Fanfic: Destinado - As Memórias Secretas do Sr. Uckermann (Vondy) [TERMINADA] | Tema: Vondy [Adaptada]
Desde que Dulce tinha retornado, eu me sentia tão feliz que às vezes temia estar infringindo alguma lei. A felicidade era tanta e tão plena que eu me via constantemente ansioso, esperando algo ruim acontecer. E, olhando agora para aquela maldita máquina, tive certeza de que meus sentidos estiveram certos.
Apesar de tê-la visto apenas uma vez, eu jamais a esqueceria. Ela me trouxera Dulce, e por isso eu era e sempre lhe seria muito grato. Mas ela também a tirou de mim uma vez. Eu nunca poderia apagar a lembrança de Dulce se dissolvendo em pleno ar. E ali estava aquela coisa outra vez, disfarçando sua perversidade com uma profusão de cores brilhantes. Eu não conseguia me mover. Nada respondia ao comando de meu cérebro, que gritava para que eu jogasse minha esposa e minha filha no lombo de um cavalo e fugisse para longe o mais rápido possível.
O tal celular tinha retornado. E o motivo não podia ser bom.
Ou será que ele estivera ali o tempo todo?, perguntei-me. Até onde eu sabia, Dulce regressara sem ele. Será que ela o tinha guardado para o caso de se arrepender de sua decisão e não encontrara uma maneira de me dizer isso? E, se ela o mantivera esse tempo todo, seria possível que ainda tivesse alguma dúvida?
O mundo no qual ela nascera era diferente demais daquele em que vivíamos, de um modo que eu não podia compreender, não conseguia. Porém eu não era tolo e sabia que ela sentia falta de muita coisa que tinha deixado para trás.
Não, não podia ser. Se ela soubesse da existência daquela coisa eu teria percebido, tentei me convencer. Ela nunca tinha sido boa em esconder seus sentimentos. Além disso, ela jamais deixaria a máquina tão à vista.
A coisa continuou convulsionando. Lentamente me aproximei. Pude ler as palavras “nova mensagem” em meio ao brilho. Foi exatamente assim que aconteceu naquele dia, um pouco antes de ela desaparecer.
Minha mão tremia quando eu o peguei, tomando cuidado para não fazer besteira.
Dulce saberia lidar com ele, e no entanto...
No entanto, eu não permitiria que ela se aproximasse dele outra vez.
Coloquei o objeto no bolso do paletó e saí do quarto a passadas largas, sem saber para onde ir. Acabei em meu escritório. Parecia um bom lugar para escondê-lo, já que Dulce raramente mexia em meus documentos.
Abri a gaveta da mesa com dedos frouxos e deslizei o celular para dentro. Ele ainda gemia quando passei a chave, trancando-o ali dentro. Afastei-me um passo, a respiração curta, e fiquei observando a gaveta, ouvindo o ruído provocado pela colisão do que quer que aquilo fosse feito e a madeira, rezando para que parasse logo.
Levou um tempo, mas finalmente o barulho cessou.
Deixei-me cair na cadeira. Dulce havia garantido que seu retorno era permanente. Então, por que diabos aquele maldito celular estava em nosso quarto? Qual a mensagem que ele lhe trazia dessa vez?
Eu não fazia ideia, só sabia que não poderia ser notícia boa. Por tudo o que Dulce tinha me contado, a única função daquela máquina era viajar no tempo. E Dulce não iria a parte alguma, mesmo que desejasse...
Por todos os demônios! Eu não podia obrigá-la a viver onde não desejava, forçá-la a uma vida que não lhe faria feliz. Isso faria de mim um tirano, e Sofia jamais me perdoaria por lhe tolher o direito de escolha. Eu sabia muito bem disso. Assim como também sabia que nada nem ninguém me faria arriscar perdê-la novamente.
— Que inferno!
Estendi o braço e alcancei a garrafa sobre a mesa, servindo-me de um pouco de conhaque. Virei a bebida em um só gole, o líquido abrasador incinerando todo o caminho até o estômago.
Ela estava feliz, não estava? Eu não poderia estar enganado quanto a isso. Dulce reluzia de contentamento, estava mais serena e à vontade agora, naquele século.
Havia pouco me dissera que estava feliz. Então, agora o quê? O que eu deveria fazer? Eu havia prometido que jamais lhe esconderia coisa alguma, mas estava fora de questão permitir que ela chegasse perto da maldita máquina outra vez.
Esfreguei o rosto com força, praguejando, um nó revirando meu estômago.
Deixei a cabeça tombar de encontro ao espaldar da cadeira, fitando as vigas escuras que sustentavam o telhado.
Ora, mas que diabos. Esse era um assunto que eu não podia esconder dela. Então me obriguei a ficar de pé e sair daquele escritório, arrastando minha carcaça pelo corredor, sentindo-me meio morto por dentro.
* * *
— Senhor Uckermann, os bailes em sua propriedade são sempre os mais animados da região! — disse a senhora Portilla, interpondo-se em meu caminho. — Sua esposa se saiu maravilhosamente bem!
— Direi a ela que a senhora apreciou seus esforços. Por acaso a viu, senhora Portilla? Preciso falar com ela.
— Ela estava aqui ainda há pouco. Acho que a vi tomar o caminho para o jardim. — E apontou com a xícara de ponche para a entrada da casa.
— Com sua licença.
Enquanto eu atravessava o salão e desviava de qualquer coisa que pudesse me deter, tentava encontrar as palavras certas para contar a Dulce sobre o retorno do celular e ao mesmo tempo mantê-la longe dele. Eu precisaria de um milagre.
Tochas estavam espalhadas pelo jardim, e alguns casais passeavam por ali sem pressa. Apesar da parca iluminação, não foi tão difícil localizar o vulto azul desacompanhado. Ela estava perto do canteiro de rosas vermelhas, olhando em volta, como se procurasse alguma coisa ou alguém. Estava tão absorta que não percebeu que eu me aproximava.
— Dulce, o que faz aqui?
Ela deixou escapar um gritinho, virando-se rapidamente. Suas saias ficaram presas nos espinhos das roseiras.
— Christopher! Hã... Eu estava... hummm.... — Ela puxou o tecido. A planta se sacudiu.
Algumas pétalas se desprenderam das flores, rodopiando no ar, como se dançassem. — Que saco!
Seu estado de perturbação me deixou em alerta.
— Permita-me. — Abaixei-me e libertei o tecido das garras da planta, tomando cuidado para não rasgar seu bonito vestido. Retirei algumas folhas que se prenderam a suas saias antes de me levantar.
— Valeu, Christopher.
— É sempre um prazer lhe ser útil. O que fazia aqui? O que estava procurando?
— Ninguém! Quer dizer, nada — ela disse depressa. Depressa demais para que eu acreditasse. — Só vim... humm... respirar um pouco. Lá dentro está muito quente!
Assenti uma vez, tentando entender até onde ela iria com aquilo. Tudo bem, eu também ganhava um pouco mais de tempo, já que ainda não tinha pensado em como lhe contar que meu pior pesadelo estava trancafiado na gaveta da mesa do escritório naquele exato instante.
— Vamos andar um pouco, então. — Eu lhe ofereci o braço.
— Não! — Suas mãos espalmaram meu peito. — Quer dizer... Caramba, de repente fiquei morta de sede. Vamos pegar alguma coisa pra beber?
Que ela queria desesperadamente me manter afastado do jardim, estava claro.
O porquê disso é que me preocupava.
Não levei muito tempo, porém, tentando decifrar seus atos.
Uma risadinha ecoou ali perto. Avistei Suellen e Najla, duas amigas da Maite, cochichando em meio ao riso. As duas mantinham os olhos no outro lado do jardim. Eu procurei o que as divertia tanto. Ali, em meio às sombras e muito distante dos demais casais, encontrei Maite.
Aos beijos com o maldito William!
— Filho da...
— Ah, droga! Christopher, não! — Dulce tentou me deter, mas eu me livrei de suas mãos com facilidade. Ela tentou me acompanhar. — Christopher, espera! Você não pode...
— Aquele maldito patife é que não pode, Dulce!
— Ele não é um patife! Só está apaixonado!
— E está também com a língua dentro da boca da minha irmã! — acabei gritando.
Minha voz deve ter chegado até os ouvidos do par, pois Maite se desvencilhou dos braços ansiosos do rapaz e pulou um metro longe. Ela logo me viu e levou a mão ao rosto afogueado. William também tinha as faces coradas, mas eu duvidava que fosse por constrangimento.
— Senhor Uckermann, eu posso explicar... — ele disse quando eu estava perto o bastante.
— Duvido que possa — rosnei, pegando-o pelo pescoço.
— Christopher, solte-o! — Maite começou a socar minhas costas.
— Para, Christopher. Isso não é jeito de resolver as coisas! — Dulce tentou argumentar.
Mas não havia argumentos que me fizessem desistir da ideia de matar aquele sujeito.
— Como se atreve? Como ousa colocar a reputação de Maite em risco? E em sua própria casa! — Meus dedos se fecharam ao redor de seu pescoço como um torniquete.
— Não era... minha... intenção — ele murmurou com dificuldade, o rosto adquirindo um tom azulado.
— Sei muito bem qual era a sua intenção ao trazer Maite aqui para fora.
— Ele não me trouxe aqui. Eu é que sugeri um passeio — Maite interveio, piorando tudo. — Posso decidir o que farei da minha vida e com quem! Agora solte-o, já!
— Christopher! Ai, meu Deus, largue ele! Vai machucá-lo de verdade! — Dulce puxava meu braço enquanto minha irmã continuava me socando.
— Não até que ele tome uma decisão, Dulce. — E só havia duas escolhas para William: casar-se com Maite e livrá-la de um escândalo ou me enfrentar em um duelo ao amanhecer.
Ele foi inteligente o bastante para optar pela alternativa que o manteria vivo.
— Eu me caso... com... Maite — arfou.
— Não! — gritou minha irmã.
Eu o encarei, observando sua cor mudar do azul para o púrpura. Afrouxei um pouco os dedos.
— Eu me caso com Maite — repetiu, com um pouco mais de convicção.
— Não! — Maite escondeu o rosto nas mãos.
Soltei William, que se dobrou, apoiando as mãos nos joelhos para ganhar equilíbrio, lutando por ar.
— Terminei o curso de medicina — ele disse, ainda curvado. — Levará um tempo para que eu possa me estabelecer e ter uma renda aceitável com a profissão, mas tenho lucros muito bons com as terras da família. Em torno de cinco mil ao ano.
— Terá que ser o suficiente por ora.
— Eu não quero nada disso! — Minha irmã ergueu a cabeça e me fitou, o rosto brilhando de raiva.
Devolvi o mesmo olhar furioso a ela.
— Se não queria, então não deveria ter vindo até aqui para ficar se enroscando com esse sujeitinho.
— Christopher! — Dulce censurou.
Eu me virei para ela.
— Você sabia que eles estavam aqui?
— É claro que não! Até eu sei que Maite se meteria em problemas se viesse pro escurinho com um cara. Quando eu cheguei na sala, eles já tinham sumido. Eu estava procurando por eles quando você me encontrou.
Assenti uma vez. E então notei a pequena multidão que observava a cena poucos metros adiante. Engoli uma imprecação. Na manhã seguinte, Maite seria motivo de mexericos por toda a região. Tudo o que eu podia fazer agora era minimizar o dano.
— Bem, é melhor entrarmos — falei. — Parece que um noivado precisa ser anunciado.
— Não faça isso, Christopher. — A voz de Maite estava trêmula quando ela apoiou as mãos em meu peito, o olhar desesperado. — Por favor, meu irmão, não faça isso.
Trinquei os dentes.
— Você não me deixou escolha, Maite.
Um soluço lhe escapou da garganta, então ela se virou e, desviando da multidão, suspendeu um dos lados da saia e correu para casa.
— Maite! — Dulce disparou atrás dela.
A multidão logo se apressou em acompanhá-las, então ficamos William e eu para trás, observando as duas contornarem a construção e entrarem pelos fundos. O que tinha acontecido com aquela menina?
— Pensei que ela gostasse de você — comentei.
— Eu também. — O rapaz a meu lado manteve o rosto impassível enquanto ajeitava as roupas, mas uma pontada de decepção se espreitou em seu olhar.
— Vamos. Tenho de salvar a reputação de minha irmã. E trate de parecer contente.
Ele concordou com a cabeça, mas não pude deixar de notar, enquanto voltávamos para dentro da casa, que ele parecia tudo menos contente.
Aquele rapaz fizera a corte a Maite no último ano sem lhe dar trégua. E minha irmã, por sua vez, não só aceitou seus avanços como aparentemente lhe dera abertura para que o que eu tinha acabado de presenciar acontecesse. E agora nenhum dos dois estava feliz com o resultado. Que diabos. O que estava havendo?
* * *
Assim que voltamos para o salão, dezenas de cabeças se voltaram em nossa direção. Maldição. A fofoca se alastrava mais rápido do que eu podia dizer “ferradura”.
— Espere aqui — ordenei a William, saindo para procurar Maite e acabar logo com aquilo, antes que fosse tarde demais.
Não tive de ir muito longe, no entanto. Quase atropelei Dulce ao passar pelo batente que separava o salão do corredor.
— Perdoe-me — eu disse a ela, desalojando-a de meu peito.
Ela ergueu a cabeça e sorriu de leve.
— Não foi nada.
Minha irmã tinha o rosto seco, mas seus olhos azuis estavam brilhantes e ligeiramente inchados. Ela havia chorado.
— Maite...
— Não fale comigo! — Ela passou por mim com o queixo empinado, tal qual uma rainha.
Esfreguei a nuca, que subitamente me doeu.
— O que deu nela?
Dulce fez uma careta.
— Bom, basicamente, Maite não gostou nada que você tenha forçado o William a pedir a mão dela.
— O que ela esperava que eu fizesse depois de ter se colocado naquela situação? O que mais eu poderia ter feito, Dulce? Olhe para estas pessoas. — Apontei para a sala. Agora que Maite havia voltado, o burburinho era ainda pior. — Repare em como estão olhando para minha irmã neste instante.
— Mas ela só beijou um cara!
Corri a mão pelos cabelos, exausto.
— Eles não sabem disso. Ninguém pode garantir que nenhum mal foi feito. E você acha que ela terá qualquer chance de absolvição? Que vão perdoar sua indiscrição? Pois eu lhe digo: não vão. Se William não oficializar o noivado, amanhã minha irmã será motivo de chacota e vítima de outros adjetivos que prefiro não mencionar em sua presença. Não me peça para aceitar isso.
Ela balançou a cabeça.
— Eu nunca pediria. — Dulce pegou meu braço. — E eu entendo tudo o que vai acontecer com ela se não se casar. Será um escândalo, ninguém mais vai tratá-la com respeito, ela será rejeitada e nunca mais participará de nada que envolva a sociedade. Eu entendo, sério. Mas é que... Maite é tão novinha, Christopher. Sei que nessa época é comum meninas se casarem, mas... sei lá, pra mim é um absurdo. Elas nem sabem o que querem da vida ainda. Quer dizer, eu sei o que a Maite vai querer para o resto da vida, mas mesmo assim.
Eu a encarei.
— Tem certeza de que ainda sabe, Dulce? Pois ela não age como se estivesse feliz com o noivado.
— E você ficaria, se não tivesse o poder da escolha?
— Mas ela escolheu! — Eu era o único que entendia isso? — Ela sabia do risco que corria quando aceitou ir até o jardim com aquele sujeito. Ela sabia, Dulce, e foi até lá ainda assim! — Trinquei a mandíbula. Isso era o que mais me desconcertava.
— É, mas... — Dulce suspirou. — Ah, deixa pra lá, Christopher. Acho que é o meu lado século vinte e um falando — disse ela, lembrando-me de que eu ainda precisava discutir outro assunto, tão ruim quanto o fato de a reputação de Maite estar em risco.
— É provável. — Como começar? — Dulce...
— Sim? — Seus olhos brilharam em expectativa.
— Você está feliz?
— Acho que sim. Não é exatamente como eu imaginei que aconteceria, mas as coisas começaram a tomar o rumo que deveriam. Fiquei morrendo de medo de que eu tivesse melado o futuro da Maite no ano passado. Mas agora tudo voltou aos eixos. Sua irmã será muito feliz com o William , Christopher. Juro. Eu vi!
Sacudi a cabeça.
— Não é a isso que me refiro. Você ainda agora mencionou ter escolha. Você... está feliz com a que fez?
Ela franziu a testa.
— Quer dizer você?
Anuí com a cabeça.
— Por que você tá me perguntando isso?
— Apenas responda, por favor.
— Ok. — Ela ergueu os ombros. — Não acredito que feliz expresse como eu me sinto em relação a nós, Christopher. Eu teria que inventar uma palavra nova pra isso. O mais perto que consigo chegar é dizer que nunca me senti tão completa como me sinto desde que te conheci.
— Nenhum arrependimento?
— Não!
Soltei uma lufada de ar. Não tinha percebido que estivera prendendo o fôlego.
— Por que você tá me perguntando uma besteira dessas? — Ela afagou meu ombro.
— Eu apenas queria me certificar de que estou cumprindo o que lhe prometi no dia do nosso casamento.
Ela ficou na ponta dos pés e me beijou. Um beijo longo e úmido, que fez meu pulso disparar e meu peito doer. Ela não sabia nada a respeito da máquina.
E, pensando melhor, nunca viria a saber. Mais tarde, quando a situação de Maite estivesse resolvida, eu daria fim àquela coisa e sua ameaçadora presença, deixando tudo em ordem outra vez. Era isso. Não havia motivos para preocupá-la com aquele assunto.
— Você está se saindo muito bem, senhor Uckermann — ela disse em meus lábios, as mãos deslizando, vagarosas, por dentro de meu paletó. — Agora pare de se preocupar com bobagens. Você tem um noivado pra anunciar. Se quer se preocupar com alguma coisa, então se preocupe com o que eu planejei para você mais tarde. Aposto que te deixará completamente chocado!
E mordeu meu lábio inferior. Naturalmente, aquilo fez meus pensamentos tomarem outro rumo. Meu corpo todo vibrou em antecipação, e não consegui reprimir um gemido ou fazer meus quadris ficarem quietos.
— Inferno, Dulce. Você ainda vai acabar me metendo em problemas um dia desses. Juro que vai.
— Bom, não seria a primeira vez. — Ela sapecou um beijo em minha boca. — Agora vem, Christopher! Vamos salvar a reputação da Maite!
* * *
O anúncio foi feito e ninguém pareceu surpreso, com exceção talvez do padre Antônio. Dei o melhor de mim para deixar claro que sabia dos planos de William e que ele fizera tudo dentro dos conformes, que eu o aprovava. Não foi fácil. A todo instante o pensamento de esganá-lo me vinha à mente. Assim como também não foi fácil enfrentar o olhar ressentido de Maite. Ela raramente exibia aquela expressão, e nunca, jamais a dirigira a mim.
A formalização do noivado desempenhou seu papel, e, em vez de cochichos, agora ecoavam pelo salão alegres cumprimentos aos noivos. Cumpridas as formalidades, dancei com Dulce algumas vezes, entretendo os convidados curiosos, como pedia a etiqueta. Maite e William ajudaram, embora eu não os tenha visto juntos em momento algum. Ele recebia os cumprimentos com naturalidade; já minha irmã tinha as faces permanentemente coradas. E me evitava.
Pareceu-me uma eternidade até que o último convidado partisse. Observei da janela da sala William deixar a casa e entrar em sua carruagem um tanto cabisbaixo para quem tinha acabado de ficar noivo. Que inferno! Não era nada disso que eu queria para minha irmã.
Dulce se aproximou sem que eu percebesse, abraçando-se às minhas costas.
— Nós sobrevivemos. — Ela deitou a cabeça em meu ombro.
— Não sem ferir alguns. — Soltei a cortina e me virei para ela.
— Pois é. Acho que você e Maite vão precisar ter aquela conversa.
— Sabe se ela já se retirou? Ela me evitou a noite toda.
— Dá pra entender, Christopher. Mas vai passar. E ela me disse que ia dormir faz uns dez minutos. É melhor deixar pra amanhã.
— Está certo.
Tranquei a porta e as janelas, então levei Sofia para nosso quarto. Passamos pelo de Marina antes, para lhe dar boa-noite, mas ela dormia o sono dos anjos. Minha esposa agradeceu a Madalena pela ajuda, e só depois de se certificar que estava tudo em ordem a mulher se retirou para um merecido descanso. Dulce foi para o quarto ao lado, exausta, mas eu fiquei ali perto do berço, assistindo à minha filha dormir. Ao menos isso estava certo em meu mundo. Ao menos minha filha estava bem, segura e feliz.
Por mais que eu não quisesse pensar em nada naquele instante, eu pensava. Não havia como não pensar. Eu ainda não sabia o que faria com aquela máquina, mas estava disposto a ser criativo. No que se referia a Maite, eu estava ciente de que ela estava decepcionada comigo — ainda que a razão me escapasse —, mas ela também tinha me decepcionado. Eu e minha irmã raramente brigávamos, e aquilo estava me incomodando muito.
Uma conversa franca, decidi. Uma conversa franca era tudo de que precisávamos. E não havia motivo para protelar. Eu podia apostar que ela estava em seu quarto, tão agitada quanto eu me sentia agora.
Saí pela porta que ligava os dois aposentos para avisar a Sofia que voltaria logo.
— Dulce, acho que eu preciso... — comecei assim que fechei a porta.
— De uma distração? — ela completou, de costas, parada em frente à cama.
Levou uma das mãos à fileira de múltiplos botões na parte de trás do vestido, desfazendo um. Depois outro. E mais um ainda. — Concordo.
Seu progresso era lento, planejado, e me vi incapaz de desviar o olhar. E, por mais que eu desejasse fazer aquilo para ela, a beleza e a perturbação de vê-la se despir para mim me paralisaram, e tudo o que pude fazer foi respirar e inspirar.
O vestido caiu a seus pés, revelando uma minúscula calça de renda que mais mostrava do que cobria seus quadris. Nada de camisolas, anáguas, espartilhos, meias de seda. E o atrevimento de Dulce não se resumia a isso. Não havia nada a cobrir-lhe os exuberantes seios, que eu, infelizmente, não podia apreciar naquele momento, pois ela se mantinha de costas propositalmente. Meu fluxo sanguíneo se refugiou na virilha.
Eu a observei... não, eu a bebi, como um homem sedento perdido no deserto ao se deparar com uma lagoa cristalina. E estava louco para mergulhar.
Sabendo que eu a admirava, Dulce desfez o penteado ainda mais lentamente, sem pressa. Um espetáculo que pouco a pouco ia se tornando um prazeroso tormento.
Uma cascata de ondas douradas lhe caiu nas costas, as pontas aneladas brincando naquela curva tentadora pouco acima do cós de sua roupa de baixo. Minha boca formigou, ansiosa por beijá-la bem ali, onde eu sabia que a faria contorcer-se toda.
Sem poder aguentar mais, aproximei-me dela, minhas mãos escorregando por seu braço delgado, seus ombros, sentindo sua pele sedosa se arrepiar sob meu toque. Sua cabeça pendeu em meu peito.
Uma distração, ela dissera. Algo que me fizesse esquecer os acontecimentos daquela noite abominável. E não havia nada que me entretivesse mais do que a própria Dulce. Ela me distraía dos problemas, do mundo, da vida. De mim mesmo.
kaillany: É, o cel é pra ele não tem nada a ver com a Dulce, agr o que vai aconter com a Maite só vai saber nos caps kk bjss
tahhvondy: O que vai acontecer com ela é a coisa muito legal, ela não mais outra pessoa kk bjss
bibi_herroni: Continuandooooooo que bom que amou kkk bjss linda
GrazihUckermann: então, ela meio que não vai mas meio que vai kk bjss S2 (é vc né Grazih?)
Comentem!!!
Autor(a): Fer Linhares
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Apesar do cansaço, o sono não me encontrou. A cabeça zunia e eu continuava muito desperto quando ouvi um choramingo no quarto ao lado. Dulce se remexeu.Seu rosto descansava sobre minha barriga, seu corpo esgotado atravessado na cama. Com cuidado, escorreguei para o lado e coloquei um travesseiro sob sua cabeça.Apanhei a calça ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 63
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tahhvondy Postado em 14/02/2017 - 17:51:28
nossa simplismente amei!cada um dos livros maravilhosos essa historia e incrível que não tem como não ser apaixonar por ela o amor deles e lindo o Christopher e mt fofo vou sentir saudades dessas confussões deles
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GrazihUckermann Postado em 13/02/2017 - 19:10:55
Eu AMEI! não sei qual dos livros foi o melhor. obrigada por postar essa história incrível, essa história é muito linda. Christopher é muito fofo <3 O amor deles é incrível. Quando ele a esqueceu ele se apaixonou por ela de novo, e eu tive que me segurar pra não chorar nessa parte s2 Fiquei feliz com o final da Madelena e do Seu gomes. Espero que tenha outro Baby vondy no livro da Maite, dessa vez tem que ser menino kkjk e não terá um nome melhor que Alexander para dar ao menino neh?? Estarei na próxima fanfic com você, comentando em todos os capitulos. Tchau. um diaa eu volto para ler de novo. (Acho que não demora muito, por amei a história e quero muito ler de novo) s2
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tahhvondy Postado em 13/02/2017 - 10:57:28
ai já ta acabando que triste mas ainda bem q vx consequiu baixa o da Maite
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GrazihUckermann Postado em 10/02/2017 - 20:35:51
Continuaaaaaaaaaaaaa! s2
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tahhvondy Postado em 09/02/2017 - 11:28:34
chequei continua por favor
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GrazihUckermann Postado em 09/02/2017 - 09:49:37
Continuaaaaa! s2
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GrazihUckermann Postado em 07/02/2017 - 16:32:39
FINALMENTE! CONTINUAAAAAAAAAAAAAA s2
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GrazihUckermann Postado em 06/02/2017 - 21:08:32
T-T
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GrazihUckermann Postado em 06/02/2017 - 21:02:21
Caraca essa confusão me deixou confusa kkkjk quando ele esquecer ela, ele meio que vai sumir?? vai aparecer no século dezenove como se nada tivesse acontecido?? é isso? não entendi kkkjk Continue mulher, não me deixe ansiosa! s2
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GrazihUckermann Postado em 05/02/2017 - 22:21:37
ai me deus!!!! CONTINUAAAAAA T-T