Fanfic: Meu amigo, meu amor... {terminada}

— Hora de trivialidades! — anunciou Dulce.

— Pode mandar — concordou Christopher, animado.

Estavam sentados à mesa da cozinha de Dulce, consumindo o jantar delicioso que Christopher preparara enquanto ela trabalhava na agência de turismo. Bife de panela, purê de batata, cenouras cozidas. Dulce saboreou cada garfada.

— Muito bem, aí vai: O hino nacional da Grécia tem 158 versos e não há notícia de ninguém que o tenha decorado.

Christopher riu.

— Já sabia, porque li o postal que seus pais enviaram, e foi sua mãe que contou essa trivialidade. Não ganha pontos por essa, Dul.

— Você leu a minha correspondência, Christopher?

— Não, na verdade, não — assegurou ele. — Há uma lei informal que diz que postais são de domínio público.

— Não existe tal lei — afirmou Dulce, irada. — Correspondência é correspondência. É particular.

— Errado — afirmou Christopher, meneando a cabeça. — Pergunte ao carteiro que entrega essas coisas. Ele vai confirmar que postais são abertos a escrutínio público. O fato provavelmente vale alguns pontos no jogo de trivialidades, pensando bem… principalmente porque você não sabia que isso era verdade. Dulce riu.

— Você trapaceou.

— Não trapaceei — protestou Christopher, indignado.

— Trapaceou, sim. Mas vou perdoá-lo por conta deste jantar fantástico. Estava mesmo saboroso, Christopher, e gostei muito. — Ela fez uma pausa. — E então, acabaram com as formigas?

— Que nada. Deixei dois recados para o proprietário, mas ele ainda não deu retorno. Passei o meu telefone e o seu, e as duas secretárias eletrônicas estavam ligadas quando fui ao supermercado, mas… vou tentar novamente amanhã.

— Oh.

— Não se importa que eu use o seu sofá de novo, não é, Dul? Quero dizer, se for contra, posso procurar um hotel ou ficar na casa dos meus pais. Minha mãe adoraria ter a mim debaixo da asa dela outra vez.

— Não, pode ficar — respondeu Dulce. Embora mal tivesse pregado o olho na noite anterior, por estar ciente demais da proximidade de Christopher. — Ora, não sou idiota. Cheguei em casa e o jantar estava na mesa, os armários e a geladeira, cheios de mantimentos, e meu apartamento, um brinco. Você é um colega de apartamento bastante desejável.

Christopher teve vontade de espetar o garfo no coração. Agora ganhara o título de colega de apartamento? Raios. Não, não devia se desanimar. Havia apenas começado a luta.

— Eu tinha tempo livre, só isso — justificou. — O que fiz não foi grande coisa. Gosto de cozinhar e…

— Você não suporta bagunça — completou Dulce, sorrindo. — Arrumou a casa porque estava ficando doido.

— Bem, mais ou menos. Sabe, Dul, se colocasse as coisas no lugar após usá-las, não perderia tudo todo o tempo — aconselhou ele. — Por exemplo, você descalçou os sapatos assim que entrou no apartamento hoje. Estou vendo um pé no meio da sala, mas onde está o outro?

Dulce ergueu-se na cadeira e olhou ao redor.

— Sei lá. Deve estar lá em algum lugar.

— Debaixo do sofá.

— E? Está brincando? Bem, eu o teria encontrado, eventualmente.

— Sim, mas pense nisso — continuou Christopher, inclinando-se em sua direção. — Se tivesse dedicado dez segundos para ir ao quarto guardar os sapatos no armário, eles estariam prontos para uso na próxima vez que os quisesse. É realmente simples.

— Vou tentar a sua teoria… um dia desses — prometeu Dulce. — Oh, não sei, Christopher. Administro a agência como uma máquina lubrificada, mas quando chego em casa, só quero…

— Relaxar — completou ele, rindo.

— Isso não foi gentil — acusou ela, embora sorrisse. — Não sou relaxada em casa, sou… descontraída. Pronto. É isso.

Christopher ergueu o sobrolho.

— Imagine esse tipo de descontração quando o bebê estiver aqui. Vai precisar de mamadeiras prontas, não poderá ficar sem fraldas no meio da noite e terá de manter a roupa lavada em dia.

Dulce franziu o cenho.

— Nisso tem razão. Talvez eu deva começar a aplicar minhas habilidades organizacionais em casa também. Farei isso… talvez… mais tarde, em poucos meses. Não, você tem razão. Preciso me organizar a partir de agora, ou terei problemas quando o bebê chegar.

— Isso mesmo — apoiou Christopher. — Vai gostar de ter uma casa organizada, Dul. Eu garanto que sim.

— Mas não espere milagres — avisou ela. — Não posso mudar da noite para o dia, sabe.

— Mas pode mudar, se estiver determinada. — Christopher ficou sério de repente. — Todos podemos mudar. Nossas ações e atitudes não são perenes. A fim de crescer como pessoa, todos precisamos estar abertos a novas idéias, ansiosos por nos ajustar ao que nos cerca e…

— Oh, está bem — concordou Dulce. — Vou me esforçar. Vou colocar os sapatos no armário sempre que chegar em casa do trabalho.

Christopher franziu o cenho.

— É um começo… acho. — Lembrou-se de algo. — Fiz torta de cereja com base em uma receita.

Dulce arregalou os olhos.

— E? Receita de quem?

— De meu pai. Quando éramos pequenos, meu pai e eu fazíamos o jantar duas noites por semana, e minha mãe, nos outros dias. Quando Annie veio morar conosco, uniu-se ao grupo de minha mãe. Jack reclamava, mas eu me divertia.

— Espantoso — avaliou Dulce. — Por que nunca me contou isso antes?

— O assunto não surgiu, acho. Agora, apareceu, porque estamos morando juntos.

— Podia falar diferente, Christopher? Não estamos morando juntos, estamos apenas…

— Estamos morando juntos — teimou Christopher. — Fazemos as refeições, dormimos, passamos o tempo sob o mesmo teto. Isso, na minha opinião, é morar junto.

— Sim, mas a expressão morar junto implica duas pessoas estarem tendo… um relacionamento. Quero dizer… — Dulce ergueu o queixo. — Não estamos dormindo juntos.

— É verdade — admitiu Christopher, pensativo. — Claro, podíamos fazer amor, se quiséssemos. — Deu de ombros. — Mas não queremos.

Dulce franziu o cenho.

— Não queremos?

— Claro que não — respondeu Christopher, fitando-a com atenção. — A noite de amor que partilhamos foi um acaso feliz, fruto de uma série de circunstâncias que resultaram em… — Pigarreou. — A verdade, Dulce, é que resultou no ato de amor mais lindo que já partilhei com alguém em toda a minha vida.

— Oh, eu sei — confessou Dulce, sonhadora, fitando o espaço. — Não vou discutir quanto a isso, Christopher. Foi tão… esqueça — Recompôs-se.

— Não posso. — Ele pousou a mão sobre a dela na mesa. — Tentei. Acredite. Mas simplesmente não posso apagar as lembranças da nossa noite juntos. Sem mencionar que resultou na nossa garotinha, algo ainda mais difícil de esquecer. Aquilo definitivamente aconteceu, Dulce, e foi… foi muito especial.

— Sim — concordou ela suave. — Sim, foi.

O calor da mão de Christopher subia pelo braço dela, alcançando os seios como uma corrente elétrica. Agora, espalhava-se por todo o seu corpo, aquecendo cada célula. Por que ele lhe causava tal impacto sensual? Tratava-se de seu melhor amigo, não seu amante. Bem, fizeram amor naquela noite gloriosa, mas… Arre, era tudo tão inquietante e confuso. Dulce recolheu a mão e levantou-se.

Essa cena continua no próximo capítulo...

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