Fanfics Brasil - Capítulo 18 Prometida - Uma longa jornada para casa (Levyrroni)

Fanfic: Prometida - Uma longa jornada para casa (Levyrroni) | Tema: Levyrroni [Adaptada]


Capítulo: Capítulo 18

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Aquele era o grande dia, William pensou em seu quarto, na nova residência, enquanto terminava de fechar as abotoaduras. Os empregados conseguiram arrumar a casa a tempo, e desde o dia anterior ele e sua família tinham se instalado ali.


Ele se olhou no espelho sobre o toucador, examinando sua aparência minuciosamente. O paletó escuro e a gravata branca o faziam parecer elegante, mas o cabelo um tanto revolto passava outra mensagem. Molhando as mãos, tentou domá-lo, e tudo o que conseguiu foi fazer com que ficasse ainda mais desregrado. Devia ter seguido os conselhos de Baltazar, seu novo mordomo, que lhe recomendara um corte. Agora era um pouco tarde para isso.


Tarde para qualquer coisa, refletiu, franzindo as sobrancelhas. Flagrou-se pensando o que sua irmã gêmea diria agora, se o visse se arrumar para se casar com a mulher que um dia destruíra seu coração. Podia apostar que haveria muitos xingamentos e petelecos. Rebeca nunca foi o que se podia chamar de uma doce criatura. William estava certo de que ela não aprovaria esse casamento.


Diabos, ele mesmo não aprovava!


A porta se abriu bruscamente, e seu irmão entrou no quarto.


— Ora, mas está parecendo um homem importante!


— Não se deixe enganar pelas roupas, Saulo. Ainda não gosto de usar gravata e estaria muito mais feliz sem esta porcaria de colete.


— O que o faz pensar que é o único homem a sofrer com isso? — Saulo avaliou seu irmão caçula de alto a baixo. — Goste deles ou não, o deixam apresentável. Você parece um daqueles intelectuais por quem as mulheres tanto suspiram. Exceto por esse cabelo. Não custava ter aparado ao menos para o casamento.


— Veio aqui apenas para me dar conselhos de moda? — implicou.


Um de seus passatempos preferidos sempre fora aporrinhar o irmão. Claro que Saulo devolvia as gentilezas, e não era raro os dois terminarem uma discussão aos socos, para logo em seguida desatarem a rir e se sentarem para beber alguma coisa.


Saulo era quase dez anos mais velho que William. Sendo o primogênito, assumira todo o legado da família Levy, cuidando do próprio patrimônio e da parte que cabia a William. Os negócios da família começaram com café, mas seu avô sempre preferiu o vinho, de modo que fazia mais de cinquenta anos que os cafezais tinham sido substituídos pelas belas parreiras na propriedade dos Levy.


— Se dependesse de mim para orientá-lo nos assuntos de moda, estaria perdido, meu irmão — resmungou Saulo. — Vim avisar que o vidreiro acabou de entregar alguns vasos. Eu ia devolver tudo, porque são feios como o diabo, mas seu mordomo me explicou que você estava esperando a encomenda. Mandei colocar na sala onde estão as outras tralhas que você coleciona.


— Eu não coleciono “tralhas”. São equipamentos laboratoriais. E o que o vidreiro trouxe não são vasos. São vidrarias. Os de fundo arredondado se chamam balões, e foi isso que eu encomendei. Balões que Almeida me ajudou a desenvolver para que eu possa colocar uma teoria em prática. Se funcionar, pode resolver o seu problema com o azedamento do vinho.


— Eu ficaria imensamente grato se encontrasse uma solução, William. Estou cansado de ter prejuízo.


Na semana anterior, William tinha ido ver os pais. Ao entrar na casa sem esperar pelo mordomo, fora direto para a cozinha, pois sabia que era lá que encontraria sua mãe. Apesar de pouco comum para uma dama da sociedade, um dos prazeres de Rosália Levy era cozinhar. Infelizmente lhe faltava talento, mas ela nunca se deixara abater.


Ele a encontrara ao fogão, mexendo uma panela de doce de abóbora.


Rosália não havia mudado nada em três anos. E, assim como Maite, ela o reconhecera no mesmo instante.


— William! — Ela abandonara a colher de pau, abraçando-o apertado demais para alguém tão miúdo. — Oh, meu querido, eu sonhei com você a semana toda. Sabia que estava a caminho. Eu sabia! — Ela se curvara para trás para poder admirá-lo melhor. Os olhos em um tom de marrom esverdeado, como os dele, estavam marejados, mas sorriam. — Como está bonito, meu querido! Um homem feito!


— Até parece que não me vê há séculos, mãe.


— E não vejo! Para uma mãe, um dia longe do filho é uma eternidade. Onde está seu pai? Alfredo! — gritara. — Alfredo, homem de Deus, nosso menino está em casa! Venha depressa! — Ela se virara para a cozinheira. — Está vendo meu filho, Selma? Está vendo como está crescido?


— Sim, senhora. Que bom vê-lo, doutor.


— É bom vê-la também, senhora.


— O que é toda essa gritaria? — Alfredo Levy passara pela porta, um jornal nas mãos, os óculos equilibrados na ponta do nariz, nada de paletó. Seus cabelos haviam ficado mais prateados nos últimos três anos, e William lamentou ter perdido a mudança.


Assim que o pai o reconhecera, retirara os óculos de leitura e, no instante seguinte, estava com os braços ao seu redor, batendo em suas costas, rindo alto.


— Por que não disse que estava voltando? Eu teria ido buscá-lo no porto.


— Parece que o correio não é tão eficiente quanto o vapor, pai.


Foi nesse instante que Saulo entrara pelos fundos. Parara ao ver William, estudando-o com um meio sorriso. Naturalmente, a primeira coisa que falou ao irmão caçula foi:


— O que é essa sujeira no seu rosto?


— Creio que o nome seja cavanhaque. E o que é isso escorrendo das suas orelhas? Resolveu criar ratazanas na cara? — William provocara.


— Não fale mal das minhas suíças! Tereza as adora! — Saulo se casara com uma vizinha que crescera com ele poucos meses antes de Rebeca deixar este mundo. — Agora cale a boca e dê cá um abraço!


Depois de ser abraçado pelo irmão, de se empanturrar com tudo o que sua mãe encontrou na cozinha, de ver o progresso da coleção de insetos de seu pai e de ir atrás dos dois sobrinhos, que pescavam na lagoa ali perto, William quisera saber o que andava acontecendo com eles, com a propriedade e com os negócios. As notícias com relação ao último assunto não eram muito animadoras.


Saulo perdera dezenas de barris no semestre anterior. O vinho azedava e quase toda a produção tinha sido perdida.


William o acompanhara até a grande adega e observara os tonéis de uma nova safra já no processo de maturação, os pensamentos pulando de uma suposição para outra, até que parara diante de um barril, a mão sobre ele. Ao ouvir a bebida sacolejar ali dentro, uma ideia lhe atravessara o cérebro. Era maluca, mas, na manhã seguinte, o rapaz começara a tomar notas.


Ao retornar à vila, convocara Alberto para uma reunião. E então contara do problema que seu irmão vinha enfrentando.


— Sei que posso estar sendo tolo, Almeida — explicara, andando de um lado para o outro. — Mas tenho a suspeita de que Bassi começou algo muito maior do que pretendia. Acho que a contaminação do vinho e a dos bichos-da-seda ocorrem da mesma maneira. Suspeito que todas as doenças contagiosas tenham a mesma causa.


— William, essa é uma afirmação realmente séria — Almeida erguera os olhos para ele, bestificado, indeciso e orgulhoso.


— Eu sei. Eu tenho que provar isso antes de sair falando por aí. — Esfregara a mão no rosto. — Acho que sei como deter o azedamento do vinho, tenho tudo na cabeça, mas não consigo encontrar uma maneira de manter a poeira... e o que eu suspeito que viva nela... do lado de fora dos barris.


Tinha certo receio de estar sendo pretensioso. Afinal, a abiogênese — ou teoria da geração espontânea, segundo a qual a vida surge espontaneamente da matéria bruta — não só era aceita como ensinada na escola de medicina.


Agostino Bassi não concordava com ela. William também não, e havia recebido muito mais do entomologista italiano do que poderia ter sonhado. Vira com os próprios olhos as entidades minúsculas, como Bassi as chamava, adoecerem os bichos-da-seda. O cientista precisara de quase vinte e cinco anos para concluir sua tese e publicá-la em um periódico italiano no início daquele ano. Depois de decorar o folheto do remédio que salvara a vida da sra. Uckermann três anos antes, William estava certo de que as “entidades” de Bassi eram os tais microorganismos.


Por isso, depois de visitar a adega de Saulo, estava resolvido a testar uma teoria que, se funcionasse, poderia ajudar Saulo com o vinho. Mas, para tanto, ele teria de encontrar uma maneira de manter a poeira longe do experimento — esse era o problema. Não era possível. Sua experiência parecia condenada ao fracasso antes mesmo de poder colocá-la em prática.


William explicara tudo isso a Almeida. Vira o desafio reluzir nos olhos do homem quando, mais tarde, saíra para acertar os últimos detalhes do casamento e da casa que seu advogado comprara em seu nome. Ao voltar à residência dos Almeida, no começo da tarde, encontrara o desenho de um balão com o gargalo em um s em sua cama. William quase atropelara o pobre Horácio em sua afobação ao sair para ir até o vidreiro e encomendar, com a máxima urgência, quatro balões iguais ao desenho.


— Bom, todos já estamos prontos. Só falta a Tereza. — A voz de Saulo o despertou do devaneio. — É o terceiro penteado que ela está fazendo. Os anteriores não a deixaram feliz. Assim como seu marido, que foi pouco civilizadamente convidado a se retirar do próprio quarto.


— Tenho certeza de que ela o recompensará pela espera.


Saulo se recostou na mesa recoberta com livros, cartas e desenhos, estudando o irmão.


— Você não me parece muito feliz, William.


Ele estava se arrumando para se casar com a mulher a quem um dia amara, de quem prometera se vingar e depois descobrira não ser capaz. E, o pior, uma mulher que ainda mexia com ele. Não, não havia muito o que celebrar.


Reencontrar Maite não estava acontecendo como esperava. Aquela mulher devastara sua alma e seu orgulho três anos antes. Na época, William estivera tão certo dos sentimentos dela quanto dos próprios, mas para ela tudo não passara de algo muito comum — e até esperado — entre as damas da sociedade: um mero flerte para afagar o ego.


Os sentimentos que um dia nutrira por ela já não existiam mais. A imagem que ele criara de Maite era muito distante daquela jovem dissimulada. William podia perdoá-la por ter se entregado a outro. Ela o fizera por amor. O que ele não conseguia perdoar era o fato de Maite ter brincado com seus sentimentos como se fossem uma boneca da qual ela se cansara cedo demais.


Durante muito tempo ele imaginara que, para ela, o casamento seria um bom castigo. William queria que ela pagasse pela dor que lhe causara. Mas, conforme os anos foram passando, e por mais que sua mágoa não tivesse recuado um único centímetro, ele percebera que já não queria fazê-la sofrer. Ela já sofrera o bastante ao abrir mão do homem que amara para se casar com William.


Na última vez que a vira, na semana anterior, naquela maldita estrada...


Eles tinham discutido de novo. E, enquanto William assistira a Maite desaparecer sobre o cavalo dele, se perguntara por que prosseguia com aquela loucura, por que não terminava logo com aquele martírio. E então a reposta o apavorara.


Ela ainda mexia com ele. Não era amor. Não mais. Fora tolo uma vez para acreditar em Maite, e isso jamais voltaria a se repetir. Mas aqueles olhos de turquesa ainda mexiam com William. Se dar conta disso o irritava até a alma.


Como, em nome de Deus, ele seria capaz de seguir adiante com sua vingança se o olhar dela, ferido e enevoado por lágrimas, lhe causara um aperto no peito? Ele a menosprezara, afirmando que Maite era uma piada aos olhos dos outros.


E, assim, sua vingança morrera com seu orgulho.


Tudo o que queria era seguir sua vida e deixar Maite no passado. Mas não podia, e a culpa era toda dele. Se desfizesse o noivado agora, condenaria a jovem a um destino ainda pior que se casar com ele. Ser abandonada pelo noivo depois de três longos anos seria o mesmo que condená-la à reclusão. Maite dificilmente se recuperaria dos falatórios.


Tudo o que restava a William era a esperança de que ela engolisse aquele maldito orgulho dos Clarke e mudasse de ideia quanto ao casamento.


— E desde quando, Saulo, casamento e felicidade são sinônimos? — William questionou, incerto se perguntava a si mesmo ou ao irmão.


— Ah, isso lá é verdade. Quem foi o pobre coitado que teve essa ilusão um dia, hein?


Enquanto os dois saíam do quarto e desciam as escadas, William relanceou o relógio. Uma hora. Maite tinha exatamente uma hora para libertar a ambos daquele pesadelo.


Rezava para que ela reconsiderasse e não fosse adiante. Ele não fazia ideia do que aconteceria caso Maite dissesse “sim”.




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Autor(a): Fer Linhares

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 32



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  • poly_ Postado em 13/09/2019 - 14:11:41

    Desculpa a demora pra comentar, tô com muitos trabalhos, mas finalmente consegui vir aqui. E Simmm, posta a continuação, vou adorar. Bjuss!!!

  • poly_ Postado em 05/09/2019 - 12:28:41

    Menina quem imaginaria que era o Matias? Fiquei pasma. Nem acredito que tá acabando, vou sentir muita falta. Depois desse vc podia fazer uma adaptação Levyrroni do livro A Lady de Lyon, tô louquinha pra ler esse livro, dizem que é muito bom. Bjuss!!!

    • Fer Linhares Postado em 07/09/2019 - 19:22:35

      Vou ler esse livro, assim que eu terminar eu posto, bjss ;)

  • tehhlevyrroni Postado em 02/09/2019 - 11:58:23

    continua amo esse livro e vou amar mais ainda adaptado para Levyrroni

    • Fer Linhares Postado em 03/09/2019 - 20:09:23

      Continuando linda, bjss ;)

  • poly_ Postado em 31/08/2019 - 00:27:37

    Certeza q é o Duarte q fez isso, esse nojento. Mas tenho fé que o Will vai salva-la, tomara que ele consiga e ninguém fique ferido. Q momento fofo deles dois, amei. Continuaaa

    • Fer Linhares Postado em 31/08/2019 - 11:40:07

      Eles precisavam de um tempo só pra eles bjss ;)

  • poly_ Postado em 30/08/2019 - 13:02:45

    Aí mds, posso bater no William? Kkkkkk Continuaaaa

    • Fer Linhares Postado em 30/08/2019 - 17:02:44

      Pode kkk , me chama pra ajudar tbm kkk bjs ;)

  • poly_ Postado em 27/08/2019 - 23:50:45

    Tomara que eles sentem e se resolvam, e q Maite fale logo a verdade. Continuaaa

    • Fer Linhares Postado em 30/08/2019 - 11:17:06

      Do jeito que eles são, duvido que eles se resolvam calmamente kkk bjs ;)

  • poly_ Postado em 27/08/2019 - 15:26:50

    Aí q ódio de td mundo, da Maite por ser inocente ao ponto de ir atrás do homem, do William por ser um teimoso e principalmente desse Alex. Continuaaa

  • poly_ Postado em 26/08/2019 - 22:19:08

    Não vejo a hora de saber o que vai acontecer, parou na melhor parte. Continuaaaa

    • Fer Linhares Postado em 26/08/2019 - 23:53:59

      Do próximo capítulo em diante as coisas vão começar a esquentar, amanhã eu volto a postar, bjsss ;)

  • poly_ Postado em 26/08/2019 - 01:05:46

    Tô amando mulher, continuaaa (OBS: Ri demais com a briga do William com o irmão KKKKKKKKK)

  • poly_ Postado em 24/08/2019 - 13:34:10

    Ahh não acredito que Berta interrompeu esse momento. Pelo menos já estamos tendo um sinal de redenção né. Continuaa

    • Fer Linhares Postado em 25/08/2019 - 01:13:21

      Berta não e o problema agr kk, tem coisa ainda pra acontecer bjs ;)


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