Fanfics Brasil - O BOICOTE - Parte II 𝔸𝕋ℝ𝔼𝕍𝕀-𝕄𝔼 a chamar-lhe Pai (CONCLUÍDA)

Fanfic: 𝔸𝕋ℝ𝔼𝕍𝕀-𝕄𝔼 a chamar-lhe Pai (CONCLUÍDA) | Tema: Cristianismo, Islamismo, Fé, Amor


Capítulo: O BOICOTE - Parte II

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Pela primeira vez, durante o boicote, em meio às cartas,
telefonemas anônimos e advertências de velhos amigos, estava
aprendendo a viver de hora em hora. Era o oposto de preocupar-me.
Era esperar para ver o que ele ia permitir. Eu tinha a certeza de
que nada acontecia sem sua permissão. Eu sabia, por exemplo,
que a pressão contra mim devia tornar-se mais intensa. Se isso
acontecesse, seria com a permissão dele, logo eu devia aprender a
buscar sua presença em meio ao desastre aparente. Simplesmente
teria de viver de hora em hora, à sua proximidade. Sim, era esse o
segredo. Aprender a conservar sua companhia, de modo que
acontecesse o que acontecesse, quando acontecesse, eu ainda
estaria em sua glória.
Com o aumento da pressão familiar, pensei saber o que o rei
Davi sentiu quando, ao fugir de seu filho Absalão, apanhou a lira e
cantou: "Porém tu, Senhor, és o meu escudo, és a minha glória ..."
(Salmo 3:3). Essa glória, compreendo eu, eram a bênção, a alegria
e a felicidade indizíveis dos santos no céu.
No momento, a pressão familiar ainda era o boicote. Nem um
membro da família vinha visitar-me, nem mesmo para repreender-me.
Com raras exceções, meus velhos amigos também não me
visitaram. Os escárnios no mercado continuavam. Também
continuava a exclusão premeditada dos grandes momentos da vida
da família: nascimentos, mortes e casamentos. Sempre que me
permitia permanecer na solidão que isto me causava, sentia que a
glória de Deus começava a se enfraquecer, e imediatamente voltava
meus pensamentos, por um ato deliberado da vontade, às horas
em que Jesus também se sentiu solitário.
Isso ajudava. Mas descobri, um pouco para surpresa minha,
que precisava desesperadamente de companhia. Eu, que sempre
havia sido tão indiferente, agora precisava de intimidade. Nem os
Old nem os Mitchell vinham a minha casa. Para sua própria
proteção, aconselhei-os a não me visitarem.
Certa tarde cinzenta retirei-me para meus aposentos a fim de
ler a Bíblia. Estava inusitadamente frio para o princípio do verão.
Um vento gelado batia contra minhas janelas. Ao começar a ler,
senti certo calor em minha mão, abaixei as vistas e vi uma mancha
de sol no meu braço. Olhei pela janela justamente a tempo de ver o
sol desaparecer por trás das nuvens. Só por um minuto, pareceu
que ele havia descido e tocado minha mão dando-me conforto.
Levantei os olhos: — Ó meu Senhor — disse eu. — Estou tão
só; até minhas bochechas parecem secas pela falta de conversa.
Por favor, envia alguém com quem conversar hoje.
Sentindo-me um pouco ridícula por ter pedido uma coisa tão
infantil, voltei-me para a Bíblia. Afinal de contas eu tinha a
companhia dele e isso devia ser o suficiente. Mas em pouco tempo
fiquei espantada ao ouvir um som estranho na casa, estranho por
ter estado ausente por tanto tempo. Vozes subiam do andar de
baixo.
Coloquei o vestido de dormir e saí correndo para o corredor,
onde encontrei Nur-jan que vinha correndo em direção ao meu
quarto, quase sem fôlego.
— Oh, Begum Sahib — gritou ela — os Old estão aqui.
— Louvado seja Deus! — exclamei e corri ao seu encontro. É
claro que via Ken e Marie nos cultos de domingo na casa deles,
mas isto era diferente, uma visita no meio da semana. Marie
apressou-se em minha direção, tomando-me pela mão.
— Simplesmente tínhamos de vê-la, Bilquis —, disse ela, os
olhos azuis brilhando. — Não temos nenhum motivo especial,
simplesmente gostamos de estar com você.
E que visita foi aquela! Compreendi, enquanto conversávamos,
que eu havia cometido um erro ao não convidar as pessoas para
visitar-me. O orgulho havia impedido que eu admitisse a
necessidade de companhia. Subitamente tive uma inspiração. Por
que não convidar as pessoas à minha casa para as reuniões de
domingo? Não seria isto jogar pólvora no fogo? Tentei desfazer-me
do pensamento mas ele teimava em permanecer. No momento em
que meus amigos se preparavam para sair eu disse rapidamente:
— Vocês não gostariam de vir aqui neste domingo à noite?
Os Old olharam para mim um tanto espantados.
— Estou falando sério —, disse eu, estendendo as mãos. —
Esta velha casa precisa de vida.
E assim ficou decidido.
Nessa noite, ao preparar-me para a cama, pensei em quão
maravilhosamente o Senhor provê tudo para nós. Quando a família
e os amigos me foram tirados, ele os substituiu com sua própria
família e amigos. Dormi em paz e acordei com o calor do sol
entrando pela janela. Levantei-me e abri a janela, regozijando-me à
brisa suave do verão. No aroma de terra do jardim eu podia
perceber o cheiro do hálito do verão que havia chegado.
Mal podia esperar que chegasse a noite de domingo. A tarde
de sábado veio encontrar a casa cheia de flores; o assoalho e as
janelas brilhavam de tão limpos. Disse a Raisham que podia unirse
a nós, se quisesse, mas ao ver seu embaraço, percebi que ela
não estava preparada para um passo audaz como esse e não insisti
mais.
O domingo arrastava-se enquanto eu conservava Mamude
fora da sala de visitas, arrumava o tapete persa, constantemente
rearranjando as flores, limpando um resto de poeira aqui e ali.
Finalmente ouvi o barulho do portão abrindo-se e de carros
chegando.
A noite foi tudo o que eu esperava, com cânticos, oração, e
testemunhos do que o Senhor estava fazendo. Éramos somente
doze, além do Mamude, sentados confortavelmente na sala de
visitas, mas eu poderia jurar que havia mil outros convidados também,
invisíveis, mas bem-vindos.
A noite teve outro propósito peculiar, também, um propósito
que eu não tinha previsto. Aconteceu que meus amigos cristãos
ainda estavam muito preocupados comigo.
— Você está-se protegendo bem? — perguntava Marie.
— Bem —, ri — não há muito que eu possa fazer. Se alguém
quiser fazer-me mal, certamente encontrará uma maneira.
Ken olhou em torno da sala de visitas e para fora das grandes
portas de vidro para o jardim. — Você realmente não tem muita
proteção aqui — disse ele. — Eu não tinha percebido quão
vulnerável você é.
— E seu quarto? — perguntou Synnove. Todo mundo achou
que devíamos dar uma olhada no meu quarto, de modo que todos
nós fomos para lá. Ken ficou particularmente preocupado com as
janelas que davam para o jardim; eram protegidas somente pelo
vidro e uma tela de filigrana.
Ele sacudiu a cabeça. — Realmente não é seguro, você
percebe. Você deve fazer algo a esse respeito, Bilquis; deve mandar
instalar uma grade espessa de ferro. Qualquer pessoa podia
quebrar isto e entrar.
Disse que iria providenciar tudo no dia seguinte.
Seria minha imaginação ou a glória dele diminuía enquanto
eu fazia a promessa?
Finalmente dissemos adeus e retirei-me mais feliz do que
estivera em muito tempo. No dia seguinte, entretanto, ao prepararme
para mandar chamar o ferreiro da vila, uma vez mais senti que
a presença do Senhor diminuía rapidamente. Por quê? Seria por
que eu estava prestes a agir levada pelo medo? Era certo que toda
vez que me dispunha a mandar chamar o ferreiro minha ação era
impedida.
Então compreendi o porquê. Ao espalhar-se a notícia de que
eu estava mandando colocar grades nas janelas, todo mundo
perceberia meu medo. Eu até podia ouvir o comentário: "Ahá! Que
tipo de religião é o Cristianismo, afinal de contas? Quando a
pessoa se torna cristã então fica com medo?" Não. Decidi não
instalar grade nenhuma nas janelas.
Nessa noite fui para a cama confiante de haver tomado a
decisão correta. Adormeci imediatamente. De repente fui acordada
por um ruído. Sentei-me na cama, espantada mas sem temor.
Perante mim descortinava-se uma vista maravilhosa.
Através das paredes do meu quarto, de um modo
sobrenatural, podia ver o meu jardim. Estava inundado por uma
luz branca e celestial. Eu podia ver cada pétala de rosa, cada folha
de árvore, cada lâmina de grama, cada espinho. E por sobre o
jardim pairava uma serenidade calma. Em meu coração ouvi o Pai
dizendo: "Você fez a coisa certa, Bilquis. Estou contigo".
A luz diminuiu lentamente e o quarto ficou de novo na
escuridão. Liguei a lâmpada de cabeceira, ergui os braços e louvei
a Deus: "Ó Pai, como posso agradecer-te o suficiente? Tu te
preocupas tanto com cada um de nós!"
Na manhã seguinte reuni todos os criados e disse-lhes que
podiam ir dormir em suas próprias casas de hoje em diante, se o
desejassem. Mamude e eu dormiríamos na casa grande. Os criados
trocaram olhares, alguns de surpresa, outros de alegria, um ou
dois de alarme. Mas eu sabia que uma coisa pelo menos havia sido
realizada. A decisão punha fim a qualquer idéia de autoproteção. E
com essa decisão voltou a glória e permaneceu por mais tempo do
que de costume. Talvez isso fosse necessário para a próxima série
de acontecimentos.
Certa manhã Raisham escovava meu cabelo e comentou
casualmente:
— Ouvi dizer que o seu sobrinho, Karim, morreu. Dei um
pulo da cadeira e olhei para ela incredulamente.
— Não —, sussurrei. Não Karim, que prometera levar
Mamude para uma pescaria! Ele era um dos meus sobrinhos
prediletos! O que tinha acontecido? Por que tinha eu de descobrir
até a morte de Karim através dos criados?! Com força de vontade
de aço ganhei controle de mim mesma e forcei o corpo de volta à
cadeira para que Raisham pudesse continuar o seu trabalho. Mas
minha mente corria em disparada. Isso podia simplesmente ser um
rumor, pensei. Raisham podia ter-se enganado de nome. Meu coração
animou-se um pouco. Mais tarde, pedi que uma criada mais
idosa descobrisse o que realmente havia acontecido. Ela foi à vila e
depois de uma hora voltou com o semblante descaído.
— Sinto muito, Begum Sahib —, disse ela. — Mas é verdade.
Ele faleceu ontem à noite de um ataque de coração e o enterro vai
ser hoje.
Então, esta criada, que tinha o dom de descobrir tudo, deume
notícias que me magoaram ainda mais. Minha tia, disse minha
criada, sabia o quanto eu amava seu filho, e tinha pedido
especificamente que minha família "não deixasse de contar a
Bilquis que meu filho morreu." Ninguém cumprira seus desejos.
Mais tarde sentei à janela meditando em tudo isso. Eu tinha
sido excluída dos acontecimentos familiares por seis meses, mas
jamais o boicote tinha magoado como desta vez.
Enquanto me balançava suavemente na cadeira comecei a
orar pedindo sua ajuda e, como sempre, a ajuda chegou. Desta vez
foi como se uma capa confortadora tivesse sido colocada sobre
meus ombros. E com tal sensação veio-me à mente um plano de
ação incomum. A própria idéia chocava-me. Era tão audaz que eu
sabia devia vir do Senhor.



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Autor(a): grandeshistorias

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Sentada à janela que dava para o jardim, onde Karim e euhavíamos brincado em criança, sentia no rosto o vento que sopravada Índia, dobrando os topos das árvores. Parecia-me perceber neleuma mensagem extraordinária! Meus ouvidos recusavam-se aacreditar no que ouviam.— O Senhor não pode estar-me realmente dizendo isso &mda ...


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