Fanfic: Até eu te encontrar | Tema: Romance, realidade, misticismo, bruxaria, wicca, amor, suspense, aventura
A primeira quarta-feira de agosto amanheceu fria, com um sol que teimava em aparecer, embora fosse fraco e mal aquecesse as pessoas na rua. Eram sete e meia da manhã e Flávia havia deixado a Santa Rita e entrado na Padre Serafim. Preparava-se para descer a ladeira que levava até as Quatro Pilastras, entrada principal da UFV, quando escutou uma voz que a chamava. Olhou para trás e viu Lauren correndo em sua direção.
— Flá, me espera. — Lauren a alcançou e ficou alguns segundos curvada para baixo, tentando recuperar o fôlego.
— Ei, pensei que você tinha aula às sete horas no Coluni.
— E tinha, mas perdi a hora. Vou para a das oito. Fiquei ontem até tarde na casa de uma amiga contando sobre as férias. — Olhou para Flávia. — Aconteceu alguma coisa com seu carro?
— Não, resolvi vir a pé, fazer um exercício. — Começaram a andar. Flávia cruzou os braços, se protegendo da leve brisa fria que soprava, enquanto Lauren sentia um pouco de calor por causa da corrida que dera. — Decidi que a partir deste semestre, quando não tiver aula nos prédios muito longe do PVA, vou para a universidade a pé. Não dá para ficar todo dia vindo de carro, senão vou começar a engordar.
— É verdade. Andar por Viçosa, suas ladeiras e até a UFV ajuda a manter a forma.
— E como.
Foram conversando pela reta da universidade até chegar ao RU e, atrás dele, o PVA, onde Flávia ficou, e Lauren seguiu adiante, para o Coluni. Combinaram de se encontrar meio-dia em frente ao RU para almoçarem juntas.
Flávia foi para sua sala. Embora o corredor estivesse cheio de alunos andando de um lado para o outro, conseguiu sentir o perfume de Luigi. O cheiro era forte e se destacava ali. Lembrou que ele estaria na aula de Física Mecânica. Respirou fundo e entrou na sala. Não demorou a encontrar Luigi sentado, olhando, acenando e a chamando para se sentar ao seu lado. No rosto, o sorriso que lhe dava as covinhas ao lado da boca.
— Oi, Luigi — disse Flávia, se sentando ao lado direito dele.
— Oi. — Ele sorriu ainda mais. — Parece cansada.
— Vim andando.
— Podia ter me falado, eu te dava uma carona.
— A meta era caminhar mesmo. Deixei meu carro em casa para fazer um pouco de exercício — disse ela, sem saber exatamente por que estava lhe dando explicação de alguma coisa da sua vida.
— Você não deve regular bem. Vir a pé para a UFV com carro na garagem. — Ele mantinha o sorriso no rosto. Era mais constante que Felipe? Flávia não sabia dizer, embora parecesse impossível alguém sorrir mais que Felipe.
— Cada louco com sua mania.
Flávia se virou para a porta, tentando fazer com que ele ficasse quieto, mas não adiantou. Luigi falava sem parar, algo relacionado às ladeiras de Viçosa, ao trânsito, à distância de alguns prédios dentro da UFV. Ela não tinha certeza, não prestava atenção. Estava presa à pessoa que acabara de entrar na sala. Feliz, ela acenou para Gustavo, que foi ao encontro dela, se sentando do seu lado direito, deixando-a entre ele e Luigi.
— Gust, não acredito que você vai assistir a essa aula comigo!
— Vou. Troquei minha aula prática de Zoologia e vou ter Mecânica com você. E agora a prática de Zoologia também, às duas da tarde.
— Você é o máximo. — Flávia deu um abraço em Gustavo. Ele ficou olhando para Luigi e ela os apresentou.
— Então é você que mora com o Felipe e o Mauro?
— Sim. — Luigi foi simpático.
— Eles são muito legais. E sua casa é muito boa, estive lá em um churrasco na Semana Santa.
— É boa mesmo. Gosto daquela casa, da rua — disse Luigi. — Você mora onde?
— Na Milton Bandeira, perto do shopping. Mas estou vendo se mudo de lá, não está dando certo com os caras da república.
— Hum, que chato.
Eles continuaram a conversa, mesmo quando o professor entrou na sala. Flávia não gostou da aproximação dos dois e cruzou os braços, com raiva. Queria Gustavo na aula não para ficar conversando com Luigi, e sim para ajudá-la a se livrar dele.
Quando a aula terminou, os três foram para o trailer e encontraram Felipe lá, sentado no banco embaixo da árvore.
— Grande Felipe, o que faz aí sozinho? — perguntou Luigi, batendo no ombro do amigo.
— Estou esperando a Baixinha para me dar um beijo — disse Felipe, apntando sua bochecha. Flávia sorriu e deu um beijo no local indicado. Luigi não gostou da cena. — Vocês três estavam tendo a mesma aula?
— Sim, Física Mecânica. — Flávia fez uma careta.
— Deus me livre — disse Felipe, fazendo o sinal da cruz.
— Tendo duas pessoas conhecidas, a aula não fica tão chata — respondeu Luigi.
— Bom, eu nem sei direito o que o professor falou hoje. — Gustavo deu de ombros.
— Também, você e o Luigi não pararam de conversar um minuto.
— Ainda bem que o professor não é tão chato como o de Analítica — disse Luigi, lembrando do primeiro dia de aula.
— Ainda bem é que a Flávia anotou tudo que ele falou, isso sim. Vai nos ajudar quando formos estudar.
— Anotei o que consegui entender porque vocês não calaram a boca, né, Gust? — Flávia se sentou ao lado de Felipe, que a abraçou. Luigi, que estava de frente para ela, suspirou, sem ainda entender por que aquilo o irritava tanto. Começou a pensar que poderia ser ciúmes pela amizade dos dois. Talvez ele quisesse estar no lugar de Felipe, mas não tinha certeza se era isso mesmo.
— Na próxima aula, eu sento ao lado do Luigi, aí você presta atenção melhor — disse Gustavo, indo para o trailer.
— Nossa, fui excluída legal agora.
— Imagina, não vamos te excluir. — Luigi sorriu para Flávia, que ficou alguns segundos admirando as covinhas dele, mas balançou a cabeça e olhou para Felipe, procurando aquele sorriso que ela tanto amou o primeiro semestre todo. Estava lá, em seu rosto, e eisso ajudou a distraí-la.
— Baixinha, o que você acha de começar um torneio de sinuca hoje?
— Acho uma boa, Felipe.
— Beleza. Vai durar o semestre todo.
— Não tenho dúvidas de que vou te vencer.
— Olha que convencida, Luigi! — Felipe deu uma gargalhada, apertando Flávia entre seus braços.
— Já soube que o Felipe levou uma surra de você no semestre passado — Luigi entrou na conversa e Flávia virou-se para ele. Ela tentou não se fixar no sorriso, mas os olhos "verde floresta" também não ajudavam muito.
— Nem tanto. Ele rouba demais.
— Eu sei disso — concordou Luigi com a cabeça.
— Eu não roubo. Apenas tento fazer meus adversários perderem — Felipe se defendeu e soltou Flávia. — Mas não vamos ser só eu e você, Baixinha. O Luigi também vai participar do torneio, acho que ele vai te dar trabalho.
— Não sou tão bom assim.
— Melhor do que eu você é. Você tem de vencer pela nossa república. Não podemos perder para uma mulher. É a honra da Mafia que está em jogo.
— Machista. — Flávia mostrou a língua para Felipe.
— Tem o Mauro também. Ele pode participar — sugeriu Luigi.
— O Gustavo também, se quiser — disse Felipe, apontando para Gustavo, que acabara de voltar com um pão de queijo para Flávia.
— O que tem eu?
— Vamos começar um torneio de sinuca durante este semestre no Leão. Tá dentro? — perguntou Felipe.
— Ih, sou péssimo na sinuca.
— Pior que o Mauro te garanto que você não é — disse Luigi.
— Tudo bem, estou dentro. Vale pela diversão. — Gustavo levantou os ombros. — O que o vencedor ganha?
— Não sei... — Felipe ficou pensativo. — Ele pode escolher o prêmio.
— Opa! Prêmio aberto? Qualquer coisa? — Gustavo se empolgou.
— Desde que não ultrapasse cem reais — comentou Felipe.
— Quem são os favoritos ao título? — Gustavo quis saber.
— O casal aí — disse Felipe. Flávia se assustou ao ouvir o modo como ele se dirigiu a ela e Luigi. Este gostou do que escutou.
— Ok. Vai ser legal ter algo para fazer durante o semestre além das aulas.
— Então está combinado. Toda quarta nove da noite no Leão. Ok?
— Exceto quando alguém tiver prova quarta neste horário — Luigi corrigiu Felipe.
— Combinado — disseram todos juntos.
💋 💋 💋
Eram oito e meia da noite e Flávia estava sentada em sua poltrona na varanda, esperando Felipe. Ele iria pegá-la dali a 15 minutos, mas como ela ficou pronta cedo, resolveu esperá-lo na sacada, mesmo fazendo frio. Tendo crescido em Lavras, no sul do Minas Gerais, e passado praticamente toda sua infância na fazenda, onde a noite era bem fria, já estava acostumada com aquele clima.
Estava distraída em seus pensamentos quando viu o Focus vermelho de Felipe vindo pela Santa Rita, na direção do seu prédio. Ficou feliz por ele ter chegado cedo. Levantou-se e desceu as escadas correndo. Abriu a porta do carro e se sentou no banco do passageiro, falando:
— Realmente esse seu carro não é nem um pouco discreto — disse ela, virando-se para o lado. E neste momento percebeu que quem estava no volante era Luigi, que a olhava sorrindo.
— Eu digo isso sempre pro Felipe.
Flávia ficou olhando Luigi, espantada e envergonhada. Ela se virou para trás, mas não havia mais ninguém ali dentro além de eles dois.
— Onde está o Felipe? Pensei que ele vinha me buscar.
— Ele precisou levar umas coisas na UFV, algo relacionado ao estágio que ele faz. Como era coisa demais, pegou minha caminhonete e eu fiquei com o carro. — Luigi reparou na decepção de Flávia. Era raiva também o que ela demonstrava? Balançou a cabeça, espantando os pensamentos, e deu partida no carro, fazendo a volta e retornando para pista de cima da Santa Rita. — Ele me pediu pra te pegar para irmos ao Leão. Ele vai direto da UFV ou da casa do Bernardo. Desculpa se não era o que você esperava.
— Não, tudo bem. — Ela deu de ombros. — Só achei estranho... — Olhou para a frente. — Temos de pegar o Gustavo.
— Ok. Na Milton Bandeira, né?
— É. E o Mauro?
— Vai chegar mais tarde. Ou não vai, não me lembro. — Luigi ficou sem graça. Era muito desligado e estava sempre confundindo os recados que os outros lhe davam. — Raramente vamos poder contar com o Mauro. Ele é muito furão. Ou muito caseiro, se preferir assim.
Luigi percebeu uma inquietação vinda de Flávia, mas não conseguia distinguir se aquele era um bom sinal.
— Sua namorada vai?
— Não.
— Ela não se importa de você estar com outra garota no carro?
Luigi não soube se aquilo era uma ironia ou preocupação. Talvez provocação.
— Tecnicamente não é meu carro. — Ele sorriu para Flávia e notou que isto mexeu com ela. Gostou do resultado. — Na verdade, ela não sabe que estou aqui com você. Não contei para ela sobre o torneio.
— Achei que ela te vigiava sempre. — Com certeza era provocação, mas isto não irritou Luigi. Era normal as pessoas não gostarem de Carla, já estava acostumado.
— Bom, ela bem que tenta. Mas não sou assim tão "vigiável". — Luigi usou os dedos para fazer o sinal de aspas e notou que ela não entendeu o que ele quis dizer, mas isso não importava.
Pegaram Gustavo e o clima no carro melhorou. Ele era falante e foi até o Leão contando a Luigi sobre sua vida em Ribeirão Preto. Chegando ao bar, encontraram Felipe encostado em uma das mesas de sinuca, conversando com um rapaz que jogava. Ao ver os três, Felipe se afastou da mesa, indo em direção aos amigos.
— Pensei que vocês tinham desistido.
— Jamais — disse Flávia, dando um beijo na bochecha dele. Luigi se perguntava por que não havia ganhado um beijo dela.
Talvez porque ela não te considere um amigo. Ou porque ela não seja apaixonada por você, ele pensou. — Vai demorar a desocupar? — perguntou, olhando para o trio de rapazes que jogava na mesa em que Felipe estava encostado.
— Não. Nós somos os próximos. Eles já estão acabando, é a última rodada. A outra ali é que vai demorar. — Felipe apontou para a segunda mesa, mais ao fundo do bar.
— Que tal um caldinho de feijão para esquentar e ajudar a matar o tempo? — perguntou Gustavo.
— Eu topo — respondeu Flávia. Luigi e Felipe também concordaram.
Gustavo foi até o balcão fazer os pedidos, junto com Felipe. Luigi e Flávia foram até uma mesinha do bar. Ele se sentou de frente para ela, que olhava para os lados, distraída. Os dois ficaram em silêncio por um tempo. Luigi não sabia o que falar e ela estava claramente desconfortável, o que tornava tudo pior para ele.
Luigi tentava pensar em algo para conversar, mas nada vinha em sua mente. Observava Flávia batucar os dedos na mesa. Ela olhou para a frente, abriu um sorriso e ele retribuiu até perceber que não era para ele, e sim para Felipe, que vinha na direção deles.
— Avisa o Gustavo que pagar calcinho de feijão para todos não vai dar nenhuma vantagem na competição para ele — brincou Felipe, se sentando ao lado de Flávia e colocando o braço direito ao redor dos ombros dela.
Aquela cena perturbou Luigi. Os dois ali, abraçados, pareciam um casal de namorados. Naquele momento, ele percebeu que, ao invés de ficar feliz por Felipe ter encontrado Flávia, sentia raiva de ver os dois juntos. Definitivamente isso não o agradava em nada.
— Deixa o Gust, Felipe. É o máximo que ele vai fazer hoje — disse Flávia, deitando a cabeça no ombro de Felipe.
Gustavo chegou, carregando duas grandes xícaras.
— Se os marmanjos aí quiserem comer, que vão buscar no balcão. Para a Flávia eu trago.
Gustavo colociu uma das xícaras em frente a Flávia e a outra na direção da cadeira que estava vazia. Felipe se levantou resmungando e foi até o balcão. Luigi também se levantou e se afastou da mesa, mas acabou ouvindo Flávia reclamar com Gustavo.
— Tinha de tirar o Felipe daqui? Estava tão bom ele me abraçando...
— Puxa, Flavinha, foi mal. Não saquei mesmo.
Luigi sentiu um enorme vazio no peito, que foi aumentando conforme se aproximava de Felipe. Antes de chegar ao balcão, ele olhou para o amigo.
— Leva o meu para a mesa? Preciso dar um telefonema. — Luigi não esperou Felipe responder. Saiu do Leão e foi subindo a rua. Quando estava umas três casas depois do bar, pegou o celular e discou. — Oi, Carla, sou eu.
— Oi, amor. Onde você está? Liguei para sua casa e o Mauro não soube dizer. Seu celular estava desligado.
Luigi sorriu ao se lembrar de Flávia falando sobre Carla monitorá-lo. Não se importava, gostava de Carla mesmo com seus defeitos e sua grande insegurança.
— Estou no Leão. Vim jogar sinuca.
— Ah... Devia ter me avisado, eu ia com você. — Ela não deu tempo de ele falar nada. — Espera que eu chego aí rapidinho.
— Não precisa.
— Claro que precisa. Torcida nunca é demais.
— É sério, Carla. Não precisa vir.
— Eu vou. Eu quero ir.
— Sei que você quer, mas...
— Você não quer que eu vá? — Carla fez uma voz manhosa. Luigi suspirou, rindo.
— Não é isso. Que você conhece só tem o Felipe e eu. Só tem homem aqui — mentiu. — Você vai se sentir superdeslocada. Além do mais, jogando eu não vou poder te dar atenção e isso vai te chatear. Não quero acabar brigando com você esta noite por besteira. — Ele já começava a se arrepender de ter ligado, mas sabia que precisava fazer isso. Precisava falar com Carla, escutar sua voz.
— Você que sabe. — Ela não escondeu a frustração. — Vê se vence, pelo menos.
— Pode deixar. Durma bem.
— Eu te amo. — Ela suspirou.
— Eu também.
Luigi desligou e ficou alguns minutos encostado a um carro estacionado ali na rua. Quando voltava para o Leão, o celular vibrou e ele viu o desenho do envelope acusar uma mensagem de texto. Ao abrir e ler, sorriu. A mensagem trazia vários escritos "te amo" e não precisou ver o número para saver que era de Carla. Luigi entrou no Leão e encontrou Felipe, Flávia e Gustavo em volta da mesa de sinuca, se preparando para jogar.
— Seu caldinho já deve ter esfriado — disse Gustavo, apontando para a grande xícara que estava em uma mesinha ao lado da mesa de sinuca, rodeado por duas garrafas de cerveja e quatro copos.
— Vão jogando enquanto eu tomo. Fico por último — disse Luigi.
— Foi ligar para a patroa? — Felipe provocou.
— Só fui dar boa-noite — responde ele, observando Flávia, que não demonstrou nenhuma reação.
— Eu começo — disse ela, virando-se de costas para Luigi.
— Pode começar. Não tenho pressa. — Felipe sorriu maliciosamente para ela.
Autor(a): biiviegas
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