biavondy15: Continuando!
AV: Continuando!
Phet
Na manhã seguinte, resolvemos partir cedo. A temperatura tinha caído à noite, e a selva estava relativamente fresca e perfumada. Respirei fundo, me alonguei e inalei o cheiro forte e doce das árvores de olíbano. Depois do café da manhã, Diego foi para o meio da selva vestir as roupas novas que tinha criado com o Lenço Divino.
Chris remexeu as cinzas negras e frias da nossa fogueira com uma vareta comprida. Fiquei a uma boa distância dele, suficiente para não incomodá-lo. Essa nova relação de amizade era meio esquisita. Eu não sabia muito bem como falar com este Chris diante de mim. Queria que ele fosse igual ao meu Chris. Em muitos aspectos, ele era. Mas como se pode ser a mesma pessoa com um grande pedaço da vida faltando?
Chris continuava a ser encantador e gentil. Ainda gostava das mesmas coisas, mas já não era tão seguro de si. Diego sempre tinha sido o seguidor, e Chris, o líder, mas agora o papel deles havia se invertido. Diego estava confiante, tinha direção. Chris fora deixado para trás, como se não houvesse mais lugar para ele neste século.
Chris parecia não saber mais quem era nem como se encaixava no mundo. Era impressionante perceber sua falta de integração com o ambiente. Ele parecia não querer mais escrever poesia. Raramente tocava violão. Só lia literatura quando incentivado pelo Sr. Kadam e por mim. Tinha perdido sua noção de mim, sua convicção.
Ao tomar decisões, Chris parecia não se importar com nada e se contentava em fazer qualquer coisa que Diego quisesse, ou ir a qualquer lugar que o irmão sugerisse. Visitar Phet era apenas uma atividade, não uma maneira de recuperar a memória ou romper a maldição. Ele não resistia, mas também não estava procurando resolver a situação. Reconhecer que o fato de me perder tinha feito com que ele mudasse tanto assim dava o que pensar. Eu estava preocupada com ele.
Eu me agachei na frente dele e sorri.
— Você não vai trocar de roupa também? Ainda temos mais um dia inteiro de caminhada pela frente.
Chris jogou a vareta no círculo da fogueira e ergueu os olhos para mim.
— Não.
— Está bem. Mas os seus pés descalços não vão aguentar muito tempo. A selva está cheia de pedras afiadas e espinhos.
Ele caminhou até a mochila, pegou um frasco de protetor solar e entregou-o para mim.
— Passe isto no rosto e nos braços. Você está ficando cor-de-rosa.
Obediente, comecei a esfregar o creme nos braços e fiquei surpresa quando ele disse:
— Acho que hoje vou de tigre.
— O quê? Por que faria uma coisa dessas? Ah. Deve ser mais confortável para os seus pés. Não o culpo. Se eu tivesse a opção, provavelmente também ficaria na forma de tigre.
— Não é por causa da caminhada.
— Não? É por quê?
Naquele momento, Diego surgiu da selva com o cabelo penteado para trás. Chris deu um passo na minha direção, como se quisesse dizer mais alguma coisa, mas a aparência de Diego chamou minha atenção.
— Não é justo! Você tomou banho? — perguntei, só com uma pontinha de inveja na voz.
— Tem um riacho logo ali. Não se preocupe. Você vai poder tomar um bom banho quando chegarmos à casa de Phet.
Espalhei protetor solar no nariz.
— Ótimo. — Sorri só de imaginar. — Então, estou pronta. Vão na frente, vocês dois.
Voltei-me para Chris, que tinha se transformado em tigre e estava sentado, nos observando.
Diego ergueu a sobrancelha e retesou os músculos do maxilar ao olhar para o irmão.
— Tem algo errado? — indaguei a ele.
Diego se virou para mim com um sorriso e ofereceu a mão.
— Nadinha.
Peguei na mão dele e partimos. Só havíamos caminhado um ou dois minutos quando senti o corpo peludo de Chris roçar na minha outra mão. Passou pela minha cabeça a ideia de que Chris talvez se sentisse mais à vontade como tigre, da mesma maneira que tinha acontecido com Diego durante todos aqueles anos. Mordi o lábio, preocupada, e massageei o tufo de pelos ao redor do pescoço de Chris. Depois joguei o pensamento para o fundo da mente e comecei a falar sobre incenso de olíbano para Diego.
Caminhamos a manhã toda e então paramos para descansar e comer. Depois de tirar um cochilo na tarde quente, caminhamos mais umas duas horas e finalmente chegamos à clareira de Phet. O xamã estava do lado de fora, cuidando do jardim. Estava de quatro no chão, arrancando ervas daninhas e conversando com as plantas enquanto tratava delas com desvelo.
Antes mesmo de eu proferir um cumprimento, ele foi gritando:
— Olá, Dul-si! Encontros felizes acontecem com você!
Diego subiu no muro de pedra de Phet, me ergueu e me pousou com cuidado do outro lado. Chris saltou com facilidade ao nosso lado.
Eu me apressei até o jardim.
— Oi, Phet! É bom ver você também!
Phet me espiou por cima de um pé de alface e riu todo contente.
— Ah! A minha flor cresce resistente e forte.
Ele se levantou, limpou as mãos e me abraçou. Uma nuvenzinha de poeira flutuou no ar. O xamã ajustou suas vestes e as sacudiu. Torrões de terra rica e fértil caíram da parte da frente, sobre a qual ele estivera apoiado.
Phet tinha mais ou menos a minha altura, mas as costas dele eram encurvadas, provavelmente por causa da idade, por isso aparentava ser mais baixo. Dava para ver com clareza a careca que brilhava no meio do cabelo desgrenhado grisalho, que mais parecia um ninho de passarinho. Ele olhou para as botas de caminhada de Diego e seu olhar foi subindo devagar pela silhueta alta até que os olhos astutos pararam no rosto do irmão mais novo.
— Homem de tamanho considerável viaja a seu lado.
Ele deu um passo à frente para chegar bem pertinho de Diego, pôs as mãos em seus ombros e ergueu a cabeça até fitar os olhos dourados dele.
Diego suportou pacientemente o exame detalhado de Phet.
— Ah, entendo. Olhos profundos. Muitas cores aí. O pai de muitos.
Phet se virou para recolher as ferramentas de jardinagem enquanto eu fazia uma expressão de surpresa para Diego e dizia sem emitir som:
— Pai de muitos?
Diego mudou de posição, pouco à vontade. Seu pescoço corou quando eu o cutuquei com o cotovelo e murmurei:
— O que você acha que ele quis dizer com isso?
— Não sei, Dul. Acabo de conhecer o sujeito. Talvez ele seja louco — respondeu Diego, nervoso, como se estivesse tentando esconder algo.
Eu pressionei: