Fanfics Brasil - A FUGA - Parte II - Penúltimo Capítulo 𝔸𝕋ℝ𝔼𝕍𝕀-𝕄𝔼 a chamar-lhe Pai (CONCLUÍDA)

Fanfic: 𝔸𝕋ℝ𝔼𝕍𝕀-𝕄𝔼 a chamar-lhe Pai (CONCLUÍDA) | Tema: Cristianismo, Islamismo, Fé, Amor


Capítulo: A FUGA - Parte II - Penúltimo Capítulo

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Estávamos na casa de amigos e eu fazia compras em
preparação da partida para os Estados Unidos no dia seguinte.
Subitamente uma opressão estranha me invadiu. Fechei os olhos e
apoiei-me numa parede pedindo a proteção de meu Senhor. Foi-me
dada a orientação de que devia ir para um hotel nessa noite. Tentei
desfazer-me desse sentimento. "Isto é tolice!" disse a mim mesma.
Então lembrei-me da história dos magos do Oriente que haviam
sido avisados em sonho que partissem por outra estrada.
Logo depois, alojavamo-nos no hotel da Air France no
aeroporto de Karachi. Levei Mamude para o quarto tão
rapidamente quanto possível, pedi que nossas refeições fossem
servidas ali, e juntos, simplesmente esperamos. Mamude parecia
inquieto.
— Por que temos de ser tão reservados, mamãe? — perguntou
ele.
— Simplesmente acho que devemos ficar quietos por um
pouco de tempo, é só isso.
Nessa noite, antes do vôo, na cama, acordada, meditava. Por
que estava tão apreensiva? Não havia motivo verdadeiro para isso.
Será que meus nervos estavam me dominando? Estava eu
reagindo exageradamente às ameaças do passado? O incêndio?
Meu sono foi inquieto e durou somente umas horas. Às duas horas
da manhã já estava de pé e vestida, de novo impulsionada por um
forte sentimento de urgência. Novamente senti-me ridícula. Não
era do meu feitio. A única explicação que eu tinha é que a hora
tinha chegado de deixar o hotel e que estava sendo impelida pelo
Senhor. Vesti o Mamude, ainda meio adormecido, coloquei nossas
malas junto à porta para que o carregador as levasse.
Eram três horas da manhã. O vôo sairia às cinco. Mamude,
ainda meio dormindo e eu, esperávamos em frente do hotel um táxi
que nos levaria ao aeroporto. Olhei para a pálida lua e indaguei de
mim mesma se esta seria a última vez que veria a lua em meu
próprio país. Uma brisa matinal trazia o perfume de narcisos, e
meu coração clamava, pois percebia que não veria meu jardim
nunca mais.
Finalmente o porteiro fez um táxi parar. Mamude e eu
entramos. Orei enquanto ziguezagueávamos através do trânsito.
Embora fosse cedo de manhã, as avenidas que levavam ao
aeroporto já estavam bem movimentadas. Quando carros paravam
ao nosso lado nos sinais fechados, eu, nervosamente abaixava-me
um pouco mais. "Simplesmente vamos ficar quietos por algum
tempo", dizia a mim mesma, tentando parecer tão segura a meus
próprios ouvidos quanto o havia sido para Mamude. Não, isto não
funcionava. O que eu realmente precisava era de orar. "Senhor,
desfaze esse nervosismo. O nervosismo não tem fundamento em ti.
Não posso confiar em ti e preocupar-me ao mesmo tempo!
Entretanto, se esta urgência procede de ti, Senhor, deve haver um
motivo e obedecerei."
Ao saltarmos do carro no aeroporto, o ruído ensurdecedor dos
motores a jato e a cacofonia de centenas de vozes misturavam-se
numa atmosfera de urgência. Meu coração deu um salto ao olhar
para cima e ver a bandeira paquistanense, estrela e meia-lua num
fundo verde, tremulando à viração suave. Sempre haveria de
respeitar essa bandeira, meu povo, e a fé muçulmana. Um
carregador levou nossa bagagem apressadamente para o balcão de
embarque e, com gratidão vi-as desaparecer para a segurança
aparente.
Só vinte quilos de bagagem para cada um. Sorri ao pensar em
nossas viagens de família em outros dias no interior quando
levávamos milhares de quilos de bagagem para uma estada de
somente algumas semanas e minhas irmãs ainda reclamavam das
roupas que não podiam levar.
Tínhamos uma hora de espera antes da partida. Conservando
Mamude a meu lado, senti que era melhor que nos misturássemos
à multidão do aeroporto de modo que não fôssemos percebidos.
Mas não podia desfazer-me do sentimento de perigo iminente. De
novo repreendi a mim mesma pela preocupação desnecessária. O
Senhor está no controle, dizia a mim mesma. Ele me dirigirá para
fora desta situação, tudo o que preciso fazer é obedecer.
Então Mamude pediu para ir ao banheiro. Descemos o
corredor até o banheiro dos homens. Esperei no corredor.
Subitamente o alto-falante anunciou nosso vôo.
— Pan Am, para Nova Iorque prontos para o embarque.
Senti o coração apressar-se. Onde estaria Mamude?
Devíamos ir!
Finalmente a porta do banheiro dos homens abriu-se. Mas
quem saiu foi um Sik de turbante.
Cheguei para mais perto da porta. Que estava eu fazendo?
Certamente que mulher alguma num país muçulmano seria
apanhada entrando num banheiro de homens ainda que à procura
de um menino de nove anos que estivesse perdido.
Anunciavam novamente nosso vôo.
— Pan Am, para a cidade de Nova Iorque prontos para o
embarque. Todos os passageiros devem estar a bordo.
Oh, não! Meu coração clamava. Eu tinha de fazer algo.
Empurrei a porta do banheiro dos homens e gritei:
— Mamude!
Uma vozinha respondeu:
— Já vou, mamãe ...
Dei um profundo suspiro de alívio e me apoiei à parede. Logo
Mamude saiu.
— Onde você estava? Por que demorou tanto? — gritei eu.
Não tinha importância. Não esperei resposta. Tomei a mão do
menino e saímos correndo. Descemos apressadamente o longo
corredor até o portão de embarque. Estávamos entre os últimos
passageiros a embarcar.
— Nossa, mamãe! — gritou Mamude — que nave! Que nave,
deveras! O 747 era enorme. Estávamos emocionados. Nunca tinha
visto um avião tão grande assim antes.
No instante em que ia entrar no avião hesitei por uns
segundos, sentindo o último toque do solo paquistanense.
Mas tínhamos de continuar andando. Dentro do avião, que
para mim parecia um auditório, uma aeromoça levou-nos a nossos
lugares. Onde estaria Peggy? Que faria eu nos Estados Unidos sem
ela?
E então lá estava ela! Vinha pelo corredor a nosso encontro.
Peggy jogou os braços ao meu redor.
— Oh, preciosa senhora! — exclamou ela. — Eu estava tão
preocupada. Não pude vê-la na multidão no portão de
embarque! — Expliquei o que tinha acontecido e Peggy pareceu
aliviada. Apresentou-nos a seu filho que a acompanhava. — É uma
pena que não possamos sentar juntos — disse ela — tivemos de
aceitar os lugares que nos deram.
Francamente, não importava. Minha mente não se
preocupava com problemas sociais nesse instante. Ocupava-se
inteiramente com o fato de eu estar deixando minha terra natal.
Sentia-me triste, é verdade, mas ao mesmo tempo completa. Não
podia compreender isso.
Logo Mamude estava sendo ele mesmo. Fez amizade com uma
aeromoça que o levou à cabina do piloto. Mamude voltou
maravilhado. Fiquei contente. A aeromoça pediu-nos que
apertássemos o cinto de segurança. Olhei para fora da janela e vi
os primeiros raios da aurora dardejando o céu oriental. Os motores
ressoaram e uma onda de emoção encheu-me. Nossa nave
começou a descer a pista. Olhei para trás de mim mas não pude
ver Peggy.
Mas o rosto de Mamude estava comigo, próximo ao meu.
Rebrilhava de emoção enquanto os motores a jato explodiam em
trovoada na decolagem. Tomei a mão de Mamude e comecei a orar.
— E agora, Senhor? De novo invade-me o sentimento de
inteireza! O Senhor tirou-me de minha pátria, como Abraão. Não
sei o que vem em seguida, porém estou completa, satisfeita por
estar contigo.
Naquele instante nem o embaraço das lágrimas nem o
nervosismo me incomodavam. Tudo o que sabia era que tinha
obedecido ao Senhor em tudo. E tinha de admitir que nunca
realmente saberia o que podia ter acontecido se não tivesse
seguido sua ordem para marchar.
Luzinhas passavam a toda velocidade pela janela e
repentinamente o barulho de rodas abaixo de nós cessou.
Estávamos no ar! A luz da aurora podia ver o contorno da costa do
Paquistão recortado no oceano Índico que ficava para trás abaixo
de nós.
Ergui as mãos para Deus. Ele era minha única segurança, e
minha única alegria era permanecer em sua presença. Enquanto
pudesse permanecer ali sabia estar vivendo na glória.
— Obrigada, Deus —, murmurei. — Obrigada por me
permitires viajar contigo.



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Autor(a): grandeshistorias

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