lugar são esquisitos. Me deixavam enjoada a maior parte do tempo.
— Maite, o que aconteceu com você, afinal? — Terminei com os cabelos de Dulce e segui para sua camisa sem mangas.
— Bom, foi tudo muito confuso. Por muitas vezes achei que estivesse perdendo a cabeça. Na noite em que tudo aconteceu, eu fiquei com muito medo, Christopher.
— Você foi até o meu escritório — ajudei.
Ela fez que sim.
— Eu tinha deixado meu livro lá. Estava tão furiosa e decepcionada que não conseguia pensar direito. Achei que um livro me acalmaria. Então, quando entrei, um ruído muito sutil capturou minha atenção. Vinha da sua gaveta. Sei que não devia ter mexido, mas a curiosidade foi mais forte e então encontrei aquele negocinho, iluminado feito um grande vaga-lume, se sacudindo. Quando toquei em seu brilho, aconteceu o mesmo que agora há pouco.
— Você foi mandada para o meu tempo — Dulce ajudou.
— Sim. A casa parecia a mesma quando consegui enxergar alguma coisa, mas todo o restante estava errado. Procurei em todos os cômodos, chamei por vocês, por Gomes ou Madalena, mas eu estava sozinha e trancada. Quase enlouqueci.
Pela manhã, uma mulher muito mal-educada me abriu a porta e, quando tentei dizer a ela o que havia acontecido, ela me acertou com uma vassoura!
— Eu sabia que ela tinha te agredido antes. Sabia! — Dulce resmungou.
— E então ela chamou a polícia. — Trinquei os dentes. Se aquela governanta tivesse mostrado um pouquinho de compaixão e esperado para tomar providências, teríamos encontrado Maite tão logo pisamos naquele tempo.
— Suponho que sim — Maite suspirou, o olhar voltado para as mãos em seu colo.
— A guarda não me fez nenhum mal, mas o lugar era assustador, e tudo que eu pude fazer foi gritar. Gritar muito. Não me lembro de tudo, só de me levarem para outro lugar. De estar em um quarto muito branco onde as pessoas me furavam.
— O hospital — Dulce assentiu.
— Eu chamava por vocês como alguém que perdera o juízo, e Alexander apareceu. Me disse que os conhecia e que estava ali para me ajudar a voltar para casa. Me contou que era seu amigo, Christopher. Eu estava assustada, mas não sou tola.
Fiz algumas perguntas também. Coisas que ele só saberia se realmente os conhecesse. E ele sabia tudo sobre vocês, então aceitei a ajuda. Ele me tratou muito bem. Fez todo o possível para que eu me sentisse à vontade em sua pequena casa. Mas ele estava passando por um mau momento. Algo muito importante estava pondo em risco a vida dele, ou algo assim.
— O quê? — Terminei com as roupas de Dulce e joguei o punhado de picão pela janela.
— Eu não sei, ele não quis me contar. Pensei que pudesse ser um problema financeiro, então, quando ele me disse que precisava ir para o centro da cidade, pedi para ir junto e vendi os meus brincos. Queria ao menos ressarci-lo pelas despesas extras que estava tendo comigo.
— Quase nos encontramos — contei a ela. — Estivemos no antiquário pouco depois de você ter estado lá.
— Estiveram?
Fiz que sim com a cabeça.
— O que aconteceu depois? — Dulce quis saber.
— Bem, Alexander recusou o dinheiro, obviamente. Disse que o problema era com o trabalho e que nada tinha a ver com dinheiro. Então estávamos voltando para casa quando eu os vi na rua. Mal pude acreditar que eram mesmo vocês.
Tentei fazer aquela caleche parar, mas demorei para conseguir e os perdi de vista. Alexander não chegou a vê-los e ficou muito decepcionado por nos desencontrarmos.
Que belo embusteiro era Alexander. Ele nos vira, sabia que eu estava do outro lado da rua. Mas me mantive calado, querendo entender tudo o que havia acontecido para então tentar juntar os fatos.
— Caminhamos até anoitecer procurando vocês — ela prosseguiu. — Quando ficou claro que não iríamos encontrá-los, voltamos para casa e ele prometeu que me ajudaria a procurá-los no dia seguinte. Mas naquela manhã eu acordei confusa. Esquecia das coisas. Não lembrava nem mesmo que ele era meu amigo.
— Que merda — Dulce murmurou.
— Foram dias muito turbulentos, minha querida irmã. Não gosto de me sentir confusa.
— Ninguém gosta, Maite — comentei, com o coração apertado. Ao menos eu tinha Dulce a meu lado para me ajudar toda vez que a memória me falhava.
Pobre Maite.
— Então Alexander apareceu com uns ingressos para um concerto e disse que adoraria que eu o acompanhasse. Eu não gostei muito. As pessoas me empurravam e nem ao menos se desculpavam. Eu quis ir embora mais cedo.
— Estivemos lá também. Nós a vimos na imensa TV. — Estiquei as pernas e meus joelhos estalaram. As costelas latejaram. Mudei de posição até encontrar uma em que não me doesse tudo.
— Telão, Christopher. Aquilo era um telão — corrigiu Dulce.
Minha irmã franziu a testa.
— Eu não sabia que estavam no concerto, ou teria procurado vocês também.
Estranho, não? Naquela noite minha memória estava perfeita. Mas quase todos os dias eu acordava e perdia uma parte dela. Naquela noite não foi assim.
— Para mim também. — Bem como eu havia desconfiado. O retorno da memória naquela noite não fora coincidência.
— Esta noite eu estava confusa outra vez. Então vi Dulce naquela caixa mágica, pedindo que eu a encontrasse. Alexander estava comigo. Ele resmungou “já era hora” antes mesmo que eu lhe pedisse para me levar até o local em que Dulce estava, embora eu não soubesse quem ela era. Mas ela mencionou você, Christopher, então eu entrei no veículo. Na metade do percurso, esqueci o motivo de estar ali, para onde ia, tudo. Foi um pesadelo. — Ela sacudiu a cabeça. — Aí o carro parou e eu o vi caído. Desci desesperada e vi Dulce, mas não a reconheci. Aquela dor de cabeça me apanhou desprevenida e eu acordei com vocês sobre mim. E Alexander foi ferido porque mentiu! Por que ele mentiu, Christopher? Por que fingiu para aquela policial que não sabia que eu era sua irmã?
— Eu também gostaria de saber. — Trinquei os dentes.
— Alguma coisa ele queria — Dulce disse, também frustrada.
— Concordo, e receio que nunca vamos descobrir do que se tratava.
— Você acha que ele vai ficar bem, Christopher? — Maite se arrastou para a beirada do assento, as mãos agarradas aos joelhos. — Que Alexander vai se recuperar do ferimento?
A bala o acertara no ombro. Ele sangrara muito, decerto, mas um bom médico seria capaz de fechar a ferida. Ele ficaria bem. Deus, eu esperava, de todo o coração, que ele ficasse.
— Espero que sim, Maite. Sejam quais foram as razões pelas quais ele a escondeu esse tempo todo, tenho uma dívida com ele. Ele nos deu a chance de voltar para casa.
— Mas ele mentiu sobre vocês também, não é? Ele não os conhecia.
— Não, ele não nos conhecia. Ao menos quando a levou do hospital. Eu o conheci depois disso. Estivemos na mesma cela da prisão.
— Você foi preso? — Seus olhos se alargaram, ao mesmo tempo em que Dulce perguntava:
— Você o conheceu? Por que não me contou?
— Porque eu não conseguia me lembrar, meu amor. Ele me fez algumas perguntas enquanto estivemos confinados, alegando estar entediado. Depois eu o vi por toda a cidade, sempre que Maite estava por perto.
— Puta merda, Christopher!
— Teria sido de alguma ajuda se minha memória estivesse em ordem. — Esfreguei a testa. — Mas a questão não é essa. De alguma maneira, ele sabia onde ela estava, que precisava de ajuda, e foi até ela muito antes de eu ser detido. Suspeito de que ele estivesse a serviço daquela mulher, Dulce.
— Como o Storm? — Os olhos de minha esposa quase saltaram das órbitas.
— O que Storm tem a ver com tudo isso? — eu quis saber, confuso.
— Hum... nada. Deixa pra lá. Mas acho que entendi seu ponto. E pode muito bem ser isso mesmo. Minha fada madrinha é cheia dessas paradas misteriosas.
Minha irmã deixou escapar um suspiro, o olhar perdido na janela.
— O que foi, Maite? — Estiquei-me na cabine e toquei sua mão.
Ela voltou o rosto para mim e um sorriso tristonho lhe curvou os cantos da boca.
— Escutar vocês conversando sempre me espanta... Foi assim há mais de um ano, quando ouvi sem querer parte de uma conversa entre vocês dois e descobri que Dulce não pertencia a este tempo, e me perguntei como seria o futuro. Era tão difícil que acabei desistindo de tentar. Nunca imaginei que se tratasse de tanto tempo, porém. Mas eu gostei, em grande parte. Não poderia viver em um lugar como aquele. Creio que não tenho habilidade para isso, mas gostei de ter conhecido aquele mundo. Se não por minha curiosidade, ao menos esclareceu muitos pontos sobre minha irmã.
Dulce gemeu.
— Não tenho certeza se isso é uma coisa boa.
— É, sim — Elisa e eu murmuramos em uníssono.
— Agora entendo muitas das suas atitudes, minha querida irmã — Elisa prosseguiu. — Você sempre nos viu, nós, mulheres, em pé de igualdade com os homens. Essa é uma das coisas que sempre me fascinaram em você. Depois de ver o seu mundo, de assistir à mudança que ocorreu, que tirou as mulheres de seu posto de objetos decorativos e as colocou realmente no mundo para viver aventuras, decepções, alegrias, eu a entendo.
Eu não podia discordar dela. O tempo de Dulce era mais duro, porém mais justo, sobretudo para as damas. Agora, depois de ter visto mulheres nas mais variadas atividades — da condução de um veículo de aluguel ao manejo de uma pistola
—, as ações e crenças de Dulce tornavam-se claras como cristal para mim.
— Ainda há muito a ser feito, Maite — minha esposa disse. — A igualdade ainda
não é uma realidade. Ainda não chegamos lá.
— Mas chegaremos. E fico satisfeita por saber disso, ainda que eu não vá viver essa realidade.
— O que quer dizer? — perguntei a Maite. — O que você gostaria de fazer que não pode por ter nascido mulher?
Ela balançou a cabeça.
— Não sei, Christopher. Realmente não sei, meu irmão. Presumo que não fui criada para
pensar no que não posso fazer, e sim no que devo fazer. — Havia mágoa em seu tom.
Imaginei que aquilo estivesse relacionado a seu noivado forçado, e teria falado com ela sobre o assunto. Mas nossa casa entrou em meu campo de visão, e então o som mais triste de todo o universo chegou a meus ouvidos. O pranto de minha filha.
Dulce e eu nos entreolhamos brevemente.
A carruagem ainda estava em movimento quando abri a porta e nós saltamos.




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Autor(a): Fer Linhares

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 63



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  • tahhvondy Postado em 14/02/2017 - 17:51:28

    nossa simplismente amei!cada um dos livros maravilhosos essa historia e incrível que não tem como não ser apaixonar por ela o amor deles e lindo o Christopher e mt fofo vou sentir saudades dessas confussões deles

  • GrazihUckermann Postado em 13/02/2017 - 19:10:55

    Eu AMEI! não sei qual dos livros foi o melhor. obrigada por postar essa história incrível, essa história é muito linda. Christopher é muito fofo <3 O amor deles é incrível. Quando ele a esqueceu ele se apaixonou por ela de novo, e eu tive que me segurar pra não chorar nessa parte s2 Fiquei feliz com o final da Madelena e do Seu gomes. Espero que tenha outro Baby vondy no livro da Maite, dessa vez tem que ser menino kkjk e não terá um nome melhor que Alexander para dar ao menino neh?? Estarei na próxima fanfic com você, comentando em todos os capitulos. Tchau. um diaa eu volto para ler de novo. (Acho que não demora muito, por amei a história e quero muito ler de novo) s2

  • tahhvondy Postado em 13/02/2017 - 10:57:28

    ai já ta acabando que triste mas ainda bem q vx consequiu baixa o da Maite

  • GrazihUckermann Postado em 10/02/2017 - 20:35:51

    Continuaaaaaaaaaaaaa! s2

  • tahhvondy Postado em 09/02/2017 - 11:28:34

    chequei continua por favor

  • GrazihUckermann Postado em 09/02/2017 - 09:49:37

    Continuaaaaa! s2

  • GrazihUckermann Postado em 07/02/2017 - 16:32:39

    FINALMENTE! CONTINUAAAAAAAAAAAAAA s2

  • GrazihUckermann Postado em 06/02/2017 - 21:08:32

    T-T

  • GrazihUckermann Postado em 06/02/2017 - 21:02:21

    Caraca essa confusão me deixou confusa kkkjk quando ele esquecer ela, ele meio que vai sumir?? vai aparecer no século dezenove como se nada tivesse acontecido?? é isso? não entendi kkkjk Continue mulher, não me deixe ansiosa! s2

  • GrazihUckermann Postado em 05/02/2017 - 22:21:37

    ai me deus!!!! CONTINUAAAAAA T-T


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