O hotel cor de menta de dois andares tinha um portão de ferro batido, um pátio de concreto e arremates rosa-flamingo. Meu quarto tinha uma cama de casal. Uma cortina colorida escondia um pequeno closet com alguns cabides de madeira. Uma bacia e um jarro de água fresca, assim como um par de canecas de cerâmica, descansavam sobre a mesa. Em vez de um aparelho de ar condicionado, um ventilador rodava preguiçosamente no teto, mal movimentando o ar quente. Não havia banheiro. Todos os hóspedes tinham que compartilhar as instalações no primeiro piso. As acomodações eram simples, mas ainda assim ganhavam facilmente da selva.
Depois de me ver acomodada e de me entregar a chave, o Sr. Kadam disse que iria me pegar para jantarmos dali a três horas e então se retirou.
Ele mal havia passado pela porta quando uma mulher indiana, vestindo uma camisa laranja esvoaçante sobre uma saia branca, veio recolher minhas roupas sujas. Pouco depois, ela voltava com as roupas lavadas e as pendurava no varal diante da minha porta. As peças adejavam tranquilamente na brisa e eu dormi ouvindo os ruídos relaxantes do lugar.
Depois de um breve cochilo e de esboçar alguns desenhos de Chris como tigre, eu trancei o cabelo e o prendi com uma fita vermelha para combinar com a saia também vermelha. Tinha acabado de calçar os tênis quando o Sr. Kadam bateu à porta.
Ele me levou para jantar no que disse ser o melhor restaurante da cidade: A Flor de Manga. Tomamos um pequeno barco-táxi, atravessamos o rio e caminhamos até uma construção que parecia uma casa de fazenda, cercada por bananeiras, palmeiras e mangueiras.
Fomos conduzidos até os fundos e passamos por um caminho calçado de pedras que levava a uma impressionante vista do rio. Pesadas mesas de madeira com tampos polidos e lisos e bancos de pedra espalhavam-se por todo o pátio. Lanternas de ferro trabalhado montadas no canto de cada mesa constituíam a única fonte de luz disponível. Um arco de tijolos à direita era coberto por jasmins brancos que perfumavam o ar noturno.
— Que lugar lindo, Sr. Kadam!
— Foi o recepcionista do hotel que o recomendou. Pensei que você gostaria de uma boa refeição, já que está comendo rações do exército há uma semana.
Deixei que o Sr. Kadam fizesse o meu pedido, pois eu não tinha a menor ideia do que dizia o cardápio. Saboreamos um jantar de arroz basmati, legumes grelhados, saag de frango – que vinha a ser frango cozido com creme de espinafre um peixe branco com chutney de manga, bolinhos pakora de legumes, camarões ao coco, pão naan e uma espécie de limonada que levava uma pitada de cominho e de hortelã chamada jal jeera. Beberiquei a limonada, achei que era um pouquinho temperada demais para o meu gosto e terminei bebendo bastante água.
Quando começamos a comer, perguntei ao Sr. Kadam o que mais ele aprendera sobre a profecia.
Ele limpou a boca com o guardanapo, tomou um gole de água e disse:
— Creio que o que vocês estão procurando seja chamado de o Fruto Dourado da Índia. — Ele se aproximou um pouco mais e baixou a voz. — A história do Fruto Dourado é uma lenda muito antiga esquecida pela maior parte dos eruditos modernos. Trata-se supostamente de um objeto de origem divina dado a Hanuman para que ele o guardasse e protegesse. Quer que eu lhe conte a história?
Bebi minha água e assenti.
— A Índia já foi uma vasta terra estéril, completamente inabitável. Era cheia de serpentes de fogo, grandes desertos e feras selvagens. Então os deuses e deusas vieram e o aspecto da terra mudou. Eles criaram o homem e deram à humanidade dádivas especiais, sendo o Fruto Dourado a primeira delas. Quando ele foi plantado, uma árvore imensa nasceu, depois vieram os frutos e suas sementes foram recolhidas e espalhadas por toda a Índia, transformando-a em uma terra fértil capaz de alimentar milhões de pessoas.
— Mas, se o Fruto Dourado foi plantado, ele não teria desaparecido ou se transformado nas raízes da árvore?
— Um dos frutos daquela primeira árvore amadureceu rapidamente e se tornou dourado. Ele foi colhido e escondido por Hanuman, o rei de Kishkin-dha, metade homem, metade macaco. Enquanto o fruto estiver protegido, o povo da Índia terá alimento.
— Então é esse o fruto que precisamos encontrar? E se Hanuman ainda o estiver protegendo e nós não conseguirmos chegar até ele?
— Hanuman guardou o fruto em sua fortaleza e o cercou de servos imortais para vigiá-lo. Não sei muito sobre o tipo de barreiras que seriam erguidas para deter vocês. Suponho que haverá mais do que uma armadilha projetada para tirá-los de seu caminho. Por outro lado, você é a protegida de Durga e portanto contará com a ajuda dela.
Esfreguei minha mão distraidamente. Ela formigava. O desenho de hena desbotara, mas eu sabia que ele ainda estava ali. Bebi minha água.
— O senhor acha mesmo que vamos encontrar alguma coisa? Quer dizer, acredita mesmo nessas coisas?
— Não sei. Espero que seja verdade, para que os tigres sejam libertos. Tento manter a mente aberta. Sei que existem poderes que não sou capaz de compreender e coisas que nos moldam e que não podemos ver. Eu não deveria estar vivo, mas de alguma forma estou. Chris e Diego estão aprisionados em uma espécie de magia e é meu dever ajudá-los.
Devo ter demonstrado minha angústia, porque ele deu tapinhas em minha mão e disse:
— Não se preocupe. Tenho um forte pressentimento de que tudo vai dar certo no fim. É a fé que me mantém concentrado em nosso objetivo. Tenho grande confiança em você e em Ren, e acredito, pela primeira vez em séculos, que há esperança.
Ele bateu as mãos e esfregou uma palma na outra.
— Então, vamos voltar nossa atenção para a sobremesa?
Ele pediu kulfi para nós dois e explicou que se tratava de um sorvete feito com creme de leite fresco e nozes. Era refrescante em uma noite quente, embora não tão doce nem tão cremoso quanto o sorvete americano.
Após o jantar, caminhamos até o barco, conversando sobre Hampi. O Sr. Kadam sugeriu que visitássemos um templo local dedicado a Durga antes de nos aventurarmos nas ruínas à procura do portão para Kishkindha.
Passeávamos lentamente, atravessando a cidade na direção do mercado, quando o Sr. Kadam e eu avistamos nosso hotel verde menta. Ele se voltou para mim com uma expressão acanhada e disse: