Fanfic: Até eu te encontrar | Tema: Romance, realidade, misticismo, bruxaria, wicca, amor, suspense, aventura
Flávia e Gustavo saíram da Biologia após a aula teórica de Zoologia, que foi às oito da manhã, e foram em direção ao trailer que ficava no estacionamento entre o PVA e o prédio de Engenharia Florestal. Lá, encontraram Mauro e Felipe conversando, sentados em um banco embaixo de uma árvore um pouco afastada do trailer. Ela ficou olhando para Felipe, que abriu um enorme sorriso assim que a viu.
— Oi, Baixinha. — Felipe deu um beijo na bochecha de Flávia, que se sentou ao lado dele, sentindo o coração acelerar.
— Eu vou comprar um pão de queijo, Flavinha, aceita um?
— Ah, sim, valeu, Gust.
Gustavo se afastou dos três.
— Como foi de férias?
— Fui bem; e vocês?
— Fomos bem — disse Mauro. — Olha lá o Luigi.
— Com a mala da Carla — completou Felipe.
Flávia riu do jeito de Felipe falar, mas fechou o rosto ao ouvir o que Mauro havia dito. Virou para o lado e viu Luigi pela primeira vez. Sentiu-se muito incomodada, uma sensação estranha, que nunca havia sentido antes por ninguém e em momento nenhum. Uma sensação que não sabia como descrever. Então aquele era o famoso Luigi, de quem todos falavam tanto, todos amavam tanto. Todos menos ela. Ainda se lembrava do dia anterior, quando quase foi atropelada por aquela caminhonete preta. Flávia reparou na semelhança entre ele e Ricardo. Os olhos verdes eram os mesmos, aquele verde intenso. "Verde floresta". O cabelo de Luigi era um pouco mais escuro que o do irmão. Ele usava uma jaqueta de couro preta com uma camisa verde-musgo por baixo, que realçava ainda mais seus olhos, e calça jeans rasgada nos joelhos, dando-lhe um ar de bad boy. E era lindo. Uma beleza que chamava atenção por onde passava, disso ela tinha certeza.
— E aí, Máfia — disse Luigi, cumprimentando os amigos. Olhou para Flávia, que sentiu o perfume que a estava perseguindo desde o dia do churrasco. Aquele cheiro forte, que sempre a envolvia.
— Essa é a Flávia — apresentou Felipe.
— Ah, você é a famosa Flávia.
As palavras, naquela voz grave e rouca que ele tinha, fizeram com que Flávia ficasse com mais raiva. "Famosa Flávia" pareceu um deboche na voz de Luigi. E a cara de Carla quando ele falou isso fez a raiva crescer ainda mais.
— Eu vou ali ver por que o Gustavo está demorando tanto — disse Flávia, que se levantou e foi em direção ao trailer. Felipe notou o cotovelo machucado dela.
— Caiu, Baixinha?
Flávia parou e virou na direção de Felipe. Não entendeu a pergunta.
— Como?
— Seu cotovelo está machucado — disse, apontando para o braço de Flávia. Ela se lembrou do incidente do dia anterior.
— Ah... Sim, um idiota aí me fez cair. — Ela foi saindo, com o rosto quente do sangue que subiu até as bochechas. Todos se entreolharam, não entendendo o que ela quis dizer. Carla continuou olhando para ela e suspirou.
— Ai, detesto essazinha aí. — Carla sentou no lugar que Flávia estava. Felipe olhou com desdém.
— Você detesta até sua sombra — disse ele, se levantando.
— Não vão começar vocês dois, né? — Luigi suspirou e se sentou ao lado da namorada, abraçando-a. Virou o rosto para o trailer e espiou Flávia, que ficou por lá conversando com um garoto.
— Quem é aquele?
Felipe olhou na direção em que Luigi falava.
— É o Gustavo, calouro de Agro. Bom, calouro semestre passado, né, agora não tem mais graça.
— Tem muita gente nova por aqui.
— Você queria o quê, Luigi? Ficou um semestre fora, tem gente nova sim, claro — disse Mauro.
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No trailer, Flávia observava o grupo mais afastado. Estava incomodada com os olhares de Luigi e Carla.
— Quer voltar pra lá? — perguntou Gustavo.
— Deus me livre! Não estou a fim de aguentar o casal mala.
— Aquela menina é mesmo estranha.
— O namorado dela é pior.
— Nossa, tem como? — Gustavo conseguiu fazer Flávia rir. Ela virou-se para o amigo e tentou esquecer Luigi, para que a raiva passasse.
— Ainda não acredito que não vou ter você na aula de Química Analítica.
— Não tenho culpa se quando fui fazer meu horário não tinha mais vaga na sua turma e precisei ficar com a da tarde.
— Mas você podia assistir agora.
— Agora não dá, tenho outra aula. Pode se acostumar, também não vou fazer Física Mecânica com você. — Gustavo fez uma careta e Flávia acompanhou.
— Seu chato. Devia mudar todo seu horário de aulas teóricas pra ficar comigo. Nem em Mecânica vou ter você na sala. Fiquei mal-acostumada no semestre passado, sempre tendo você comigo. Pelo menos, na de Física Termodinâmica estamos juntos.
— Você precisa ter uma vida independente da minha.
— Ai, seu convencido! Ok, não quer ter a minha companhia, não tenha. — Flávia fez outra careta para Gustavo. — Vamos indo para o PVA? Quero chegar logo lá.
Os dois passaram pelo grupo onde Flávia estivera e acenaram.
No PVA, ela encontrou rapidamente a sala. Lembrou-se do primeiro dia de aula ali, um semestre atrás. Agora aquele prédio não parecia mais tão grande e intimidador. Ela se sentou em uma das fileiras do meio da sala, mas em uma cadeira no canto, ao lado da janela. Ficou observando os alunos entrarem distraidamente, quando seus olhos avistaram Luigi.
— Ai, não. — Virou a cabeça pra frente e fechou os olhos, rezando para que ele não a tivesse visto sentada ali. Mas suas preces foram em vão quando percebeu alguém se sentando ao seu lado.
— Oi, Flávia.
Ela ficou alguns segundos com os olhos fechados, até que suspirou e virou o rosto na direção dele.
— Oi, Luigi. — Tentou dar um sorriso, mas não conseguiu.
— Legal termos essa aula juntos. Será que temos mais alguma?
Deus queira que não, pensou. — Vai saber — disse para ele.
— Deixa eu ver seu horário. — Ele parecia entusiasmado. Irritantemente entusiasmado. Flávia entregou o horário e continuou rezando.
— Legal, temos as aulas de Física Mecânica e Termodinâmica teóricas juntos também. Pena que as práticas são separadas.
— É — balbuciou Flávia, se irritando cada vez mais com a alegria dele. Até o sorriso de Luigi, naquele momento, estava irritando-a. — Você não está no segundo ano na UFV? No terceiro semestre? Não fez Analítica já?
— Eu repeti Química. Como falam, Química Paralítica, você cai nela e para, não sai mais. Só que neste semestre espero sair. E Física... Bem, repeti Cálculo no primeiro semestre, então não deu para pegar as duas matérias de Física no segundo. Sabe como é, né? Muita zona, eu, o Felipe e o Ric. Mas, afinal, um universitário nunca reprova e sim renova sua experiência. — Ele sorriu, um sorriso diferente do de Felipe. Um sorriso que lhe dava uma covinha em cada lado da boca, que parecia iluminar seu rosto, realçava ainda mais seus olhos verdes e o deixava ainda mais bonito. Um sorriso que cada vez mais estava irritando Flávia. — O Felipe disse que você é de Lavras. Bem perto da gente.
Ela ficou olhando para Luigi. Sim, era realmente bonito, como Lauren havia lhe falado. O cabelo liso castanho-escuro tinha algumas mechas caindo em sua testa e o resto escorria pelo rosto. Aliás, um rosto perfeito. Mas sua "forçada de barra para ficar amigo logo de cara" irritava Flávia. Não, não era íntima dele só porque era amiga de Felipe. Pensou em responder alguma coisa rude para ver se o afastava dela, mas o professor entrou na sala e ela decidiu virar pra frente, tentando fingir que estava interessada na aula que ia começar.
— E aí? Você curte Química?
— O quê? — Ela não entendeu a pergunta dele.
— Se você é boa em Química.
— Não muito. Sou na média.
— Hum, podemos estudar juntos, se você quiser. Sabe, eu já fiz a matéria, algumas coisas não devem ser difíceis para mim. — Ele não parecia pretensioso, parecia sim querer ajudar, mas o fato de não demonstrar interesse em parar de conversar e querer ser receptivo estava tirando-a do sério. Não conseguia se esquecer de quando ele quase a atropelou e, sempre que esse pensamento vinha em sua cabeça, fazia seu sangue ferver. Ia falar algo, mas foi interrompida pelo professor.
— O casal aí no canto não está interessado em Química Analítica?
Flávia gelou com a pergunta do professor. Nos segundos que levou para virar seu rosto da direção de Luigi, ao seu lado, para o professor, na frente da sala de aula, percebeu e sentiu todos os olhares da sala em sua direção.
— Estamos sim, só queria saber se a Flávia era boa de Química para estudar comigo — respondeu Luigi, como se fosse a coisa mais normal do mundo.
Flávia olhou para baixo; a sala toda, cerca de 80 alunos de diferentes cursos, olhava para ela, e ele fez o favor de anunciar seu nome em algo e bom som.
— Então você veja isso depois que eu passar a matéria, e não antes. — O professor se virou para o quadro e começou a escrever.
— Hum, esse vai dar trabalho pra nós — disse Luigi, e começou a rir, batucando a caneta no caderno. Ela enterrou a cabeça nos braços e se perguntava o que havia feito para merecer aquilo.
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Flávia chegou em casa morrendo de raiva. Para sua sorte, Luigi fugiu da sala um pouco antes de a aula terminar. Não estava nem um pouco animada em sair com ele tagarelando ao seu lado. Foi para o quarto e deixou os livros em cima da cama. Ia cozinhar algo, mas não estava com humor para isso e resolveu almoçar no Lenha.
Chegando ao restaurante, avistou Felipe em uma mesa, com Mauro e... Luigi, que acenava feliz. Flávia virou os olhos.
— Não acredito nisso — disse baixinho, indo em direção a eles. — Devia ter prestado atenção aos carros lá fora.
— Olha quem está aqui. — Luigi se levantou, puxando a cadeira ao seu lado para Flávia sentar. Felipe estava sentado de frente para ele e Mauro ao seu lado, ficando de frente para Flávia.
— Ei, meninos.
— O Luigi estava nos contando que o professor chamou sua atenção na aula de Química Analítica — disse Mauro, rindo.
— Minha não. Ele que não parava de falar — respondeu Flávia, apontando para Luigi, que sorria para ela. O mesmo sorriso de antes, com as covinhas do lado da boca. Percebeu como o sorriso dele deixava o de Felipe sem graça. Flávia balançou a cabeça para tirar aquilo de seus pensamentos.
— Repara não, Flávia, o Luigi é um pouco mala mesmo — disse Felipe.
— Eu não sou mala. Qual o problema de conversar enquanto o professor não chega?
— Corrigindo, ele já havia chegado e você continuou falando — Flávia tentou entrar na brincadeira, mas ainda não conseguia ir com a cara de Luigi. Ela se levantou para servir seu prato no delicioso buffet do Lenha. Luigi ficou observando-a de longe.
— Não baba não, que é capaz da Carla perceber lá da casa dela. — Felipe fingiu enxugar o queixo de Luigi, enquanto seguia Flávia para uma segunda rodada de almoço.
— Essa Flávia me deixa intrigado, Mauro.
— Intrigado? Você conheceu a menina não tem nem três horas.
— Eu sei... Mas parece que eu já a conheço tem uma vida. Ela é linda. Desconcertante.
— E apaixonada pelo Felipe — comentou Mauro, antes de começar a mastigar um pouco da comida que ainda tinha em seu prato. Luigi se assustou.
— Apaixonada pelo Felipe? — Olhou para os dois no buffet, com a sobrancelha franzida.
— É. Bom, eu acho que é. Eles tiveram um rolo semestre passado. — Mauro limpou a boca com o guardanapo. — Não sei se chega a ser um rolo, mas eles ficaram algumas vezes. Ou uma vez, sei lá quantas foram. Posso estar errado, mas achei que a Flávia se apaixonou por ele porque depois disso ela só ficou com o Bernardo, e acho que para fazer raiva no Felipe. Na verdade, acho que ela se apaixonou por ele assim que se conheceram.
— Ela ficou com o Bernardo? — Luigi se assustou.
— Sim. Ou melhor, acho que ele que ficou com ela. A Flávia estava um pouco bêbada no dia, viu o Felipe com outra, o Bernardo aproveitou a chance e a agarrou.
— Entendi — respondeu Luigi, olhando para Flávia. — Por que você acha que ela se apaixonou por ele no dia em que se conheceram?
— Sei lá. Desde o dia em que o Felipe a salvou de uma aula-trote de Cálculo que os dois grudaram e não se largaram mais. Mas ficar mesmo foi só a partir da Semana Santa, se o que o Felipe me falou for verdade.
— É, ele me contou... — Luigi olhou para os dois no buffet. Fazia sentido. Felipe falou muito da Flávia durante as férias, o jeito dos dois juntos, aquela intimidade que não precisava de palavras; só de olhar para eles dava para ver uma cumplicidade, algo a mais. — Mas acho que ele não está apaixonado por ela. Não percebi isso nas férias.
— E o Felipe se apaixona por alguém?
Os dois pararam de conversar quando Flávia e Felipe voltaram para a mesa.
— Você é uma draga, Felipe — disse Luigi, e Flávia não conseguiu segurar o riso.
— Eu sou bom de garfo, é diferente. — Felipe sorriu.
— Ele é um folgado — comentou Mauro, e se virou para Luigi. — Acredita que ele chegava na casa da Flávia e ficava exigindo suco disso, biscoito daquilo, bolo, cerveja?
— Não tenho culpa se não tinha suco de uva sempre quando eu ia lá. E, se me lembro bem, ela nunca se importou. — Felipe deu de ombros, colocando um garfo cheio de comida na boca.
— Você nunca deu escolha a ela — disse Mauro, enquanto terminava seu almoço.
— Você é folgado demais, Felipe! Eu não acredito nisso — disse Luigi, olhando para Flávia.
— Eu já me acostumei com ele. — Ela deu de ombros. — Na verdade, o Felipe é a pessoa mais fácil de agradar. Qualquer coisa pra ele tá bom.
Luigi se sentiu um pouco desconfortável com o comentário e a troca de olhares e sorrisos entre eles. Não conseguia entender por que se sentia assim.
— E aí, Felipe: Conseguiu trazer seu carro? — perguntou Flávia.
— Consegui. — Felipe abriu ainda mais seu sorriso.
— Que bom. — Ela sorriu de volta.
— Não viu aquele Focus vermelho sangue lá fora? — Luigi brincou.
— Não.
— Como se seu carro fosse discretíssimo — Felipe provocou o amigo.
— Meu carro é preto. — Luigi deu de ombros.
— Mas é grande.
A conversa dos quatro foi interrompida por Bernardo, que se aproximou da mesa.
— Olá, Luigi, voltou das férias prolongadas?
— Grande Bernardo. — Luigi se levantou e deu um abraço nele. — Um dia a gente tem de voltar, né?
— É verdade... Estava reparando na sua caminhonete estacionada lá fora. O L do escrito Alfenas, que fica na carroceria, está rasgado, você já viu?
— Já. Rasgou quando eu cheguei aqui, nesse fim de semana. Acho que foi ontem porque não me lembro de ter visto isso no sábado.
— L da carroceria? Oh, meu Deus! — disse Flávia. Todos a olharam e ela percebeu que havia falado alto.
— O Luigi tem o nome da cidade bem grande colado na traseira da caminhonete dele — explicou Felipe. — Você não a viu parada lá fora, do outro lado da rua?
Flávia apenas balançou a cabeça, negativamente.
— Mas o que aconteceu? — perguntou Bernardo.
— Não sei. Acho que bateu uma pedra ou algo assim e rasgou a letra. Eu só vi que soltou depois. Já liguei para o cara lá da gráfica de Alfenas, que ficou de fazer um outro L, mas não sei quando fica pronto.
Flávia ficou um tempo parada, como se estivesse congelada, e se lembrou do dia anterior.
— Eu vou indo, gente — disse ela, se levantando.
— Já? Mas você ainda nem terminou seu almoço — disse Mauro, apontando para o prato dela.
— Não quero mais. Eu... Eu tenho de passar na casa da Lauren. — Flávia se despediu com um aceno, pagou sua conta e saiu do Lenha. Bernardo se sentou no lugar dela.
— Essa calourinha é uma gata. E beija muito bem.
— Tira os olhos dela, já disse que ela não é pra você. Não quero te ver se engraçando para cida dela de novo — disse Felipe sério, apontando o garfo na direção de Bernardo. Luigi olhava tudo quieto.
— Calma, calma. Sem crises de ciúmes. — Bernardo sorriu, levantando as mãos como se se rendesse.
— Já te falei, Bernardo. Somos amigos, mas não chega mais perto da Flávia.
— Qual é, Felipe? A garota curte outro. — Bernardo olhou para Mauro, que balançou a cabeça, rindo. Luigi não falou nada, apenas sentiu uma pontada dentro do peito, sem saber o que aquilo realmente significava.
Autor(a): biiviegas
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