Fanfic: 𝔸𝕋ℝ𝔼𝕍𝕀-𝕄𝔼 a chamar-lhe Pai (CONCLUÍDA) | Tema: Cristianismo, Islamismo, Fé, Amor
O passo seguinte da separação veio com a notícia triste deI
que os Mitchell estavam saindo de férias. Ficariam algum tempo
fora do Paquistão.
Havia passado mais de ano desde o acontecimento em
Cingapura. Estava sentada na sala de estar dos Mitchell com
nosso pequeno grupo de homens e mulheres cristãos, profissionais
liberais da região. Era uma ocasião triste — a última reunião com
David e Synnove. Não podia deixar de pensar na primeira vez em
que tinha vindo a esta mesma casa de varanda baixa como uma
pessoa que busca mas hesita. Tanta coisa tinha acontecido desde
então! Olhei para o rosto destas duas pessoas que acompanharam
tão de perto minha apresentação a Cristo. David, alto, cabelo
tornando-se grisalho; Synnove, tão interessada, orando
consistentemente por mim.
— Vou sentir uma falta terrível de vocês — disse eu no
pequeno gramado em frente à casa dos Mitchell.— Como é que vou
passar sem sua companhia e comunhão?
— Talvez o Senhor a esteja ensinando a passar sem ela —
disse Synnove. — Ele está sempre esticando-nos, você sabe,
Bilquis, até que não tenhamos nenhum ponto de apoio seguro a
não ser ele.
Isso parecia bom, mas ainda não gostava de ser esticada e o
disse a Synnove. Ela simplesmente riu.
— É claro que você não gosta, querida Bilquis. Quem é que
jamais deseja deixar um lugar seguro? Mas a aventura jaz adiante!
Synnove entrou em seu velho carro e fechou a porta. Um
abraço a mais através da janela e subitamente o carro dos Mitchell
rodava por entre a poeira, ganhando distância, deixando para trás
os edifícios caiados que tinham servido de alojamento para oficiais
durante a Segunda Guerra. O carro desapareceu na esquina.
Aventura, deveras! Aqui estava eu, uma cristã solitária numa
cidade muçulmana. Seria eu capaz de sobreviver sozinha?
Passaram-se várias semanas, e durante esse tempo,
francamente, foi-me difícil ver ou perceber a aventura que Synnove
havia prometido ou a direção e propósito que Ken Old tinha predito
quando de sua partida, que parecia ter sido muito tempo atrás. A
reunião dos domingos à noite continuou, primeiro em uma casa e
depois em outra dos cinco de nós que ficáramos; mas na falta da
liderança dos Old e dos Mitchell as reuniões pareciam estar
morrendo.
Então, certa noite, depois de uma reunião sem vida, veio-me
uma idéia. Será que não estávamos cometendo um erro tentando
fazer as coisas exatamente como os Mitchell e os Old haviam feito?
Nosso pequeno grupo certamente atrofiar-se-ia se não
conseguíssemos sangue novo em nosso meio. O que aconteceria —
e sentia o pulso apressar simplesmente ao pensar nisso — o que
aconteceria se convidássemos pessoas para nossa reunião, gente
que não fossem profissionais liberais — que não fossem médicos,
engenheiros nem missionários? Suponhamos que convidássemos
cristãos e não-cristãos, varredores de rua e pessoas da classe
baixa, a unirem-se em comunhão conosco. Talvez em minha
própria casa, por ser grande e conveniente. Quando fiz essa
sugestão, nosso pequeno grupo resistiu, a princípio, depois
concordou cepticamente. Decidimos ir em frente. Mediante
convites diretos e também através da ramificação dos empregados,
dei a notícia de que teríamos uma noite cristã em minha casa no
domingo à noite.
Fiquei surpresa ao ver quanta gente apareceu. A maioria era
de Rawalpindi, onde a notícia ter-se-ia espalhado mais
rapidamente. E, como esperava, nem todos eram cristãos. Muitos,
simplesmente estavam famintos e queriam descobrir mais acerca
do Deus cristão. Nós, os do grupo original, como líderes, cantamos,
oramos e tentamos fazer o possível a fim de ministrar às
necessidades individuais dos criados, trabalhadores, professores e
gente de negócio que também compareceram.
Logo havia um novo sentimento nas reuniões de domingo. A
responsabilidade era espantosa. Eu e os outros líderes desse
pequeno grupo passávamos horas ajoelhados, horas de intimidade
com o Senhor e com sua Palavra, tentando certificar-nos de que
não divergíssemos nem um pouquinho da direção que ele desejava
que tomássemos. Subitamente o período "sem resultado" que eu
tinha experimentado foi invertido. Pude ver conversões reais. A
primeira pessoa a vir ao Senhor foi uma jovem viúva. Ela derramou
sua mágoa e solidão e depois pediu que o Senhor entrasse em sua
vida. Era extraordinário observar as transformações em sua
personalidade; de uma criatura sombria e indefesa tornou-se uma
filha de Deus, cheia de esperança. Em breve um mecânico de uma
oficina próxima entrou no reino do Senhor, então um arquivista,
depois um varredor de rua.
E tudo isso em minha casa. Sentia-me deveras honrada,
embora continuasse indagando a mim mesma quando começaria
minha família a falar a respeito desta mancha em nossa reputação.
Mas ninguém reclamava, por enquanto. Era como se a família não
quisesse admitir o que estava acontecendo. Certo dia tropecei num
ladrilho do terraço, caí e sofri uma leve fratura. Minha família não
me veio ver; porém alguém telefonou. Pelo menos estavam telefonando!
Ao passo que a oposição à minha vida cristã de parte de
minha família, estava lentamente diminuindo, dentro de mim
mesma sentia grande resistência. Eu ainda era uma pessoa muito
privada, possessiva; minha terra e meu jardim eram meus e de
mais ninguém.
Do outro lado do gramado existia uma estrada que levava ao
alojamento dos criados. Crescendo ao lado dessa estrada existia
uma árvore chamada ber, que dá um fruto vermelho parecido com
a cereja. Nesse verão, depois de os Mitchell terem ido embora,
crianças da vila (talvez estimuladas por relatos de uma mudança
em minha personalidade) começaram a invadir minha propriedade
a fim de subir na árvore e tirar os frutos. A invasão em si já era
horrível, mas quando os gritos delas começaram a perturbar
minha hora de descanso, saí à janela e ordenei ao jardineiro que as
enxotasse. Nesse mesmo dia mandei cortar a árvore. Isso resolveria
o problema permanentemente!
Assim que a árvore foi destruída, percebi o que tinha feito.
Com a árvore fora-se a alegria e a paz da presença do Senhor. Por
um longo tempo, deixei-me ficar à janela olhando para o lugar
vazio onde estivera a árvore. Como desejava que a árvore ainda
estivesse ali para que eu pudesse ouvir os gritos alegres das
crianças. Compreendi quem era a verdadeira Bilquis Sheikh.
Compreendi de novo que com minhas próprias forças jamais seria
diferente. Somente o Senhor, por meio de sua graça, poderia
operar alguma mudança em mim.
— Ó Senhor —, disse eu — por favor, deixa-me voltar à tua
presença! — Só havia uma coisa a ser feita. Espalhadas por todo o
jardim existiam grandes árvores carregadas de fruto do verão. No
dia seguinte mandei um convite às crianças da vila. Que viessem e
se divertissem! E elas o fizeram. Embora tivesse eu a certeza de
que elas tentaram ser cuidadosas, não podia deixar de reparar nos
galhos quebrados e nas flores amassadas.
— Acho que percebo o que estás fazendo, Senhor — disse eu
certa tarde depois de as crianças terem ido para casa, e enquanto
verificava o dano. — O Senhor acha que o jardim nos separa. Estás
tentando desprender-me dele. Tu o tomaste para dar a outros. E
olha como eles se divertiram! É teu jardim. Cedo-o a eles com
grande prazer. Obrigada, por usares isto a fim de levar-me de volta
à tua presença confortadora.
E ele voltou realmente. Até eu precisar de uma nova poda.
Desta vez não foi o jardim, mas meu precioso descanso.
Numa tarde fria de novembro enquanto eu descansava,
Mamude entrou no quarto. Quase adolescente, as feições bem
humoradas predizendo o futuro de um homem elegante. Mas nesse
instante tinha ele o rosto perturbado.
— Mamãe, há uma mulher lá fora que deseja falar com a
senhora. Ela está com um nenê nos braços.
Levantei a cabeça.
— Mamude —, disse eu, esquecendo-me das instruções
dadas a Nur-jan e a Raisham, — você já tem oito anos de idade!
Você sabe que não quero ver ninguém a esta hora do dia.
Nem bem Mamude tinha saído do quarto quando me atingiu
o seguinte pensamento: o que o Senhor teria feito? E, é claro, eu
sabia a resposta. Ele teria ido à mulher imediatamente, ainda que
fosse no meio da noite.
Autor(a): grandeshistorias
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Chamei Mamude, que ainda não estava tão longe que nãopudesse ouvir minha voz. Uma vez mais ele enfiou o rostobronzeado pela porta.— Mamude — disse eu —, o que essa mulher deseja?— Acho que o bebê dela está doente —, disse Mamudeentrando no quarto. Eu podia ver a preocupação estampada emseu rosto.&m ...
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