Fanfic: Destinado - As Memórias Secretas do Sr. Uckermann (Vondy) [TERMINADA] | Tema: Vondy [Adaptada]
— Não sei do que você está falando. — Ele fechou a porta e deu um passo para o lado. As chamas de um candelabro dançavam sobre um aparador ali perto, criando desenhos de sombras indistintos nas paredes amarelas.
Acabei dando risada enquanto me aproximava e recostava o quadril na ponta do aparador. Cruzei os braços e os tornozelos, mantendo os olhos nele.
— Você deve me achar um tolo, de fato. Demorei muito tempo para entender o que estava acontecendo.
Ele riu, sem humor algum.
— Ao contrário, Christopher. Você é inteligente demais, e por isso tive um trabalho danado para manter tudo sob controle, para os fatos não acontecerem antes do que deviam.
— Foi você quem enviou a máquina do tempo. — Não foi uma pergunta. — Eu cheguei a cogitar que o celular havia retornado para que Dulce pudesse ajudar Rafael. Era a única explicação que fazia algum sentido. Mas depois de tudo... O destinatário não era Dulce, era? A máquina do tempo não voltou por ela. Foi por mim.
Ele não confirmou. Também não negou. Apenas ficou me encarando com certo divertimento.
— Estou certo, Alexander? Se é que... esse é o seu verdadeiro nome.
— Hoje é. Mas que papo é esse de máquina do tempo, cara? Você pirou?
Cruzei os braços. Dulce também usava aquela expressão com muita frequência.
— É, acho que eu “pirei”, sim.
— É disso que eu tô falando. Não dá pra brincar com você. — Ele praguejou baixo, dando um passo à frente. — Você podia ser só um pouquinho tapado e facilitar a minha vida. Como descobriu?
— Você me disse. Na rua, logo depois de levar um tiro. Você disse “Volte para casa e salve o seu amor”.
— Cace*te! — Ele esfregou a mão nos cabelos curtos. — Eu e minha boca grande.
Eu me endireitei, encarando-o a meio metro de distância.
— Assim que Dulce começou a melhorar, pensei na sorte que tinha sido ter me esquecido de entregar o remédio a Nina. Mas era o que deveria acontecer, não era? Foi por isso que você me mandou aquela máquina. Dulce foi contaminada pela doença da senhora Herbert. E o destino de minha esposa teria sido semelhante ao dela se você não tivesse intervindo.
Dessa vez ele fez que sim com a cabeça. Rebati um tremor ao pensar que...
— Deixa isso pra lá, cara. Pensar no que poderia ter acontecido só vai te fazer mal. Ela está bem agora. É isso que importa.
De fato.
— Por que a minha memória não funcionou direito no século vinte e um?
— Você sabe por quê. Deduziu tudo, contra todas as possibilidades! — Ele jogou a mão para o alto. — O destino da Dulce estava se alterando. E esse novo cenário não te incluía.
— Como isso é remotamente possível?
— Esse é o problema de lidar com fadas madrinhas. — Ele revirou os olhos. — Elas sempre acham que podem consertar um erro reescrevendo a história.
— Então por que a memória de Dulce não foi afetada?
— Porque... era a história dela, Christopher. — Ele se dirigiu para a chaise longue perto da entrada e se sentou, parecendo cansado. — As lembranças da Dulce só seriam apagadas quando a mudança acontecesse de fato, e não fosse mais só uma possibilidade. Para ela seria de uma vez, uma única vez. Bum! Acabou! Já era!
— Mas eu não entendo. — Juntei-me a ele no assento. A madeira estalou com todo aquele peso. — Se você me enviou a máquina, como eu conseguiria cumprir o meu objetivo, se a minha cabeça não funcionava?
Ele cruzou a perna, apoiando um tornozelo no joelho.
— Não era para ter sido assim. Algumas coisas saíram de controle. A fada madrinha da Dulce jamais teria sido alertada sobre essa viagem se você tivesse partido sozinho. Você teria voltado antes que ela se desse conta. Mas a Maite encontrou a máquina, abandonou a coisa no século vinte e um, atraiu muita atenção. Meu mundo virou um verdadeiro caos, cara. E foi a partir desse momento que a sua história com a Dulce entrou em risco.
— E você não cogitou essa hipótese antes de me enviar aquela máquina? Não pensou que algo poderia dar errado?
— Claro que sim. — Ele ergueu os ombros com descaso e eu quis socá-lo. — Mas era o único jeito de garantir meu trabalho. Tive que arriscar e assumir as consequências. Foi por isso que eu precisei intervir. Encontrei a Maite e a mantive em segurança até que você conseguisse o antibiótico para a Dulce. Às vezes eu a colocava no seu caminho, para que você soubesse que ela estava bem, e também porque a proximidade punha o destino de volta nos eixos, e com isso você conseguia entender o que estava acontecendo, fazer o que tinha que fazer.
Quando você conseguiu o remédio, eu levei a Maite até você. E, caramba, quase que não deu tempo. Teria sido uma grande merda, viu... Pelo amor de Deus, nunca vi duas pessoas tão propensas a se meter em encrenca como você e a Dulce! Não é à toa que foram feitos um para o outro.
— Então você é uma das fadas madrinhas de Dulce — concluí.
— Prefiro o termo assistente pessoal para assuntos místicos. — Ele cruzou os braços. — Mas não, eu não sou o APAM da Dulce. Cada pessoa tem apenas um, e a Dulce já tem a dela. Aliás, ela está furiosa comigo e com você. Ter quebrado a máquina do tempo da Dulce foi coisa de gênio, Christopher. Isso nos deu o tempo que eu precisava para chegar até vocês. Só que agora a mulher tá uma fera, já que criar uma nova máquina dá muito trabalho, e ela só pode fazer isso se tiver um motivo, e no momento ela não tem. O destino da Dulce voltou aos eixos. Ela não vai aparecer de novo.
Alívio e gratidão perpassaram por mim, deixando-me inquieto a ponto de ter de me levantar.
— Então é isso aí. — Alexander ficou de pé também.
— Não, ainda não acabamos!
— O que mais você quer saber?
— Se você não é a fada madrinha...
— APAM — ele corrigiu de cara feia. — Sou um APAM!
— Que seja. — Lutei para não revirar os olhos. — Se você não é o APAM da Dulce , então é o meu?
Ele deu risada, mudando para uma posição mais relaxada.
— Bem que você gostaria. Mas não, você não tem um APAM.
— Graças a Deus! — Soltei uma longa e forte expiração, que era alívio puro.
Alexander fechou a cara.
— Isso magoa, cara. Magoa fundo!
— Não tive a intenção. E continuo sem compreender. Você disse ainda agora que fez tudo o que fez para garantir o seu trabalho.
— E fiz mesmo. Eu tinha que garantir que você e a Dulce prosseguissem com a sua história para que eu venha a ter o meu trabalho logo. O problema é que a Dulce andou quebrando algumas regras que a colocaram em risco. Essa história da fábrica, por exemplo. A senhora Herbert não devia fazer parte disso. Em teoria, a Dulce tomaria conta de tudo sozinha. Então ela mudou o futuro de novo ao contratar a viúva logo depois que a Marina nasceu. Quando eu percebi o que estava por vir, fiz o que devia, mesmo sabendo que isso me traria problemas. A APAM da Dulce é das boas, tem uma penca de afilhados, e por conta disso deixou escapar essa informação. Tá legal, vou admitir que, se ela tivesse percebido o que ia acontecer antes de eu começar a agir, teria feito alguma coisa para tentar impedir. Mas eu não podia arriscar. Sabe há quanto tempo estou esperando pela minha protegida, Christopher? Tem muito tempo, cara! Eu não podia arriscar deixar que outro resolvesse o problema. Quando ela ficou sabendo que era eu quem estava por trás de tudo, já era tarde e ela não podia mais intervir. Dois APAMs não podem atuar em um mesmo destino ao mesmo tempo.
— Você me usou para garantir o seu trabalho? — Estreitei os olhos para ele.
— Usei. — E sorriu, contente. — É claro que, por ter quebrado algumas regras, estou sendo monitorado agora, e tá tudo muito confuso. Eu nem devia estar tendo essa conversa com você. Vim só buscar algo que me pertence. — Ele enfiou a mão no interior do paletó e de lá retirou a caixa de madeira que eu havia enterrado no mês anterior, antes de Dulce adoecer. — Mas não resisti a dar uma espiada em vocês. Além disso, eu tinha que te devolver isso. — Ele puxou uma arma de dentro do casaco e me entregou. A pistola que fora de meu avô e que eu achei que estivesse perdida para sempre.
— Obrigado. — Eu a peguei e guardei no cós da calça, nas costas.
— De nada. A Dulce está ótima, hein? Nem parece que passou por tudo aquilo.
Havia muitas perguntas que eu ainda queria fazer a ele. Muita coisa que eu queria lhe dizer, mas realmente importava?
Eu tinha ficado furioso com ele, desejara socá-lo uma centena de vezes. Ele me usara para obter o que queria. Mas tudo o que eu conseguia sentir agora era gratidão. O preço quase fora alto demais. No entanto, ainda que eu soubesse disso de antemão, teria arriscado. Para salvar Dulce, teria arriscado tudo.
Então, não. Não importava que ele me desse respostas que mais me confundiam do que esclareciam. Eu sempre lhe seria grato, enquanto vivesse.
— Eu jamais poderei saldar a dívida que tenho com você, Alexander.
— Pode sim, só não entendeu isso ainda. Mas vai entender. Esperto do jeito que é, você nem vai levar muito tempo. Agora, nossos caminhos se separam aqui. E pode dormir tranquilo, nada mais vai voltar para te assombrar. Adeus, Christopher.
— Adeus, Alexander.
Ele então abriu a porta e começou a descer as escadarias que o levariam à rua.
No entanto, havia ainda uma coisa que eu precisava saber.
— Alexander? — chamei. Ele me olhou por sobre o ombro, esperando. — Rafael está...
— Forte feito um cavalo. Já voltou ao trabalho e anda pensando muito naquele papo que vocês tiveram sobre filhos. E em uma certa carta que jamais devia ter sido escrita. — Seus olhos se estreitaram. — Também cuidei da detetive Santana, antes que me pergunte. Tudo o que ela lembra agora é de ter encontrado a sua irmã e levado a menina até você. Nada de perseguição a ladrão de cavalos, tiros ou sumiços mágicos. O mundo voltou ao normal em toda parte. Se cuida, Christopher. —
Ele tocou a testa, a larga cicatriz, com dois dedos.
Imitei seu gesto e assisti enquanto ele saltava os degraus de dois em dois. As tochas na lateral das escadas criaram um estranho efeito em sua roupa branca, quase como se ele brilhasse.
— Christopher? — A voz de Dulce chegou aos meus ouvidos.
Virei-me e a encontrei ao pé da escada, uma das mãos enluvadas apoiada no
corrimão de madeira escura.
— Você demorou. Fiquei preocupada. Está tudo bem? — ela perguntou.
— Sim, está. — Olhei para fora. Alexander já não estava em parte alguma. — Agora está.
Aproximei-me dela, tomando seu rosto entre as mãos e a beijando com ternura.
Ela escrutinou meu rosto, a preocupação reluzindo em seu olhar.
— Tem certeza?
— Absoluta, meu amor. Agora vamos. O primeiro ato deve estar quase no fim.
— Apoiei a mão no vão de suas costas e a conduzi escada acima.
* * *
O hotel ficava a poucas quadras do teatro, e levamos mais tempo esperando pela carruagem que nos conduziria até lá do que para chegar a nosso destino.
Ouvi a risadinha de Madalena tão logo meu pé tocou o piso acarpetado do segundo andar. Encarei Dulce, que simplesmente ergueu os ombros e abriu um sorriso.
Destranquei a porta e, antes que pudesse dar passagem para minha mulher e minha irmã, divisei meu mordomo aos beijos com minha governanta, diante da lareira da pequena sala.
— Oh! — exclamou Maite atrás de mim, ao passo que ouvi a risada de Dulce.
Rapidamente levantei a mão e tapei os olhos de minha irmã. O casal percebeu nossa presença um tanto tarde demais.
— Oh, minha nossa! — Madalena pulou um metro longe, o rosto adquirindo o mesmo tom escarlate das cortinas que pendiam das janelas.
Gomes ajeitou as lapelas da camisa. As mangas do paletó. O paletó em si. Então cruzou os braços nas costas e pigarreou.
— Suponho que o concerto tenha sido agradável.
— Não tão agradável quanto a sua noite, acredito. — E tive de me segurar para não rir quando sua cor mudou de vermelho para púrpura. Madalena escondeu o rosto nas mãos.
— Marina já dormiu? — Dulce quis saber, passando pelo batente.
— Com algum custo — o mordomo disse, fitando o tapete sob seus pés.
— Valeu, gente. Humm... — Dulce olhou para mim enquanto eu fechava a porta.
Anuí com a cabeça. — Vem, Maite. Vou... te ajudar a tirar as forquilhas.
— Eu vou ajudá-las a trocar de roupa — Madalena se apressou.
— Não, senhora Madalena. A senhora ficará aqui — eu disse.
— Mas, senhor Uckermann...
Cruzei os braços. A mulher se deteve, olhando para Gomes com tanta raiva que quase fiquei com pena dele. Dulce pegou Maite pela mão e as duas atravessaram a antessala do apartamento onde estávamos hospedados. Havia quatro quartos ali.
Assim que elas entraram e fecharam a porta, fitei os dois empregados, que eram muito mais que isso para mim, com o cenho franzido.
— Estou esperando uma explicação.
— Por Deus, senhor Uckermann. Estou tão envergonhada que quase caio desmaiada.
— Madalena amassava o tecido de sua saia, um antigo hábito, mas, ao que parecia, não se dava conta de que naquela noite não usava avental.
— Patrão — começou Gomes—, eu lamento muito que o senhor tenha nos flagrado naquela maneira pouco... hã... civilizada. O senhor tem todo o direito de me colocar na rua. Mas, veja bem, senhor, o culpado sou eu. Mada... a senhora Madalena tentou deter meus avanços. Não a castigue por ter se deixado enredar em uma de minhas artimanhas.
Foi muito difícil manter meu papel e não gargalhar. Ainda assim, com algum esforço, consegui segurar o riso e a fachada de homem preocupado com a honra e os bons costumes.
— O que aconteceu ainda agora foi apenas diversão ou há sentimentos envolvidos?
— É claro que há sentimentos envolvidos, senhor Uckermann. — Meu mordomo
endireitou os ombros. — Esta dama jamais me permitiria...
— Minha Virgem Santíssima, cale-se, senhor Gomes! — choramingou Madalena, os olhos dardejando como se buscassem refúgio.
— Isso é mútuo, senhora? — eu quis saber. — Também tem sentimentos por este
homem?
— Bem... Não entendo por quê... E eu não queria. Mas sim, patrão, eu gosto deste velho tolo. Agora, se me permite, vou ajudar a sua senhora. — E começou a se afastar.
— Espere, senhora Madalena — eu disse. Ela fez o que pedi, embora tenha se mantido de costas. Voltei para o meu mordomo. — Senhor Gomes, posso perguntar por que ainda não pediu a mão desta adorável senhora, já que está claro que o senhor a ama?
Os ombros de Madalena enrijeceram, mas ela não se virou. Gomes relanceou a mulher e foi inevitável que a ternura dominasse suas feições.
— Bem, senhor Uckermann... Um homem precisa ter algo a oferecer a uma mulher quando a pede em casamento. Tenho juntado algumas economias. Quero ao menos lhe dar um anel decente, o senhor entende?
— Perfeitamente, senhor Gomes! Eu o entendo perfeitamente.
Madalena se virou, a boca aberta em uma exclamação muda, os olhos em seu amado, que lutou contra um sorriso ao dizer, ainda a admirando:
— Guardo a esperança de que ela aceite a mão e o coração deste velho tolo apaixonado.
— Oh, Gomes... — Ela levou a mão ao peito.
Acabei sorrindo.
— Muito bem — me intrometi, cruzando os braços nas costas. — Então, como todos parecem estar de acordo, eis o que vai acontecer. Vocês se casarão no próximo sábado. Falarei com padre Antônio para agilizar os proclamas. A casa do antigo guarda-caça está vazia, fica a apenas um quilômetro da casa principal.
Aproveitarei que o senhor Domingos está quase finalizando a obra do banheiro de Dulce e pedirei que faça uma boa reforma naquela casa, e então vocês dois vão viver lá. Pagarei o dote de Madalena e as despesas da cerimônia. E o enxoval da senhora, claro...
— Patrão! — Os olhos da mulher reluziram, a meio caminho de um sorriso.
— Ainda não terminei, senhora. Com o dinheiro do dote, suponho que poderão pensar em alguma fonte de renda extra. Apenas espero que continuem cuidando de minha família como sempre fizeram. Alguma objeção?
— Ah, meu menino querido! — A mulher cruzou a sala e me puxou para baixo, abraçando-me como fazia quando eu tinha dez anos e nós tínhamos a mesma altura. — Nenhuma objeção!
— Mas não precisamos de tanto, senhor Uckermann — Gomes disse, parecendo ter dificuldade para manter a compostura.
— Encarem como um presente de casamento. Uma bonificação pelos excelentes serviços prestados. Uma desculpa pelos incidentes envolvendo sapos — murmurei para a governanta, que ruborizou. — O que os deixar contentes.
Mas eu os quero casados até o próximo domingo.
Madalena me soltou, porém antes sapecou um beijo em minha bochecha.
— Não imagino que teremos problemas com isso. Oh, há tanto a ser feito!
Devemos voltar, senhor Gomes. O mais breve possível. Há muitas providências a tomar... — Madalena levou as mãos ao rosto e deixou a sala em uma nuvem de alegria e ansiedade, indo para o quarto destinado a ela.
Gomes deu um passo à frente, encarando-me com os olhos úmidos e enrugados pelo tempo.
— Quando conheci seu avô, eu ainda era um garoto e pensei: Não deve existir homem melhor neste mundo. Então veio seu pai, e eu percebi que havia me equivocado. Depois o senhor nasceu, meu caro, e percebi que havia me equivocado de novo. Não encontro palavras para expressar minha gratidão.
— Eu é que lhe sou grato, Gomes. Não sei o que faria sem você a meu lado todos esses anos. E estava na hora de alguém fazer alguma coisa, ou vocês dois ficariam nesse chove não molha a vida toda.
— Foi sempre uma honra lhe servir, senhor. — Ele fez uma reverência profunda e começou a se afastar.
— Senhor Gomes?
— Sim, patrão? — Ele se virou para me olhar.
— Tente manter as mãos longe de sua noiva até ela ser oficialmente sua esposa.
Ou ao menos tente fazer menos barulho. — Cocei a cabeça. — A acústica da cozinha lá de casa não é das melhores.
— O que o senhor quer d... — Ele então compreendeu, e seu rosto ficou tão vermelho que temi que fosse ter uma apoplexia. Saiu correndo e se enfiou na ala reservada aos empregados.
Eu ainda sorria ao ir para o quarto. O de Maiteficava ao lado — a porta estava fechada, mas a luz da vela escorria por debaixo da porta.
Encontrei Dulce sentada diante do toucador, desfazendo seu penteado. Um berço havia sido colocado no quarto de vestir, já que ela se negara a deixar Marina no quarto de Maite.
— E aí, eles finalmente se acertaram? — ela quis saber.
— De certa maneira. Eles se casam no próximo sábado.
Ela sorriu largamente.
— Até que enfim!
Fui até o quarto de vestir. Minha garotinha arrulhou assim que passei pela porta, mas não acordou. Seus cachos negros haviam se alongado, e ela vinha crescendo tão depressa que muito em breve já não caberia no berço. Dulce e eu estávamos à espera de seus primeiros passos. Ela se equilibrava muito bem sobre os pés, mas movimentá-los ainda era um desafio.
Depositei um beijo em sua testa e saí na ponta dos pés. Dulce tinha terminado com o cabelo, e ondas douradas lhe caíam nas costas, chegando à cintura.
Aproximei-me devagar, travando o olhar no dela pelo espelho. Coloquei-me às suas costas, pegando uma mecha e a enrolando nos dedos.
— Já disse que adoro o seu cabelo?
— Muitas e muitas vezes.
Inclinei-me sobre ela, puxando suas madeixas para o lado e expondo aquela curva tentadora do pescoço.
— E também já disse que a amo? — sussurrei em sua orelha, resvalando os lábios ali.
— Não estou me lembrando agora. — Ela soltou um suave suspiro, deitando a cabeça para o lado para me dar mais acesso.
— Humm... — Beijei aquela curva deliciosa entre o ombro e o pescoço. Não resisti e corri a língua ali, saboreando sua pele. Ela estremeceu. — Acho que é hora de irmos para a cama. — Passei um braço sob seu joelho e a peguei no colo.
— Christopher, esse hotel tem paredes finas, diferente de casa. A Maite está no quarto ao lado! E a Marina!
— Seremos silenciosos. — Eu a coloquei na cama. A seda rubra de seu vestido contrastou com o lençol de cetim marfim. Seus misteriosos olhos castanhos estavam muito abertos. Sorri sem decidir fazê-lo. Dulce era inteligente, dona de uma força que eu vira poucas vezes, fosse em um homem ou em uma mulher.
No entanto, havia uma fragilidade nela que sempre me comovia. Que sempre me comoveria.
Eu a livrei dos sapatos. Então beijei seu tornozelo e continuei subindo, expondo pouco a pouco suas pernas. Mal podia esperar para alcançar suas coxas. Mal podia esperar para estar entre elas.
— Christopher, espere!
Diabos.
— É que eu tenho uma coisa pra você. — Ela se apoiou nos cotovelos.
— O que é?
Ela se arrastou sobre o colchão, pegou um embrulho na mesa de cabeceira e me entregou.
— Feliz aniversário!
— Obrigado, meu amor. Sabe que não precisava gastar dinheiro comigo. Ter você já me é mais que o suficiente. — Eu me sentei a seu lado e peguei o pacote, um tanto emocionado. Sempre me comovia quando ela me dava alguma coisa.
Fosse um sorriso, uma caneta, um relógio de prata, pouco importava.
— Ah, mas, se eu não gastar dinheiro com você, vou gastar com quê, se você nunca me deixa pagar nada? Vai, abre!
Com sua ajuda, rasguei o bonito papel que o envolvia até encontrar o livro de couro vermelho. Virei-o de um lado a outro. Não havia uma única palavra na capa. Eu o abri, e a folha de rosto havia sido escrita à mão, com a caligrafia inconfundível de Dulce.
As memórias secretas do senhor Uckermann
Meus olhos buscaram os dela. Dulce mordia o lábio.
— Acho que eu nunca sofri tanto como quando você se esquecia das coisas, no meu outro tempo — começou. — E não apenas por mim. Te ver daquele jeito era muito doloroso, Christopher. Então outro dia, enquanto eu ainda estava trancafiada no nosso quarto, li uma coisa que fez todo o sentido. Uma história nunca contada é uma história que ainda não aconteceu. Achei que tinha tudo a ver com a gente e pedi para a Maite me comprar este diário. A ideia era que você fizesse anotações nele ou, o que eu acho mais provável, desenhos. Às vezes eu pego você me olhando, os dedos traçando padrões no ar, como se estivesse me pintando, e... achei que você ia gostar de ter onde rabiscar, sei lá. Mas aí eu estava com tempo livre, sem nada pra fazer, e às vezes eu acordava e você ainda estava dormindo e... Sabe, eu descobri que sou uma baita de uma artista... — Ela esticou o braço e
virou a página.
Gargalhei alto, e ela logo colocou a mão sobre minha boca.
— Shhhh! Vai acordar a Marina!
— Desculpe. — Mas como eu poderia não rir? Havia um desenho ali. Uma bola com olhos e boca espetada em um palito. Imaginei que os rabiscos mais abaixo fossem sua interpretação de um cavalo. Havia um boneco semelhante ao que montava o cavalo, mas com uma espécie de novelo de lã sobre a cabeça,
sentado no chão. Acima do desenho, ela escrevera:
Quando eu conheci e me apaixonei pela mulher mais maravilhosamente maravilhosa do mundo, também conhecida como minha esposa, Dulce Saviñón Uckermann.
Virei a página. O desenho seguinte era muito semelhante ao primeiro, mas o cavalheiro estava no chão ao lado da jovem. Neste ela escrevera:
Quando a mulher mais maravilhosamente maravilhosa do mundo, na época conhecida apenas como Dulce Savíñon, se apaixonou por mim.
No terceiro, a jovem estava no meio de uma confusão de rabiscos — um riacho, desconfiei, já que havia um peixe saltando de lá — com seus braços de palito cobrindo a parte de cima do tórax. Aqui ela anotara:
A primeira vez que eu admirei os belos, gloriosos e perfeitos... olhos castanhos lamacentos de Dulce Saviñón.
Havia outros desenhos, mas eu não olhei, pois tive de beijá-la. Que outra opção me restava?
— Eu a amo. Eu a amo tanto, Dulce! — falei em sua boca.
— Também amo você, Christopher. Muito loucamente.
Sem deixar de beijá-la, coloquei o livro sobre o criado-mudo. Eu me deleitaria com seus desenhos mais tarde. Muitas e muitas vezes. E adicionaria todos aqueles que estavam em minha cabeça e que eu estava louco para esboçar havia tanto tempo, porém temia que ninguém mais pudesse ver. Eram particulares. Minhas memórias secretas, como ela escrevera. Mas os faria em outro momento. Agora eu estava faminto, e havia apenas uma coisa que poderia saciar minha fome.
Inclinei-me sobre ela, fazendo-a deitar na cama, a mão subindo por seu esterno.
— Espere, Christopher!
Caí de costas no colchão, bufando.
— Diabos, Dulce! Você vai me deixar beijá-la ou não?
Ela se debruçou sobre meu peito e beijou meu queixo.
— Vou, mas depois que nós discutirmos um assunto pendente.
— Que assunto?
— O de planejar um irmão ou uma irmã para a Nina. Ou você desistiu?
— Não, eu não desisti. — Puxei-a para cima de mim, encaixando suas pernas ao lado de meus quadris. Minha mão se embrenhou em sua saia, erguendo-a enquanto acariciava suas coxas. — Estou louco para fazer outro filho com você.
Que tal agora?
Pegando-a pela nuca, eu trouxe seu pescoço até minha boca e saboreei sua pele quente, sentindo-me um tanto inebriado. Naquela noite. Poderíamos conceber um filho naquela noite.
E então, no momento mais inoportuno possível, o mistério de Alexander ficou claro como um cristal.
Eu tinha que garantir que você e a Dulce prosseguissem com a sua história para que eu venha a ter o meu trabalho logo.
Eu jamais poderei saldar a dívida que tenho com você, Alexander.
Pode sim, só não entendeu isso ainda.
Bem, agora eu entendia. E, ao que parecia, começaria a providenciar seu futuro trabalho naquela noite. Diabos.
Um soluço ecoou pelo quarto. Eu me detive de imediato.
— Dulce?
Ela escondeu o rosto em meu pescoço, tentando conter o choro.
— Dulce, o que foi? Eu a machuquei?
Ela fez que não, ao mesmo tempo em que outro soluço lhe escapou.
Segurando-a com cuidado, eu a fiz rolar para o lado e desalojei seu rosto do esconderijo. Ela abaixou o olhar, então segurei seu rosto entre os dedos, o polegar acariciando sua bochecha.
— O que foi, meu amor?
— Nada. É que... nós passamos por tanta coisa em tão pouco tempo.
— Eu sei.
— E eu me sinto horrível porque... porque de certa maneira... eu fiquei aliviada com aquela maldita viagem! Sou uma pessoa ruim! — Ela cobriu o rosto com as mãos.
— Isso não a torna uma pessoa ruim. É natural que sentisse saudade, que quisesse voltar lá.
Ela sacudiu a cabeça.
— Mas aí é que está! Eu não queria! Sentia saudade dos meus amigos e mais nada.
Franzi o cenho. E, com delicadeza, afastei suas mãos para que pudesse ver seu rosto.
— O que quer dizer, então?
— Ah, Christopher! Tantas vezes eu senti medo que você tivesse se apaixonado por mim
porque eu era diferente. Mas aí você conheceu o meu mundo, de onde eu vim. E tinha um milhão de mulheres iguais a mim lá, e você... não enxergou nenhuma delas. Tudo o que você conseguiu fazer foi prestar atenção em mim, e eu sei que não devia me sentir feliz, pois vivemos um inferno e quase tivemos nossa vida destruída. Eu sei de tudo isso, mas você se apaixonou por mim lá também. Você me notou num mundo onde eu era só mais uma.
Acabei rindo.
— Dulce, você é inigualável, eu já lhe disse isso um milhão de vezes! Como eu poderia não ter prestado atenção em você, se o meu coração começou a dançar quando eu a vi? Se ele dança a cada vez que eu a vejo sorrir? Como eu poderia não ter notado você? Coloque uma coisa nesta sua linda cabecinha: eu nasci para amar você, e apenas você. Seja neste mundo ou em qualquer outro.
— Ah, Christopher.
Dessa vez, foi ela quem me beijou, e não houve interrupções.
Eu me perdi nos lábios da mulher que criara todo tipo de confusão e problema em minha vida. Que riscara as palavras “paz” e “sossego” de meu vocabulário.
Que me mostrara que a vida perfeita é construída de momentos imperfeitos, como todos os que nos levaram até aquele instante, em que nossa história continuava. E continuaria. Dulce era tudo o que eu queria, tudo de que eu precisava e sempre precisaria.
Indubitavelmente.
E, enquanto eu removia suas roupas, me perdia em suas curvas e me deleitava com suas carícias, peguei-me pensando outra vez que, sim, a vida nem sempre tinha sido fácil, nem sempre tinha sido boa. Mas naquele instante era as duas coisas.
A vida era perfeita.
Foi natural que meu corpo encontrasse o caminho para dentro do dela, que suas pernas se prendessem ao redor de meus quadris, que nossas bocas se unissem.
Foi correto nos empurrar ao limite da paixão e da loucura, seu calor úmido atrair-me para ainda mais fundo, como se minha alma e a dela pudessem se tocar, se atrelar, tornar-se uma. Pois era assim que tinha de ser. Afinal, eu estava destinado a amar aquela mulher, e apenas ela. Não havia nada tão certo no mundo quanto Dulce e eu. Não havia magia mais poderosa que aquela que fazíamos naquele instante. E não existia nada que pudesse nos manter afastados, porque nossas vidas se entrelaçaram havia muito, do mesmo jeito que faziam nossos corpos agora. Do jeito que tinha de ser.
Do jeito que sempre seria.
Fim
GrazihUckermann: continuando linda kk bjss
tahhvondy: É triste :'(, kk bjss
Autor(a): Fer Linhares
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Agradeço a quem comentou e a quem leu, amo muito vcsss bjsss vou deixar o link da proxima fic, que é da Maite, espero que favoritem Link: https://fanfics.com.br/fanfic/56031/prometida-uma-longa-jornada-para-casa-levyrroni-levyrroni-adaptada Sinopse: Maite Uckermann anda um pouco entediada. Seus dias parecem t ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 63
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tahhvondy Postado em 14/02/2017 - 17:51:28
nossa simplismente amei!cada um dos livros maravilhosos essa historia e incrível que não tem como não ser apaixonar por ela o amor deles e lindo o Christopher e mt fofo vou sentir saudades dessas confussões deles
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GrazihUckermann Postado em 13/02/2017 - 19:10:55
Eu AMEI! não sei qual dos livros foi o melhor. obrigada por postar essa história incrível, essa história é muito linda. Christopher é muito fofo <3 O amor deles é incrível. Quando ele a esqueceu ele se apaixonou por ela de novo, e eu tive que me segurar pra não chorar nessa parte s2 Fiquei feliz com o final da Madelena e do Seu gomes. Espero que tenha outro Baby vondy no livro da Maite, dessa vez tem que ser menino kkjk e não terá um nome melhor que Alexander para dar ao menino neh?? Estarei na próxima fanfic com você, comentando em todos os capitulos. Tchau. um diaa eu volto para ler de novo. (Acho que não demora muito, por amei a história e quero muito ler de novo) s2
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tahhvondy Postado em 13/02/2017 - 10:57:28
ai já ta acabando que triste mas ainda bem q vx consequiu baixa o da Maite
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GrazihUckermann Postado em 10/02/2017 - 20:35:51
Continuaaaaaaaaaaaaa! s2
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tahhvondy Postado em 09/02/2017 - 11:28:34
chequei continua por favor
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GrazihUckermann Postado em 09/02/2017 - 09:49:37
Continuaaaaa! s2
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GrazihUckermann Postado em 07/02/2017 - 16:32:39
FINALMENTE! CONTINUAAAAAAAAAAAAAA s2
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GrazihUckermann Postado em 06/02/2017 - 21:08:32
T-T
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GrazihUckermann Postado em 06/02/2017 - 21:02:21
Caraca essa confusão me deixou confusa kkkjk quando ele esquecer ela, ele meio que vai sumir?? vai aparecer no século dezenove como se nada tivesse acontecido?? é isso? não entendi kkkjk Continue mulher, não me deixe ansiosa! s2
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GrazihUckermann Postado em 05/02/2017 - 22:21:37
ai me deus!!!! CONTINUAAAAAA T-T