Fanfics Brasil - Capítulo um ❀ Flor do campo

Fanfic: Flor do campo | Tema: Original


Capítulo: Capítulo um ❀

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            "Você pode cortar todas as flores, mas não pode impedir a chegada da primavera." - Pablo Neruda.


                                                                                            ❀  


Os raios dourados da manhã invadiram o quarto de Áurea, mas ela havia acordado muitas horas antes.


    Enquanto terminava de pôr suas botas de montaria  –  presente que o pai lhe dera em sua última visita – a jovem não conseguia esconder o sorriso.


   Colin viria até seu condado somente para vê-la! Ah! Como sentia saudades! Faziam cerca de seis meses que eles só se falavam por cartas e Áurea estava louca para sentir o calor de seus braços novamente.


  Olhou-se no espelho pela milésima vez. Ela sempre se preocupava demais com sua aparência quando Colin vinha visita-la. Queria causar uma boa impressão, mas não queria deixar de ser ela mesma. Era sempre uma loucura encontrar algo que fosse mais sofisticado, mas que continuasse no padrão daquilo que costumava usar.


  Naquele dia havia escolhido um de seus vestidos preferidos, o que tinha a saia mais rodada e as mangas bufantes num tamanho que não chegava a ser chamativo. O tecido do vestido era estampado com várias florezinhas sobre o fundo branco.


  Seu cabelo estava trançado como na maioria dos dias. Ninguém conseguia acreditar, até ela de vez em quando, que aqueles fios escuros já tinham sido loiros. Áurea se lembrava vagamente de quando os fios eram claros, mas com o passar dos anos seu cabelo foi escurecendo cada vez mais, até chegar no tom de castanho escuro que ela tinha até hoje.


  Olhou para a janela. Já estava na hora. Ela sorriu e correu, sem se importar com o que a mãe pensaria ao vê-la descendo as escadas daquela forma.


  Não aguentaria espera-lo nem por mais um segundo sequer.


_Áurea! – Sua mãe gritou.


  A jovem não diminuiu a velocidade até que chegou aos estábulos. Não era nada grande, apenas o suficiente para caber o cavalo dela e o do pai – quando ele ia visita-las com seu garanhão.


_Olá garoto! – Sussurrou para o animal enquanto se preparava para montar. – Espero que esteja com energia hoje.


  Mas no exato momento em que áurea montou em seu garanhão, Amélie surgiu com a cara vermelha de raiva. Não estava nada satisfeita com a conduta da filha. Porém ela sempre fora um espírito livre e Amélie rezava para que seu futuro marido compreendesse aquilo tão bem quanto William.


_Áurea Rosabella Beaumont! –  A moça estremeceu ao ser chamada pelo nome completo.  Ela sabia que sua mãe iria falar pelos próximos dez anos sobre como moças deveriam ser delicadas e blá blá blá. –  Desça daí agora!


_Não. – Respondeu simplesmente.


  O rosto de Amélie ficou ainda mais vermelho e Áurea teve a impressão de que havia fumaça saindo de seus ouvidos.


_Já não é suficiente seu pai ter lhe criado como um rapaz, você ainda tem que mostrar isso para todo o mundo?!


  Áurea suspirou, se não fizesse isso teria começado a rir.


_Mamãe, ninguém me verá, a senhora sabe disso.


_Não me venha com suas desculpas! Desça já deste cavalo e vá praticar piano!


  Áurea sorriu. Ela amava a mãe, contudo não iria obedecê-la desta vez. Então, com um revirar de olhos e um puxão nas rédeas de seu garanhão, a Srta. Beaumont voou em direção á costa, com os gritos de sua mãe tornando-se cada vez mais baixos atrás de si.


                                                                                   ❀


  Amarrando Cupcake – o cavalo – em uma árvore, Áurea olhou para a pequena colina a sua frente imaginando se Colin já a esperava. Não tinha como saber, mas só de pensar nele seu coração bateu mais forte.


  Não pôde evitar um sorriso ao recordar daqueles olhos castanhos, daquele rosto que ocupava todos os seus sonhos.


  Ela soltou uma risadinha de nervosismo e correu colina acima, sentindo o coração palpitar de tanta saudade. E ao chegar lá no topo e ver a silhueta dele contra a luz do sol, Áurea deixou escapar um suspiro. Como o amava!


_Colin! – Gritou.


  Ele se virou. Como ela, carregava um sorriso que mal cabia nos lábios. A brisa fraca balançava seu cabelo loiro sutilmente, parecia uma daquelas pinturas que sua mãe adorava.


  Não conseguiu se segurar, aquela onda de alegria era grande demais para que ela ficasse parada, e correu em direção aos braços de seu amado.


  Colin girou-a no ar, rindo diante dos gritinhos e gargalhadas que a outra deixou escapar.


_Eu senti tanta saudade! – Áurea exclamou.


_Não mais que eu!


  Eles riram.


_Você está ainda mais linda. ­­ – Continuou Colin. – Sabia que eu tenho a impressão de que a cada vez que te vejo, seu cabelo está mais escuro?


  Áurea riu.


_Meu cabelo está no mesmo tom de castanho escuro desde os meus treze anos, e o senhor sabe disso. – Brincou, balançando o dedo indicador.


  Colin puxou-a para debaixo de uma árvore. Era cedo, mas o sol estava quente naquela manhã.


_E então, o que tem feito durante esses meses? – Perguntou o rapaz.


  Áurea sabia que ele não estava de fato interessado, afinal ela lhe escrevera sobre tudo, mas parecia uma boa forma de começar uma conversa e ela não arruinaria isso. Sabia que Colin era tímido e, para ele, era difícil trocar mais que umas dez palavras com alguém. Tentava fazer com que ele se sentisse confortável e, se fosse necessário, fazia perguntas bobas, ou, como agora, respondia á perguntas que já haviam sido respondidas.


_Nada muito empolgante.  Os dias aqui em Hampshire são muito parados quando você ou papai estão longe.


  Ela soltou um suspiro triste. Havia mais de um ano que não via o pai. Se esse período se estendesse por mais três meses ela iria morrer.


_Não seja dramática, você tem sua mãe e os empregados.


  Áurea revirou os olhos e olhou para Colin.


_Não foi isso que eu disse. Eu não me sinto sozinha, sinto saudades. Isso é horrível, e tudo fica pior quando tenho que ficar indo para esses bailes.


_Nós sabíamos que isso iria acontecer.


_Sim, mas eu não imaginei que fosse ser tão...tão... –  Ela pisco algumas vezes, procurando a palavra certa. –  tão angustiante.


_Áurea, por favor, você pode conseguir alguém melhor que eu.


  A moça imediatamente lançou - lhe um olhar mortífero e Colin se arrependeu do que tinha dito.


  Ele amava Áurea, mais que tudo na vida. Porém havia mentido a vida toda para a jovem. Ela acreditava que ele não passava de um médico, quando era o duque de Sussex. Surpreendia-se em como ela nunca ouvira falar dele. Ou talvez até tivesse ouvido, porém jamais o reconheceria pelo verdadeiro sobrenome. Céus, ele havia mentido sobre seu próprio nome!


  Ela o odiaria eternamente, contudo Colin não poderia lhe contar a verdade. Ele tinha medo da reação de Áurea. Talvez fosse melhor que ela se casasse com outro homem. Um que fosse sincero e não um mentiroso como ele.


_Nunca mais repita isso Colin Watson! – Gritou uma versão furiosa da camponesa. – Você sabe que eu não conseguiria nem cogitar me casar com outro homem que não fosse você!


  Ela lhe lançou aquele olhar afável e sorriu. Por Deus, por que ela tinha que tornar aquilo tudo tão difícil?! Se ela sorrisse daquela forma mais uma vez ele não conseguiria seguir com seu plano.


  Colin virou o rosto quando a moça ia aproximando a mão do mesmo. Isso o machucou ainda mais, não sabia se teria coragem de seguir em frente.


  Áurea suspirou. Fazer aquilo a ajudava a ser mais paciente, coisa que, definitivamente, ela não era.


_Colin, por favor, não faça isso. Olhe para mim. – Pediu, contudo, ao ser ignorada, a pouca paciência de Áurea evaporou e ela tornou-se, realmente, uma Beaumont. – COLIN!


  Com um grito daqueles é claro que Colin obedeceu.


_Obrigada. – Prosseguiu ela, a irritação era clara em sua voz. – Olhe aqui, não pense que eu aturei você viajando e me deixando aqui sozinha, por dez anos, atoa! Eu quero ser sua esposa. – Ela segurou o rosto dele com as mãos. – Colin, quando você se vai é como se uma parte de mim fosse com você. E eu fico aqui, tendo um pouquinho de você apenas por meio de um pedaço de papel que demora muito para chegar. Ás vezes eu me pergunto se você realmente me ama.


  Diante daquela declaração Colin se sentiu um monstro pelo que ia falar.


_Então... então talvez... – Ele respirou fundo, tomando coragem. – Talvez seja melhor que isso acabe. – Despejou.


  O queixo da moça caiu, provavelmente foi abduzido para algum lugar nas profundezas da terra.


_O que... mas... – Ela não conseguiu segurar as lágrimas, mas se fez de forte, encarando-o como se não estivesse com o coração em frangalhos. –Não pode estar falando sério. Por favor, me diga que não está falando sério. – Sussurrou.


  Áurea olhou no fundo daqueles olhos castanhos procurando algum sinal de que ele não quisera dizer aquilo, que fora um pensamento repentino e sem importância que Colin, com toda sua insegurança, tinha decidido expressar erroneamente.


_Será melhor assim.


 Não. Não. Não. Não. Não.


 Ele não podia estar em seu estado perfeito! Como todos aqueles anos poderiam não ter mais importância?


  A primeira vez em que se viram, quando ele aparecera em seu jardim completamente perdido, quando tinham apenas oito anos; a amizade que construíram ao longo do tempo, até que perceberam que era muito mais que aquilo; o primeiro olhar; o primeiro abraço; o primeiro beijo; o primeiro “Eu te amo.”; e havia tanto mais!


  Ele não poderia ter fingido aquilo por tanto tempo, poderia? Áurea tinha passado a vida amando a pessoa errada?


  Não. Ela via em seus olhos. Algo estava errado. Muito errado.


_O que está acontecendo? – Ela perguntou. O olhar e a expressão firmes, como se não estivesse sentindo que iria morrer a qualquer instante, mas ao mesmo tempo tão amavelmente gentil que Colin ficou sem palavras.


  O que ele iria fazer? Conseguiria mentir para ela novamente? Não, não conseguiria. Aliás, a mentira era o motivo de ele querer acabar com aquilo tudo. Céus! O que ele estava fazendo?!


_Não está acontecendo nada. –Ele mentiu, engolindo em seco ao ver que ela não tinha sequer acreditado. –  Áurea, eu não posso fazer isso com você. Tirar-lhe a chance de ter uma vida boa com algum nobre...


_Você não está tirando de mim nenhuma droga de chance! – Ela guinchou.


_ ... e de ser verdadeiramente feliz. –  Ele completou como se nem ao menos estivesse ouvindo-a.


  Áurea ficou vermelha. Tão vermelha e tomada pela raiva quanto sua mãe estava quando ela deixou sua casa para ir vê-lo. Ela se levantou num salto e, pensou Colin, incorporou o espírito de Amélie.


_Olhe aqui, se você repetir essa idiotice mais uma vez eu juro que te jogo de algum precipício! Mas que coisa! É tão difícil entender que eu te amo?! – Ela gritava furiosa, deixando com que apenas as últimas três palavras saíssem baixas e levemente cortadas, carregadas de mágoa.


_Áurea eu...


_Vá embora. – Ela pediu meneando a cabeça enquanto as lágrimas corriam livremente pelo rosto.


  Colin soube que era melhor não continuar aquela discussão. O que ele tinha de dizer tinha sido dito. Ele já a tinha magoado demais, podia ver pela fragilidade com a qual havia dito as últimas palavras. Ele nunca, nunca, a via chorar. Nem ele nem ninguém. Áurea era sempre forte e decidida, de modo que alguém, dificilmente, veria qualquer sombra de dúvida ou tristeza naquele rosto.


_Adeus. – Ele disse, por fim.


  E simplesmente foi.


  Enquanto chorava copiosamente ajoelhada na grama, Áurea teve medo de que aquele adeus fosse sincero.


                                                                                       ❀


  Áurea não estava ouvindo uma palavra sequer do discurso que sua mãe proclamava desde que ela chegara. Sentada no parapeito da janela a moça só conseguia reviver a discussão que tivera mais cedo.


  Aquele não era Colin. Algo o estava atormentando. E essa convicção era algo que partia mais o coração da moça que qualquer discussão que eles pudessem ter tido.


  Saber que seu amado estava por aí, com algo torturando-o, sem que ela pudesse fazer algo para ajudar, isso era como saber que seu pior pesadelo se tornou realidade. Só não era pior que a saudade que ela sentiria dele. E ela sentia, bem no âmago de seu ser, que ele não iria voltar.


_...e ainda tem aquela tal de Hathaway que pensa que é a dona da verdade e fica escrevendo absurdos sobre você! Mas é claro, se a senhorita me escutasse ela não teria do que falar!


  Áurea franziu a testa, ainda apoiando a cabeça nas mãos que, por sua vez, estavam apoiadas nas coxas.


_Do que a senhora está falando mamãe? – Perguntou, rezando para que sua mãe não percebesse que ela não tinha ouvido nada do que dissera.


_Veja você mesma. – Ela disse com amargura.


  Áurea ergueu-se e pegou o pedaço de papel amassado da mão estendida de Amélie.


   Nesta temporada de bailes há, de fato, muitas moças talentosas que merecem atenção. Esta autora teve o prazer de conhecer muitas delas, como a senhorita Sophie Mullings, que é uma perfeita dama.


  Todavia há sempre exceções, e a exceção neste caso é a senhorita Beaumont, a filha bastarda do duque.


  A ilegitimidade de filiação já seria suficiente para afastar os pretendentes, porém a jovem age como um rapaz e rejeita qualquer um que ouse se aproximar. Se não fosse pela extrema beleza que, esta autora deve admitir, a senhorita Áurea possui, a dita cuja seria um caso perdido.


  Mas talvez esteja na hora da senhorita Áurea começar a se preocupar, pois Elizabeth McCabot será apresentada para a sociedade dentro de algumas semanas e já existem muitos rapazes interessados em um compromisso com a jovem.


  É bom lembrar que flores murcham com o passar do tempo, e, definitivamente, esta regra é válida inclusive para as flores campestres.


Por Poppy Hathaway


  Áurea não sabia o que dizer.


  Poppy Hathaway era colunista?! Acabou perguntando isso á mãe, pois jurava que a senhorita Hathaway era apenas uma mulher tentando sobreviver á sociedade com suas duas irmãs gêmeas, Holly e Molly.


_Você conversou com essa corrompida?! – Amélie gritou, completamente fora de si.


_Mas ela parecia tão amigável!


_Áurea, minha filha, quantas vezes eu já não lhe pedi para conversar apenas com seus pretendentes?!


_Mamãe, ela falou comigo! Se eu não respondesse seria rude de minha parte!


  Amélie deixou-se cair na poltrona da sala, massageando as têmporas.


  A família Hathaway era composta, inicialmente, por Lucy e Edward Hathaway. Áurea não havia conhecido Lady Hathaway, mas aquela história era muito conhecida e ela não pôde evitar ouvi-la durante alguns dos bailes que havia ido.


  O que ela sabia era que  Lucy havia morrido no parto das trigêmeas, deixando o conde sozinho com três meninas para criar. Sendo assim, ele casou-se novamente com Harriet, uma moça do campo como Áurea, aparentemente a pessoa mais maldosa e arrogante que o conde poderia ter escolhido. Pois bem, Harriet fez questão de infernizar a vida de Poppy, Holly e Molly até o dia em que Edward faleceu e as três foram expulsas de sua própria casa. Desde então Poppy, a mais velha das três, se dedicava a cuidar das irmãs.


  Portanto, pensou Áurea, ela deveria ser uma pessoa boa. No entanto talvez os anos de convivência com a condessa de Kent tenham feito com que Poppy amargasse.


  Ela não devia ter conversado com Poppy, havia pensado que tinha uma amiga, quando aquele mulher era apenas uma cobra pronta para dar o bote.


_ É bom lembrar que flores murcham com o passar do tempo, e, definitivamente, esta regra é válida inclusive para as flores campestres. – Áurea citou. – O que ela quis dizer com isso?


_O que? – Amélie indagou, exausta.


  Áurea repetiu.


_Ela está se referindo á você. Quis dizer que o tempo passa, que você não será sempre jovem e que os pretendentes não estarão sempre aos seus pés. ­– Respondeu a mais velha, ainda massageando as têmporas, os olhos fechados e os lábios crispados.


  Áurea releu o trecho. Inclusive para as flores campestres, ela tinha escrito. Então era assim que ela via Áurea? Como uma flor do campo? Isso era para parecer ruim?


  Ela também tinha dito algo sobre Elizabeth e sobre pretendentes, mas Áurea realmente não havia se importado com aquilo. Ela não tinha medo da meia-irmã, tinha era um grande ressentimento.


_Querida, vá se arrumar. – Amélie disse, parecendo estar em alguma espécie de transe. _ Já está tudo pronto para viajarmos até Londres, para o baile anual de Caroline.


  Áurea obedeceu. As coisas estavam muito confusas para as duas ultimamente e, certamente, o baile anual de Lady Bell as animaria.


  Caroline Bell e Amélie Beaumont eram muito amigas, Áurea não sabia exatamente quanto tempo fazia, apenas que era muito. Ela deveria estar empolgada para ir ao tal baile, mas a verdade era que aquelas festas eram muito enfadonhas, na opinião da moça.


  Infelizmente não havia muito para ser feito. Ela teria que se aprontar e gastar dias de viagem apenas par ir naquela festa, que era o último lugar que ela queria ir.


                                                                                           ❀ 


 



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Autor(a): TrisDosAnjos

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