Fanfic: Até eu te encontrar | Tema: Romance, realidade, misticismo, bruxaria, wicca, amor, suspense, aventura
Era início de junho. Lauren estava na cozinha de Flávia, fazendo batida de morango com leite condensado. Flávia estava sentada, observando a amiga.
— Tem certeza de que não precisa de ajuda? — perguntou Flávia, reparando no jeito estabanado de Lauren colocar tudo dentro do liquidificador.
— De jeito nenhum, esta é a minha especialidade na cozinha. — Lauren ficou parada, com uma colher na mão, pensativa. — Falta algo, mas não sei o que é...
— Talvez seja a vodca? — Flávia riu, levantando a garrafa de bebida que estava em cima da mesa.
— Isso, claro! Uma batida sem vodca não é uma batida. — Ela ficou segurando a garrafa virada dentro do liquidificador por um longo tempo.
— Isso vai ficar forte.
— Assim que é bom. — Lauren ligou o aparelho e logo depois desligou. — Não tem problema a gente chapar, hoje é sábado, a noite está começando, estamos em casa, vou dormir aqui mesmo. Hoje é uma noite para liberar o stress deste semestre.
— É, acho que esta bebida forte vai vir em boa hora.
Flávia levantou e pegou os copos, servindo em seguida. Deu um longo suspiro, lembrando do que acontecera desde a Semana Santa. Ela e Felipe continuavam amigos, iam juntos ao Leão jogar sinuca, ao Galpão, ao Lenha, às festas. Às vezes, ele dormia em sua casa, outras vezes, ela na dele, mas sempre como amigos, apenas isso. Ele agia como se nada tivesse acontecido, como prometera, e isso a magoava. Ela lutava para tirá-lo da cabeça, mas era cada dia mais difícil. O fato de o encontrar sempre também não ajudava, mas Flávia não conseguia deixar de vê-lo. Costumava provocar encontros ocasionais, fora da UFV. Ainda não tinha visto Felipe com nenhuma outra garota, mas sabia que ele já havia ficado com outras meninas depois da Semana Santa.
Sobre sua conversa com Sônia, Flávia permaneceu reticente. Começou alguns exercícios que ela indicou para melhorar sua percepção dos cinco sentidos, mas tudo ainda era muito estranho. Não conseguia ver um propósito para nada, mas se esforçava. Apesar de tudo, estava gostando de conhecer um pouco mais sobre o passado de sua mãe. A Wicca, para ela, era uma forma de estar conectada a Elizabeth.
Já Lauren continuava esperando por Gustavo. Eles agora estavam mais próximos, mas ela ainda se sentia incomodada ao vê-lo com Mirela, embora Flávia sempre falasse que o namoro estava com os dias contados, não só pelo que ele falava, mas também pelo que ela sentia. Cada dia que passava, a percepção de Flávia sobre tudo ao seu redor ficava mais aguçada e ela estava gostando disso.
As duas foram para a sala. Flávia ligou o som baixo, para que não atrapalhasse a conversa. Lauren pôs o resto da batida que havia ficado no liquidificador dentro de uma jarra e a colocou em cima da mesinha de centro. Sentaram no sofá, uma de frente para a outra, com Flávia de costas para a porta do apartamento e Lauren de costas para a porta da sacada.
— Bem que você podia passar as férias de julho comigo em Lavras.
— Isso é um convite? — Lauren ficou feliz.
— Sim, é. Ou uma intimação. Vamos, Lauren, vai ser divertido. A gente sai lá, você conhece a cidade, a fazenda, meus amigos. E uma ajuda a outra a não ficar na fossa durante as férias.
— É uma boa, quem sabe? — Lauren deu de ombros. — Se meus pais deixarem, eu vou mesmo. Melhor do que ficar aqui ou ir para Itabira. — Ela fez uma careta.
— Credo! Você fala como se não fosse ser legal a viagem.
— Ah, Fla, estou brincando. — Lauren sorriu carinhosamente para a amiga. — Vai ser legal, sim. Quero conhecer Lavras e a sua fazenda.
— Claro que vai ser legal, vamos estar juntas. E você ajuda a me inpedir de pegar o carro e passear em Alfenas.
— Não diz que você pensou nisso!? — Lauren arregalou os olhos, assustada.
— Às vezes, eu penso. Não sei se vou aguentar ficar quase um mês sem ver o Felipe.
— Claro que vai, você tem de aguentar! Quem sabe isso não te ajuda a esquecê-lo?
— Tomara. — Flávia fez uma cara triste e Lauren não gostou.
— Tinha de aparecer um gatinho na sua vida. — Lauren ficou pensativa. — Em Lavras não tem ninguém?
— Para mim, não. Ninguém lá me interessa.
— Mas deve ter gatinhos lá.
— Ah, isso tem, só que nenhum me atrai. Mas quem sabe você não acha um para se divertir durante suas férias?
— É, quem sabe? — Lauren deu um sorriso malicioso. A conversa delas foi interrompida pela campainha. Flávia foi atender, era George.
— Oi, meninas, vim só lembrar que hoje tem banda de forró no Lenha.
— Estamos lembrando, George — disse Flávia.
— Já estamos no aquecimento — gritou Lauren do sofá, levantando o copo de batida para ele ver.
— Ok, bom aquecimento então. Encontro vocês lá. — Ele se despediu e saiu. Flávia voltou para o sofá e serviu outro copo.
— Opa, vai com calma. Não foi você quem falou que iria ficar forte a batida?
— Hoje sinto que vou precisar de algo forte em meu sangue.
— Ih, não gostei dessa frase.
— Nem eu... — Flávia ficou parada alguns segundos, olhando para o nada. — Estou com vontade de ligar para o Felipe, para saber se ele vai... — disse ela, sussurrando, como se fizesse uma séria revelação a Lauren.
— Ai... Isso não vai dar certo. — Lauren balançou a cabeça, negativamente. — Você já está ficando alegrinha?
— O que é que tem? Ele é meu amigo, não é? Nós já saímos várias vezes desde que ficamos e não aconteceu nada. Eu posso ligar para ele.
— Não sei. — Lauren mordeu o lábio inferior, hesitante.
— Não é ele que quer amizade? Então ele que tenha amizade. — Flávia foi até o quarto e voltou com o celular na mão. Começou a discar. — Droga, o telefone da casa dele está ocupado. — Olhou para Lauren. — Será que é ele? Com uma garota?
— Pode ser o Mauro. Ou ele mesmo, mas não necessariamente com uma garota.
Flávia concordou.
— Vamos tirar a prova, vou ligar para o celular dele. Se atender, não é ele no telefone da casa.
— Óbvio, né? — Lauren riu. Ficou olhando Flávia, que esperava o celular ser atendido. Ela arregalou os olhos e Lauren desconfiou que atenderam do outro lado.
— Alô? Er... Mauro? — Flávia fez uma careta desanimada. — Oi, é a Flávia... Sim, quero falar com o Felipe, ele está? Ah, é? Não, não, não é importante, era só para confirmar se ele vai ao Lenha. Ah, beleza, você também vai, né? Ok, Quem chegar antes guarda uma mesa. Ok, até lá, beijos.
Flávia desligou o telefone, deu um longo suspiro e ficou quieta.
— E aí? — Lauren estava temerosa. — É ele mesmo no telefone de casa, né?
— É, está conversando com o idiota do Luigi — disse Flávia, dando um longo gole na batida.
— Puxa, que bom! — Lauren ficou feliz.
— Que bom? Esse idiota desse menino está sempre no meu caminho.
— Ai, Flá, que horror! Você não prefere que seja com o Luigi que o Felipe esteja falando? Melhor que com uma garota.
— Nem sei... Às vezes, não sei mesmo, esse garoto me irrita.
— Mas você nem conhece ele.
— E nem quero conhecer. Cada dia que passa, ele me irrita ainda mais.
— Hum, quando você conhecer, muda de ideia. Ele é tão fofo!
Flávia ficou quieta novamente, até dar um sorriso.
— Ei, eu vi uma foto do Ricardo no quarto do Felipe, nem te contei. No dia do churrasco.
— Ah! E aí? Lindo, né? Monumental!
— Sim, nossa, ele é lindo demais! Parece saído de um catálogo da Hugo Boss. Só falta o terno e a gravata.
— Puxa, você definiu bem.
— Acho que nunca vi um cara mais lindo que ele.
— Nem eu. Você tinha de ter conhecido pessoalmente.
— Desperdício, né? — Flávia levantou e foi até a porta da sacada. — O irmão dele, como ele é?
— Eu não acredito que até hoje você não tenha visto uma foto dele. — Lauren sorriu, virando de frente para a amiga.
— Nunca me interessou. — Flávia deu de ombros e se sentou novamente no sofá. — Acho que o fato de ele me irritar ajuda a curiosidade não ser aguçada.
— Ele também é lindo. Não tanto quanto o irmão. É diferente. O Ricardo tem cara de homem, entende? O Luigi é um fofo, cara de moleque, jeitinho de garoto travesso.
— Ele não parece combinar com a Carla.
— E não combina. Só fazem um casal bonito, mas no jeito parecem não ter nada a ver.
— Ele estudou no Coluni? Quando veio para cá fazer o terceiro ano?
— Não, estudou no Equipe.
— Ah, pensei que a Carla tinha conhecido ele na escola.
— Não. Mas assim que ele chegou lá no Equipe, a notícia correu entre as meninas de Viçosa. Ele chama a atenção.
— Imagino, todas ficaram doidas por ele.
— Mais ou menos por aí.
— E o namoro dele com a Carla? Quando começou?
— Foi ano passado, alguns meses depois de ele passar na UFV.
— Achei que tinha mais tempo.
— Não. Quando ele chegou aqui, não ligava para ela. Não olhava pra ela, digamos assim. Acho que ela nunca chamou a atenção dele, embora seja muito bonita. A Carla ficou um ano tentando conquistá-lo e nada. E também fazendo feitiço. Como ele não estava predestinado a ela, demorou a fazer efeito.
Flávia balançou a cabeça. A campainha tocou e Lauren foi atender. Era Gustavo, e ela ficou alguns segundos parada, olhando para ele na porta. Flávia começou a rir.
— O que foi? — perguntou Gustavo, não entendendo.
— Nada. Entra. — Lauren deu um sorriso sem graça e saiu da frente, para que ele entrasse no apartamento. Gustavo viu a jarra de bebida, agora praticamente vazia, e olhou para as meninas.
— Hum, entendi. As duas já estão bêbadas;
— Ei, olha a ofensa! — disse Flávia, mais alto do que pretendia. Lauren começou a rir.
— Bêbadas não, né, Gustavo, alegrinhas. — Ela fez biquinho e ele balançou a cabeça, rindo.
— Me deixa provar essa gororoba que vocês estão bebendo — disse ele, pegando o copo da mão de Lauren. Ela ficou feliz com o gesto dele.
— Não é gororoba, está uma delícia. A Lauren que fez — disse Flávia provocando.
— Está bom mesmo — disse ele, olhando para Lauren, que sentiu o rosto corar. — Já pode casar.
— É, meu marido vai viver de batida de morango, porque é a única coisa que eu sei fazer na cozinha.
— Eu não me importaria. — Ele deu de ombros, sentando ao lado de Flávia. — Afinal, o disque-pizza existe para quê?
Lauren ficou parada, olhando Gustavo e suspirando. Ele estava sentado de costas para ela. Flávia viu a reação da amiga e arregalou os olhos.
— O que foi? — perguntou Gustavo, virando para trás e olhando Lauren.
— Nada, Gust. Acho que já está na hora da gente ir pro Lenha. — Flávia se levantou e puxou a mão dele.
— Vocês estão muito estranhas hoje. — Ele franziu a testa e seguiu Flávia até a porta do apartamento.
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No Lenha, a banda já tocava e alguns casais arriscavam passos de forró na pequena pista improvisada no grande salão de dentro. Flávia, Lauren e Gustavo encontraram Mauro e Felipe sentados em uma mesa na varanda. Todos se cumprimentaram e, antes que sentassem, Lauren puxou Gustavo.
— Vamos dançar — disse ela, levando-o para dentro do restaurante. Flávia ficou parada, olhando a cena e balançou a cabeça.
— O que foi, Caloura?
— Acho que a Lauren exagerou na batida.
— Batida?
— É. A gente estava bebendo batidinha de morango lá em casa.
— Poxa, e nem convida os amigos? — Felipe tentou fingir que estava magoado.
— Era uma reunião só nossa, das duas.
Ela se sentou, se perdendo no largo sorriso que ele dava agora.
— E você, Flávia? Dança? — perguntou Mauro, indicando a pista para Flávia.
— Não sou tão boa em forró. Mas gosto de dançar.
— Aí, Felipão. Leva a Flávia pra dançar — disse Mauro, dando um tapinha nas costas de Felipe. Flávia ficou sem graça, mas estava com vontade de dançar com Felipe.
— Se a Caloura não se importar que eu pise no pé dela — disse ele, aumentando ainda mais o sorriso.
— Depois eu me vingo na sinuca. — Flávia sorriu maliciosamente para ele.
— Isto vai ser divertido — disse Felipe, levantando da mesa e pegando a mão de Flávia. Os dois foram para a pista. Ela sentiu o coração acelerar quando Felipe colocou a mão em sua cintura. — Prepare-se para suar — disse ele baixo em seu ouvido.
Flávia apenas fechou os olhos e deixou que Felipe a conduzisse. Dançaram duas músicas seguidas e depois voltaram para a mesa, onde Bernardo fazia companhia para Mauro. Flávia se sentou entre Mauro e Felipe. Lauren e Gustavo ainda dançavam.
— E aí, Flávia, quantos pisões no pé?
— Nenhum, Mauro. o Felipe fica se fazendo de bobo, mas ele dança bem.
— Eu faço tudo bem — disse Felipe, dando uma gargalhada.
— Retiro o que eu falei, Mauro. O Felipe não se faz de bobo. Ele é muito bobo. E metido.
— Isso eu já sabia — disse Mauro. — Depois é minha vez de dançar com você.
— Ok. — Flávia deu um longo gole na cerveja dele. — Se quiser ir agora...
Mauro levantou e os dois foram para dentro do salão. Felipe e Bernardo observavam Flávia dançar através das grandes portas que davam para o lado de fora do Lenha.
— Essa calourazinha é muito bonita — comentou Bernardo.
— Tira os olhos dela, ela não é para o seu bico. — Felipe ficou sério.
— Estou sentindo um pouco de ciúmes vindo de você ou é impressão minha?
Felipe ficou quieto alguns segundos e balançou a cabeça.
— Impressão sua, eu não tenho nada com a Flávia.
— Se não tem nada, então eu posso investir. — Bernardo olhou novamente para Flávia e deu um sorriso malicioso.
— Fica longe dela, estou avisando, Bernardo.
— Qual é? Você não gosta dela, não tem nada com a menina. E eu aposto que não sou pior que você. Aposto que você pode fazê-la sofrer mais do que eu.
Felipe não respondeu. Bernardo estava certo.
Na pista, Flávia e Mauro dançaram apenas uma música. Quando voltaram para a mesa, Lauren e Gustavo já estavam sentados. Mirela havia chegado e Flávia olhou para Lauren, que levantou os ombros e virou o rosto para o lado contrário do casal de namorados. Flávia procurou por Felipe, mas ele não estava ali. Viu Lauren indicando a sua direita discretamente com a cabeça e, quando olhou para o lado, Felipe estava conversando com uma garota. Não tinha certeza se já havia visto aquela menina junto dele, mas o modo como os dois conversavam, bem próximos, a deixou irritada. Ela se sentou, tentando não demonstrar a raiva e a dor que sentia. Não havia como impedir Felipe de ficar com outra garota.
Gustavo levou Mirela para dançar, ao mesmo tempo em que Felipe ia para a pista com a menina com quem ele conversava. Mauro viu a cena e olhou para Flávia. Ele balançou a cabeça, negativamente. Bernardo conversava com Flávia, que não prestava muita atenção ao que ele dizia. A cabeça e os olhos dela estavam em Felipe.
— E foi por isso que eu saí de Goiás para fazer Engenharia de Alimentos aqui. Aí, assim que cheguei, eu e o Felipe ficamos amigos — Bernardo falava sem parar. Flávia apenas balançou a cabeça, concordando com ele, que percebeu ela olhando para a pista, mas não entendeu claramente o motivo disto. — Você quer dançar?
— O quê?
— Dançar? Você não para de olhar a pista — disse Bernardo, indicando o salão com a cabeça.
— É... Pode ser. — Flávia deu de ombros. Ele sorriu maliciosamente, mas ela não viu. Os dois se levantaram e foram para a pista.
— Isso não vai prestar — disse Mauro.
— Não mesmo — concordou Lauren, suspirando.
Na pista, Flávia tentava prestar atenção à dança e ao mesmo tempo em Felipe, que se divertia com a menina com quem dançava, o que a irritava cada vez mais. Ele parecia não estar ligando para ela nem para o que ela fazia. Bernardo às vezes falava algo em seu ouvido, mas ela não escutava nada. De repente, os olhos de Flávia viram o que não queriam. Felipe estava beijando a garota em um canto da pista. Ela sentiu o coração apertado e se segurou para não chorar. Sentia-se uma idiota por gostar dele, mesmo sabendo que ele jamais corresponderia àquele sentimento. Flávia estava perdida em seus pensamentos e não percebeu quando Bernardo puxou o rosto dela para perto do seu, beijando-a. Sem pensar, Flávia correspondeu ao beijo.
Autor(a): biiviegas
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Lauren dormiu na casa de Flávia, em um colchonete no chão do quarto da amiga, ao lado de sua cama. Ela acordou sentindo a cabeça latejar e se virou para cima. Flávia estava de olhos abertos, encarando-a. — Acordada tem muito tempo? — Mais ou menos — respondeu Flávia e ...
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