Fanfic: 𝔸𝕋ℝ𝔼𝕍𝕀-𝕄𝔼 a chamar-lhe Pai (CONCLUÍDA) | Tema: Cristianismo, Islamismo, Fé, Amor
Então, certo domingo, não me senti com muita vontade de ir.
Telefonei aos Old e dei algumas desculpas. Parecia uma coisa
mínima. Mas quase instantaneamente comecei a sentir-me mal. O
que era? Andei pela casa inquietamente verificando o trabalho dos
criados. Tudo estava em ordem, entretanto tudo parecia fora de
ordem.
Então fui para meu quarto e ajoelhei-me para orar. Depois de
algum tempo Mamude entrou, tão silenciosamente que não percebi
sua presença até sentir sua mãozinha suave na minha.
— Mamãe, a senhora está bem? — perguntou ele. — A
senhora está com um rosto tão engraçado! — Sorri, assegurando-lhe
que sim, que estava bem.
— Bem, a senhora fica andando por aí procurando, como se
tivesse perdido alguma coisa.
Ele se foi, saltitando corredor abaixo. Então parecia que eu
tinha perdido algo? Mamude tinha razão. E eu sabia o que havia
perdido. Havia perdido o sentimento da glória de Deus. Ela havia
desaparecido! Por quê? Será que tinha algo que ver com o não ir à
reunião na casa dos Old? Ou não ter comunhão quando dela
precisava?
Com um sentimento de urgência telefonei para Ken e disse
que estaria lá, afinal de contas.
Que diferença! Senti imediatamente, realmente senti, a volta
do calor à minha alma. Fui à reunião como prometera. Nada
incomum aconteceu. Entretanto, sabia que de novo estava
andando em sua glória. Ken aparentemente tinha tido razão. Eu
precisava de comunhão. Havia aprendido minha lição. Desse dia
em diante tomei a resolução de assistir às reuniões regularmente a
menos que o próprio Jesus me dissesse para não ir.
À medida que me aproximava mais de Deus, um passo aqui, outro
ali, percebi que tinha mais fome de sua Palavra, a Bíblia. Todos os
dias assim que me levantava, começava a ler a Bíblia com um
sentimento constante de novidade. A Bíblia tornava-se viva para
mim, iluminando-me o dia, derramando luz em cada passo que eu
devia dar. Era, de fato, meu perfume adorável. Mas aqui, também,
descobri uma coisa estranha. Certo dia Mamude e eu devíamos ir
visitar sua mãe e passar o dia com ela. Fui para a cama tarde na
noite anterior e não me sentia com vontade de levantar-me de
madrugada a fim de passar uma hora com a Bíblia, de modo que
disse a Raisham para acordar-me com o chá logo antes do horário
em que devíamos sair.
Nessa noite não dormi nada bem. Fiquei rolando, retorcendo-me
na cama e tive sonhos ruins. Quando Raisham entrou, eu
estava exausta. Percebi que o dia todo não saiu bem.
Estranho! Que estava o Senhor me dizendo? Ele esperava que
eu lesse a Bíblia todos os dias?
Essa era a segunda vez em que eu parecia estar saindo da
glória da presença do Senhor.
Mas a experiência, não obstante, deixou-me um estranho
sentimento de emoção. Pois eu tinha o sentimento de estar vivendo,
sem perceber, uma verdade importante. Havia horas em que eu
estava na presença e experimentava aquele sentimento profundo
de alegria e paz, e havia horas em que perdia o sentimento de sua
presença.
Qual era o segredo? O que podia eu fazer para permanecer
perto dele?
Pensei nos momentos em que ele parecia inusitadamente perto,
retrocedi até meus dois sonhos e àquela tarde quando percebi a
fragrância esquisita no meu jardim de inverno. Pensei na primeira
vez que fui à casa dos Mitchell e nas vezes posteriores em que
havia lido a Bíblia regularmente, e ido às reuniões dominicais na
casa dos Old. Quase sempre essas foram horas em que sabia que o
Senhor estava comigo.
Também pensei nos momentos opostos, momentos em que
sabia haver perdido o sentimento da sua proximidade. Como é que
a Bíblia descrevia tal coisa? E não entristeçais o Espírito de Deus
(Efésios 4:30). É isso que acontecia quando eu repreendia os
criados? Ou quando falhava em alimentar meu espírito com a
leitura regular da Bíblia? Ou quando eu simplesmente não ia à
casa dos Old?
Parte do segredo em permanecer em sua companhia era a
obediência. Quando eu obedecia, então ele permitia que eu
permanecesse em sua presença.
Peguei a Bíblia e procurei no evangelho de João até encontrar
o versículo onde Jesus diz:
Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e
meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele
morada. João 14:23
Era dessa maneira que a Bíblia expressava o que eu estava
tentando dizer. Permanecer na glória. Era isso que eu estava
tentando fazer!
E o segredo era a obediência.
— Ó Pai —, orei — quero ser tua serva, como a Bíblia diz.
Obedecer-te-ei. Sempre pensei ser sacrifício desistir de minha
própria vontade. Mas não é sacrifício porque faz com que eu fique
perto de ti. Como é que tua presença poderia ser um sacrifício?
Eu ainda não havia acostumado com essas horas nas quais o
Senhor parecia falar tão direto à minha mente, como estou
convencida que ele o fez naquele instante. Quem, a não ser o
Senhor teria pedido que eu perdoasse a meu marido? Ama a teu
antigo marido, Bilquis. Perdoa-lhe.
Por alguns instantes, fiquei sentada, em estado de choque.
Sentir seu amor pelas pessoas em geral era uma coisa, mas amar o
homem que tanto me havia magoado?
— Pai, simplesmente não posso fazê-lo. Não desejo abençoar
Khalid, nem perdoar-lhe. — Lembrei-me de que uma vez havia
infantilmente pedido que o Senhor não convertesse a meu marido
para que ele não sentisse a mesma alegria que eu possuía. E agora
Deus pedia que eu amasse esse mesmo homem? Podia sentir a
raiva crescer dentro de mim enquanto pensava em Khalid e
rapidamente tirei-o do pensamento. — Talvez eu simplesmente
pudesse perdoar-lhe, Senhor? Isso não seria suficiente?
Era minha imaginação ou o brilho da presença do Senhor
pareceu diminuir? — Não posso perdoar a meu marido, Senhor.
Não tenho a capacidade para fazê-lo.
Meu jugo é suave e o meu fardo é leve (Mateus
11:30).
— Senhor, não posso perdoar-lhe! — clamei. Então fiz uma
lista mental de todas as coisas terríveis que ele havia praticado
contra mim. Ao fazer isso, outras feridas vieram à superfície:
mágoas que havia empurrado para o fundo da mente por serem
humilhantes demais até mesmo para pensar nelas. O ódio crescia
dentro de mim e agora sentia-me totalmente separada de Deus.
Amedrontada, gritei como uma criança perdida.
E rapidamente, milagrosamente ele estava ali comigo em meu
quarto. Jogando-me a seus pés, confessei meu ódio e minha
incapacidade de perdoar.
Meu jugo é suave e o meu fardo é leve.
Lenta e deliberadamente, entreguei meu fardo a ele. Abri mão de
meu ressentimento, de minha mágoa, de minha ira e coloquei tudo
em suas mãos. Subitamente percebi uma luz surgindo dentro de
mim, um brilho como o da aurora. Respirando livremente, corri até
a penteadeira e apanhei a foto com a moldura dourada; olhei para
o rosto de Khalid. Orei:
— Ó Pai, desfaze meu ressentimento e enche-me com teu
amor a Khalid em nome de meu Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Fiquei ali em pé um longo tempo, olhando para a fotografia.
Lentamente o sentimento negativo dentro de mim começou a
desaparecer. Em seu lugar surgiu um amor inesperado, um
sentimento de cuidado pelo homem da foto. Não podia acreditar.
Estava, de fato, desejando o bem para meu ex-marido.
— Ó, abençoa-o, Senhor e dá-lhe alegria, faze-o feliz em sua
nova vida. Ao exprimir esse desejo, uma nuvem negra desprendeuse
de mim. O peso foi removido de minha alma. Senti-me em paz e
descontraída.
Uma vez mais vivia em sua glória.
E uma vez mais não queria deixar sua companhia. Como
lembrete a mim mesma deste desejo, desci até o andar térreo,
embora fosse tarde da noite, e peguei um pouco de tinta henna.
Com essa tinta desenhei uma cruz grande nas costas de cada mão
a fim de sempre me lembrar.
Nunca, se estivesse em meu poder, jamais sairia de sua
companhia deliberadamente.
Levaria muito tempo, eu tinha certeza, para aprender a viver
no brilho de sua presença, mas era uma época de treinamento que
eu recebia com imensa emoção.
E então, certa noite, tive uma experiência aterradora. Eu não
sabia que iria ter notícias do outro lado.
Autor(a): grandeshistorias
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