Fanfic: 𝔸𝕋ℝ𝔼𝕍𝕀-𝕄𝔼 a chamar-lhe Pai (CONCLUÍDA) | Tema: Cristianismo, Islamismo, Fé, Amor
Dormia profundamente naquela noite de janeiro de 1967
quando acordei espantada pelo sacudir violento da cama.
Seria um terremoto? Meu coração encheu-se de um terror
indizível. Então percebi uma presença horrivelmente maligna em
meu quarto; uma presença definitivamente demoníaca.
De repente fui jogada para fora da cama; se no espírito ou no
corpo físico não sei. Mas fui jogada ao redor como uma palha num
furacão. O rosto de Mamude relampejou perante mim e meu
coração clamou por sua proteção.
Isto devia ser a morte, pensei, minha alma estremecendo. A
presença horrenda engolfou-me como uma nuvem negra e
instintivamente clamei àquele que era tudo para mim. — Oh,
Senhor Jesus! — Com isso fui sacudida poderosamente, como o
cão que estraçalha sua presa.
— Estou cometendo um erro ao clamar a Jesus? — gritei a
Deus, no espírito. Com isto uma grande força surgiu dentro de
mim e clamei: — Invocá-lo-ei! Jesus! Jesus! Jesus!
Pouco a pouco a devastação amainou. Fiquei deitada adorando e
louvando ao Senhor. Entretanto, por volta das 3:00 horas da
manhã, minhas pálpebras tornaram-se pesadas demais e voltei
para a cama.
Acordei de manhã quando Raisham me trouxe o chá. Fiquei
deitada por alguns instantes sentindo um tremendo alívio. Ao
fechar os olhos em oração, vi o Senhor Jesus Cristo de pé perante
mim. Trazia uma veste branca e uma capa escarlate. Sorriu
gentilmente para mim e disse:
— Não se preocupe; isso não acontecerá mais.
Percebi, então, que essa experiência cruciante fora satânica,
um teste permitido por Jesus para o meu próprio bem. Lembrei-me
do grito que havia partido de dentro de minha alma: — Invocarei o
seu nome, eu direi Jesus Cristo.
Meu Senhor ainda estava perante mim. Chegou a hora de
você ser batizada com água, Bilquis, acrescentou ele.
Batismo com água! Eu tinha ouvido as palavras bem
distintamente e não gostei do que ouvira.
Vesti-me rapidamente e pedi a Nur-jan e Raisham que não
deixassem ninguém importunar-me até a hora do almoço. Deixei-me
quando acordei espantada pelo sacudir violento da cama.
Seria um terremoto? Meu coração encheu-se de um terror
indizível. Então percebi uma presença horrivelmente maligna em
meu quarto; uma presença definitivamente demoníaca.
De repente fui jogada para fora da cama; se no espírito ou no
corpo físico não sei. Mas fui jogada ao redor como uma palha num
furacão. O rosto de Mamude relampejou perante mim e meu
coração clamou por sua proteção.
Isto devia ser a morte, pensei, minha alma estremecendo. A
presença horrenda engolfou-me como uma nuvem negra e
instintivamente clamei àquele que era tudo para mim. — Oh,
Senhor Jesus! — Com isso fui sacudida poderosamente, como o
cão que estraçalha sua presa.
— Estou cometendo um erro ao clamar a Jesus? — gritei a
Deus, no espírito. Com isto uma grande força surgiu dentro de
mim e clamei: — Invocá-lo-ei! Jesus! Jesus! Jesus!
Pouco a pouco a devastação amainou. Fiquei deitada adorando e
louvando ao Senhor. Entretanto, por volta das 3:00 horas da
manhã, minhas pálpebras tornaram-se pesadas demais e voltei
para a cama.
Acordei de manhã quando Raisham me trouxe o chá. Fiquei
deitada por alguns instantes sentindo um tremendo alívio. Ao
fechar os olhos em oração, vi o Senhor Jesus Cristo de pé perante
mim. Trazia uma veste branca e uma capa escarlate. Sorriu
gentilmente para mim e disse:
— Não se preocupe; isso não acontecerá mais.
Percebi, então, que essa experiência cruciante fora satânica,
um teste permitido por Jesus para o meu próprio bem. Lembrei-me
do grito que havia partido de dentro de minha alma: — Invocarei o
seu nome, eu direi Jesus Cristo.
Meu Senhor ainda estava perante mim. Chegou a hora de
você ser batizada com água, Bilquis, acrescentou ele.
Batismo com água! Eu tinha ouvido as palavras bem
distintamente e não gostei do que ouvira.
Vesti-me rapidamente e pedi a Nur-jan e Raisham que não
deixassem ninguém importunar-me até a hora do almoço. Deixei-me
ficar à janela pensando. O ar da manhã era fresco; pálidos
vapores subiam das fontes do jardim. Eu sabia que a significação
do batismo não era totalmente desconhecida ao mundo
muçulmano. Pode-se ler a Bíblia sem despertar muita hostilidade,
mas o sacramento do batismo é outra história. Para o muçulmano
esse é o sinal de que o convertido renunciou a sua fé islâmica a fim
de se tornar cristão. Para o muçulmano o batismo significa
apostasia.
De modo que aqui estava um ponto difícil. O assunto estava
bem claro. Sujeitar-me-ia ao temor de ser tratada como pária, ou
ainda pior: traidora; ou obedeceria a Jesus?
Antes de tudo eu tinha de ter a certeza de estar realmente
obedecendo ao Senhor, e não a alguma ilusão. Minha vida cristã
era recente demais para confiar em "vozes". Qual seria a melhor
forma de testar minha impressão senão mediante a leitura da
Bíblia? Portanto, voltei à Bíblia e li que o próprio Jesus havia sido
batizado no rio Jordão. Examinei novamente a carta de Paulo aos
Romanos onde ele se referia a essa cerimônia como morte e
ressurreição. O "velho homem" morre, e levanta-se uma nova
criatura, deixando todos os pecados para trás.
Bem, então estava decidido. Se Jesus foi batizado e se a
Bíblia exigia o batismo, estava claro que eu devia obedecer.
Nesse mesmo instante toquei a campainha chamando
Raisham.
— Por favor, diga ao Manzur para aprontar o carro — disse
eu. — Vou visitar os Old depois do almoço.
Em breve estava eu de novo sentada na sala de estar de
Marie e Ken. Falei precipitadamente, como sempre o fazia:
— Ken — disse eu, encarando-o de frente — tenho certeza de
que o Senhor me mandou ser batizada.
Ele olhou-me por um longo instante com o sobrolho franzido
tentando medir a profundeza de minha intenção. Então inclinou-se
para frente e disse, muito, muito seriamente:
— Bilquis, você está preparada para o que pode acontecer?
— Sim, mas... — comecei a responder. Ken interrompeu-me
em voz baixa.
— Bilquis, outro dia encontrei um paquistanense que me
perguntou se tinha sido varredor de ruas em meu próprio país. —
Olhou-me de frente. — Você compreende que desse momento em
diante você não seria mais a Begum Sheikh, a respeitada senhora
feudal com gerações de prestígio? Que dessa hora em diante você
estaria relacionada com os cristãos varredores de rua daqui?
— Sim — respondi. — Sei disso.
Suas palavras tornaram-se ainda mais firmes; fiz-me de aço a
fim de olhá-lo de frente.
— E você sabe — continuou ele — que o pai de Mamude pode
facilmente tirá-lo de você? Ele pode rotulá-la de tutora indigna.
Meu coração desfaleceu. Já me havia preocupado com isto,
mas ouvir Ken dizer tal coisa em voz alta fazia com que a
possibilidade se tornasse mais acentuada.
— Sim, eu sei, Ken — disse fracamente. — Compreendo que
muitas pessoas pensarão que estou cometendo um crime. Mas
desejo ser batizada, devo obedecer a Deus.
Nossa conversa foi interrompida pela chegada inesperada dos
Mitchell. Ken contou-lhes imediatamente que tínhamos algo
importante para resolver.
— Bilquis — disse ele — deseja ser batizada. Silêncio.
Synnove tossiu.
— Mas não temos um tanque para isso — disse David.
— E que tal a igreja de Peshawar? — perguntou Marie. —
Eles não têm um tanque?
Tive outro desfalecimento. Peshawar é a capital da província
fronteiriça noroeste. Em todo o sentido da palavra é um território
fronteiriço, uma cidade provinciana habitada por muçulmanos
conservadores notórios por sua rapidez em tomar ação. Bem,
pensei eu, aí vai qualquer sigilo que eu pudesse ter conservado.
Dentro de uma hora toda a cidade ficaria sabendo.
Ficou assentado que Ken faria os preparos a fim de irmos a
Peshawar. O pastor de lá nos mandaria notícias em um ou dois
dias.
Nessa noite meu telefone tocou. Era meu tio-avô Fateh. Eu amava
muito esse idoso cavalheiro. Ele sempre estivera tão interessado
por minha instrução religiosa.
— Bilquis? — a voz autoritária do meu tio parecia perturbada.
— Sim, tio?
— É verdade que você está lendo a Bíblia?
— Sim. — Perguntei a mim mesma como é que ele sabia. E
que mais teria ele ouvido?
Tio Fateh limpou a garganta: — Bilquis, jamais converse a
respeito da Bíblia com nenhum desses cristãos. Você sabe quão
argumentadores eles são. Seus argumentos sempre levam à
confusão.
Quis interrompê-lo mas suas palavras sobrepujaram as
minhas. — Não convide ninguém... — enfatizou —... ninguém à sua
casa sem me consultar! Se o fizer, você sabe que a família não
ficará do seu lado.
Tio Fateh fez silêncio por uns instantes. Aproveitei a
oportunidade.
— Tio, ouça-me. — Havia um silêncio forçado no outro lado
da linha. Fui em frente: — Tio, como o senhor pode lembrar-se,
ninguém jamais entrou em minha casa sem um convite meu. —
Meu tio lembraria, sim, senhor; todo mundo sabia que eu me
recusava a receber visitas sem arranjo prévio.
— O Senhor sabe — concluí — que verei a quem quiser. Até
logo, tio.
Desliguei. Seria isto um presságio das coisas que viriam do
restante da minha família? Se a reação do tio Fateh foi tão forte
pelo simples fato de saber que eu estava lendo a Bíblia, o que
aconteceria quando ele e o restante de minha família soubessem
do meu batismo? Essa idéia não me agradava nada.
Mas isso somente aumentava meu desejo de ser batizada
imediatamente. Eu não tinha certeza de poder resistir à pressão
das muitas pessoas a quem amava.
Ken não dava notícias.
Na manhã seguinte, ao ler a Bíblia, outra vez deparei-me com
a história do eunuco etíope a quem Filipe havia levado a
mensagem de Deus. A primeira coisa que o eunuco fez, ao ver a
água, foi saltar da carruagem a fim de ser batizado. Era como se o
Senhor estivesse dizendo novamente:
— Batiza-te, e faze-o agora!
Eu tinha certeza de que ele queria dizer que se eu esperasse
um pouco mais, algo ou alguém poderia impedir meu batismo.
Pulei da cama, compreendendo, com poder novo, que forças
enormes se dispunham a fim de impedir-me de fazer o que o
Senhor queria que eu fizesse. Pus a Bíblia na mesa, chamei as
criadas que rapidamente me vestiram e logo eu estava na estrada
em direção à casa dos Mitchel.
— David —, disse eu, ainda na soleira da porta — há alguma
resposta de Peshawar?
— Não, ainda não.
Minha voz elevou-se: — Você não pode batizar-me aqui, hoje?
Agora?
David franziu o sobrolho. Levou-me para dentro, tirando-me
ao ar frio da manhã. — Ora, Bilquis, não devemos nos precipitar
com um passo dessa envergadura.
— Devo obedecer ao meu Senhor. Ele diz-me que me
apresse —. Contei-lhe da leitura bíblica matinal, e a nova
insistência de que eu me batizasse antes que qualquer coisa me
acontecesse.
David estendeu as mãos desnorteado. — Devo levar Synnove
a Abbottabad esta tarde e não há nada que possa fazer agora,
Bilquis.
Pegou-me pelo braço: — Seja paciente, Bilquis. Tenho certeza
que receberemos notícias de Peshawar amanhã.
Dirigi-me à casa dos Old.
— Por favor, — clamei enquanto Ken e Marie me
cumprimentavam — há alguma maneira de eu ser batizada
imediatamente?
— Perguntamos a nosso pastor —, disse Ken, tomando-me
pelo braço e levando-me para a sala de estar. — Ele disse que o
assunto todo deve ser levado à sessão.
— Sessão? — ecoei. — O que é isto?
Ele explicou que o pastor desejava batizar-me mas para isso
devia ter a aprovação da junta administrativa da igreja. — Isto
pode levar vários dias — acrescentou ele — e nesse ínterim
qualquer coisa pode acontecer.
— Sim —, suspirei — a notícia se espalharia. — Minha mente
percorreu desesperadamente todas as circunstâncias possíveis.
Então Ken contou-me uma coisa espantosa. No meio da noite
ele havia ouvido a voz de um homem dizendo-lhe: "Abra sua Bíblia
na página 654. Que maneira estranha, pensou ele de dar uma
referência bíblica! Era Jó 13:14; o versículo parecia rebrilhar. Leu
o versículo que tanto o havia abençoado e que parecia dirigido a
mim. Começava assim: Tomarei a minha carne nos meus dentes, e
porei a vida na minha mão. Ainda que ele me mate, nele confiarei.
Será que eu estava pronta para isto? perguntava-me a mim
mesma. Minha confiança tinha essa fortaleza? Levantei-me e tomei
o braço de Ken. — Batize-me com água agora. E então, embora ele
me mate, estarei preparada. Estarei melhor no céu com meu
Senhor.
Amontoei-me numa cadeira e olhei para Ken, desculpando-me:
— Sinto muito, Ken. Estou ficando perturbada. Mas de uma
coisa sei: o Senhor disse que eu devia ser batizada agora. Vou
diretamente ao ponto: você vai ajudar-me ou não?
Ken sentou-se numa cadeira, passou a mão pelo cabelo cor
de areia.
— É claro —, disse ele, olhando para Marie. — Por que não
vamos à casa dos Mitchell e não verificamos se há alguma coisa
que podemos fazer?
vapores subiam das fontes do jardim. Eu sabia que a significação
do batismo não era totalmente desconhecida ao mundo
muçulmano. Pode-se ler a Bíblia sem despertar muita hostilidade,
mas o sacramento do batismo é outra história. Para o muçulmano
esse é o sinal de que o convertido renunciou a sua fé islâmica a fim
de se tornar cristão. Para o muçulmano o batismo significa
apostasia.
De modo que aqui estava um ponto difícil. O assunto estava
bem claro. Sujeitar-me-ia ao temor de ser tratada como pária, ou
ainda pior: traidora; ou obedeceria a Jesus?
Antes de tudo eu tinha de ter a certeza de estar realmente
obedecendo ao Senhor, e não a alguma ilusão. Minha vida cristã
era recente demais para confiar em "vozes". Qual seria a melhor
forma de testar minha impressão senão mediante a leitura da
Bíblia? Portanto, voltei à Bíblia e li que o próprio Jesus havia sido
batizado no rio Jordão. Examinei novamente a carta de Paulo aos
Romanos onde ele se referia a essa cerimônia como morte e
ressurreição. O "velho homem" morre, e levanta-se uma nova
criatura, deixando todos os pecados para trás.
Bem, então estava decidido. Se Jesus foi batizado e se a
Bíblia exigia o batismo, estava claro que eu devia obedecer.
Nesse mesmo instante toquei a campainha chamando
Raisham.
— Por favor, diga ao Manzur para aprontar o carro — disse
eu. — Vou visitar os Old depois do almoço.
Em breve estava eu de novo sentada na sala de estar de
Marie e Ken. Falei precipitadamente, como sempre o fazia:
— Ken — disse eu, encarando-o de frente — tenho certeza de
que o Senhor me mandou ser batizada.
Ele olhou-me por um longo instante com o sobrolho franzido
tentando medir a profundeza de minha intenção. Então inclinou-se
para frente e disse, muito, muito seriamente:
— Bilquis, você está preparada para o que pode acontecer?
— Sim, mas... — comecei a responder. Ken interrompeu-me
em voz baixa.
— Bilquis, outro dia encontrei um paquistanense que me
perguntou se tinha sido varredor de ruas em meu próprio país. —
Olhou-me de frente. — Você compreende que desse momento em
diante você não seria mais a Begum Sheikh, a respeitada senhora
feudal com gerações de prestígio? Que dessa hora em diante você
estaria relacionada com os cristãos varredores de rua daqui?
— Sim — respondi. — Sei disso.
Suas palavras tornaram-se ainda mais firmes; fiz-me de aço a
fim de olhá-lo de frente.
— E você sabe — continuou ele — que o pai de Mamude pode
facilmente tirá-lo de você? Ele pode rotulá-la de tutora indigna.
Meu coração desfaleceu. Já me havia preocupado com isto,
mas ouvir Ken dizer tal coisa em voz alta fazia com que a
possibilidade se tornasse mais acentuada.
— Sim, eu sei, Ken — disse fracamente. — Compreendo que
muitas pessoas pensarão que estou cometendo um crime. Mas
desejo ser batizada, devo obedecer a Deus.
Nossa conversa foi interrompida pela chegada inesperada dos
Mitchell. Ken contou-lhes imediatamente que tínhamos algo
importante para resolver.
— Bilquis — disse ele — deseja ser batizada. Silêncio.
Synnove tossiu.
— Mas não temos um tanque para isso — disse David.
— E que tal a igreja de Peshawar? — perguntou Marie. —
Eles não têm um tanque?
Tive outro desfalecimento. Peshawar é a capital da província
fronteiriça noroeste. Em todo o sentido da palavra é um território
fronteiriço, uma cidade provinciana habitada por muçulmanos
conservadores notórios por sua rapidez em tomar ação. Bem,
pensei eu, aí vai qualquer sigilo que eu pudesse ter conservado.
Dentro de uma hora toda a cidade ficaria sabendo.
Ficou assentado que Ken faria os preparos a fim de irmos a
Peshawar. O pastor de lá nos mandaria notícias em um ou dois
dias.
Nessa noite meu telefone tocou. Era meu tio-avô Fateh. Eu amava
muito esse idoso cavalheiro. Ele sempre estivera tão interessado
por minha instrução religiosa.
— Bilquis? — a voz autoritária do meu tio parecia perturbada.
— Sim, tio?
— É verdade que você está lendo a Bíblia?
— Sim. — Perguntei a mim mesma como é que ele sabia. E
que mais teria ele ouvido?
Tio Fateh limpou a garganta: — Bilquis, jamais converse a
respeito da Bíblia com nenhum desses cristãos. Você sabe quão
argumentadores eles são. Seus argumentos sempre levam à
confusão.
Quis interrompê-lo mas suas palavras sobrepujaram as
minhas. — Não convide ninguém... — enfatizou —... ninguém à sua
casa sem me consultar! Se o fizer, você sabe que a família não
ficará do seu lado.
Tio Fateh fez silêncio por uns instantes. Aproveitei a
oportunidade.
— Tio, ouça-me. — Havia um silêncio forçado no outro lado
da linha. Fui em frente: — Tio, como o senhor pode lembrar-se,
ninguém jamais entrou em minha casa sem um convite meu. —
Meu tio lembraria, sim, senhor; todo mundo sabia que eu me
recusava a receber visitas sem arranjo prévio.
— O Senhor sabe — concluí — que verei a quem quiser. Até
logo, tio.
Desliguei. Seria isto um presságio das coisas que viriam do
restante da minha família? Se a reação do tio Fateh foi tão forte
pelo simples fato de saber que eu estava lendo a Bíblia, o que
aconteceria quando ele e o restante de minha família soubessem
do meu batismo? Essa idéia não me agradava nada.
Mas isso somente aumentava meu desejo de ser batizada
imediatamente. Eu não tinha certeza de poder resistir à pressão
das muitas pessoas a quem amava.
Ken não dava notícias.
Na manhã seguinte, ao ler a Bíblia, outra vez deparei-me com
a história do eunuco etíope a quem Filipe havia levado a
mensagem de Deus. A primeira coisa que o eunuco fez, ao ver a
água, foi saltar da carruagem a fim de ser batizado. Era como se o
Senhor estivesse dizendo novamente:
— Batiza-te, e faze-o agora!
Eu tinha certeza de que ele queria dizer que se eu esperasse
um pouco mais, algo ou alguém poderia impedir meu batismo.
Pulei da cama, compreendendo, com poder novo, que forças
enormes se dispunham a fim de impedir-me de fazer o que o
Senhor queria que eu fizesse. Pus a Bíblia na mesa, chamei as
criadas que rapidamente me vestiram e logo eu estava na estrada
em direção à casa dos Mitchel.
— David —, disse eu, ainda na soleira da porta — há alguma
resposta de Peshawar?
— Não, ainda não.
Minha voz elevou-se: — Você não pode batizar-me aqui, hoje?
Agora?
David franziu o sobrolho. Levou-me para dentro, tirando-me
ao ar frio da manhã. — Ora, Bilquis, não devemos nos precipitar
com um passo dessa envergadura.
— Devo obedecer ao meu Senhor. Ele diz-me que me
apresse —. Contei-lhe da leitura bíblica matinal, e a nova
insistência de que eu me batizasse antes que qualquer coisa me
acontecesse.
David estendeu as mãos desnorteado. — Devo levar Synnove
a Abbottabad esta tarde e não há nada que possa fazer agora,
Bilquis.
Pegou-me pelo braço: — Seja paciente, Bilquis. Tenho certeza
que receberemos notícias de Peshawar amanhã.
Dirigi-me à casa dos Old.
— Por favor, — clamei enquanto Ken e Marie me
cumprimentavam — há alguma maneira de eu ser batizada
imediatamente?
— Perguntamos a nosso pastor —, disse Ken, tomando-me
pelo braço e levando-me para a sala de estar. — Ele disse que o
assunto todo deve ser levado à sessão.
— Sessão? — ecoei. — O que é isto?
Ele explicou que o pastor desejava batizar-me mas para isso
devia ter a aprovação da junta administrativa da igreja. — Isto
pode levar vários dias — acrescentou ele — e nesse ínterim
qualquer coisa pode acontecer.
— Sim —, suspirei — a notícia se espalharia. — Minha mente
percorreu desesperadamente todas as circunstâncias possíveis.
Então Ken contou-me uma coisa espantosa. No meio da noite
ele havia ouvido a voz de um homem dizendo-lhe: "Abra sua Bíblia
na página 654. Que maneira estranha, pensou ele de dar uma
referência bíblica! Era Jó 13:14; o versículo parecia rebrilhar. Leu
o versículo que tanto o havia abençoado e que parecia dirigido a
mim. Começava assim: Tomarei a minha carne nos meus dentes, e
porei a vida na minha mão. Ainda que ele me mate, nele confiarei.
Será que eu estava pronta para isto? perguntava-me a mim
mesma. Minha confiança tinha essa fortaleza? Levantei-me e tomei
o braço de Ken. — Batize-me com água agora. E então, embora ele
me mate, estarei preparada. Estarei melhor no céu com meu
Senhor.
Amontoei-me numa cadeira e olhei para Ken, desculpando-me:
— Sinto muito, Ken. Estou ficando perturbada. Mas de uma
coisa sei: o Senhor disse que eu devia ser batizada agora. Vou
diretamente ao ponto: você vai ajudar-me ou não?
Ken sentou-se numa cadeira, passou a mão pelo cabelo cor
de areia.
— É claro —, disse ele, olhando para Marie. — Por que não
vamos à casa dos Mitchell e não verificamos se há alguma coisa
que podemos fazer?
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Dirigimo-nos de volta pelas ruas tortuosas de Wah. Sentamo-nosem silêncio por alguns instantes com os Mitchell na sala deestar, em oração. Então Ken suspirando profundamente, inclinou-separa frente e disse a todos nós:— Tenho certeza de que todos nós concordamos em que Deustem dirigido Bilquis de uma maneira muito singular at&ea ...
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