Fanfics Brasil - A FUGA - Parte I - Antepenúltimo Capítulo 𝔸𝕋ℝ𝔼𝕍𝕀-𝕄𝔼 a chamar-lhe Pai (CONCLUÍDA)

Fanfic: 𝔸𝕋ℝ𝔼𝕍𝕀-𝕄𝔼 a chamar-lhe Pai (CONCLUÍDA) | Tema: Cristianismo, Islamismo, Fé, Amor


Capítulo: A FUGA - Parte I - Antepenúltimo Capítulo

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Estranho! Depois de o Senhor mudar meu modo de pensar
quanto a deixar o Paquistão, surgiram repentinos empecilhos.
Um, por exemplo, que parecia intransponível era uma lei que
diz que os cidadãos paquistanenses só podem tirar 500 dólares do
país. Como meu dependente, Mamude podia levar 250 dólares.
Como é que Mamude e eu poderíamos passar quatro meses com
750 dólares? Só este fato parecia suficiente para que não
considerássemos o convite de Peggy.
Alguns dias mais tarde, Peggy convidou-me a visitá-la em sua
casa. Enquanto conversávamos, o nome do Dr. Christy Wilson foi
mencionado. Ela também o conhecia. Eu estava bastante
preocupada com ele pois tinha ouvido dizer que ele havia sido
expulso do Afeganistão pelo governo muçulmano que então havia
destruído a igreja para os estrangeiros que ele construíra em Kabul.
— Você tem alguma idéia de onde ele esteja? — perguntei.
— Não tenho a mínima idéia — disse Peggy. Nesse instante o
telefone tocou. Peggy foi atender.
Voltou com olhos esbugalhados:
— Sabe quem era? — perguntou ela. — Era Christy Wilson!
Depois de vencermos o espanto que esse fato ocasionou,
começamos a indagar de nós mesmas se isto não era mais do que
"coincidência". O Dr. Wilson, disse Peggy, ia justamente passar por
Lahore. Desejava fazer-lhe uma visita. É claro que fiquei contente,
porque sempre era bom ficar ao par das notícias, mas eu tinha um
sentimento intuitivo de que ia ocorrer mais do que uma conversa
casual.
Tivemos uma reunião maravilhosa na casa de Peggy no dia
seguinte. Contei ao Dr. Wilson os últimos acontecimentos em Wah
e em minha própria vida. Então Peggy mencionou que estava
tentando persuadir-me a ir aos Estados Unidos. Ele ficou bastante
entusiasmado com a idéia.
— Há vários problemas, entretanto — disse Peggy. — O
primeiro é a lei que diz que Bilquis só pode tirar 500 dólares do
país.
— Será que ... —, disse o Dr. Wilson acariciando o queixo. —
Tenho alguns amigos que podiam. ... Talvez eu pudesse enviar um
telegrama. ...Conheço um homem na Califórnia ...
Depois de alguns dias Peggy telefonou, toda entusiasmada.
— Bilquis —, gritou ela. — Está tudo arrumado! O Dr. Bob
Pierce dos "Bons Samaritanos" patrociná-la-á! Você acha que pode
se aprontar para partir em sete dias?
Sete dias! Subitamente a enormidade da idéia de deixar
minha terra natal invadiu-me, pois ainda estava convencida de que
se chegasse a partir, seria para sempre.
Wah ... meu jardim ... meu lar ... minha família ... Podia eu
contemplar seriamente a idéia de deixá-los?
Sim, podia. Não podia considerar nada mais se estivesse
verdadeiramente convencida de que esta era a vontade de Deus.
Pois eu sabia o que aconteceria se eu desobedecesse
deliberadamente. Sua presença desapareceria.
Nas vinte e quatro horas seguintes pareceu surgir outra
confirmação. Khalid disse-me, enquanto jantávamos, que havia
somente um detalhe a ser resolvido, então todos os problemas
imobiliários estariam terminados.
— Penso que a senhora pode dizer com segurança, mamãe —,
disse Khalid — que a partir de hoje a senhora se desfez das
propriedades que desejava vender.
Então subitamente as portas foram fechadas. Não por Deus,
mas por meu país. Foi instituída outra lei que dizia que nenhum
paquistanense pode sair do país a menos que tenha pago todos os
impostos de renda. Os meus haviam sido pagos, mas precisava de
um recibo do governo. Tinha de obter um Certificado de Pagamento
do Imposto de Renda. Somente com esse Certificado poderia eu
comprar passagens para os Estados Unidos.
Quatro dos meus sete dias até a partida haviam passado;
agora, enquanto meu filho Khalid e eu entrávamos no gabinete do
governo a fim de conseguir o Certificado só me restavam três.
Khalid e eu pensamos que não haveria problema nenhum, uma vez
que meus papéis estavam em ordem.
O escritório ficava numa rua movimentada do centro de
Lahore. Entretanto, ao entrar naquele edifício, algo pareceu-me
estranho. Estava quieto demais para um escritório burocrático
comum onde atendentes correm de um lugar para outro e sempre
parece que alguém está discutindo com um escriturário.
A não ser por um funcionário calvo, sentado à ponta de um
balcão, lendo uma revista, Khalid e eu éramos as únicas pessoas
no escritório. Fui até o funcionário e disse o que desejava.
Ele levantou um pouco os olhos e sacudiu a cabeça.
— Sinto muito, senhora, — disse ele afundando de novo a
cabeça na revista — estamos em greve.
— Uma greve?
— Sim, madame — disse ele. — Indefinidamente. Ninguém
está trabalhando. Não há nada que se possa fazer pela senhora.
Fiquei parada olhando para o homem. Então afastei-me
alguns metros.
— Ó Senhor —, orei em voz alta, mas de modo que somente
meu filho pudesse ouvir — o Senhor fechou a porta? Mas por que
então encorajou-me a vir até aqui?
Então veio-me uma idéia. Será que ele realmente havia
fechado a porta? — Está bem, Pai — orei. — Se for a tua vontade
que Mamude e eu vamos para os Estados Unidos, tu terás de fazer
com que eu consiga esse Certificado. — Um sentimento forte de
confiança encheu-me e dirigi-me ao funcionário.
— Bem, o senhor parece estar trabalhando —, disse eu. — Por
que não me dá o Certificado?
O homem tirou os olhos de sua revista com uma expressão
azeda. Parecia o tipo que ficava feliz em dizer não.
— Já lhe disse, senhora, estamos em greve — grunhiu ele.
— Bem, então quero falar com o oficial encarregado. — Uma
coisa eu havia aprendido no meu trabalho com o governo, e era
que quando desejava que algo fosse feito, devia sempre ir à
autoridade mais alta.
O funcionário suspirou, deixou a revista e escoltou-me a um
escritório adjacente.
— Espere aqui —, grunhiu de novo e desapareceu. Do
escritório eu podia ouvir um murmúrio baixo de vozes; o homem
emergiu e acenou para que eu entrasse.
Khalid e eu encontramo-nos na presença de um homem
elegante de meia-idade atrás de uma escrivaninha riscada. Expuslhe
meu problema. Reclinou-se na cadeira, girando um lápis na
mão.
— Sinto muito, madame ... madame ... como é mesmo seu
nome?
— Bilquis Sheikh.
— Bem, sinto muito. Não há absolutamente nada que
possamos fazer durante a greve ... — Subitamente uma luz de
reconhecimento inundou-lhe os olhos.
— A senhora não é a Begum Sheikh que organizou o Plano do
Viver Simples?
— Eu mesma.
Bateu com os punhos na mesa, levantando-se.
— Bem! — disse ele. Puxou uma cadeira e pediu que me
sentasse. — Acho que esse foi o melhor programa que nosso país
já teve.
Sorri.
Então o oficial inclinou-se por cima da escrivaninha, e disse
confidencialmente.
— Agora, vejamos o que podemos fazer pela senhora.
Fez-me explicar precisamente qual era o problema e eu disselhe
que devia estar em Karachi em três dias a fim de tomar um
avião para os Estados Unidos. O rosto do homem revestiu-se de
um ar resoluto. Levantando-se, chamou o funcionário do balcão.
— Diga ao novo assistente que venha aqui.
— Eu tenho — disse-me ele, em voz muito baixa — um
datilografo temporário. Ele não faz parte do quadro regular de
funcionários e não está em greve. Poderá datilografar o Certificado.
Eu mesmo colocarei o selo. Estou contente em poder ajudar.
Alguns minutos mais tarde eu tinha o precioso Certificado em
mãos. Ao sair, tenho de confessar que abanei o papel para o
pequeno funcionário, que surpreso, tirou os olhos da revista o
tempo suficiente para ver meu sorriso e ouvir o meu "Deus o
abençoe".
Ao deixarmos o edifício do governo alguns minutos mais tarde,
Khalid, espantado, mencionou o fato de que havia levado somente
vinte minutos para completar a transação toda.
— Isso foi menos do que levaria se todo mundo estivesse
trabalhando! — disse ele.
Com o coração em cânticos, tentei explicar a Khalid que o
Senhor deseja nossa cooperação. Ele deseja operar conosco,
mediante a oração. Era o princípio da vara de Moisés. Se eu
simplesmente tivesse colocado o problema nas mãos do Senhor
sem ter dado o passo da fé, eu jamais podia ter conseguido o
Certificado. Tive de dar o passo: fazer tudo o que estava ao meu
alcance. Tive de pedir para ver o homem encarregado. Assim como
Deus pediu que Moisés batesse na rocha com a vara, ele também
nos pede que participemos na operação de milagres.
Khalid parecia um tanto espantado com o meu entusiasmo
mas recobrou-se e acrescentou com um sorriso:
— Bem, uma coisa posso dizer, mamãe. Notei que em vez de
"Obrigado" a senhora sempre diz "Deus o abençoe". E sua voz ao
dizer isso é a coisa mais linda que jamais ouvi.
Agora que todos os meus papéis estavam prontos gostaria de
fazer uma viagem rápida a Wah a fim de dizer adeus, pois a esta
altura estava convencida de que esta viagem levaria mais que
quatro meses. Entretanto, ao mencionar o assunto, Khalid disse:
— A senhora não ouviu falar da inundação? Chuvas
torrenciais haviam caído na porção de terra entre Lahore a Wah.
Muitos quilômetros de terra estavam inundados. O tráfego todo
fora bloqueado. O único transporte disponível era o do governo.
Meu coração afundou-se. Não me seria permitido nem dizer
adeus. O Senhor pedia-me que saísse rapidamente, como Ló, e
dizia-me que nem olhasse para trás.
Tinha planejado partir de Lahore na sexta-feira de manhã,
dois dias mais tarde. Voaria até Karachi, de onde sairia para os
Estados Unidos. Peggy e seu filho começariam a viagem em Nova
Deli. Seu avião, com destino a Nova Iorque, faria escala em Karachi
e Mamude e eu tomaríamos aí o avião. Na manhã de quinta-feira,
entretanto, um impulso forte e incomum tomou conta de mim,
dizendo-me que não esperasse. Minha ansiedade concentrava-se
em Mamude. Certamente que a eficiência da ramificação dos
criados havia levado a notícia a Wah de que nós não estávamos
fazendo uma simples visita a Lahore, e que íamos deixar o país.
Era provável que parentes podiam tentar tirar Mamude de minha
influência "corruptora"? Seria eu detida por qualquer pretexto? Um
forte sentimento de perigo impulsionava-me.
Não, não esperaria. Partiria nesse mesmo dia. Iria a Karachi,
ficaria em casa de amigos, sem dar muito na vista.
De modo que nessa tarde, depois de fazermos as malas,
Mamude e eu dissemos adeus a Khalid e a sua família e corremos
para o aeroporto. Voamos de Lahore com um sentimento definido
de alívio. Estávamos a caminho!
Karachi era como me lembrava, uma cidade à beira-mar,
aninhada contra o oceano Índico. Uma mistura do antigo com o
novo; camelos desajeitados lado a lado com Rolls Royces, bazares
cheios de moscas esvoaçantes próximos a lojas elegantes com as
últimas modas de Paris. Perfeito. A cidade era grande o suficiente
para sermos tragados por ela.



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Autor(a): grandeshistorias

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