Mais tarde, nós dois nos acomodamos na adorável sala do pavão, que abrigava a impressionante coleção de livros do Sr. Kadam. Os livros estavam cuidadosamente arrumados em prateleiras de mogno polido. Escolhi um volume sobre a Índia que era cheio de mapas antigos.
— Sr. Kadam, o senhor pode me mostrar onde fica a caverna Kanheri? Phet disse que precisamos ir até lá para descobrir como livrar Chris da maldição.
Ele abriu o livro e apontou para um mapa de Mumbai.
— A caverna fica na parte norte da cidade, no Parque Nacional de Borivali, que agora é chamado de Parque Nacional Sanjay Gandhi. É formada por rocha basáltica e tem escrita antiga nas paredes. Eu já estive lá, mas nunca encontrei uma passagem subterrânea. Os arqueólogos estudam a caverna há anos, mas ninguém conseguiu encontrar ainda uma profecia escrita por Durga.
— E quanto ao Selo do qual Phet falou? O que é isso?
— O Selo é uma pedra especial que tem estado sob meus cuidados por todos esses anos. Eu o guardo em segurança, com muitos dos objetos da família de Ren, em um cofre de banco. Na verdade, preciso sair agora para pegá-la. Vou trazê-la para você esta noite. Telefone para seus pais adotivos hoje para que saibam que você está bem. Pode dizer a eles que vai ficar na Índia durante o verão como minha aprendiz nos negócios, se quiser.
Assenti. Eu precisava mesmo ligar para eles. Sarah e Mike provavelmente estavam se perguntando se a essa altura eu tinha sido comida por um tigre.
— Também preciso buscar na cidade algumas coisas que vocês vão precisar levar em sua jornada até a caverna. Por favor, sinta-se em casa e descanse. Tem almoço e jantar já preparados na geladeira. Se quiser nadar, não se esqueça de usar protetor solar. Fica guardado em um armário perto da piscina, ao lado das toalhas.
Subi as escadas e encontrei meu celular sobre a cômoda no quarto. Foi gentil da parte dele devolvê-lo depois do incidente na selva. Sentei-me em uma espreguiçadeira de veludo dourado, liguei para meus pais adotivos e conversamos longamente sobre o trânsito, a comida e o povo da Índia. Quando eles quiseram saber sobre a reserva de tigres, me esquivei à pergunta dizendo que Chris estava sendo bem cuidado. O Sr. Kadam tinha razão. A maneira mais fácil de explicar minha permanência na Índia era dizer que eu tinha aceitado trabalhar como estagiária dele até o fim do verão.
Depois de desligar, localizei a área de serviço e lavei minhas roupas e a colcha da minha avó. Em seguida, sem nada mais para fazer, resolvi explorar cada cômodo da casa. A área do porão abrigava uma academia de ginástica totalmente equipada, mas não com aparelhos modernos. O chão era coberto por uma espécie de tatame preto acolchoado. Metade do porão era uma construção subterrânea, cavada na encosta da colina, e o restante era aberto para o sol com imensas janelas do teto ao chão.
Uma porta de vidro deslizante se abria para um grande deque que levava à selva. A parede dos fundos era plana e revestida por lambris. Havia um painel de botões ao lado da porta. Pressionei o botão superior e uma seção dos lambris se abriu, revelando uma variedade de armas antigas, como machados, lanças e facas de vários tamanhos, pendendo de compartimentos especialmente feitos para elas. Tornei a pressionar o botão e ela se fechou.
Apertei o segundo botão e outra seção da parede se abriu, exibindo espadas. Cheguei mais perto para inspecioná-las. Eram muitos os diferentes estilos, indo de finos floretes a pesadas espadas de lâminas largas e uma que se encontrava especialmente guardada em uma caixa de vidro. Parecia uma espada samurai que certa vez eu vira em um filme.
Voltando ao primeiro andar, encontrei um home theater com um sistema de mídia de última geração e poltronas reclináveis de couro. Logo atrás da cozinha havia uma sala de jantar formal para banquetes, com piso de mármore, sanca e um candelabro deslumbrante. Ao lado da biblioteca do pavão, descobri uma sala de música com um reluzente piano de cauda preto e um impressionante sistema de som com centenas de CDs. Quase todos os artistas dos CDs pareciam indianos, mas também encontrei vários cantores americanos, inclusive Elvis Presley. Uma guitarra antiga de formato muito estranho pendia da parede e havia um sofá curvo de couro negro posicionado no meio da sala.
O quarto do Sr. Kadam também ficava no andar principal e se assemelhava muito à sala do pavão, com mobília de madeira polida e muitos livros. Tinha ainda alguns belos quadros e uma ensolarada área de leitura.
No alto da escada, no terceiro andar, encontrei um convidativo loft. Ali havia um pequeno conjunto de estantes e duas confortáveis cadeiras de leitura num ambiente que se debruçava sobre a ampla escadaria.
Também encontrei outro quarto grande, um banheiro e uma despensa. No meu andar, encontrei mais três quartos, fora o meu. Um era decorado em tons de rosa, para uma garota – talvez para Nilima, quando viesse visitá-los. O segundo parecia ser um quarto de hóspedes, com cores mais masculinas. Entrando no último quarto, vi portas de vidro que levavam à mesma varanda do meu. Sua decoração era simples, comparada à dos outros.
A mobília era de mogno escuro polido, mas não havia detalhes nem enfeites. As paredes eram lisas e as gavetas estavam vazias.
É aqui que Chris dorme?
Vendo uma escrivaninha a um canto, me aproximei e vi um maço de papel creme grosso, uma caneta-tinteiro antiga e um tinteiro. A folha de cima tinha uma nota escrita numa linda caligrafia.
Uma fita verde de cabelo que parecia muito ser uma das minhas estava perto do tinteiro. Espiei no armário e não encontrei nada – nenhuma roupa, nenhuma caixa, nenhum objeto pessoal.
Voltei para o andar de baixo e passei o resto da tarde estudando cultura, religião e mitologia indianas. Esperei até o estômago roncar para comer alguma coisa, desejando ter companhia. O Sr. Kadam ainda não voltara do banco e não havia o menor sinal de Chris.