Fanfics Brasil - Capítulo 23 Até eu te encontrar

Fanfic: Até eu te encontrar | Tema: Romance, realidade, misticismo, bruxaria, wicca, amor, suspense, aventura


Capítulo: Capítulo 23

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   Eram duas da tarde de sábado. Sônia acabara de voltar do Lenha, onde havia ido encontrar George para almoçar. Passou em casa e pegou um pedaço de papel que estava na gaveta de seu criado-mudo. Chamou Rabisco e foi até o apartamento de Flávia, que não demorou a abrir a porta.
   — Viemos fazer uma visitinha rápida.
   — Oi, Sônia. Oi, Rabisco. — Flávia pegou o maltês no colo. — Entrem.
   — Desculpa vir sem avisar.
   As duas se sentaram no sofá, com Sônia de frente para a porta de entrada e a sacada atrás. Flávia colocou Rabisco no chão e o cachorrinho começou a cheirar toda a sala.
   — Não tem problema, estava lendo aquele livro sobre Wicca que você me emprestou.
   — E o que está achando?
   — É diferente de tudo que já li. Mas acho que estou começando a me acostumar com a filosofia Wicca. Tem algumas coisas que concordo, com que me identifico, como o contato com a natureza.
   — Que bom. Eu não quero te influenciar, só acho que é interessante você conhecer um pouco do passado da sua mãe, da família dela.
   — Eu sei. Só não consigo me acostumar com o fato de minha mãe, minha avó e assim por diante terem sido bruxas. Ainda soa engraçado quando penso nisso; quando falo a palavra, então...
   — Você também é uma bruxa, mesmo que não queira seguir a bruxaria. E você é uma bruxa forte.
   — Eu sei. — Flávia fez uma careta. — É estranho, mas eu sinto isto. Sempre tive umas percepções, como te falei, pressentimentos, esse tipo de coisa. Agora entendo de onde vem isso.
   Sônia balançou a cabeça, concordando.
   — Como dizze, é uma visita rápida. Só vim mesmo porque precisava lhe entregar algo. — Ela estendeu o pedaço de papel que trazia em suas mãos. Flávia o pegou e leu.


Abigail Cotta
Rua José Vieira
Martins, 152
Bairro Palmeiras


   — O que é isto?
   — É o endereço da sua tia-avó em Ponte Nova.
   Flávia gelou ao escutar o que Sônia tinha acabado de lhe contar. Um arrepio percorreu sua espinha.
   — Minha tia-avó? — Ela sentiu o coração disparar. Seus olhos se alternavam do papel para Sônia.
   — Sim, Abigail é irmã do seu avô. Consegui o endereço esta manhã, com uma cliente minha de Ponte Nova.
   — Meu Deus! — Flávia levou uma das mãos à boca. Algumas lágrimas escorreram pelo seu rosto. — Muito obrigada, Sônia. — Ela abraçou a vizinha.
   — De nada. Prometi te ajudar, não prometi? Agora depende de você.
   — Será que consigo ir até lá? Estou com medo...
   — Medo de quê?
   — Não sei. De ela não gostar de mim...
   — Não fique. Abigail pode te ajudar a saber mais sobre seus avós. Sobre toda a sua família.
   — E se ela for uma velha rabugenta? Se não gostar desse "lance de bruxas", igual minha tia?
   — Pelo que soube, duvido muito. Parece que ela gostava da sua avó e a Lizzy era seu xodó. Sobre o "lance de bruxas", eu já não posso te dizer até onde ela sabe.
   Flávia apenas balançou a cabeça pensativa.
   — Não se apresse. Na hora certa, você vai até lá.
   — Obrigada. Mais uma vez, obrigada.
   — Imagina. — Sônia sorriu e se levantou. — Eu e o Rabisco agora temos de ir.
   Elas se despediram e Sônia deixou o apartamento. Flávia estava sentindo tudo ao mesmo tempo: nervosismo, alegria, hesitação, empolgação. Sem pensar muito, pegou a bolsa e saiu em direção à casa de Lauren. Embora estivesse morrendo de vontade de contar tudo para a miga, decidiu ir a pé para se acalmar um pouco e colocar os pensamentos em ordem.
   Em menos de dez minutos, estava em frente à casa da amiga. Tocou a campainha e esperou. Ninguém atendeu a porta. Tocou novamente e tornou a esperar. Ela batia o pé insistentemente. Tirou o celular da bolsa e ligou para Lauren.
   — Ei, amiga, onde você está?
   — Oi, Flá. Viemos almoçar na casa da minha avó.
   — Ah... — Flávia suspirou, frustrada.
   — Por quê? Aconteceu algo?
   — Não — mentiu. Não queria deixar Lauren preocupada. — Vim até sua casa ver se você estava aqui.
   — Puxa... Não sei que horas vamos voltar, mas posso pedir para meu pai me levar aí.
   — Não, não precisa, não tem necessidade disso. Era só para jogar conversa fora. — Flávia virou de costas para a casa de Lauren, na direção da República Máfia, e viu as janelas da sala e do antigo quarto de Ricardo abertas. — Eu vou até a casa do Felipe e fico lá. Quando você voltar, me dá um toque.
   — Combinado.
   Flávia desligou o celular e atravessou a rua. Parou no portão e sentiu o cheiro do perfume que a perseguia. Luigi estava em casa. Hesitou, mas tocou a campainha. Não precisava ficar na presença dele, era só ir para o quarto de Felipe conversar a sós com o amigo. Do lado de fora, escutava uma bonita música tocando, mas não reconheceu a letra.
   Não demorou muito e Luigi apareceu na porta, abrindo um imenso sorriso quando a viu parada ali fora.
   — Oi, entra.
   Luigi abriu o portãozinho para Flávia, que sentia o perfume agora mais forte. Ela foi para a sala, reparando que ele usava apernas uma camiseta e uma bermuda. Estranhou a roupa porque fazia frio naquela tarde de agosto.
   — Você está com calor? — perguntou, mas se arrependeu de ter feito isto. Não era da sua conta e muito menos lhe interessava o que se passava  na vida de Luigi.
   — Um pouco. — Ele manteve o sorriso no rosto. — É que estou encaixotando as coisas do Ricardo e fazer a arrumação faz a gente suar.
   Flávia notou a tristeza em sua voz quando falou do irmão. Era diferente da reação de Felipe. Embora os dois demonstrassem saudades, Felipe tinha também sempre um tom de culpa quando falava do amigo. Talvez nunca deixasse de se culpar pelo acidente.
   — Entendi. — Ela sorriu, compreensiva.
   — Vou levar tudo no fim de semana que vem para Alfenas e resolvi aproveitar o sábado para organizar as coisas.
   — Deve ser difícil mexer em tudo.
   — É e não é. Embora doa ver as coisas dele, pegar os cadernos, ver sua letra, as roupas, tudo, ao mesmo tempo é como se o Ric estivesse aqui comigo. É como sentir a presença dele. — Luigi suspirou. Flávia balançou a cabeça, concordando. — Mas você não veio falar de coisas tristes, não é mesmo? — Fez sinal para ela sentar no sofá maior, enquanto sentava no menor.
   — Vim ver o Felipe.
   — Hum... — Luigi ficou pensativo. — O Felipe foi até a casa do Bernardo, eu acho. Ele falou, mas não prestei atenção.
   — Você sabe se vai demorar?
   — Não sei. Não lembro se ele falou algo a respeito — disse Luigi, como se pedisse desculpas. — Mas você pode esperar. Ou ligar pro celular — disse, se levantando e tirando o telefone sem fio da sua base, já discando. — E aí, Felipão, está onde? É, eu sei que você falou, mas não lembrava... Tá, tá, depois você tira sarro comigo, só quero saber se você vai demorar. Não, é a Flávia que está aqui... Ok, vou falar para ela. Falou, tchau. — Colocou o telefone de volta na base, sentou novamente e olhou para Flávia. — O Felié disse para você esperar que ele deve voltar dentro de uma hora.
   — Acho melhor eu ir embora então. — Ela se levantou. Luigi se apressou e segurou o braço dela.
   — Não! — disse ele alto e ficou sem graça. Soltou o braço de Flávia, que olhou sem entender aquela reação. — Espera ele aí. Ou no quarto dele, se você preferir.
   — Não quero te atrapalhar, você está arrumando as coisas.
   — Imagina, eu já ia mesmo fazer um intervalo. — Abriu um novo sorriso, que iluminou seu rosto. — É bom que tenho uma companhia. E é bom que posso te conhecer melhor. O Felipe disse que você também tem uma fazenda de café, né? Meu pai mexe com isso. — O Rosto dele corou quando percebeu que não parava mais de falar.
   — Sim. — Flávia voltou a se sentar e Luigi fez o mesmo. — Na verdade, a fazenda é metade do meu tio, metade do meu pai. Quando herdei a parte do meu pai, meu tio aproveitou para passar ela toda para o meu nome porque ele não tem filhos, então quis me dar sua parte também. — A voz dela soava como se estivesse embaraçada com aquela situação. — Meu bisavô veio da itália para o Brasil por volta de 1900 e começou a cultivar café em São Paulo. Depois, quando meu avô já era um rapaz, eles compraram algumas terras em Lavras e começaram a cuidar da sua própria plantação.
   Flávia parou e olhou para Luigi, que prestava atenção com grande interesse a tudo que ela falava. Não entendia por que estava contando sobre sua família para ele, mas sentia uma enorme paz na presença de Luigi, apesar de toda a implicância que tinha com ele.
   — Foi mais ou menos o que aconteceu com a minha família. Meu avô também veio da Itália e se tornou produtor de café. Meu pai herdou as terras deles. Bom, não sei se terras é o termo apropriado, porque quando meu pai herdou, era bem pequena a propriedade. Ele que a transformou na fazenda que é hoje — disse com orgulho. — Qual o nome do seu tio? Talvez eu o conheça.
   — Heitor Borioni. Meu pai se chamava Henrique Borioni.
   — Não me lembro se conheço algum Borioni. Além de você. — Sorriu. — Mas vou falar com meu pai depois, talvez ele conheça. Meu pai se chama Leonardo Cevasco. — Luigi ficou quieto alguns instantes, encarando Flávia, que começava a ficar desconfortável com o olhar dele. — O Felipe disse também que sua mãe é daqui de perto.
   — Sim, ela era de Ponte Nova.
   — Por isso que você veio para cá?
   — Acho que sim. Nunca parei para pensar, mas talvez no meu subconsciente eu saiba que este foi o principal motivo.
   — Você conhece Ponte Nova?
   — Não.
   — Não? Ainda não foi lá?
   — Não.
   — Mas por quê? Não tem vontade?
   — Não sei. — Deu de ombros, se lembrando do endereço que Sônia havia lhe entregado. — Talvez um dia eu vá. — Decidiu mudar o assunto. Apesar de se sentir bem conversando com Luigi, não queria falar sobre isto especificamente. — O que você está escutando?
   — Vinicius de Moraes e Tom Jobim. Os grandes mestres da música e da poesia brasileira. — Ele sorriu.
   — Não conheço muito o trabalho deles.
   — Sério? — Luigi se espantou e a reação dele deixou Flávia sem graça.
   — Minha tia é louca com as músicas do Djavan, só tocava isso lá em casa. Um pouco de Milton Nascimento também, mas basicamente Djavan. Não conheço muita coisa de música brasileira, tirando as bandas de rock.
   — Eu gosto de Djavan. Adoro "Flor de Lis"; é minha música preferida dele.
   Flávia arregalou os olhos e abriu a boca, mas desistiu de falar o que estava em sua mente. Luigi percebeu do que se tratava.
   — Não me diga que é a sua também?
   — É — concordou com a cabeça, quase sussurrando.
   — Pelo visto, temos muito mais coisas em comum do que eu imaginava. — Ele agora sorria apenas com um dos cantos da boca. — Se você quiser, posso emprestar algum CD do Vinicius e do Tom para você escutar. Tenho certeza de que vai gostar.
   — Quem sabe, depois... O Felipe andou me emprestando alguma coisa.
   — Deles? — Luigi estranhou. — Ou foi O Grande Encontro?
   — O Grande Encontro.
   — Sabia. O Felipe empresta esse CD para todo mundo. Eu gosto muito. Um CD com Elba Ramalho, Alceu Valença, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho realmente é um grande encontro.
   A conversa deles foi interrompida pela campainha.
   — Deve ser a Carla — disse Luigi, se levantando do sofá e indo em direção à porta. Flávia também se levantou.
   — Acho melhor eu ir para o quarto do Felipe, não? Para ela não me ver aqui...
   — Relaxa. Ela não morte. — Luigi riu, mas Flávia permaneceu séria.
   — Acho que ela não gosta muito de mim.
   — Repara não. A Carla é assim mesmo, um pouco estranha a princípio, mas é gente boa, você vai ver quando conhecê-la melhor.
   Flávia não tinha tanta certeza. Antes que pudesse se mover, Luigi já havia aberto a porta. Carla pulou em seu pescoço, dando-lhe um longo beijo, a Flávia se sentiu incomodada com a cena. Mas o que a incomodou mais foi a expressão de Carla ao vê-la ali parada na sala.
   — O que ela faz aqui? Vocês estão sozinhos?
   Luigi virou os olhos.
   — Carla, ela veio ver o Felipe. Calma, tá?
   — E cadê o Felipe?
   — Está... — Luigi havia se esquecido onde Felipe estava — na UFV — disse, sem muita convicção na voz.
   — Eu vou esperá-lo no quarto — disse Flávia e saiu logo dali, indo em direção ao quarto de Felipe; mas ainda escutou as últimas frases dos dois antes que Luigi fechasse a porta do quarto de Ricardo.
   — Você tinha de ficar fazendo companhia para ela?
   — Já falei que ela veio ver o Felipe.
   — Sei... Ele nem está aqui. Não gosto de você perto dela — Carla fez uma voz manhosa.
   — Carla, relaxa. Não tem nada a ver e, além do mais, ela é apaixonada pelo Felipe.
   A porta do quarto de Ricardo se fechou e Flávia ficou parada, sentindo o rosto corar. Todo mundo sabia que ela gostava de Felipe e isto a deixou sem graça. Perguntou a si mesma se devia ir embora ou esperar por ele. Foi andando para a saída da casa, não ficaria ali nem mais um minuto, ainda mais com Luigi e Carla lá dentro. Quando abriu a porta que dava para a rua, viu Felipe estacionando seu carro na garagem.
   — Oi, Baixinha, fugindo sorrateiramente?
   — Ei, Felipe. Não estava fugindo não, apenas desisti de te esperar e ia para casa.
   — O Luigi não avisou que eu não ia demorar?
   — Avisou. Ele me fez companhia até agora, mas a Carla chegou. — Flávia fez uma careta e Felipe acompanhou.
   — Ih, então o clima aí de casa está poluído?
   — Mais ou menos — disse Flávia. Felipe ficou pensativo.
   — O que acha de irmos para o Lenha tomar uma gelada neste final de tarde de sábado?
   — Acho uma boa ideia. — Flávia fechou a porta da casa.



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Autor(a): biiviegas

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 1



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  • _Estefani_Silva Postado em 19/10/2017 - 10:09:37

    Meu Deus!!!! Eu amo esse livro <3 <3


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