Eu estava apavorada, com a boca seca. Ergui os olhos para a deusa, que tinha um sorriso sereno no rosto enquanto observava seu bichinho de estimação se aproximar de mim.
A cobra foi até o meu tênis, disparou a língua mais uma vez e enrolou a cabeça na minha perna. Ela circulou minha panturrilha e enroscou o corpo diversas vezes. Eu podia sentir seus músculos apertando minha perna com firmeza enquanto seu corpo se ondulava e ela subia devagar. Minhas pernas e meus braços tremiam, e eu oscilava como uma flor sob chuva forte. Ouvi a mim mesma choramingar. Chris emitiu um ruído entre um grunhido e um ganido, aparentemente sem saber o que fazer para me ajudar. A serpente alcançou o alto da minha coxa. Meus cotovelos estavam imobilizados e meus braços tremiam quando os abri um pouco, afastando-os do corpo. A serpente apertou minha coxa com a parte inferior de seu corpo e estendeu a cabeça na direção da minha mão.
Observei fascinada e horrorizada ela alcançar meu pulso e rapidamente saltar para o braço. Enroscando-se, continuou seu lento progresso braço acima. As escamas eram frias e lisas. A serpente me prendia, como um torno poderoso. A medida que apertava meu braço e subia, o fluxo do meu sangue era interrompido e então recomeçava, como se eu houvesse colocado um torniquete naquele membro.
Quando a maior parte de seu corpo estava presa em torno da porção superior do meu braço, a cobra estendeu a cabeça até meu ombro e roçou-a em meu pescoço. Sua língua se projetou e experimentou o suor salgado que ali brotava, fazendo meu lábio inferior tremer. Gotas de suor escorriam pelo meu rosto enquanto eu respirava pesadamente. Eu podia sentir a cabeça passeando em meu pescoço, roçando em meu queixo, e então, lá estava ela, com o pescoço dilatado, fitando meu rosto com seus olhos de joias. No instante em que pensei que eu fosse desmaiar, ela voltou para o braço, enroscou-se mais duas vezes e então imobilizou-se, com a cabeça voltada para Durga.
Cautelosamente, baixei os olhos para olhá-la e fiquei estupefata ao ver que ela havia se transformado em uma joia. Parecia um daqueles braceletes de cobra que os antigos egípcios usavam. Seus olhos de esmeralda observavam o espaço à frente sem piscar.
Hesitante, estendi meu outro braço para tocá-la. Ainda podia sentir as escamas lisas, mas seu toque era metálico, não de matéria viva. Estremeci e virei-me para a deusa.
Como a gada, a serpente era relativamente leve.
Agora que eu tinha coragem suficiente para olhá-la mais de perto, pude perceber que a cobra havia encolhido. A grande serpente diminuíra de tamanho até se tornar um pequeno bracelete enroscado.
— Ela se chama Fanindra, a Rainha das Serpentes — informou a deusa. — É um guia e irá ajudar vocês a encontrar o que procuram. Ela pode conduzi-los por vias seguras e irá iluminar seu caminho através da escuridão. Não tenha medo, pois ela não lhe deseja nenhum mal.
A deusa estendeu a mão para acariciar a cabeça imóvel da cobra e recomendou:
— Ela é sensível às emoções das pessoas e anseia por ser amada pelo que é. Tem um propósito, assim como todos os seus filhos, e devemos aprender a aceitar que todas as criaturas, por mais assustadoras que possam ser, são de origem divina.
Inclinei a cabeça e declarei:
— Tentarei superar o meu medo e lhe dar o respeito que ela merece.
— Isso é tudo o que peço — disse a deusa, sorrindo.
Quando Durga recolhia os braços e começava a voltar à posição original, ela baixou os olhos para mim e para Chris.
— Posso lhes dar um conselho antes de partirem?
— É claro que sim, Deusa — falei.
— Lembrem-se de se manterem juntos. Se forem separados, não confiem em seus olhos. Usem o coração. Ele lhes dirá o que é real e o que não é. Quando obtiverem o fruto, escondam-no bem, pois existem outros que desejam pegá-lo e usá-lo para o mal e com propósitos egoístas.
— Mas não devemos lhe trazer o fruto de volta como oferenda?
A mão que acariciava o tigre se imobilizou em seu pelo e a carne endureceu até se tornar áspera e cinza.
— Vocês já fizeram sua oferenda. O fruto tem outro propósito, do qual tomarão conhecimento no devido tempo.
— E quanto aos outros presentes, às outras oferendas?
Eu estava desesperada por saber mais e era óbvio que meu tempo estava se esgotando.
— Podem me fazer as outras oferendas em meus outros templos, mas os presentes vocês devem guardar até...
Seus lábios vermelhos detiveram-se no meio da frase e seus olhos se turvaram e se tornaram globos sem visão mais uma vez. Durga e também suas joias de ouro e roupas brilhantes desbotaram até se tornarem outra vez uma escultura.
Estendi a mão e toquei a cabeça de Damon, e então limpei a poeira das mãos na calça jeans depois de roçar a mão em uma orelha arenosa.
Chris se aproximou de mim e eu corri os dedos por suas costas peludas, absorta em pensamentos. O som de seixos caindo me tirou de meus devaneios.
Dei um abraço no pescoço de Chris, apanhei cuidadosamente a gada e caminhamos até a entrada do templo. Ele ficou parado ali alguns minutos enquanto eu pegava um galho de árvore e apagava suas pegadas.
Quando atravessávamos o caminho de terra de volta ao Jeep, fiquei surpresa ao ver que o sol havia percorrido um longo caminho no céu.
Tínhamos passado um bom tempo no santuário, mais tempo do que eu havia pensado. O Sr. Kadam cochilava no veículo estacionado à sombra, com as janelas abertas. Ele se sentou rapidamente e esfregou os olhos quando nos aproximamos.
— O senhor sentiu o terremoto? — perguntei.
— Terremoto? Não. Aqui fora está silencioso como uma igreja. — Ele riu de sua própria piada. — O que aconteceu lá dentro?
O Sr. Kadam desviou os olhos do meu rosto para os meus novos presentes e arquejou, surpreso.
— Srta. Dulce! Posso?
Entreguei-lhe a gada. Ele estendeu as duas mãos, hesitante, e a pegou de mim. Pareceu ter um pouco de dificuldade com o peso, o que me fez pensar se, em sua idade avançada, não era mais fraco do que parecia. Interesse erudito e puro prazer se refletiam em seu rosto.
— É linda! — exclamou.
Assenti.
— Devia vê-la em ação. — Pousei minha mão em seu braço. — O senhor estava certo. Decididamente recebemos a bênção de Durga. — Apontei para a serpente enroscada em meu braço. — Diga oi para Fanindra.
Ele estendeu um dedo para tocar a cabeça da cobra. Eu me encolhi, torcendo para que ela não se reanimasse, mas Fanindra permaneceu imóvel. Ele parecia hipnotizado pelos objetos. Puxei-lhe o braço.
— Venha, Sr. Kadam, vamos embora. Vou lhe contar tudo no carro. Além do mais, estou morrendo de fome.
O Sr. Kadam riu, radiante. Envolvendo cuidadosamente a gada em um cobertor, ele a guardou na traseira do carro. Então foi até o lado do carona e abriu a porta para mim e para Chris.
Entramos, afivelei meu cinto e partimos na direção de Hampi. Durga havia se manifestado e nós tínhamos um fruto dourado para buscar.
Estávamos prontos.