Fanfics Brasil - Capítulo 17 Prometida - Uma longa jornada para casa (Levyrroni)

Fanfic: Prometida - Uma longa jornada para casa (Levyrroni) | Tema: Levyrroni [Adaptada]


Capítulo: Capítulo 17

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— Srta. Maite! — Madalena passou pelo batente, uma vela na mão. Oh, por Deus.


Madalena surpreender William em meus aposentos era quase tão ruim quanto Ian o flagrar. Quase.


— Eu posso explicar, sra. Gomes! — me adiantei, erguendo as mãos.


— Qual a razão de todos esses gritos a esta hora da noite? Viu um rato, minha querida?


— O quê? — Virei-me para a janela aberta. Não havia o menor sinal de William.


Oh, ele havia conseguido! Escapara sem ser visto. O alívio quase me derrubou no chão. E então a tristeza. William tinha partido e outra vez nossa despedida não saíra como eu esperava.


— Não foi um rato — expliquei a Madalena. — Houve um acidente com a vela. Não percebi até que meu vestido pegasse fogo.


— Fogo? — Seu rosto foi tomado de horror. — Oh, srta. Maite, que perigo!


Você está bem, minha querida? — Ela chegou mais perto, colocando a vela sobre a cômoda para então me tocar em todos os lugares que pôde alcançar, se certificando de que eu estava inteira.


— Não fique preocupada. Não me feri. Consegui apagar as chamas antes que o pior acontecesse. — Apontei para a bagunça que era o toucador agora.


— Minha nossa! Vivo falando que esses castiçais são perigosos. É coisa de um instante para que toda a casa se incendeie. Deixe-me ajudá-la a se livrar desse vestido. Está cheirando a fumaça. Roupas limpas e um chá de erva-doce são tudo de que você precisa agora.


O que me confortaria era ter tido uma conversa franca com William. Que as coisas entre nós pudessem voltar ao que eram antes. Que ele tivesse se despedido com um beijo apaixonado, cuja lembrança me faria suportar sua ausência. Mas achei melhor não dizer isso a ela, então me virei para que ela pudesse desabotoar meu vestido.


— Dulce se sente melhor? — eu quis saber.


— Logo que colocou o jantar para fora, ela se sentiu muito melhor. A pobrezinha ainda não se deu conta de que está esperando um bebê. — Madalena deu uma risadinha, abrindo o primeiro botão. — É engraçado que o patrão já tenha percebido e ela não. Mas a sra. Uckermann é assim. Sempre demora para perceber o que está bem diante do nariz.


Dei risada enquanto puxava os cabelos por cima dos ombros para facilitar o acesso aos botões.


— Vindo de alguém que demorou duas décadas para notar que tinha um homem apaixonado, apenas esperando um sinal de que seria bem recebido, esse comentário foi engraçado.


— Maite! — Ela corou. — Não se espera que uma mulher na minha idade tenha a chance de viver um grande amor. Foi um terrível acidente!


— Um acidente que a faz sorrir o tempo todo agora.


— Hunf! Imagine se eu ia ficar sorrindo por conta daquele velho


matusquela... — Ela voltou a trabalhar no meu vestido, cantarolando uma canção sem parecer se dar conta, e eu me peguei sorrindo de novo.


Conforme ela removia os botões de suas casas, o vestido ia se abrindo, mesmo que não trouxesse alívio. Eu desconfiava de que aquele aperto no peito não estava relacionado ao espartilho que usava, mas ao homem que escapara pela janela instantes antes.


As mangas escorregaram pelos meus braços, revelando minha roupa de baixo. Madalena soltou um silvo áspero.


— O que foi, minha querida? A fumaça atacou sua garganta? — ela perguntou, antes que eu pudesse fazer o mesmo, o que me deixou confusa. Por que ela me perguntava aquilo se havia sido ela quem resmungara? Mas, pensando melhor, o som parecia ter vindo do outro lado...


Vasculhei o quarto sob a luz bruxuleante da vela, e tudo que encontrei foi Bartolomeu, se esfregando nas cortinas. O bichano se moveu para roçar o outro lado do lombo no tecido. Então o par de botas masculinas enlameadas ficou visível sob a barra do pesado tecido branco.


William ainda estava no quarto!


E Madalena continuava a abrir os botões do meu vestido!


Eu me afastei dela abruptamente, puxando o corpete aberto de encontro ao peito.


— Eu... humm... acho que vou ficar com este traje um pouco mais.


Ela apoiou as mãos nos quadris.


— Não seja boba, menina. O vestido está fedendo a fumaça e você ainda está dentro do espartilho. Me deixe terminar de abri-lo. — Tentou alcançar minhas costas.


— Não! — Eu me esquivei. — Eu... gosto tanto dele. E, agora que está arruinado, nunca mais vou poder usá-lo. Quero... humm... ficar com ele mais um pouquinho.


— Era mesmo um belo traje. — Ela estalou a língua. — Mas agora não passa de trapos. Aliás, por que está úmido em alguns pontos?


Eu tinha de tirar Madalena dali antes que ela flagrasse William e a casa realmente pegasse fogo. Mas como, se a mulher não parava de tentar tirar minhas roupas e de me fazer perguntas?


— Deve... ter molhado quando tentei apagar o fogo — improvisei. — Ou a chuva pode ter molhado. Não estou certa.


Oh, que grande ideia atrair a atenção de Madalena para a janela...


— Gomes deve ter esquecido a vidraça aberta. — Ela se virou e avançou para fechá-la.


— Não! Não feche! — Além de ficar perigosamente perto de William, assim que encostasse a janela, ela cerraria as cortinas e o meu noivo seria descoberto.


— Deixe aberta, ou o cheiro da fumaça não vai sair do quarto.


Ela me avaliou por um instante.


— O cheiro de fumaça não irá sair deste quarto enquanto não se livrar destas roupas.


Hesitei por um instante. Eu seria capaz? Por Deus, só de pensar já sentia o rosto em chamas. Porém, algo mais importante que minha timidez estava em jogo. Se Madalena descobrisse William, Christopher ficaria sabendo e eu não tinha dúvidas sobre o que meu irmão faria para restaurar minha honra.


— Está bem. — Engoli em seco. — Me ajude a tirar o vestido, mas deixe a janela como está.


— Não vou fechá-la. Temo que a fumaça tenha feito mal aos seus miolos — resmungou.


Eu me afastei do esconderijo de William o máximo que pude, parando quase em frente à porta, e fiquei de lado, de modo que Madalena permanecesse de costas para ele. Se ela estranhou alguma coisa, não mencionou nada, e voltou a trabalhar em meu vestido. Mantive os olhos grudados no chão o tempo todo, o rosto ardendo.


— Sua anágua também está queimada. — Ela desatou o laço em minha cintura com um suave puxão. A peça se amontoou a meus pés, me deixando com nada além de meias de seda, o culote, que me chegava ao meio da coxa, o espartilho e a fina chemise de alças sob ele.


Senti seus dedos nos laços do espartilho. Eu me virei, passando os braços ao redor do peito, tentando me cobrir.


— Pode deixar. Eu termino de me despir.


— Não me custa nada, querida.


— Eu sei. E agradeço, mas já está tarde e a senhora também está cansada.


Boa noite, sra. Gomes.


Depois de resmungar, ela recolheu a bagunça sobre o aparador e saiu do quarto, minhas roupas arruinadas pelo fogo jogadas no ombro.


Esperei mais um instante e então passei a chave na porta. Ouvi o sussurro do tecido quando William saiu de trás das cortinas. Não ousei me virar, mas um arrepio me subiu pela nuca quando ele se aproximou. Um tecido pesado e úmido me caiu nos ombros. O casaco de William. Segurando as lapelas, eu me virei para ele.


— Obrigada. — Mortificada, mantive os olhos no chão.


— Não devia ter permitido que ela a despisse. — Sua voz mal passava de um murmúrio. — Tentei atrair sua atenção para que a impedisse.


— Se não a deixasse me ajudar, ela iria desconfiar e acabaria o descobrindo atrás das cortinas. E, se isso acontecesse, você seria um homem morto ao amanhecer.


— Tem tão pouca fé em minha pontaria? — Pude ouvir o sorriso em seu tom.


Neguei com a cabeça, mantendo os olhos em sua gravata ensopada.


— Eu não ia suportar se você ou Christopher se ferissem. Eu jamais me perdoaria se duelassem. Qualquer coisa é melhor que imaginar um de vocês machucado.


Suas mãos se encaixaram em meu rosto, me obrigando a olhar para ele.


— Você me confunde, Maite. Sinto que estou perdendo o juízo. Você fugiu de mim, mas, quando lhe dei a chance de romper o noivado, você não quis. Não quer se casar comigo, mas corresponde aos meus beijos como se... — Ele fechou os olhos, parecendo torturado. — Você está me rasgando ao meio, Maite.


— William...


— Não! — Ele me encarou, me segurando pela nuca. — Eu preciso falar antes que sejamos interrompidos de novo. Você me acusou de não querer pedi-la em casamento. E eu confirmei. É a verdade, mas não toda ela. Eu tentei falar com você antes, mas nunca consegui, porque aquela sua governanta... — Ele sacudiu a cabeça. — Maite, eu ia pedir que me esperasse. Sabia que não era justo, que tinha muitos pretendentes, melhores partidos do que eu. Mas eu não podia desistir de você. Simplesmente não consigo. — Havia ardor em seu olhar, em seu rosto, em suas palavras. — Mas também não podia privá-la do conforto que já tem aqui. Por isso ainda não tinha pedido sua mão para seu irmão. Eu queria me estabelecer, não ter que depender dos rendimentos da propriedade da minha família antes de me oferecer a você.


Meu coração ameaçou explodir. Então fora isso? Ele sempre pretendera me pedir em casamento? Apenas estava esperando pelo momento certo?


— Quando fomos flagrados e eu pedi a sua mão — prosseguiu —, tudo o que eu podia lhe oferecer eram os meus sentimentos. Foi com isso que fiquei furioso. Comigo, pela imprudência de a ter colocado naquela situação, pelo fato de ainda não ser capaz de cuidar de você como merece.


Meus olhos marejaram, minha pulsação acelerou e eu senti que poderia sair voando a qualquer instante. De todas as palavras que ele proferiu, uma havia mudado tudo para mim.


— Sentimentos? — perguntei.


— Profundos e verdadeiros. — Ele colou a testa na minha. — Por isso estou aqui agora, diante de você, abrindo meu coração, na esperança de que faça o mesmo e eu possa entender por que fugiu de mim.


Era tudo o que eu queria. Ele dissera tudo o que eu sempre quisera ouvir. E eu queria abrir meu coração como ele fizera, e depois encontrar a alegria em seus braços. Queria ser capaz de manter aquela chama em seu olhar, e nunca mais vê-la se apagar. Queria dar a ele todos os meus segredos e acabar com aquela agonia de uma vez.


Mas eu não podia.


— Me perdoe, eu não posso. — Toquei seu pulso, afastando-o, e, oh, como me machucou ver a dor em seu rosto. — Eu não fugi de você, William. Eu fui forçada a me afastar.


— Por quê? Por quem? Esse tal Alexander, que você chamou ainda agora? — me encarou.


Sustentei seu olhar, mas nenhuma palavra deixou meus lábios.


— Diabos, mulher! Você se diverte torturando um homem desta maneira?


— Não! Mas já falei que não posso explicar! Eu não posso! — Balancei a cabeça freneticamente, segurando o casaco com força, como se ele pudesse de alguma maneira me proteger de suas perguntas. — Se realmente tem sentimentos por mim, então por favor, deixe esse assunto no passado.


— Como se sentiria se eu tivesse desaparecido depois de ter pedido a sua mão? E depois voltasse sem dar qualquer explicação? Seria capaz de deixar no passado? — Ele me agarrou pelos ombros, o rosto encoberto pelo desespero e algo mais. — Como posso deixar isso no passado se vamos nos casar, Maite?


Como podemos pensar em construir uma vida juntos se você esconde coisas importantes de mim? Se não confia em mim?


Ele não dizia nada em que eu já não tivesse pensando um milhão de vezes.


Mas, na época, eu não sabia que ele sentia alguma coisa por mim além de atração. Não com certeza. Agora que William declarara seus sentimentos — profundos e verdadeiros —, negar a verdade a ele era agonizante.


E seria assim dali em diante, não é? Porque, tão logo nos casássemos e começássemos a partilhar nossa vida... ele me beijasse e me fizesse sentir todas aquelas coisas... meu amor por ele só iria aumentar. E eu morreria um pouquinho a cada dia, por não poder partilhar com ele o segredo que guardava. Eu o faria sofrer a cada vez que me perguntasse sobre a viagem e eu me esquivasse. A dor que eu via agora em seu olhar nos acompanharia enquanto vivêssemos, até que seu amor se transformasse em rancor, depois em ódio. Eu acabaria por destruí-lo.


“Você está me rasgando ao meio, Maite”, sua voz ecoou em minha cabeça.


Eu estava destruindo William, me dei conta.


Naquele instante, eu me vi diante de uma divisão. A estrada da minha vida bifurcava. Eu teria de escolher um caminho. Minha família ou o homem que amava. Não seria possível manter os dois.


Eu queria me dobrar de dor e gritar porque, no fundo, sabia que não havia realmente uma escolha. Colocar Dulce em risco exporia também Christopher e Marina.


Como eu poderia não protegê-los? Como eu poderia dar as costas a Dulce e pensar apenas em mim, se ela não hesitou em ir me resgatar quando eu estava perdida em seu tempo? Como eu poderia trair a família que me restara?


Eu amava William. Tão profunda e verdadeiramente que teria me casado com ele mesmo quando pensava que não me amava. Eu o amava tanto a ponto de afastar dele aquilo que acabaria por destruí-lo: de mim mesma.


E teria de deixá-lo ir. Tinha de acabar com o noivado, abrir mão da única coisa que desejei chamar de minha nesta vida. A dor que me apunhalava era profunda, como se uma lança me atravessasse o peito.


Passei os braços ao redor do meu corpo, juntando os cacos em que me transformara, e inspirei fundo, rezando para ter força e coragem para fazer o que era preciso e manter minha família — e o próprio William — a salvo.


— Você está certo — Engoli em seco. — Não posso esconder isso de você.


Seu rosto se encheu de esperança conforme ele murmurava um “por favor” que quase me derrubou de joelhos.


— Eu me apaixonei por outra pessoa, William.


Sua esperança foi substituída pela descrença, e então pela agonia.


— No baile... — continuei, mirando o chão. Não conseguiria dizer mais uma palavra se olhasse em seus olhos. — ... eu me deixei levar pela curiosidade feminina. Por isso pedi que me beijasse. Lamento se dei a entender outra coisa.


Mas meu coração sempre pertenceu e sempre pertencerá a... a Alexander — improvisei. — Por isso eu fugi. Fui me encontrar com ele, mas Christopher conseguiu me localizar e me trouxe de volta para casa.


— Esse... — Sua voz tremeu.


Fechei os olhos para que as lágrimas que se empoçavam em meus olhos não caíssem.


— Esse Alexander... — tentou de novo.


— Desapareceu antes que Christopher pudesse cobrar minha honra — me apressei.


— Mas você ainda o ama. — Não era uma pergunta.


— Ainda amo o mesmo homem que sempre amei — foi toda a verdade que consegui dizer.


Ele começou a andar pelo quarto. Abri os olhos e acompanhei seu vaivém, sufocada pela angústia. Pude sentir tudo se assentar dentro dele, sua aura se modificar, ficando escura. A revolta, a raiva, a mágoa ganhando força.


Ele parou, por fim, esfregando os olhos antes de mirá-los com toda a força em mim.


— Por que brincou comigo, Maite? Por que me fez acreditar que sentia afeição por mim? Por que todas aquelas cartas?


— Deve saber que as mulheres na minha idade gostam de ser admiradas.


Sua atenção era muito lisonjeira. Não pensei que você fosse... tolo o bastante para se apaixonar. Pensei que não sentisse nada além de atração por mim ou... — Diga! Diga logo. Acabe com tudo de uma vez! — ... pelo meu dote. Fico muito lisonjeada que me tenha afeição, mas, lamento, não poderei retribuir nunca.


Ele esfregou o rosto, os lábios se esticando em um sorriso que era apenas amargura. Desconfiei de que William não pudesse ser mais machucado do que estava naquele instante. Devastado por completo. Orgulho ferido, coração partido... Eu tinha conseguido tudo isso no decorrer de míseros minutos.


— Você não é quem eu pensava que fosse — falou, com a voz instável.


— Não pode me culpar por não ser alguém que idealizou.


— Não, não posso. — E ali, no fundo de seus olhos, vi morrer todos os meus sonhos conforme a luz dentro deles se apagava.


Era demais. Eu me virei. Já não conseguia prosseguir com aquilo. Ele tinha de ir embora.


— Agora que sabe a verdade — falei, de costas —, não alimento mais esperanças de que mantenha sua palavra. Considere nosso noivado desfeito.


No espaço de uma batida de coração, ele estava diante de mim. Tudo o que eu conhecia e amava nele havia desaparecido. Em seu lugar surgira algo sombrio, perigoso e implacável.


— Isso a faria feliz, não? — Ele chegou mais perto. — Isso a deixaria livre para ir atrás de Alexander.


— Eu serei livre para viver em paz. — Dei um passo para trás.


— Que pena. Pois paz é tudo o que não terá de mim. Nosso noivado continua. — Ele passou por mim, indo em direção à janela.


— O quê? Mas o senhor não pode! — Eu o segurei pelo braço antes que alcançasse a saída. — Não ouviu o que eu disse? Eu fugi com outro homem!


Seu rosto foi encoberto por uma sombra escura.


— Esteja certa de que eu não vou me esquecer disso. E posso manter o noivado. Tenho um contrato assinado por você.


Oh, meu Deus!


— Eu não o farei feliz — falei, em desespero. — Tampouco você me fará feliz. Por que continuar com esse compromisso?


— Você acabou de dizer o motivo, Maite. Porque eu não a farei feliz. Nos casaremos assim que eu me estabelecer e voltar da Itália. — Uma sombra sinistra dominou suas feições. A tempestade que caía lá fora parecia estar dentro do quarto agora. Nuvens escuras, trovoadas, relâmpagos. Tudo isso refletido nos olhos de William.


Minha garganta se apertou. Eu tinha feito. Havia brincado e zombado de seus sentimentos. Como ele poderia não me odiar?


— Não pode manter esse compromisso apenas porque está com raiva e quer se vingar de mim — sussurrei. Eu estava a um suspiro de perder o controle e cair em lágrimas.


Seu olhar passeou demoradamente pelo meu rosto. Por todos os centímetros


dele. Uma emoção lhe atravessou a face, uma espécie de vulnerabilidade que eu jamais vira em seu semblante.


— Quisera eu que fosse assim. Não doeria tanto. — Sua voz estava tão baixa que quase não pude ouvir. Porém, tão rápido quanto surgiu, aquela emoção desapareceu. Ele puxou o braço. — Adeus, Maite.


— William, espere!


Mas ele já pulava a janela.


Corri até ela, me debruçando no parapeito para tentar vê-lo. A chuva batia gelada em meu rosto, escorrendo como lágrimas frias, enquanto eu assistia a William caminhar sob toda aquela água com os punhos cerrados e logo desaparecer na escuridão.


Passei os braços ao redor do corpo, tentando deter o tremor, que não tinha qualquer relação com a chuva gélida que me ensopava.


Eu me deixei cair no chão e enterrei o rosto nas mãos, abafando os gritos que me sacudiam. Chorava por William. Pelas mentiras que eu lhe contei, pela dor profunda que vi em seu olhar, pela agonia que lhe causei. E chorava por mim também. Ele não pôde acreditar na verdade, mas não duvidou da mentira, aquela que me tornava uma mulher frívola e desprovida de coração.


Doeu. Doeu muito e por muito tempo. A ponto de eu não conseguir respirar.


 


 


                                                        * * *


 


 


Os dias foram passando, e o tempo me ensinou a lidar com a dor, a manter adormecidos a tristeza e os sentimentos que eu tinha por William.


Assim que ele chegou à Europa, começou a me escrever uma vez por mês — às vezes a cada dois meses — umas poucas linhas nas quais, em geral, discorria sobre o tempo. Durante os três anos em que nos correspondemos, ele jamais falou de si, sentimentos de qualquer natureza ou do nosso compromisso.


Vez ou outra me enviava uma joia cara — muito bonita, mas extravagante demais para mim. Todos viam seus presentes como gestos atenciosos, mas eu compreendia que na verdade eram avisos. Ele estava sendo bem-sucedido na Itália e logo teria se estabelecido.


Houve um tempo em que meu coração teve tanta certeza de que William era a pessoa à qual eu estava destinada, aquela que traria cor e alegria a minha vida pálida, que chegava a doer. Dulce também pensava assim, já que tinha vislumbrado meu futuro. Ou o que poderia vir a ser o meu futuro.


Refletindo agora, enquanto subia na carruagem a caminho da igreja, onde minha família e meus amigos esperavam para me ver atravessar a nave usando o vestido de noiva de mamãe e dizer “sim” a William, eu me perguntei se Dulce e meu coração não haviam entendido tudo errado. Porque a última coisa que eu sentia era alegria.


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Autor(a): Fer Linhares

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Aquele era o grande dia, William pensou em seu quarto, na nova residência, enquanto terminava de fechar as abotoaduras. Os empregados conseguiram arrumar a casa a tempo, e desde o dia anterior ele e sua família tinham se instalado ali. Ele se olhou no espelho sobre o toucador, examinando sua aparência minuciosamente. O paletó escuro e a gravata b ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 32



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  • poly_ Postado em 13/09/2019 - 14:11:41

    Desculpa a demora pra comentar, tô com muitos trabalhos, mas finalmente consegui vir aqui. E Simmm, posta a continuação, vou adorar. Bjuss!!!

  • poly_ Postado em 05/09/2019 - 12:28:41

    Menina quem imaginaria que era o Matias? Fiquei pasma. Nem acredito que tá acabando, vou sentir muita falta. Depois desse vc podia fazer uma adaptação Levyrroni do livro A Lady de Lyon, tô louquinha pra ler esse livro, dizem que é muito bom. Bjuss!!!

    • Fer Linhares Postado em 07/09/2019 - 19:22:35

      Vou ler esse livro, assim que eu terminar eu posto, bjss ;)

  • tehhlevyrroni Postado em 02/09/2019 - 11:58:23

    continua amo esse livro e vou amar mais ainda adaptado para Levyrroni

    • Fer Linhares Postado em 03/09/2019 - 20:09:23

      Continuando linda, bjss ;)

  • poly_ Postado em 31/08/2019 - 00:27:37

    Certeza q é o Duarte q fez isso, esse nojento. Mas tenho fé que o Will vai salva-la, tomara que ele consiga e ninguém fique ferido. Q momento fofo deles dois, amei. Continuaaa

    • Fer Linhares Postado em 31/08/2019 - 11:40:07

      Eles precisavam de um tempo só pra eles bjss ;)

  • poly_ Postado em 30/08/2019 - 13:02:45

    Aí mds, posso bater no William? Kkkkkk Continuaaaa

    • Fer Linhares Postado em 30/08/2019 - 17:02:44

      Pode kkk , me chama pra ajudar tbm kkk bjs ;)

  • poly_ Postado em 27/08/2019 - 23:50:45

    Tomara que eles sentem e se resolvam, e q Maite fale logo a verdade. Continuaaa

    • Fer Linhares Postado em 30/08/2019 - 11:17:06

      Do jeito que eles são, duvido que eles se resolvam calmamente kkk bjs ;)

  • poly_ Postado em 27/08/2019 - 15:26:50

    Aí q ódio de td mundo, da Maite por ser inocente ao ponto de ir atrás do homem, do William por ser um teimoso e principalmente desse Alex. Continuaaa

  • poly_ Postado em 26/08/2019 - 22:19:08

    Não vejo a hora de saber o que vai acontecer, parou na melhor parte. Continuaaaa

    • Fer Linhares Postado em 26/08/2019 - 23:53:59

      Do próximo capítulo em diante as coisas vão começar a esquentar, amanhã eu volto a postar, bjsss ;)

  • poly_ Postado em 26/08/2019 - 01:05:46

    Tô amando mulher, continuaaa (OBS: Ri demais com a briga do William com o irmão KKKKKKKKK)

  • poly_ Postado em 24/08/2019 - 13:34:10

    Ahh não acredito que Berta interrompeu esse momento. Pelo menos já estamos tendo um sinal de redenção né. Continuaa

    • Fer Linhares Postado em 25/08/2019 - 01:13:21

      Berta não e o problema agr kk, tem coisa ainda pra acontecer bjs ;)


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