Fanfics Brasil - HAVIA PROTEÇÃO? - Parte II 𝔸𝕋ℝ𝔼𝕍𝕀-𝕄𝔼 a chamar-lhe Pai (CONCLUÍDA)

Fanfic: 𝔸𝕋ℝ𝔼𝕍𝕀-𝕄𝔼 a chamar-lhe Pai (CONCLUÍDA) | Tema: Cristianismo, Islamismo, Fé, Amor


Capítulo: HAVIA PROTEÇÃO? - Parte II

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No instante em que cheguei,
meus criados rodearam-me. Nur-jan esfregava as mãos gordas; o
rosto de Raisham estava mais pálido do que de costume. O telefone
havia tocado o dia todo, os parentes tinham estado ao portão desde
cedo da manhã perguntando por mim. E no meio da conversa dos
criados, o telefone tocou de novo. Era Jamil, marido de minha irmã
que trabalhava para uma companhia de petróleo britânica. Eu
sempre havia pensado nele como um homem do mundo, mas
agora sua voz não parecia ter muita segurança.
— Bilquis, ouvi a coisa mais estranha e não posso
acreditar — disse ele, sem nenhuma cerimônia. — Um colega de
trabalho contou-me ter ouvido que você se tornou cristã. E claro
que ri dele e assegurei-lhe que isso jamais poderia acontecer.
A notícia realmente estava-se espalhando rapidamente! Eu
não disse nada.
— Bilquis! — A voz de Jamil insistia. — Você me ouviu?
— Sim.
— Essa história não é verdade, é?
— Sim.
Outro silêncio. Então:
— Bem, isso é bom —, retrucou Jamil. — Você perdeu mais
do que pode imaginar. E por quê? Por outro ponto de vista religioso.
É por isso. — Desligou.
Em dez minutos Tooni estava ao telefone soluçando:
— Mamãe, tio Nawaz acaba de me telefonar dizendo que
agora o pai de Mamude poderá levá-lo de volta. Nawaz diz que
tribunal algum permitirá que você fique com ele!
Tentei confortá-la mas ela desligou soluçando.
Mais tarde naquela noite enquanto Mamude e eu jantávamos
em meu quarto, Tooni e duas de minhas sobrinhas vieram à casa.
Fiquei espantada com a palidez de seus rostos.
— Por favor, sentem-se e jantem comigo — disse eu. —
Mandarei as criadas trazerem o seu jantar.
Tooni e minhas sobrinhas apenas tocaram na comida. Estava
contente em ver as duas jovens, mas era claro que elas não o
estavam em me ver. A conversa foi trivial e as três mulheres
olhavam para Mamude como que sugerindo que ele fosse brincar
lá fora. Só depois de ele sair é que uma das sobrinhas finalmente
inclinou-se para frente com ansiedade, dizendo:
— Tia, a senhora compreende o que isso significa para os
outros? — Debulhou-se em lágrimas. — A senhora pensou nos
outros? — Sua pergunta ecoava nos olhos castanhos da outra
sobrinha que estava sentada silenciosamente à minha frente.
Estendi a mão por cima da mesa e apertei a da garota. —
Minha querida — disse eu tristemente. — Não há nada que eu
possa fazer, a não ser obedecer.
Tooni agora olhava-me com olhos chorosos, e, como se não
tivesse ouvido nada do que eu dissera, suplicava:
— Mãe, faça a mala e vá embora. Vá enquanto há alguma
coisa ... ou alguém ... com quem sair.
Sua voz aumentou de volume. — A senhora sabe o que estão
dizendo por aí? A senhora será atacada. Seu próprio irmão pode
ser levado a agir contra a senhora! — E começou a soluçar. —
Meus amigos dizem que a senhora será assassinada, mamãe!
— Sinto muito, Tooni, mas não vou fugir — respondi
gentilmente. — Se eu sair agora haveria de correr para o resto da
vida. — A determinação crescia dentro de mim enquanto falava. —
Se desejar, Deus pode facilmente cuidar de mim em minha própria
casa. E ninguém, ninguém — disse eu — irá me expulsar —.
Endireitei-me na cadeira, de repente sentindo-me muito
dramática. — Que me venham atacar!
E então, enquanto me sentia tão ferozmente segura de mim
mesma, algo aconteceu. A presença afetuosa de Deus desapareceu.
Fiquei sentada, quase em pânico, esquecida das vozes que se
elevavam ao meu redor. Mas subitamente compreendi o que havia
acontecido. A minha velha natureza, cheia de orgulho e teimosia,
havia tomado o controle. Eu estava decidindo o que haveria de
acontecer, que ninguém me expulsaria de minha própria casa.
Afundei-me na cadeira, quase sem perceber que Tooni estava
falando comigo.
— ... está bem então, mamãe? — Clamou Tooni. — Então, a
senhora virou cristã. Mas deve também tornar-se mártir? —
Ajoelhou-se ao pé da cadeira e colocou a cabeça no meu ombro. —
A senhora não compreende que a amamos?
— É claro, querida, é claro — murmurei, acariciando-lhe o
cabelo. Em silêncio pedi o perdão de Deus por ser tão cabeça-dura.
Aonde quer que ele quisesse levar-me, estava bem, ainda que
significasse deixar meu lar. Ao dizer isto em meu coração, uma vez
mais senti a presença do Pai. O episódio todo tinha tomado
somente alguns minutos, mas à medida que as três mulheres
sentadas à minha frente continuavam a falar, eu estava consciente
de que a vida continuava em outro nível também. O Senhor estava
neste instante trabalhando comigo e ensinando-me. Ele estava no
processo de mostrar-me como permanecer em sua presença.
— ... então irá, não é mesmo? — Era a voz de Tooni e eu não
tinha idéia do que ela estava pedindo. Felizmente, ela
continuou. — Se o pai de Mamude vier buscá-lo, você pode deixá-lo
comigo. Eu não me tornei cristã — acrescentou enfaticamente.
Afinal as três moças se aquietaram. Perguntei-lhes se
gostariam de passar a noite comigo. Concordaram. Enquanto dizia
boa noite a minhas sobrinhas, pensei em como nossos papéis
haviam mudado. Antes eu era tão protetora e me preocupava com
elas; agora estávamos igualmente preocupadas umas com as
outras. Nessa noite orei:
— Senhor, é tão difícil falar com uma pessoa que não tem fé
em ti. Por favor, ajuda a minha família. Estou tão preocupada com
o bem-estar das pessoas que amo.
Ao adormecer, parecia ter novamente deixado o corpo e saído
flutuando. Encontrei-me de pé numa ladeira gramada e cercada de
pinheiros. Uma fonte sussurrava por perto. Ao meu redor estavam
anjos em tão grande quantidade que pareciam formar uma espécie
de nevoeiro. Continuava a ouvir um nome: "São Miguel!" Os anjos
deram-me coragem. E então estava de volta à cama. Levantei-me e,
ainda sentindo esse poder espiritual, fui ao quarto de Mamude.
Apontei o dedo para ele na cama; depois fui ao quarto de minha
filha e sobrinhas e fiz o mesmo. Voltei a meu quarto e caí de
joelhos.
— Senhor —, orei — tu tens-me dado muitas respostas, agora
mostra-me, suplico-te, o que vais fazer com Mamude. Gostaria de
dar alguma palavra de conforto a Tooni.
Senti-me impelida a abrir a Bíblia e a passagem seguinte
parecia saltar da página: Gênesis 22:12 — "Não estendas a mão
sobre o rapaz, e nada lhe faças;..."
— Oh, obrigado Pai! — Suspirei.
No café da manhã pude dar segurança a Tooni.
— Querida, nada vai acontecer a seu filho; não precisa
preocupar-se. — Mostrei-lhe o versículo da Escritura que me havia
sido dado. Quer minha fé tivesse sido contagiosa, quer Tooni
tivesse sido tocada pelo Espírito Santo, não sei. Mas seu rosto
descontraiu-se e ela sorriu pela primeira vez em dois dias.
Minha filha e sobrinhas saíram da casa com uma expressão
um pouco menos sombria naquele dia. Mas o fluxo de outros
parentes e amigos continuou.
Alguns dias mais tarde Raisham anunciou que sete pessoas,
todos amigos queridos e preocupados, estavam esperando embaixo
para ver-me. Não queria encará-los sem o Mamude. O menino
devia saber de tudo o que se estava passando. Fui buscá-lo e
juntos descemos para a sala de visitas. Eles estavam sentados
aprumados em formalidade, quase na ponta das cadeiras. Depois
do chá com bolinhos e conversa sem importância, um dos
presentes limpou a garganta. Fiz-me de aço para o que sabia estar
para vir.
— Bilquis —, disse um amigo que eu conhecia desde a
infância — nós a amamos e temos pensado no que você fez e temos
uma sugestão que pensamos será de alguma ajuda a você.
— Sim?
Ele inclinou-se para frente e sorriu.
— Não declare publicamente seu cristianismo.
— Você quer dizer que devo conservar minha fé em segredo?
— Bem ...
— Não posso —, disse eu. — Não posso fazer jogos com Deus.
Se devo morrer, morrerei.
Todos os sete pareciam ter-se chegado para mais perto de
mim. Um antigo amigo de meu pai olhava-me fixamente. Eu estava
a ponto de devolver seu olhar, mas contive-me a tempo. Eles
pensavam ter o meu bem-estar em mente.
— Sinto muito —, disse eu — simplesmente não posso fazer o
que pedem. — Expliquei que minha fé havia-se tornado a coisa
mais importante da vida em pouco mais de um mês. — Não posso
guardar segredo dela — disse eu. Citei-lhes a passagem bíblica
onde o Senhor diz: "Portanto, todo aquele que me confessar diante
dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai que está
nos céus; mas aquele que me negar diante dos homens, também
eu o negarei diante de meu Pai que está nos céus" (Mateus 20:32,
33).
— Mas —, disse outro cavalheiro idoso — você se encontra
em uma situação muito peculiar. Tenho certeza de que Deus não
se incomodaria se você conservasse silêncio. Ele sabe que você crê
nele. E isso é suficiente. — Ele citou a lei do Alcorão sobre a
apostasia. — Temos medo — disse ele — de que alguém a
assassine.
Sorri. Ninguém me acompanhou nesse gesto. Era uma
discussão inútil, como eles também perceberam. Ao se levantarem
para sair, deram-me o ultimato.
— Lembre-se, Bilquis, se tiver problemas, nenhum de seus
amigos e ninguém de sua família poderá ficar do seu lado. Os que
mais se importam com você terão de voltar-lhe as costas.
Assenti com a cabeça. Compreendia bem suas palavras.
Agora desejei que tivesse mandado Mamude ir brincar no jardim
para que não tivesse ouvido essa conversa. Ao olhar para ele,
sentado em sua cadeirinha ao meu lado, ele simplesmente
sorriu. — Está tudo bem — ele parecia dizer.
Ao prepararem-se para sair, o grupo estava quase chorando.
Uma amiga íntima de mamãe beijou-me. — Adeus —, disse ela.
Repetiu a palavra com uma ênfase estranha, desfez-se em lágrimas,
desprendeu-se de mim e saiu apressadamente.
A casa parecia um túmulo depois de eles terem ido embora.
Até o brincar de Mamude, geralmente barulhento, estava mais
calmo.
Passaram-se três semanas nas quais o único som em minha
casa eram as vozes abafadas dos criados. Se não fosse pelos
Mitchell, pelos Old e por nossas reuniões de domingo, pergunto-me
a mim mesma, se a "guerra-fria" não teria dado resultado.
Cada dia a linha de batalha da família podia ser vista mais
claramente. Podia ser percebida na raiva do rosto de um primo a
quem encontrei no bazar. Senti-a no olhar de desprezo de um
sobrinho por quem passei na rua em Rawalpindi. Estava na voz
gelada de uma tia que telefonou para dizer que não podia
comparecer a um almoço. O boicote havia começado. Meu telefone
permanecia silencioso, e ninguém puxava o cordão do sino do meu
portão. Nem um membro da família veio visitar-me, nem mesmo
para me repreender. Não podia evitar a lembrança de um versículo
do Alcorão (Sura 74:20): Se renunciaste à fé, certamente causaste
mal à terra e violaste os laços de sangue. Assim são aqueles sobre
quem Alá pôs a maldição, deixando-os destituídos da visão e da
audição.
De uma maneira muito real isto estava acontecendo. Eu tinha
violado os laços de sangue e indubitavelmente não veria mais
minha família nem dela mais ouviria.
A conversa e riso normal de minhas criadas havia-se
amainado enquanto entravam e saíam de meus aposentos. O
máximo que conseguia tirar delas era um "Sim, Begum Sahib".
E então, certa manhã, o boicote sofreu uma mudança
estranha. Ouvi um leve barulho na porta; voltando-me, vi Nur-jan
entrar silenciosamente a fim de fazer-me a toalete. Sua
exuberância havia desaparecido. Raisham entrou ainda mais
solene do que de costume. Ao começar suas tarefas, não falaram e
o olhar assombrado de seus rostos incomodava-me.
Esperei que dissessem alguma coisa mas Nur-jan continuou
suas tarefas em silêncio, sem a conversa costumeira. O rosto de
Raisham parecia de granito. Finalmente, com um pouco do antigo
fogo na voz, eu disse:
— Está bem, posso perceber que algo está errado. Digam-me
o que é.
Pararam de escovar enquanto me davam as novas. A não ser
Raisham, que estava à minha frente, todos os outros criados
cristãos, inclusive o Manzur, haviam fugido de casa no meio da
noite.



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Autor(a): grandeshistorias

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O que significava esta deserção? Quatro criados demitindo-se!Numa cidade como Wah onde era difícil encontrar qualquer tipo deemprego, era difícil compreender a decisão deles.É claro, fora o medo. Manzur estava com medo porque eupedira que ele conseguisse uma Bíblia para mim; e também mehavia levado de carro à cas ...


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