Fanfic: 𝔸𝕋ℝ𝔼𝕍𝕀-𝕄𝔼 a chamar-lhe Pai (CONCLUÍDA) | Tema: Cristianismo, Islamismo, Fé, Amor
O que significava esta deserção? Quatro criados demitindo-se!
Numa cidade como Wah onde era difícil encontrar qualquer tipo de
emprego, era difícil compreender a decisão deles.
É claro, fora o medo. Manzur estava com medo porque eu
pedira que ele conseguisse uma Bíblia para mim; e também me
havia levado de carro à casa de missionários cristãos. Os outros
três criados cristãos deviam ter sido contagiados pela preocupação
dele. Ouviram os rebôos do vulcão que logo entraria em erupção e
não quiseram ser apanhados na avalanche.
Mas e Raisham, esta criada cristã que agora começara de
novo a escovar-me o cabelo? Eu podia sentir-lhe as mãos graciosas
tremerem enquanto começava a trabalhar.
— E você? — perguntei.
Mordeu os lábios e continuou a escovar-me os cabelos. —
Talvez eu não devesse ficar —, disse ela suavemente. — Vai ser...
— Muito solitário — concluí sua afirmativa.
— Sim —, disse ela, engolindo em seco — e...
— Você está com medo. Bem, se você saísse, Raisham eu não
a culparia. Você tem de tomar sua própria decisão, assim como eu
fiz. Mas se ficar, lembre-se que Jesus disse que seríamos
perseguidos por amor dele.
Raisham assentiu com a cabeça, os olhos negros úmidos.
Tirou um alfinete de cabelo da boca e começou a fazer-me o
penteado.
— Eu sei —, disse ela tristemente.
Raisham ficou em silêncio durante o resto do dia. A
preocupação dela afetava a Nur-jan que estava perto da histeria.
Ao' acordar na manhã seguinte, faltava-me coragem para tocar a
campainha. Quem ainda estaria comigo? A porta abriu-se
lentamente e Nur-jan entrou. Então, na quase escuridão das horas
matinais de inverno, outra forma seguiu-se. Era Raisham!
Mais tarde, disse-lhe o quanto significava para mim o fato de
ela ter ficado. Ela corou-se.
— Begum Sahib Gi —, respondeu ela suavemente,
acrescentando a terceira saudação afetuosa que significa: Que a
senhora tenha vida longa. — Assim como a senhora serve ao
Senhor, da mesma forma a sirvo.
Com a deserção do restante dos meus criados cristãos, minha
casa tornou-se ainda mais quieta, em parte porque não coloquei
outros nos seus lugares. Minhas necessidades eram menores agora
que não recebia visitas da família. Decidi não empregar cristãos
por algum tempo. Encontrei um novo chofer, um muçulmano
chamado Fazad e um novo assistente de cozinheiro muçulmano,
mas não empreguei ninguém mais. Estava especialmente contente
por Mamude, que continuava a brincar alegremente dentro de casa
ou no jardim. Encorajei-o a convidar amigos da vila, e Mamude
aceitou essa sugestão rapidamente. A maioria das crianças era um
pouco mais velhas, de cinco ou seis anos; Mamude só tinha cinco.
Mamude, entretanto, era o líder natural; não acho que era somente
pelo fato de ele ser o anfitrião; setecentos anos de liderança
estavam nos genes da criança e não podiam ser negados como
também não podiam ser negados seus olhos límpidos e castanhos.
Quanto dessa herança estava eu colocando em perigo?
Quanto dos laços familiares a que o menino tinha direito estava eu
ameaçando? Ontem ele tinha perguntado de novo quando é que
seu primo Karim iria levá-lo para pescar. Karim tinha prometido
ensinar Mamude a pegar trutas que deslizavam por entre rochas
musgosas do riacho que corria por nosso jardim e mais adiante
juntava-se ao rio Tahmra.
— Mamãe! — Mamude havia perguntado. — Quando é que
Karim vem?
Olhei para o menino cujos olhos brilhavam, e simplesmente
não tive coragem de dizer-lhe que sua pescaria estava cancelada.
Mamude ainda não podia ter sido atraído de maneira significativa
para o Cristianismo. Lia histórias da Bíblia para ele. Ele gostava
tanto dessas histórias que mudei sua hora de dormir de 8 para as
7:30 a fim de termos tempo suficiente para elas. Mas o que eram
algumas histórias comparadas a uma viagem de pescaria? E amigos?
Numa cidade como Wah onde era difícil encontrar qualquer tipo de
emprego, era difícil compreender a decisão deles.
É claro, fora o medo. Manzur estava com medo porque eu
pedira que ele conseguisse uma Bíblia para mim; e também me
havia levado de carro à casa de missionários cristãos. Os outros
três criados cristãos deviam ter sido contagiados pela preocupação
dele. Ouviram os rebôos do vulcão que logo entraria em erupção e
não quiseram ser apanhados na avalanche.
Mas e Raisham, esta criada cristã que agora começara de
novo a escovar-me o cabelo? Eu podia sentir-lhe as mãos graciosas
tremerem enquanto começava a trabalhar.
— E você? — perguntei.
Mordeu os lábios e continuou a escovar-me os cabelos. —
Talvez eu não devesse ficar —, disse ela suavemente. — Vai ser...
— Muito solitário — concluí sua afirmativa.
— Sim —, disse ela, engolindo em seco — e...
— Você está com medo. Bem, se você saísse, Raisham eu não
a culparia. Você tem de tomar sua própria decisão, assim como eu
fiz. Mas se ficar, lembre-se que Jesus disse que seríamos
perseguidos por amor dele.
Raisham assentiu com a cabeça, os olhos negros úmidos.
Tirou um alfinete de cabelo da boca e começou a fazer-me o
penteado.
— Eu sei —, disse ela tristemente.
Raisham ficou em silêncio durante o resto do dia. A
preocupação dela afetava a Nur-jan que estava perto da histeria.
Ao' acordar na manhã seguinte, faltava-me coragem para tocar a
campainha. Quem ainda estaria comigo? A porta abriu-se
lentamente e Nur-jan entrou. Então, na quase escuridão das horas
matinais de inverno, outra forma seguiu-se. Era Raisham!
Mais tarde, disse-lhe o quanto significava para mim o fato de
ela ter ficado. Ela corou-se.
— Begum Sahib Gi —, respondeu ela suavemente,
acrescentando a terceira saudação afetuosa que significa: Que a
senhora tenha vida longa. — Assim como a senhora serve ao
Senhor, da mesma forma a sirvo.
Com a deserção do restante dos meus criados cristãos, minha
casa tornou-se ainda mais quieta, em parte porque não coloquei
outros nos seus lugares. Minhas necessidades eram menores agora
que não recebia visitas da família. Decidi não empregar cristãos
por algum tempo. Encontrei um novo chofer, um muçulmano
chamado Fazad e um novo assistente de cozinheiro muçulmano,
mas não empreguei ninguém mais. Estava especialmente contente
por Mamude, que continuava a brincar alegremente dentro de casa
ou no jardim. Encorajei-o a convidar amigos da vila, e Mamude
aceitou essa sugestão rapidamente. A maioria das crianças era um
pouco mais velhas, de cinco ou seis anos; Mamude só tinha cinco.
Mamude, entretanto, era o líder natural; não acho que era somente
pelo fato de ele ser o anfitrião; setecentos anos de liderança
estavam nos genes da criança e não podiam ser negados como
também não podiam ser negados seus olhos límpidos e castanhos.
Quanto dessa herança estava eu colocando em perigo?
Quanto dos laços familiares a que o menino tinha direito estava eu
ameaçando? Ontem ele tinha perguntado de novo quando é que
seu primo Karim iria levá-lo para pescar. Karim tinha prometido
ensinar Mamude a pegar trutas que deslizavam por entre rochas
musgosas do riacho que corria por nosso jardim e mais adiante
juntava-se ao rio Tahmra.
— Mamãe! — Mamude havia perguntado. — Quando é que
Karim vem?
Olhei para o menino cujos olhos brilhavam, e simplesmente
não tive coragem de dizer-lhe que sua pescaria estava cancelada.
Mamude ainda não podia ter sido atraído de maneira significativa
para o Cristianismo. Lia histórias da Bíblia para ele. Ele gostava
tanto dessas histórias que mudei sua hora de dormir de 8 para as
7:30 a fim de termos tempo suficiente para elas. Mas o que eram
algumas histórias comparadas a uma viagem de pescaria? E amigos?
Pouco a pouco os amigos de Mamude começaram a faltar.
Mamude não podia compreender isto, e quando tentei explicar, ele
olhou para mim intrigado.
— Mamãe — disse ele — a quem a senhora mais ama, a mim
ou a Jesus?
Que devia dizer? Especialmente agora quando ele se sentia
tão solitário. — Deus tem de vir em primeiro lugar, Mamude —,
disse eu, parafraseando a advertência do Senhor que a menos que
coloquemos a família depois dele, não somos verdadeiramente
seus. — Devemos colocar Deus em primeiro lugar —, disse eu —
até mesmo antes das pessoas que mais amamos no mundo.
Mamude parecia aceitar isso. Ele parecia estar ouvindo
enquanto eu lia a Bíblia para ele. Certa vez, depois de ler para ele o
versículo: "Vinde a mim todos vós que estais cansados e
sobrecarregados, e eu vos aliviarei", ouvi suas súplicas da hora das
sonecas: "Jesus, eu te amo e virei a ti, mas ... por favor, não me dê
descanso. Eu não gosto de descansar." Ele até colocava as mãos
em postura de oração, mas eu sabia que era difícil para ele ficar
sozinho e ver-me sozinha. Nem um parente, amigo ou conhecido se
desviava da rodovia Tronco Grande em direção à minha casa; o
telefone também não tocou mais.
Então às 3:00, de certa manhã, meu telefone branco ao lado
da cama, tocou. Procurei o aparelho com o coração batendo
fortemente. Ninguém telefonava a esta hora a não ser que tivesse
havido uma morte na família. Apanhei o fone e a princípio somente
ouvi um respirar pesado. Então três palavras foram-me atiradas
como pedradas:
— Infiel. Infiel. Infiel.
O fone emudeceu. Tornei a deitar-me. Quem seria? Um dos
fanáticos contra quem meus tios advertiam-me constantemente?
Que podiam fazer?
— Ó Senhor, tu sabes que não tenho medo de morrer. Mas
sou uma tremenda covarde. Não posso suportar a dor. Tu sabes
que desmaio quando o médico me dá uma injeção. Oh, oro para
que eu seja capaz de suportar a dor se ela vier —. Meus olhos
encheram-se de lágrimas. — Acho que não fui feita para mártir,
Senhor. Sinto muito. Simplesmente deixa-me andar contigo por
meio do que quer que venha em seguida.
O que veio em seguida foi uma carta anônima e ameaçadora:
"Sejamos claros. Há somente uma palavra que a descreva:
Traidora!" Então chegou outra carta e logo depois outra. Todas elas
continham advertências. Eu era vira-casaca e seria tratada como
tal.
Já pelo fim de uma tarde do verão de 1967, cerca de seis
meses depois de minha conversão, estava de pé no jardim com o
restos amassados de uma dessas cartas. Era particularmente
vitriólica, chamava-me pior que infiel: sedutora dos fiéis. Os
verdadeiros crentes, dizia a carta, tinham de queimar-me como se
queima a gangrena de um membro sadio.
Queimar-me? Seria isso mais que uma figura de linguagem?
Aprofundei-me no jardim por entre os canteiros de tulipas, jacintos
e alyssum. A primavera havia desabrochado em verão. Os
marmeleiros floresciam e as últimas pétalas brancas caíam das
pereiras. Voltei-me e olhei para a casa. "Não teriam coragem de
tocar em minha casa!" exclamei para mim mesma. Não
queimariam uma Begum! Mas, como se para confirmar que eu não
mais podia contar com a proteção da posição e da riqueza, recebi
uma visita. Uma criada anunciou:
— O general Amar espera para vê-la, Begum.
Meu coração deu um salto. Olhei pelo portão do jardim e lá
estava um carro cor de oliva do comando militar. O general Amar
era um amigo antigo e querido dos meus dias de exército. Durante
a Segunda Guerra Mundial, estive associada com ele e agora ele
era um dos generais de mais alta patente do exército
paquistanense. Tínhamo-nos conservado em contato através dos
anos. Particularmente enquanto meu marido foi Ministro do
Interior e trabalhou intimamente relacionado com ele. Viria ele,
também, condenar-me?
Logo podia ouvir-lhe os passos no gramado do jardim
enquanto vinha ao meu encontro, elegante num uniforme de cáqui
e botas de couro. Tomou-me a mão, inclinou-se e beijou-a. Minha
apreensão diminuiu. Evidentemente ele não vinha em missão de
combate.
Olhou para mim, os olhos negros brilhando
humoristicamente. Como sempre, o general foi direto ao assunto:
— É verdade o que o povo está dizendo?
— Sim —, disse eu.
— O que a levou a fazer isso?! — exclamou ele. — Você se
colocou numa situação muito perigosa! Ouvi rumores de que
algumas pessoas desejam matá-la!
Olhei para ele em silêncio.
— Está bem —, acrescentou ele sentando-se num banco do
jardim com o cinto de couro fazendo barulho. — Você sabe que sou
como um irmão para você?
— Espero que sim.
— E, como irmão, você sabe que sinto por você uma afeição
protetora?
— Espero que sim.
— Então, lembre-se de que minha casa estará sempre aberta
para você.
Sorri. Esta era a primeira coisa amável que ouvia em muito
tempo.
— Mas —, continuou o general — há algo que você precisa
saber. Esta oferta é pessoal. — Levou a mão a uma flor, puxou-a
para si arrebentando-a, então voltou-se para mim e
acrescentou: — Oficialmente, não haveria muito que eu pudesse
fazer, Bilquis.
— Eu sei —. Tomei a mão do general; levantamo-nos juntos,
passeamos pelo terraço em direção à casa. Enquanto andávamos
contei-lhe que as coisas não tinham sido fáceis.
— E não ficarão mais fáceis, minha querida —, disse meu
amigo com seu modo prático. Mais tarde, depois de eu ter
mandado vir chá para a sala de visitas, ele perguntou, com um
sorriso enigmático:
— Diga-me, Bilquis, por que você fez isso? Expliquei o que
tinha acontecido e descobri que o
general Amar estava ouvindo cuidadosamente. Que
extraordinário! Aqui estava eu, sem o perceber fazendo o que os
missionários chamavam de testemunhar. Estava falando de Cristo
a um muçulmano, e um muçulmano que era um alto funcionário.
E ele estava ouvindo! Duvido ter realmente alcançado o general
Amar naquela tarde, mas ao dizer-me adeus, meia hora mais tarde,
à luz do ocaso de verão, novamente pressionando os lábios contra
minha mão ele parecia meditativo.
— Lembre-se, Bilquis —, disse ele, vigorosamente — qualquer
hora em que precisar de minha ajuda ... tudo que puder fazer por
você como amigo ...
— Obrigada, Amar — disse eu.
Voltou-se, os saltos das botas fazendo barulho no ladrilho do
corredor e desapareceu na escuridão da noite que chegava, em
direção a seu carro de comando. E nossa visita solitária,
estranhamente triste, havia terminado. "Será que o verei de novo?"
pensei.
Mamude não podia compreender isto, e quando tentei explicar, ele
olhou para mim intrigado.
— Mamãe — disse ele — a quem a senhora mais ama, a mim
ou a Jesus?
Que devia dizer? Especialmente agora quando ele se sentia
tão solitário. — Deus tem de vir em primeiro lugar, Mamude —,
disse eu, parafraseando a advertência do Senhor que a menos que
coloquemos a família depois dele, não somos verdadeiramente
seus. — Devemos colocar Deus em primeiro lugar —, disse eu —
até mesmo antes das pessoas que mais amamos no mundo.
Mamude parecia aceitar isso. Ele parecia estar ouvindo
enquanto eu lia a Bíblia para ele. Certa vez, depois de ler para ele o
versículo: "Vinde a mim todos vós que estais cansados e
sobrecarregados, e eu vos aliviarei", ouvi suas súplicas da hora das
sonecas: "Jesus, eu te amo e virei a ti, mas ... por favor, não me dê
descanso. Eu não gosto de descansar." Ele até colocava as mãos
em postura de oração, mas eu sabia que era difícil para ele ficar
sozinho e ver-me sozinha. Nem um parente, amigo ou conhecido se
desviava da rodovia Tronco Grande em direção à minha casa; o
telefone também não tocou mais.
Então às 3:00, de certa manhã, meu telefone branco ao lado
da cama, tocou. Procurei o aparelho com o coração batendo
fortemente. Ninguém telefonava a esta hora a não ser que tivesse
havido uma morte na família. Apanhei o fone e a princípio somente
ouvi um respirar pesado. Então três palavras foram-me atiradas
como pedradas:
— Infiel. Infiel. Infiel.
O fone emudeceu. Tornei a deitar-me. Quem seria? Um dos
fanáticos contra quem meus tios advertiam-me constantemente?
Que podiam fazer?
— Ó Senhor, tu sabes que não tenho medo de morrer. Mas
sou uma tremenda covarde. Não posso suportar a dor. Tu sabes
que desmaio quando o médico me dá uma injeção. Oh, oro para
que eu seja capaz de suportar a dor se ela vier —. Meus olhos
encheram-se de lágrimas. — Acho que não fui feita para mártir,
Senhor. Sinto muito. Simplesmente deixa-me andar contigo por
meio do que quer que venha em seguida.
O que veio em seguida foi uma carta anônima e ameaçadora:
"Sejamos claros. Há somente uma palavra que a descreva:
Traidora!" Então chegou outra carta e logo depois outra. Todas elas
continham advertências. Eu era vira-casaca e seria tratada como
tal.
Já pelo fim de uma tarde do verão de 1967, cerca de seis
meses depois de minha conversão, estava de pé no jardim com o
restos amassados de uma dessas cartas. Era particularmente
vitriólica, chamava-me pior que infiel: sedutora dos fiéis. Os
verdadeiros crentes, dizia a carta, tinham de queimar-me como se
queima a gangrena de um membro sadio.
Queimar-me? Seria isso mais que uma figura de linguagem?
Aprofundei-me no jardim por entre os canteiros de tulipas, jacintos
e alyssum. A primavera havia desabrochado em verão. Os
marmeleiros floresciam e as últimas pétalas brancas caíam das
pereiras. Voltei-me e olhei para a casa. "Não teriam coragem de
tocar em minha casa!" exclamei para mim mesma. Não
queimariam uma Begum! Mas, como se para confirmar que eu não
mais podia contar com a proteção da posição e da riqueza, recebi
uma visita. Uma criada anunciou:
— O general Amar espera para vê-la, Begum.
Meu coração deu um salto. Olhei pelo portão do jardim e lá
estava um carro cor de oliva do comando militar. O general Amar
era um amigo antigo e querido dos meus dias de exército. Durante
a Segunda Guerra Mundial, estive associada com ele e agora ele
era um dos generais de mais alta patente do exército
paquistanense. Tínhamo-nos conservado em contato através dos
anos. Particularmente enquanto meu marido foi Ministro do
Interior e trabalhou intimamente relacionado com ele. Viria ele,
também, condenar-me?
Logo podia ouvir-lhe os passos no gramado do jardim
enquanto vinha ao meu encontro, elegante num uniforme de cáqui
e botas de couro. Tomou-me a mão, inclinou-se e beijou-a. Minha
apreensão diminuiu. Evidentemente ele não vinha em missão de
combate.
Olhou para mim, os olhos negros brilhando
humoristicamente. Como sempre, o general foi direto ao assunto:
— É verdade o que o povo está dizendo?
— Sim —, disse eu.
— O que a levou a fazer isso?! — exclamou ele. — Você se
colocou numa situação muito perigosa! Ouvi rumores de que
algumas pessoas desejam matá-la!
Olhei para ele em silêncio.
— Está bem —, acrescentou ele sentando-se num banco do
jardim com o cinto de couro fazendo barulho. — Você sabe que sou
como um irmão para você?
— Espero que sim.
— E, como irmão, você sabe que sinto por você uma afeição
protetora?
— Espero que sim.
— Então, lembre-se de que minha casa estará sempre aberta
para você.
Sorri. Esta era a primeira coisa amável que ouvia em muito
tempo.
— Mas —, continuou o general — há algo que você precisa
saber. Esta oferta é pessoal. — Levou a mão a uma flor, puxou-a
para si arrebentando-a, então voltou-se para mim e
acrescentou: — Oficialmente, não haveria muito que eu pudesse
fazer, Bilquis.
— Eu sei —. Tomei a mão do general; levantamo-nos juntos,
passeamos pelo terraço em direção à casa. Enquanto andávamos
contei-lhe que as coisas não tinham sido fáceis.
— E não ficarão mais fáceis, minha querida —, disse meu
amigo com seu modo prático. Mais tarde, depois de eu ter
mandado vir chá para a sala de visitas, ele perguntou, com um
sorriso enigmático:
— Diga-me, Bilquis, por que você fez isso? Expliquei o que
tinha acontecido e descobri que o
general Amar estava ouvindo cuidadosamente. Que
extraordinário! Aqui estava eu, sem o perceber fazendo o que os
missionários chamavam de testemunhar. Estava falando de Cristo
a um muçulmano, e um muçulmano que era um alto funcionário.
E ele estava ouvindo! Duvido ter realmente alcançado o general
Amar naquela tarde, mas ao dizer-me adeus, meia hora mais tarde,
à luz do ocaso de verão, novamente pressionando os lábios contra
minha mão ele parecia meditativo.
— Lembre-se, Bilquis —, disse ele, vigorosamente — qualquer
hora em que precisar de minha ajuda ... tudo que puder fazer por
você como amigo ...
— Obrigada, Amar — disse eu.
Voltou-se, os saltos das botas fazendo barulho no ladrilho do
corredor e desapareceu na escuridão da noite que chegava, em
direção a seu carro de comando. E nossa visita solitária,
estranhamente triste, havia terminado. "Será que o verei de novo?"
pensei.
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Autor(a): grandeshistorias
Este autor(a) escreve mais 4 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?
+ Fanfics do autor(a)Prévia do próximo capítulo
Pela primeira vez, durante o boicote, em meio às cartas,telefonemas anônimos e advertências de velhos amigos, estavaaprendendo a viver de hora em hora. Era o oposto de preocupar-me.Era esperar para ver o que ele ia permitir. Eu tinha a certeza deque nada acontecia sem sua permissão. Eu sabia, por exemplo,que a pressão contra mim devia tornar- ...
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