Tive outros sonhos perturbadores. Sozinha e perdida, eu corria na escuridão. Não conseguia encontrar Chris e alguma coisa maligna me perseguia. Eu precisava fugir. Dedos estranhos e ávidos tentavam puxar minha roupa e meus cabelos. Eles arranhavam minha pele e tentavam me arrastar e me tirar do caminho. Eu sabia que, se conseguissem, iriam me capturar e me destruir.
Dobrei uma esquina, entrei em um salão e vi um homem sombrio e de aspecto malévolo, vestido com uma luxuosa túnica ametista. Ele se debruçava sobre um sujeito amarrado a uma grande mesa. De um canto escuro, vi quando ele ergueu no ar uma faca curva e afiada, entoando baixinho um cântico em uma língua que eu não compreendia.
De alguma forma eu sabia que tinha que salvar o prisioneiro. Lancei-me contra o homem com a faca e puxei seu braço, tentando arrancá-la dele. Minha mão começou a queimar, brilhando vermelha, e centelhas crepitaram.
— Não, Dulce! Pare!
Olhei para a mesa e arquejei. Era Chris! Seu corpo estava dilacerado e ensanguentado, e as mãos encontravam-se presas acima da cabeça.
— Dul... saia daqui! Estou fazendo isso para que ele não possa encontrá-la.
— Não! Não vou deixar você fazer isso, Chris. Transforme-se em tigre. Fuja!
Ele sacudiu a cabeça freneticamente e disse em voz alta:
— Durga! Eu aceito! Faça-o agora!
— O quê? O que você precisa que Durga faça? — perguntei.
O homem recomeçou a entoar o cântico, dessa vez em voz alta, e, apesar de meus fracos esforços para detê-lo, ergueu a lâmina e a cravou no coração de Chris. Eu gritei. Meu coração batia no mesmo ritmo dilacerado do dele. A cada batimento, sua força diminuía, até que falhou e finalmente parou.
Lágrimas rolavam pelo meu rosto. Senti uma dor terrível e lancinante. Eu via o sangue de Chris escorrer pela mesa e empoçar no piso de ladrilhos. Desabei de quatro no chão, sufocada por minhas emoções.
A morte de Chris era insuportável. Se ele estava morto, então eu também estava. Eu me afogava na dor, não conseguia respirar. Não me restava nenhuma vontade para me impelir. Não havia nenhum incentivo, nenhuma voz me instando a lutar, a nadar até a superfície, a me erguer acima da dor. Nada podia me fazer respirar ou voltar a viver.
A sala desapareceu e eu me vi envolta na escuridão mais uma vez. O sonho havia mudado. Eu usava um vestido dourado e joias. Sentada em uma linda cadeira sobre um tablado alto, baixei os olhos e vi Chris de pé diante de mim. Sorri para ele e estendi a mão, mas foi Kishan quem a segurou ao se sentar ao meu lado.
Olhei para Diego, confusa. Ele dirigia um sorriso presunçoso para Chris. Quando me virei novamente para Chris, sua raiva o consumia e ele me fuzilou com olhos de ódio e desprezo.
Lutei para libertar minha mão da de Diego, mas ele não me soltava. Antes que eu conseguisse, Chris se transformou em tigre e correu para a selva. Gritei, chamando por ele, mas não me ouviu.
Ele não queria me ouvir.
O vento açoitava o cortinado de cor creme e nuvens de tempestade se aglomeravam, escurecendo o céu. Relâmpagos caíam em vários pontos. Ouvi um rugido poderoso ecoar pela paisagem. Era o impulso de que eu precisava. Arranquei minha mão da de Diego e corri para a tempestade.
A chuva começou a castigar o chão, tornando meu avanço mais lento enquanto eu procurava Chris. Minhas lindas sandálias douradas foram arrancadas, presas na lama espessa criada pelo aguaceiro. Eu não conseguia encontrá-lo em lugar nenhum. Tirei os cabelos encharcados dos olhos e gritei:
— Chris! Chris! Onde você está?
Um raio atingiu uma árvore próxima com um poderoso estrondo. Fragmentos da casca do tronco dispararam em todas as direções quando a árvore se quebrou, e o tronco se retorceu e se despedaçou. Quando desabou, os galhos me prenderam ao chão.
— Chris!
A água enlameada foi se juntando debaixo de mim. Fui me contorcendo e contraindo meu corpo machucado e dolorido até conseguir escorregar sob a árvore. O vestido dourado estava rasgado e minha pele, coberta de arranhões ensanguentados.
— Chris! — gritei mais uma vez. — Por favor, volte! Preciso de você!
Eu estava tremendo de frio, mas continuei correndo no meio da selva, tropeçando em raízes e atirando para o lado a vegetação rasteira cinza e espinhenta. Gritando enquanto corria, eu avançava por um caminho sinuoso entre as árvores, à procura dele.
— Chris, por favor, não me deixe! — eu suplicava, desesperada.
Finalmente avistei uma silhueta branca correndo em meio às árvores e redobrei meus esforços para alcançá-lo. Meu vestido se prendeu em um arbusto cheio de espinhos, mas eu o atravessei ferozmente, determinada a chegar até ele. Eu seguia a trilha de raios que caíam na selva ali perto.
Não sentia medo dos raios, embora eles caíssem tão perto que eu podia sentir o cheiro da madeira queimada. Os raios me levaram a Chris. Eu o encontrei caído no chão. Grandes marcas de queimaduras chamuscavam seu pelo branco onde os raios o haviam atingido repetidamente.
De alguma forma, eu sabia que eu fizera aquilo. Eu era a responsável por sua dor.
Acariciei-lhe a cabeça e o pelo macio e sedoso do pescoço e gritei:
— Chris, eu não queria que fosse assim. Como isso pôde acontecer?
Ele assumiu a forma humana e sussurrou:
— Você perdeu a fé em mim, Dulce.
Sacudi a cabeça, negando. As lágrimas escorriam pelo meu rosto.
— Não. Não perdi. Jamais!
Ele não conseguia me olhar nos olhos.
— Iadala, você me deixou.
Abracei-o em desespero.
— Não, Chris! Eu nunca vou deixá-lo.
— Mas deixou. Você foi embora. Era muito pedir que me esperasse? Que acreditasse em mim?
Solucei, desesperada.
— Mas eu não sabia. Eu não sabia.
— Agora é tarde demais, priyatama. Dessa vez, sou eu quem vai deixá-la.
Então fechou os olhos e morreu.
Sacudi seu corpo flácido.
— Não. Não! Chris, volte! Por favor, volte!
As lágrimas se misturavam com a chuva e borravam minha visão. Furiosa, enxuguei-as e, quando tornei a abrir os olhos, vi não só Chris como também meus pais, minha avó e o Sr. Kadam. Estavam todos caídos no chão, mortos.
Eu estava sozinha e cercada pela morte.
Chorando, eu gritava sem parar:
— Não! Não pode ser! Não pode ser!
Uma angústia incontrolável penetrava o meu corpo. Eu me sentia tão desesperada, tão sozinha!
Agarrei-me a Chris e fiquei embalando seu corpo para a frente e para trás, inconscientemente tentando me confortar. Mas não encontrei nenhum alívio.