Fanfic: Amarras do passado (Adaptada)- Terminada | Tema: Vondy

Onde estavam? E o que estavam fazendo? Pierce não vira ou ouvira Dulce e os meninos desde a noite, dois dias atrás, quando cometera o erro de levar Dulce para a cama. Como aquilo era possível, quando antes não conseguira escapar do baralho que faziam a não ser com seus fones de ouvido e música em volume alto? Mais importante, qual era a estratégia de Dulce agora? Não tentara mais atraí-lo para junto de Graham e não lançara aqueles grandes olhos azuis nele. Pensava que sua ausência o faria ansiar por ela? Se fosse assim, estava prestes a cair do cavalo.

Ouviu passos se aproximando, e seu pulso acelerou. Mas foi Aanahí que entrou no escritório. Um olhar ao rosto pálido e à boca comprimida lhe mostrou que tinha um problema mais imediato do que as astúcias da babá.

— Você não parece bem.

— Ora, obrigada, Christopher, esta foi uma avaliação muito gentil. E bom dia para você também.

Nem a voz tinha o sarcasmo habitual.

— Anahí, o que está acontecendo?

— Não me sinto mal.

O alívio o percorreu.

— Mas também não me sinto... ótima.

E foi substituído pelo alarme.

— Quer voltar para o chalé e dormir mais umas duas horas?

— Estamos atrasados demais. Você tem lido os pedidos até tarde da noite, posso ver pela pilha de rejeitados que encontro todas as manhãs. Vamos ter que trabalhar durante todo o fim de semana se quisermos cumprir o prazo e voltar para o escritório na segunda-feira. Telefonei para dizer a Alfonso que não venha, mas ele já alugou um veleiro e está louco para navegar. Pode fazer isto se eu ficar presa aqui.

— Prefiro perdê-la por algumas horas do que por um dia inteiro. Tire a manhã de folga e descanse.

— Obrigada, ficarei bem.

Pela primeira vez em sete anos, ele não acreditou nela, mas reconheceu sua expressão teimosa e não insistiu. Ainda não haviam chegado à metade dos pedidos. Tinham que terminar no prazo, assim, era necessário trabalhar.

Anahí se sentou e começou a digitar. Christopher fixou os olhos nos papéis na mão, mas o cérebro se recusou a funcionar. Estava atento aos ruídos de Dulce e dos meninos. Onde, diabos, estariam?

Anahí suspirou e ergueu os olhos.

— Por que não vai procurar por eles?

— Eles quem?

— Não se faça de idiota. Se quer saber o que Dulce e os meninos estão fazendo, vá encontrá-los.

— Está enganada se acha que me importo. — Mas o silêncio o distraía mais que os barulhos que faziam.

Anahí resmungou, incrédula.

 — Você não virou uma página enquanto escrevi duas cartas de rejeição.

— Estou tentando decifrar a letra deste camarada. — Não era totalmente mentira.

— Acho que está apavorado.

— Com o quê?

— Deixar Graham invadir sua vida.

— Está caducando, Anahí.

— Você perdeu todos a quem amou. Seus pais, Christian, Victor e agora Bel...

— Nunca amei Bel.

— Mas gostou dela, o relacionamento durou três anos.

— Ela passou mais tempo no exterior do que aqui, e não fazia exigências que interferissem nos meus planos para a Uckermann Ltd.

— Mas agora é irrelevante por causa do seu filho. Graham faz parte da sua vida. Lide com isto. A menos que esteja com medo de um bebê.

— Não. Estou. Com. Medo — enunciou, o queixo rijo.

— Bom, porque qualquer investimento... financeiro ou emocional... é arriscado. Estou começando a acreditar que sua coragem se limita ao setor financeiro. Pode ter sucesso em dobrar o valor da empresa de Victor, mas a que custo?

Ele irritou-se.

— Está tentando ser demitida?

— Não. Desculpe. Estou de mau humor e descontando em você. Talvez deva voltar para casa e dormir um pouco. Mas retomarei depois do almoço.

Christopher preocupou-se. Anahí jamais ficava doente.

— Quer que ligue para um médico?

— Não, só preciso tomar alguma coisa para a dor de cabeça e me deitar até fazer efeito. Então voltarei.

— Nesse caso, vá para casa e descanse.

Christopher precisava dela ali, e não só por causa do prazo já tão curto. Ela seria um escudo entre ele e Dulce, porque, pela primeira vez na vida, como aquela noite provara, não podia confiar em si mesmo. Colocou os fones de ouvido para afogar o silêncio.