Fanfic: 𝔸𝕋ℝ𝔼𝕍𝕀-𝕄𝔼 a chamar-lhe Pai (CONCLUÍDA) | Tema: Cristianismo, Islamismo, Fé, Amor
Em dezembro de 1970, quatro anos depois de minha
conversão, houve eleições no Paquistão e parecia que o Partido do
Povo levaria a melhor. Isso não era exatamente boas novas para
mim. Nenhum de meus amigos influentes pertencia a esse partido.
"Islamismo é nossa fé; democracia, nossa política; socialismo,
nossa economia" era o slogan do novo partido. Um slogan dirigido
ao homem da rua. Sei que o paquistanense comum sentia um
sentimento novo de poder. Isto era bom para mim? Provavelmente
fosse bom para a nova Bilquis, mas também havia nisso um perigo
inerente, pois nada inspira mais o zelo do fanático do que a crença
de que seu governo o apoiará em suas proezas. Minha antiga
reputação certamente não era a de democrata e o socialismo não
se encaixava nas tradições centenares de nossa família; islamismo?
Bem, agora era traidora.
Segui os acontecimentos a alguma distância.
Certo dia, entretanto, um velho amigo de meu pai, que pertencia ao governo
chegou de Sardar. Apesar do desespero que sentia por causa de
minha nova fé, tinha tentado permanecer meu amigo chegado. De
tempos em tempos ele telefonava ou vinha visitar-me só para
certificar-se de que tudo corria bem.
Sentado no divã com capa de seda de nossa sala de visitas,
tomava chá comigo.
— Bilquis — disse ele, a voz baixa — você tem consciência do
que está acontecendo e de como esses acontecimentos poderiam
afetá-la?
— Você está falando do Partido do Povo paquistanense?
— Eles ganharam a eleição, é claro. O que você sabe de
Zulfikar Ali Bhutto?
— Conheci-o bem. — Disse eu.
— Você não lê jornais? Não ouve rádio?
— Não, você sabe que não tenho tempo para isso.
— Bem, aconselho-a a tomar o tempo. A situação do governo
mudou. Duvido que você possa contar com Bhutto como contou
com os presidentes anteriores — acrescentou ele. — Querida, você
perdeu toda a influência que tinha nos altos círculos. Essa era já
passou.
Meia hora mais tarde, depois de despedir de meu velho amigo,
voltar, chamar a criada para fazer limpeza, percebi que uma coisa
estranha havia acontecido enquanto conversava com meu amigo.
Era como se ele tivesse falado pelo Senhor, preparando-me para o
fato de que meus amigos protetores e influentes não mais existiam,
levando-me a um passo mais para a dependência total do Senhor.
Não passou muito tempo até eu começar a perceber crescente
hostilidade. Vi-a nos olhos dos homens quando andava por Wah.
Jamais me esquecerei da mudança de atitude de um oficial com
quem discutia impostos sobre a propriedade. No passado ele havia
sido um homem servil, que se inclinava e levava a mão à testa.
Agora o indivíduo estava abertamente hostil. Essa hostilidade era
evidente nos comentários incisivos e na maneira desdenhosa com
que bateu com os formulários na mesa à minha frente.
Mais tarde, enquanto passeava pela estrada que rodeava
minha casa, vi um homem que geralmente se desviava do seu
caminho a fim de falar comigo. Agora percebi algo totalmente
diferente. Percebeu-me, e rapidamente voltou a cabeça e começou
a estudar o horizonte enquanto eu passava. Interiormente sorri à
socapa. "Senhor, todos nós agimos como crianças!"
É interessante, mas o novo governo não parecia ter nenhum
efeito sobre meus criados. A não ser por Nur-jan, que ainda
desfrutava quietamente de seu novo andar com Jesus, e Raisham,
minha outra criada cristã, meu quadro inteiro de empregados
eram seguidores fiéis de Maomé. Entretanto existia entre nós
verdadeira afeição. Mais de uma vez meus criados muçulmanos
vieram a meu quarto a fim de implorar:
— Por favor, Begum Sahib Gi —, diziam em voz baixa — se a
senhora tivesse de partir ... ou se decidisse partir ... não se
preocupe conosco. Encontraremos trabalho.
Que relacionamento diferente tinha eu agora com os criados
em comparação com o relacionamento de quatro anos atrás!
Os sonhos, também, tiveram papel admirável em minha vida
nessa época. Os sonhos tinham feito parte de minha experiência
cristã desde o dia em que encontrei Jesus pela primeira vez, o qual
veio em um sonho cear comigo. Agora estas experiências estranhas
e místicas, como Paulo disse ter experimentado, tornaram-se ainda
mais freqüentes.
Certa noite, encontrei-me tomada no Espírito atravessando o
oceano em velocidade terrível. Com a velocidade da luz cheguei ao
que pensava ser a Nova Inglaterra, nos Estados Unidos, embora
nunca tivesse estado lá. Estava à frente de uma casa, ou era um
asilo para velhos? Flutuei para um quarto com camas duplas.
Numa cama jazia uma mulher de meia-idade, rosto redondo, olhos
azul-claro e uma mistura de cabelo curto grisalho e branco. Uma
colcha branca de algodão em padrões triangulares cobria a cama.
Obviamente ela estava muito mal; percebi que tinha câncer. Numa
cadeira ao lado uma enfermeira lia. Então vi o Senhor no canto do
quarto. Ajoelhei-me perante ele e perguntei-lhe o que devia fazer.
— Ore por ela — disse ele. De modo que fui até a cama da
mulher e orei fervorosamente por sua cura.
Na manhã seguinte deixei-me ficar à janela, ainda espantada
pelo que tinha acontecido naquele quarto do outro lado do mar.
Por que Jesus tinha pedido que eu orasse pela mulher? Ele estava
lá. Entretanto pediu-me que orasse por ela. Estava principiando a
ter um vislumbre de uma revelação tremenda. Nossas orações são
vitais ao Senhor. Ele opera por meio delas. Fui levada ao capítulo
cinco de Tiago: E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o
levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados. ...
Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo ...
Nossa oração, pois, liberta esse poder para a pessoa por
quem suplicamos.
Outra vez tive uma visão de estar embarcando num navio. A
prancha de embarque levava a um quarto. Cristo estava de pé
nesse quarto. Ele parecia estar-me dando instruções. Então desci a
prancha. Ao pé dela, uma senhora, vestida com roupas ocidentais:
saia e blusa, esperava por mim. Aproximando-se ofereceu-me o
braço e saímos.
— Aonde estamos indo, Senhor? — perguntei por sobre o
ombro. Mas ele não queria dizer-me.
O sonho parecia indicar que eu iria sair de viagem. Embora
dessa vez eu estivesse indo a um destino desconhecido, ainda
assim Jesus estaria protegendo a viagem. O sonho deixou-me em
um estado de preparação de modo que não fiquei espantada com
as notícias trazidas por um velho amigo.
Em março de 1971, alguns meses depois de Bhutto ter
tomado o poder, recebi uma visita de Yaqub, um amigo que
trabalhava para o governo. Ele tinha sido íntimo de nossa família
por anos. De fato, quando meu marido era Ministro, houve uma
época em que o Paquistão esteve em declínio econômico com um
sério desequilíbrio de importação. Yaqub e eu tínhamos ajudado a
inaugurar um programa que veio a ser chamado o Plano do Viver
Simples. A idéia básica era encorajar as indústrias paquistanenses
a produzir nossos próprios bens, diminuindo a necessidade de
importação.
Fomos por todo o país estimulando pequenas fábricas e
tentando dar início a pequenas indústrias. Encorajamos as
tecelagens locais e a produção de tecido. Nós mesmos, tínhamos
voluntariamente entrado num programa de austeridade, usando
vestimentas tecidas em casa. Tudo correu bem, pois o Plano do
Viver Simples foi um grande sucesso. À medida que as fábricas
locais progrediam, a condição econômica do Paquistão melhorava.
Desde então, Yaqub visitava-me ocasionalmente a fim de discutir
política e a situação mundial. Ele sabia das posses de nossa
família, pois tinha visitado as muitas propriedades que tínhamos
por todo o Paquistão, e sabia que a maior parte de nossa renda
provinha de empreendimentos imobiliários.
— Bilquis — disse ele, em tom de desculpa — tenho
conversado com amigos e ... ah, o assunto de sua situação
financeira foi trazida à baila. Você já pensou em vender um pouco
de suas terras? Acho não ser seguro você ter todas as suas rendas
investidas em propriedades; Bhutto está prometendo a reforma
agrária.
Era muita consideração de Yaqub dizer-me tal coisa. E não
sem risco. Com a hostilidade crescente para com a classe regente
de ontem, o carro do governo que ele usava à porta de minha casa
podia facilmente trazer-lhe complicações.
— Obrigada, Yaqub, — disse eu, tentando controlar minha
voz. — Mas como as coisas estão agora, estou decidida. Nada —
nada de modo algum me forçará a mudar!
Eu estava dizendo uma coisa infantil, é claro. A velha Bilquis
com sua maneira imperiosa e teimosa estava aparecendo.
Entretanto era uma atitude que não surpreendeu meu amigo de
modo algum.
— Eu já esperava por essa resposta, Bilquis — disse Yaqub,
passando a mão pelo bigode e sorrindo. — Ainda assim, pode
chegar o dia em que você deseje sair do Paquistão. Se precisar de
ajuda ...
— Se esse dia chegar, meu bom amigo, certamente me
lembrarei da sua oferta.
Outro sonho: desta vez, de Raisham, geralmente tão
reservada.
— Oh! Begum Sheikh — exclamou minha criada, ajoelhandose
ao pé do divã no qual eu estivera sentada naquela noite fria em
que me encontrei com o Senhor. — Tive um sonho horrível. Posso
contá-lo à senhora?
— É claro.
Escutei com atenção. Raisham contou-me que no seu sonho
alguns homens maus haviam entrado na casa e me haviam feito
prisioneira.
— Lutei com eles — exclamou ela. — Gritei: "Begum, corra!" E
no sonho vi-a correr para fora da casa e fugir.
Os olhos castanhos escuros de Raisham estavam úmidos de
lágrimas. Era eu quem tinha de confortá-la. Mas para mim isso
não era difícil. Nas palavras que disse, descobri conselhos a que eu
mesma devia prestar atenção.
— Minha querida —, disse eu — o Senhor tem-me falado
muito ultimamente a respeito da possibilidade de eu ter de fugir. E
isso pode acontecer. A princípio recusei-me a crer. Mas agora
estou começando a duvidar.
— É possível — disse eu, levantando-lhe o queixo pálido e
sorrindo — que eu precise partir. Mas se tiver de ir, será no tempo
do Senhor. Estou aprendendo a aceitar isso. Você acredita em mim?
A pequena criada ficou em silêncio. Então disse:
— Que maneira maravilhosa de viver, Begum Sahib.
— É, deveras. É a única maneira. Nada mais está sob meu
controle.
Embora eu realmente acreditasse em tudo o que dissera,
enquanto a criada saía do quarto, descobri que não controlava
minhas emoções tão bem como parecia. Fugir? Correr? Eu?
A série de mensagens tipo "experiências" começaram a
suceder mais rapidamente no outono de 1971. Certo dia Nur-jan
veio a mim esbaforida e tensa de emoção.
— O que é, Nur-jan? — disse eu, enquanto ela começava a
escovar-me o cabelo, com as mãos tremendo.
— Oh! Begum Sahib —, soluçou Nur-jan — eu não quero que
a senhora seja ferida.
— Ferida por quê?
Autor(a): grandeshistorias
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Nur-jan enxugou os olhos. Contou-me que seu irmão, seupróprio irmão, tinha ido à mesquita no dia anterior, e haviaescutado um grupo de homens dizendo que finalmente haviachegado a hora de fazerem alguma coisa contra mim.— Você tem alguma idéia do que eles planejavam?— Não, Begum Sahib —, disse Nur-jan. — ...
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