Fanfics Brasil - O ENCONTRO - Parte II 𝔸𝕋ℝ𝔼𝕍𝕀-𝕄𝔼 a chamar-lhe Pai (CONCLUÍDA)

Fanfic: 𝔸𝕋ℝ𝔼𝕍𝕀-𝕄𝔼 a chamar-lhe Pai (CONCLUÍDA) | Tema: Cristianismo, Islamismo, Fé, Amor


Capítulo: O ENCONTRO - Parte II

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Permanecemos ajoelhadas, pareceu-me, por uma eternidade.
E nesse silêncio confortador meu coração sentia um calor estranho.
Finalmente a Sra. Mitchell e eu nos levantamos.
— Isso aí é uma Bíblia, Madame Sheikh? — perguntou ela,
indicando o volume cor de cinza que eu apertava contra o peito.
Mostrei-lhe o livro.
— O que acha dele? — perguntou ela. — É de fácil
compreensão?
— Não muito —, disse eu. — É uma tradução antiga e ainda
não me acostumei com ela.
A Sra. Mitchell foi a uma sala adjacente e voltou com outro
livro.
— Eis um Novo Testamento escrito em Inglês moderno —,
disse ela. — É a tradução de Phillips. Acho-o muito mais fácil de
compreender do que os outros. Gostaria de levá-lo?
— Sim —, disse eu, sem hesitação.
— Comece com o Evangelho de João —, aconselhou a Sra.
Mitchell, abrindo o livro e marcando a página com um pedacinho
de papel. — Este é outro João, mas sua missão é parecida com a
de João Batista.
— Obrigada —, disse eu emocionada. — Acho que já tomei
muito do seu tempo.
Ao preparar-me para sair, a Sra. Mitchell disse:
— A senhora percebe, é tão interessante que um sonho a
tenha trazido aqui. Deus, muitas vezes, fala a seus filhos por meio
de sonhos e visões.
Enquanto ela me ajudava a vestir o casaco, perguntava-me a
mim mesma se devia partilhar o meu outro sonho com ela. O
sonho do vendedor de perfumes. Ele parecia tão... bizarro. Mas,
como já tinha acontecido várias vezes nessa noite estranha,
descobri que estava possuída de uma audácia enorme. Audácia
que parecia vir de fora de mim.
— Sra. Mitchell, poderia dizer-me se há alguma ligação entre
perfume e Jesus?
Ela pensou por alguns instantes, a mão na maçaneta da
porta.
— Não —, disse ela — nada me vem à mente. Entretanto, vou
orar a esse respeito.
Enquanto eu dirigia para casa, experimentei, pela segunda
vez, aquela mesma presença fragrante que percebera no meu
jardim mais cedo naquele dia!
Quando cheguei a casa naquela noite li um pouco da porção
da Bíblia chamada "Evangelho de João", onde o escritor falava a
respeito de João Batista, esse estranho homem que se vestia com
pele de camelo e vivia no deserto conclamando o povo a preparar-se
para a vinda do Senhor. E então, lá na segurança do meu
próprio quarto, sentada no meu divã, rodeada de memórias e
tradições de setecentos anos de idade, um pensamento entrou de
esguelha em minha mente, sem ser convidado, não desejado e
rapidamente rejeitado. E se João Batista fosse um sinal vindo de
Deus, um sinal que apontasse para Jesus, não estaria este homem
apontando-me a Jesus, também?
É claro que a idéia era inconcebível. Tirei-a da mente e
adormeci.
Nessa noite dormi profundamente.
Enquanto o muezim chamava-me à oração na manhã
seguinte, senti alívio em poder ver as coisas com clareza de novo.
Que série bizarra de pensamentos havia brincado em minha mente
na noite anterior! Mas agora que o muezim me recordava de onde
se encontrava a verdade, senti-me segura outra vez, distante
daquelas influências cristãs perturbadoras.
Nesse instante Raisham entrou, não com o chá, mas com um
bilhete que disse ter acabado de receber.
Era da Sra. Mitchell. Tudo o que dizia era: "Leia 2 Coríntios,
capítulo 2, versículo 14."
Peguei a Bíblia que ela me havia dado e procurei até
encontrar o capítulo e o versículo. Então, ao ler, sustive o fôlego:
Graças, porém, a Deus que em Cristo sempre nos
conduz em triunfo, e, por meio de nós, manifesta
em todo lugar a fragrância do seu conhecimento.
Sentada na cama, reli a passagem, minha compostura de um
minuto atrás esmagada. O conhecimento de Jesus manifesta-se
em todo lugar como uma adorável fragrância! Em meu sonho, o
vendedor havia colocado o frasco dourado de perfume na minha
mesa de cabeceira dizendo que o perfume se "espalharia pelo
mundo todo". Na manhã seguinte eu tinha encontrado minha
Bíblia no lugar onde o perfume estivera! Estava tudo muito claro.
Não queria pensar mais a respeito disso. Tocar a campainha
pedindo o chá, é isso que devia fazer. Tocar a campainha pedindo
chá, trazer a vida de volta à sua perspectiva normal rapidamente,
antes que qualquer outra coisa saísse errada.
Embora a Sra. Mitchell me tivesse convidado a voltar, senti
que era melhor não fazê-lo. Parecia-me agora uma decisão lógica
eu pesquisar a Bíblia por mim mesma. Não desejava ser levada ao
redor por nenhuma influência externa. Mas, certa tarde Nur-jan
entrou apressadamente em meu quarto com um olhar estranho no
rosto.
— O Rev. e a Sra. Mitchell vieram fazer-lhe uma visita —
disse ela, quase sem fôlego.
Levei as mãos à garganta. Por que viriam aqui? Indagava-me
a mim mesma. Entretanto, voltando a mim rapidamente, disse à
criada que os introduzisse na sala de visitas.
David Mitchell, um homem magro de cabelos cor de areia,
irradiava o mesmo calor amistoso da esposa. Os dois pareciam tão
felizes em ver-me que esqueci o desconforto que a visita deles me
causava.
A Sra. Mitchell foi para apertar-me as mãos, mas, no último
instante, jogou os braços ao meu redor. Fiquei espantada.
Ninguém, fora de nossa família — nem mesmo nossos amigos mais
íntimos — jamais me havia abraçado desta maneira. Enrijeci-me,
mas a Sra. Mitchell pareceu não notar minha reação. Mais tarde
tive de admitir que essa demonstração de amizade agradara-me.
Não podia ter havido nenhuma hipocrisia na saudação dela.
— Estou muitíssimo contente em conhecer a "Dama das
Flores" —, exclamou David, com um jovial sotaque norte-americano.
Olhei para a Sra. Mitchell e ela sorriu.
— Deixe-me explicar. Quando a senhora foi a nossa casa, eu
quis que David soubesse imediatamente, pois havíamos falado a
seu respeito muitas vezes desde o dia em que visitamos seu jardim
na primavera passada. Passei-lhe um telegrama, entretanto, não
queria usar o seu verdadeiro nome, a fim de protegê-la. Enquanto
pensava em como referir-me à senhora pelo telegrama, olhei para
fora da janela e vi as flores que haviam nascido das sementes que
nos dera seu jardineiro. Veio-me à mente o nome "Dama das
Flores", e esse ficou sendo o código para seu nome.
Sorri. — Bem, de hoje em diante podem chamar-me Bilquis.
— E, por favor —, disse a Sra. Mitchell — chame-me Synnove.
Foi uma visita estranha. Acho que esperava certa pressão da
parte dos Mitchell quanto a aceitar sua religião, mas nada parecido
com isso aconteceu. Tomamos chá e conversamos. Questionei
Jesus ser chamado o "filho de Deus", pois para os muçulmanos
não há maior pecado do que fazer tal reivindicação. O Alcorão
afirma vezes sem conta que Deus não tem filhos.
— E essa "Trindade"? — perguntei. — Então Deus é três?
Como resposta, David comparou Deus ao sol que se
manifesta em três tipos diferentes e criativos de energia: calor, luz
e irradiação. Um relacionamento trinitário que junto perfaz o sol,
mas que separadamente não é o sol. E logo depois se despediram.
De novo, por vários dias, encontrei-me a sós com dois
livros — o Alcorão e a Bíblia. Continuei a ler a ambos, estudando o
Alcorão por uma lealdade familiar, mergulhando-me na Bíblia com
uma fome estranha interior. Entretanto, às vezes, hesitava em
pegar a Bíblia. Eu sabia que Deus não podia estar em ambos os
livros porque as mensagens deles eram tão diferentes. Mas quando
minha mão hesitava em apanhar o livro que a Sra. Mitchell me
havia dado, sentia um desânimo estranho. Na semana passada eu
tinha vivido num mundo de beleza, não em um jardim visível,
criado por mim com sementes e água, mas um jardim interior,
criado por uma conscientização espiritual nova. Entrei nesse
mundo de beleza pela primeira vez por meio dos meus dois sonhos;
então tornei-me cônscia desse mundo pela segunda vez na noite
que encontrei a presença indefinivelmente gloriosa no meu jardim;
e o conhecera outra vez quando obedeci ao impulso que me levou à
casa dos Mitchell.
Nos dias seguintes, lenta e claramente comecei a perceber
que havia uma maneira de voltar ao meu mundo de beleza. E ler o
livro cristão parecia, por motivos que não podia definir, a chave
para a reentrada nesse mundo.
Então certo dia o pequeno Mamude veio a mim com a mão na
cabeça, tentando não choramingar.
— Meu ouvido, mamãe —, disse ele com a voz perpassada de
dor. — Dói muito.
Abaixei-me e examinei-o cuidadosamente. Sua tez,
geralmente rosada, tinha-se tornado pálida, e embora Mamude não
fosse o tipo de criança que vivesse a reclamar, eu podia ver as
manchas de lágrimas em suas bochechas redondas.
Coloquei-o na cama imediatamente e cantei suavemente para
ele. Seu cabelo negro destacava-se contra o travesseiro branco.
Depois de ele fechar os olhos, fui ao telefone e disquei para o
hospital da Família Sagrada em Rawalpindi. Dentro de um minuto
Tooni estava no telefone. Ela concordou que devíamos levar
Mamude para o hospital imediatamente e que marcaria um exame
completo para a tarde do dia seguinte. Eu podia ficar num quarto
adjacente, e teria um quarto menor pegado ao meu para uma
criada.
Já era quase noite quando nos alojamos no hospital. Tooni
tinha a noite livre para passar conosco. Logo, Mamude e a mãe
estavam dando risadas por causa de algumas gravuras que
Mamude estava pintando num livro que ela lhe havia trazido. Eu,
recostada na cama, lia a Bíblia. Também havia trazido comigo o
Alcorão, mas a esta altura eu lia o Alcorão por um sentimento de
dever, mais do que interesse.
De repente as luzes do quarto tremularam e se apagaram.
Ficou totalmente escuro.
— Outra falta de energia —, disse eu, exasperada. — Você viu
algumas velas?



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Autor(a): grandeshistorias

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