Chris estendeu a mão e tocou meu cabelo, mas então recuou.
— É você mesma desta vez, Dul?
— Bom, eu não sou um cadáver cheio de larvas de varejeira, se é o que você quer dizer.
Ele sorriu.
— Que alívio. Nenhum cadáver cheio de larvas de varejeira seria tão sarcástico.
— Bem, e como eu sei que é você de verdade? — indaguei.
Ele considerou minha pergunta por um momento e então baixou a cabeça para me beijar. Puxou-me de encontro ao seu peito, me segurando mais perto dele do que eu pensei ser possível, e seus lábios tocaram os meus. Seu beijo começou terno e suave, mas rapidamente tornou-se ávido. Suas mãos percorreram meus braços, meus ombros, e então seguraram meu pescoço. Envolvi sua cintura com os braços e me deliciei com o beijo.
Quando ele se afastou, meu coração martelava em resposta.
Assim que me vi capaz de falar novamente, disse:
— Mesmo que não seja você de verdade, eu fico com esta versão.
Ele riu e o alívio tomou conta de ambos.
— Dul, acho melhor você segurar minha mão pelo resto do caminho.
Sorri feliz para ele.
— Sem problema.
Exultante por ter meu Chris de volta, pude ignorar os chamados e lamentos suplicantes que vinham das passagens laterais.
Uma luz apareceu na extremidade oposta do túnel e seguimos para lá. Chris segurou minha mão com força até emergirmos da abertura e nos vermos bem longe dela. Ele parou perto de um riacho serpenteante que fazia uma curva por trás de algumas árvores.
Parecia meio-dia ali, qualquer que fosse aquele lugar, então decidimos fazer uma pausa e comer. Mordiscando uma barra de cereais, Chris disse:
— Prefiro evitar as árvores e ficar perto do leito do rio. Tenho esperanças de que, se o seguirmos um pouco mais, ele nos levará a Kishkindha.
Assenti com a cabeça e me perguntei o que mais estaria à nossa espera depois da próxima curva.
Sentindo-nos revigorados após o breve descanso, avançamos seguindo o riacho. A água corria na mesma direção que nós, o que, segundo Chris, significava que estávamos andando rio abaixo. A margem era cheia de pedras lisas do rio. Pegando uma pedra cinza, comecei a atirá-la para cima e para baixo enquanto andava e me perdi em pensamentos. Até sentir que o peso e a textura da pedra mudaram. Abri a mão e vi que ela havia se transformado em uma esmeralda lisa e reluzente. Parei e olhei para as pedras sob meus pés. Ainda eram cinzentas e foscas, mas, quando desapareciam sob a água, eu via joias tremeluzindo em seu lugar.
— Chris! Olhe ali. Debaixo d’água. — Apontei para as pedras preciosas que cintilavam ali embaixo. Quanto mais rio adentro eu olhava, maiores eram as pedras. — Está vendo ali? Um rubi do tamanho de um ovo de avestruz!
Assim que me inclinei para tirar um grande diamante da água, senti Ren me envolver com os braços e me puxar para trás.
Ele sussurrou junto ao meu rosto, apontando para o rio:
— Olhe adiante. Ali, com o canto do olho. O que você vê?
— Não estou vendo nada.
— Use sua visão periférica.
Bem perto do diamante, uma imagem tremeluzia levemente sob a água. Parecia um macaco branco, sem pelos. Seus braços longos estavam estendidos na minha direção.
— Ele estava tentando pegar você.
Atirei a esmeralda no riacho. A água redemoinhou e sibilou onde ela caiu, depois acalmou-se novamente, ficando tão lisa quanto seda. Quando eu olhava diretamente para as pedras preciosas, elas eram tudo o que eu via, mas pelo canto do olho podia distinguir macacos d’água por toda parte, boiando logo abaixo da superfície. Aparentemente eles usavam a cauda para ancorar seus corpos em raízes de árvores e plantas subaquáticas, como fazem os cavalos-marinhos.
— Estou achando que são kappa — disse Chris.
— O que são kappa?
— Demônios da Ásia dos quais minha mãe costumava me falar. Eles ficam na água, à espreita de crianças, para pegá-las e sugar-lhes o sangue.
— Macacos-cavalos-marinhos-vampiros? Você está falando sério?
Ele deu de ombros.
— Parece que são reais. Minha mãe falava sobre eles quando eu era pequeno. Contava que as crianças na China aprendiam a demonstrar respeito pelos mais velhos curvando-se. Diziam-lhes que, se não se curvassem, os kappa iriam pegá-las. Sabe, os kappa têm uma depressão no alto da cabeça que fica cheia de água. Precisam ter água nessa concavidade para sobreviver. A única maneira de se salvar se um deles o perseguir é se curvando.
— Como o ato de se curvar pode salvar alguém?
— Se você se curvar para um kappa, ele terá que repetir o gesto. Ao fazê-lo, a água no topo da cabeça derrama, deixando-o indefeso.
— Bem, se eles podem sair da água, por que não nos atacaram?
— Em geral atacam apenas crianças, ou pelo menos foi o que me disseram — refletiu ele. — Minha mãe contou que a avó dela costumava entalhar o nome das crianças em frutas ou pepinos e então os atirava na água antes de banhá-las no rio. Os kappa comiam os frutos e ficavam satisfeitos, assim não machucavam as crianças no banho.
— Sua mãe seguia essa tradição?
— Não. Éramos da realeza e tínhamos o banho preparado para nós. Além do mais, minha mãe não acreditava nessa história. Ela só nos contava para que compreendêssemos a essência, que era a de que todas as pessoas e coisas precisam ser tratadas com respeito.
— Gostaria de saber mais sobre sua mãe. Parece ter sido uma mulher muito interessante.
— E era — replicou ele baixinho. — Eu também gostaria que ela tivesse conhecido você. — Ele examinou a água e mostrou o demônio à espreita. — Aquele ali estava tentando pegar você, embora supostamente só ataquem crianças. Estes devem ter sido designados para proteger as pedras preciosas. Se você houvesse apanhado uma delas, eles a teriam puxado para debaixo d’água.
— Por que me puxar para debaixo d’água? Por que simplesmente não saltar sobre mim?
— Os kappa em geral afogam suas vítimas antes de tirar seu sangue. Eles se mantêm na água o máximo possível para se protegerem.