Fanfics Brasil - O ENCONTRO - Parte III 𝔸𝕋ℝ𝔼𝕍𝕀-𝕄𝔼 a chamar-lhe Pai (CONCLUÍDA)

Fanfic: 𝔸𝕋ℝ𝔼𝕍𝕀-𝕄𝔼 a chamar-lhe Pai (CONCLUÍDA) | Tema: Cristianismo, Islamismo, Fé, Amor


Capítulo: O ENCONTRO - Parte III

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Num instante a porta se abriu e uma freira entrou com uma
lanterna.
— Espero que a escuridão não os tenha incomodado —, disse
ela, alegremente. — Arranjaremos algumas velas rapidamente.
Reconheci-a. Era a Dra. Pia Santiago, uma senhora franzina,
de óculos, filipina, responsável por todo o hospital. Havíamo-nos
conhecido em uma visita anterior. Quase imediatamente outra
freira entrou com velas e num instante, a cálida luz invadiu o
quarto. Mamude e Tooni retomaram a conversa interrompida.
Fiquei conversando com a Dra. Santiago. Não podia deixar de
notar que ela olhava fixamente para minha Bíblia.
— A senhora se incomoda se eu me sentar um pouco? —
perguntou a Dra. Santiago.
— Seria um prazer —, disse eu, presumindo que fosse
simplesmente uma visita de cortesia. Ela sentou-se numa cadeira
ao pé da cama.
— Oh —, disse ela, tirando os óculos e enxugando a testa
com um lenço — tem sido uma noite tremendamente movimentada.
Meu coração simpatizava com ela. Os muçulmanos sempre
tiveram respeito por essas santas mulheres que desistiam do
mundo a fim de servir ao seu Deus; sua fé podia estar colocada em
lugar errado, mas sua sinceridade era real. No decorrer da
conversa, percebi que essa mulher tinha algo mais em mente. Era
a Bíblia. Podia vê-la olhando para ela com curiosidade crescente.
Finalmente, inclinando-se para a frente perguntou em tom
confidencial:
— Madame Sheikh, que está a senhora fazendo com uma
Bíblia?
— Estou em busca sincera de Deus — respondi. E então,
enquanto as velas diminuíam contei-lhe, a princípio um tanto
cautelosa, e depois com audácia crescente, os meus sonhos, minha
conversa com a Sra. Mitchel e estar comparando a Bíblia com o
Alcorão.
— O que quer que aconteça —, enfatizei —, devo encontrar
Deus, mas estou confusa a respeito de sua fé — disse finalmente,
compreendendo que enquanto falava descobria algo importante —
vocês parecem tornar Deus tão... não sei... tão pessoal!
Os pequeninos olhos da freira encheram-se de compaixão.
Inclinou-se para frente:
— Madame Sheikh —, disse ela, com a voz cortada de
emoção — só há uma maneira de descobrir por que sentimos
assim. E essa maneira é descobrir por si mesma, por estranho que
isso possa parecer. Por que a senhora não ora ao Deus que está
buscando? Peça-lhe que lhe mostre o caminho. Converse com ele
como se ele fosse seu amigo.
Sorri. Era como se ela estivesse sugerindo que eu fosse
conversar com o Taj Mahal. Mas então a Dra. Santiago disse algo
que passou através de mim como uma descarga elétrica. Ela se
achegou para mais perto, tomou-me as mãos; lágrimas corriam-lhe
pelas faces.
— Converse com ele —, disse ela mui calmamente — como se
ele fosse seu pai.
Endireitei-me rapidamente. Um silêncio de morte enchia o
quarto. Até a conversa de Mamude com Tooni ficara pendurada
entre pensamentos. Olhei para a freira cujos óculos rebrilhavam à
luz da vela.
Conversar com Deus como se fosse meu pai! O pensamento
sacudia minha alma com a maneira peculiar que a verdade possui
de, ao mesmo tempo, espantar e confortar.
Então, como se de comum acordo, todos começaram a falar a
uma só vez. Tooni e Mamude riram concordando que o guarda-sol
devia ser pintado de roxo. A Dra. Santiago sorriu, levantou-se,
desejou felicidades a todos, arrepanhou o hábito e saiu do quarto.
Nada mais foi dito a respeito da oração ou do cristianismo.
Entretanto, passei o resto dessa noite e a manhã do dia seguinte,
estonteada. O que tornava a experiência especialmente misteriosa
era o fato de os médicos não poderem encontrar nada errado com
Mamude, que continuava a dizer que o ouvido não lhe doía nem
um pouquinho. A princípio, irritei-me com a perda de tempo e com
o trabalho que tudo isso havia acarretado. Então veio-me o
pensamento de que talvez, de alguma maneira mística, Deus tinha
aproveitado essa situação para colocar-me em contato com a Dra.
Santiago.
Mais tarde, nessa manhã, Manzur levou-nos de volta a Wah.
Ao deixarmos a rodovia Tronco Grande e entrarmos em nossa rua,
eu podia ver o teto cor de cinza de minha casa através das árvores.
Geralmente via minha casa como um retiro afastado do mundo.
Mas hoje parecia existir uma diferença na casa, como se algo
especial estivesse para acontecer.
Ao aproximarmo-nos da casa, Manzur começou a buzinar. Os
criados correram a rodear o carro.
— O pequeno está bem? — perguntavam todos ao mesmo
tempo.
Sim, assegurei-lhes que Mamude estava bem. Mas minha
mente não estava nas festividades do retorno ao lar. Encontravame
nesse novo caminho à busca de Deus. Subi para meu quarto a
fim de meditar em tudo o que estava acontecendo. Muçulmano
algum, tinha a certeza, jamais havia pensado em Alá como pai.
Desde a infância haviam-me ensinado que a maneira mais certa de
conhecer Alá era orar cinco vezes por dia, estudar o Alcorão e nele
meditar. Mas as palavras da Dra. Santiago continuavam vindo-me
à mente: "Converse com Deus. Converse com ele como se fosse seu
pai."
Sozinha no quarto, ajoelhei-me e tentei chamá-lo de "Pai".
Mas foi um esforço inútil. Levantei-me desapontada. Era ridículo!
Será que não era pecado tentar trazer o Grande Ser ao nosso
próprio nível? Nessa noite dormi mais confusa do que nunca.
Acordei horas mais tarde. Já passava da meia-noite, meu
aniversário, 12 de dezembro. Completava 47 anos de idade. Senti
uma excitação momentânea, lembrei-me da infância quando os
aniversários eram festivais com bandas de música no gramado,
jogos, parentes chegando à casa o dia inteiro. Agora, não haveria
celebração, alguns telefonemas talvez, nada mais.
Oh, como sentia falta dos dias da infância! Pensava em meus
pais e vinham-me à mente as lembranças melhores que tinha deles.
Mamãe, tão amorosa, tão real e linda. E papai. Eu tinha tanto
orgulho dele, de sua alta posição no governo indiano! Ainda podia
vê-lo, impecavelmente vestido, ajeitando o turbante ao espelho,
antes de sair para o escritório. Os olhos amigos sob a sobrancelha
cerrada, o sorriso gentil, as feições definidas e o nariz aquilino.
Uma das minhas recordações mais queridas era vê-lo
trabalhando no seu escritório. Embora vivêssemos numa sociedade
em que os filhos recebiam mais atenção do que as filhas, papai
dava valor igual a todos. Muitas vezes, em criança, quando tinha
uma pergunta que queria fazer-lhe, ficava olhando-o da porta do
escritório, hesitando em interrompê-lo. Então os olhos dele
encontravam-se com os meus. Pondo a caneta sobre a mesa, ele se
inclinava para trás e chamava: "Quicha?" e eu entrava devagar no
gabinete, cabisbaixa. Ele sorria e mostrava a cadeira perto da sua.
— Venha, minha querida, sente-se aqui —. Então colocava os
braços ao meu redor e atraía-me a si. — Agora, minha pequena
Quicha —, perguntava ele gentilmente — que posso fazer por você?
Papai era sempre o mesmo. Não se importava que eu o
incomodasse. Sempre que eu tinha uma pergunta ou um problema,
não importava quão ocupado ele estivesse, colocava de lado seu
trabalho e devotava-me atenção total.
Já passava da meia-noite, e eu, deitada na cama, saboreava
essas recordações maravilhosas.
— Oh, obrigado... — murmurei para Deus. Será que eu
estava realmente conversando com ele?
Subitamente, um raio de esperança atingiu-me. Suponhamos,
simplesmente suponhamos, que Deus fosse como um pai. Se meu
pai terreno colocava tudo de lado para ouvir-me, também não o
faria meu pai celestial...?
Tremendo de emoção, saí da cama, ajoelhei-me no tapete,
olhei para o céu e numa compreensão nova e rica, chamei a Deus
de "meu pai".
Eu não estava preparada para o que ia acontecer.



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Autor(a): grandeshistorias

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"Oh, Pai, meu Pai... Deus Pai."Hesitantemente, disse o nome dele em voz alta. Tenteimaneiras diferentes de falar com ele. E então, como se algo sehouvesse desfeito dentro de mim, descobri que acreditava quedeveras ele me ouvia, assim como meu pai terreno sempre o haviafeito."Pai, oh, meu Pai Deus", clamei, com confiança crescente.Minha voz parecia inusitadament ...


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