Fanfics Brasil - Capítulo 19 Prometida - Uma longa jornada para casa (Levyrroni)

Fanfic: Prometida - Uma longa jornada para casa (Levyrroni) | Tema: Levyrroni [Adaptada]


Capítulo: Capítulo 19

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— Tem certeza que tá vendo onde pisa? — Dulce perguntou, ajeitando as dobras do véu que me cobria o rosto. — Acho um absurdo a noiva caminhar com isso na cara.


— Você também considera um absurdo a cerimônia ser em latim — disse meu irmão, achando graça.


— Mas é!


— Estou enxergando perfeitamente bem, Dulce — tentei acalmá-la. — Não se preocupe. E, se por acaso algo mudar, terei o braço de Christopher para me apoiar. — Peguei das mãos dele o buquê que William me enviara naquela manhã.


É claro que meu noivo seria irônico na escolha das flores. Amores-perfeitos em todas as cores: violeta, branco, lilás, alguns de um cor-de-rosa pálido, outros bem intensos.


Optei por não ter uma dama de honra. Eu tinha pensado em Valentina, mas agora ela estava longe. Minhas outras opções, minha irmã e Anahí, eram casadas e não poderiam ocupar a posição.


Dulce me observou com atenção. Dos sapatos forrados de cetim cor de champanhe ao vestido de mamãe, que agora me caía com perfeição, incluindo o complexo penteado que Anahí me ajudara a compor. Uma trança larga rodeava minha cabeça como uma coroa, que tinha forquilhas minúsculas arrematadas por pérolas. A parte de trás me caía nas costas em pesados cachos largos que pareciam ainda mais negros sob o véu.


Ela pousou as mãos em meus braços e os apertou, sorrindo.


— Você está absurdamente linda, Maite!


— Obrigada.


A porta da igreja se abriu parcialmente e o rosto de Anahí surgiu no vão, piscando para mim.


— Ok. Tá na hora — falou Dulce, ecoando meus pensamentos. — Vejo vocês lá dentro.


Ela beijou Christopher rapidamente e entrou na igreja. Pousei a mão no braço de meu irmão ao ouvir os primeiros acordes da “Marcha nupcial” repercutirem pela capela. Puxei uma grande quantidade de ar. Era isso. Esse era o momento com o qual eu sonhara a vida toda.


E estava todo errado.


Na semana anterior, depois que William se reunira com Christopher e os dois decidiram todo o meu futuro, meu noivo fora para a casa dos pais avisá-los do casamento iminente. Nós não nos víamos desde aquela discussão na estrada. Ele me enviara uma nota curta no começo da noite anterior, avisando que tinha retornado e que sua família o acompanhava. Estavam hospedados em sua casa.


Onde ficava essa casa ele não se dera o trabalho de me explicar. Christopher sabia, mas havia prometido a William que não contaria nada, para não estragar a surpresa.


Meu irmão aprovara a escolha, então não podia ser tão terrivelmente distante.


Ainda assim, aquele não era o futuro com o qual eu sonhara.


Devo ter deixado transparecer minha inquietação, pois Christopher me encarou:


— Tem certeza de que é isso que quer, Maite? Ainda pode desistir. Ainda pode mudar de ideia.


— Imagine! As mexeriqueiras desmaiariam de tanta euforia. — Uma risada nervosa me escapou. — Não, meu irmão. Eu vou fazer isso. Quero me casar com William.


Eu me colocara naquela situação, e ao fazer isso colocara também o nome de minha família em jogo. Se eu não podia ter a felicidade com a qual sonhara, iria garantir que minhas sobrinhas tivessem ao menos a chance de buscá-la um dia.


— Não é a impressão que eu tenho. — As sobrancelhas de Christopher se abaixaram. — Nunca a vi tão nervosa assim.


— Preciso lembrá-lo de que você quase arrancou o assoalho da igreja de tanto andar para lá e para cá, tamanho era o seu nervosismo no dia do seu casamento?


— Foi diferente. As coisas com Dulce sempre tendem a ser problemáticas. — Ele fez uma careta. E então a diversão deixou seu rosto. — Se é realmente o que você quer, Maite, eu não posso impedir. Só quero que saiba que você é a coisa mais importante que papai e mamãe deixaram para mim.


— Oh, Christopher... — Engoli com dificuldade.


— Por isso é tão difícil entregá-la a outra pessoa. Se faço isso, é apenas por um motivo: para que seja tão feliz quanto merece ser. É bom que seu noivo saiba disso — acrescentou, em um tom ameaçador.


Então as portas foram escancaradas e ele começou a me conduzir para o altar.


Tudo me pareceu um sonho confuso envolto por uma bruma espessa. Dulce culparia o véu. Mas a verdade era que o medo enevoava minha visão, e meu cérebro tinha dificuldade para registrar o que estava acontecendo.


Lembro-me de Christopher pegar minha mão e a colocar no braço de William.


Recordo-me de meu noivo me levar até o altar, de me ajoelhar e responder às perguntas de padre Antônio. Eu assistia a tudo como uma espectadora, como se nada daquilo estivesse realmente acontecendo comigo, como se eu visse o mundo através de uma janela que não era limpa havia um século.


Respire, Maite. Respire fundo e não desmaie agora, eu repetia mentalmente quando me virei para William, mantendo o olhar no chão. Seus dedos tocaram a barra do véu, e, sem qualquer hesitação, o suspenderam. Olhei em seu rosto pela primeira vez desde que entrei na igreja e fiquei completamente atordoada. Ele era o mesmo homem por quem eu me apaixonara, e ao mesmo tempo não era.


Seus traços eram os mesmos, embora tivessem endurecido, e seus olhos ainda eram castanhos com manchas verdes nas bordas das íris. Mas agora havia algo dentro deles, uma tormenta, um furacão que ele mantinha sob frio controle.


É com este homem que eu viverei a partir de hoje. É com este estranho que viverei pelo resto da vida.


Ele arqueou uma sobrancelha, a boca apertada em uma pálida linha fina.


— Srta. Maite? — chamou o padre.


— Humm? — Olhei para o sacerdote.


— Aceita este homem como seu legítimo marido? — perguntou, em latim.


Experimentei um aperto no estômago que pouco tinha a ver com a maneira firme como Madalena prendera meu espartilho. Voltei a encarar William. Tenho certeza de que ele percebeu o que se passava em minha cabeça, pois o tormento em seus olhos ganhou força.


Não! Eu não ia recuar agora. Era uma Uckermann, ora bolas! Os Uckermann não fugiam de um problema, e não seria eu a mudar essa história, William acreditasse nisso ou não.


— Eu aceito.


William expeliu o ar com força, parte alívio, parte agonia, e isso me deixou muito confusa. A mesma pergunta foi feita a ele, que respondeu “aceito” em uma voz firme e alta que reverberou até o último banco da igreja. Então me estendeu a mão direita, em um desafio. Inspirando fundo, deitei a mão sobre a dele. Seus dedos me prenderam com firmeza no mesmo instante. A fúria com a qual ele me encarava era desconcertante, e não sei ao certo como fui capaz de sustentar o olhar e articular as palavras que selaram nossa união.


— Pode beijar a noiva — sentenciou padre Antônio.


Prendi o fôlego, as bochechas enrubescendo. Não estava acostumada a ser beijada em público — não estava acostumada a ser beijada nem em particular, ora bolas! — e pensei que ia acabar desmaiando. Meu coração palpitava rápido demais enquanto William aproximou o rosto do meu.


No instante em que nossos lábios se tocaram, algo estranho aconteceu. Um frisson barulhento e desordenado, que me sacudiu as entranhas e fez o coração retumbar em meus ouvidos, como se o mundo todo estivesse dentro de mim.


William movimentou os lábios de leve. A barba em seu queixo me fez cócegas, e um formigamento delicioso se espalhou rapidamente por minha boca, minha língua, todo o resto de mim. Apoiei a mão em seu peito, temendo cair.


Fazia tanto tempo! Meu Deus, tanto tempo desde que sua boca estivera sobre a minha. Tanto tempo desde que eu senti aquela pele macia e quente me entorpecendo daqu...


William se afastou de súbito, como se eu o queimasse, me encarando em completa confusão e algo muito parecido com alarme. Não houve tempo para que eu pudesse compreender o que se passava com ele — ou comigo —, pois a cerimônia chegara ao fim. Estávamos casados.


 


 


* * *


 


 


Meu irmão e Dulce foram os primeiros a nos cumprimentar, ainda na porta da capela.


— Ah, Maite, você tá tão linda que quase me faz chorar. — Minha querida irmã me abraçou apertado. — As coisas finalmente estão acontecendo como deveriam acontecer — ela sussurrou em meu ouvido.


— Verdade? — perguntei, confusa.


Olhando de esguelha para William, que era felicitado por Christopher, ela se afastou alguns passos, me puxando consigo.


— Sim. — Seu rosto foi tomado por uma seriedade desconcertante. — Muita coisa do que eu vi não aconteceu, e nem vai acontecer. Graças a Deus, porque tinha uma coisa sobre o seu irmão, uma carta que ele... — Ela engoliu em seco e abanou a cabeça. Seus cabelos presos em uma trança lateral reluziram como ouro. — Enfim, isso jamais vai acontecer, porque eu voltei e mudei o destino


dele. Mas quando voltei eu também mudei o seu destino, Maite, e a incerteza do que ia acontecer com você estava me matando. Agora eu sei que tudo vai dar certo! Porque você devia se casar com o William aos vinte anos, e aqui está você! — Abriu um sorriso.


— O... o que mais você viu? — murmurei para que minha voz não tremesse.


— Ah, o pacote do felizes para sempre completo. — Ela piscou antes de ir saudar William.


Eu fiquei onde estava, aturdida demais para me mover. Não podia ser. Dulce devia ter perdido alguma coisa. Ou, como ela mesma ponderara, muito do que tinha visto jamais iria acontecer. Eu me casara com William, como ela previra... ou vira... mas, a julgar pela frieza que dominava as feições do meu noivo agora, sermos felizes juntos era tão possível quanto mergulhar no mar e não molhar as roupas.


Eu estava no mesmo lugar quando Christopher me abordou. E meu irmão não estava contente.


— Você mentiu. — Trincou os dentes. — Você não está feliz. Por que mentiu, Maite?


Eu podia tentar enganar qualquer pessoa no mundo, exceto Christopher. Não por causa de escrúpulos ou coisa semelhante, mas porque ele sempre sabia quando eu estava mentindo. Por isso, eu disse a ele algo que, além de verdadeiro, o faria desistir do assunto.


— Christopher, eu só estou preocupada com o desenrolar deste dia. Desta... hã... noite.


— Ah. Certo. — Coçou a nuca. — Eu... humm... — Seu olhar se fixou na coroa de trança e pérolas onde o meu véu se prendia, e se manteve ali. — Eu devia ter tido essa conversa com você antes. Sobretudo em um local apropriado, mas... hummm... veja bem, Maite... quando um homem e uma mulher são casados, eles... eles sentem a necessidade de ficar juntos. Muito juntos! Tão juntos que eles... para isso, eles... hã... — seu rosto foi ficando cada vez mais vermelho — ... tiram as... as roupas e... os sapatos também. E então o... — Pigarreou. — Talvez eu devesse usar uma analogia. Quem sabe geometria. Imagine um cone oblíquo...


Coloquei a mão em seu ombro para detê-lo, ou Christopher acabaria tendo um ataque apoplético.


— Dulce já me explicou tudo, Christopher.


Ele olhou para o alto e murmurou um “obrigado, meu Deus” que me fez rir alto o bastante para atrair a atenção de várias pessoas, inclusive do meu noivo.


Foi nesse ponto que Madalena saiu da igreja, ladeada por duas meninas usando vestidos brancos impecáveis que, eu sabia, não se manteriam assim por muito tempo. Minha família logo partiu, já que tinha de recepcionar os convidados da festa em nossa propriedade. Voltei para perto de William e recebi as felicitações dos convidados, forçando-me a sorrir como a noiva radiante que todos esperavam que eu fosse.


— O que o seu irmão queria? — William sussurrou em meu ouvido entre um cumprimento e outro.


— Discutir geometria.


— Geometria? — Encrespou a testa. — No dia do seu casamento?


— Cones oblíquos — confirmei com a cabeça. Eu também estava me perguntando até onde Christopher teria ido com aquilo.


— William, meu caro — foi dizendo o dr. Almeida —, devo cumprimentá-lo, pois acaba de se casar com a moça mais bonita e amável desta vila!


Depois de certo tempo, a fileira de carruagens em frente à igreja começou a diminuir. Eu estava recebendo os cumprimentos da sra. Ofélia quando vi um rostinho magro e encardido espiando atrás do coreto.


— Samuel! — Dei um passo, mas a mão de William pousou em minha cintura, me lembrando de que eu não podia deixar aquela porta até receber todos os cumprimentos.


Acenei para o garoto. Ele sorriu, abanando a mão, antes de sair correndo.


Eu tinha perguntado sobre ele a todo mundo que conhecia. Christopher e Dulce me ajudaram, fazendo o mesmo, mas não tivemos sorte. Como era possível que ninguém soubesse nada sobre o menino? O sr. Matias não dera notícias ainda, e a cada dia que passava eu ficava mais preocupada com o garoto e as dificuldades que poderia estar enfrentando.


Um homem um pouco mais baixo e alguns anos mais velho que William, mas com cabelos cor de areia e o mesmo desenho do queixo, abraçou-o com entusiasmo.


— Não pensei que viveria o suficiente para vê-lo se casar. Ao menos com uma pessoa de carne e osso. Você já se casou com a medicina.


— Não seja exagerado, Saulo. — William o empurrou, mas sorria.


Saulo. O irmão mais velho de William. E a bela morena a seu lado só poderia ser Tereza, sua esposa. Deduzi que o casal mais velho logo atrás me fitando com expectativa eram os pais dele. Observando com atenção, percebi que William tinha herdado os olhos de cor única da mãe, e o queixo bem desenhado do pai.


— Deixem-me apresentá-los à minha esposa, Maite  Uckermann Levy. — William apoiou a mão na base de minha coluna, o que culminou em um suave arrepio em minha nuca. — Maite, esta é a minha família.


— Você a descreveu muito bem, filho. Ela é adorável. — O sr. Levy me abriu um sorriso caloroso. — Bem-vinda à nossa família, minha querida.


Espero que nós não a enlouqueçamos antes do Natal.


— É um prazer conhecê-lo, sr. Levy. Tenho certeza de que isso não vai acontecer.


— Espere um pouco mais antes de se decidir — brincou Saulo.


— Ora, não digam bobagens! Elisa será muito bem tratada nesta família. — A sra. Rosália lançou ao marido e ao primogênito um olhar fulminante. Então olhou para mim, e seu rosto todo se iluminou. — Que prazer finalmente conhece-la.


Meu William sempre falou muito de você. Sinto como se já a conhecesse há anos! Tenho a sensação de que nós nos daremos muito bem.


— Tenho certeza disso, senhora.


— E terão bastante tempo para isso. — William pegou o relógio no bolso do colete e relanceou as horas. — Mas agora suponho que devemos ir. Os convidados estão nos esperando.


— Decerto. — O sr. Levy bateu na barriga. — A comilança não deve começar sem os noivos. E eu já estou pronto para um bom embate.


Eles se demoraram um pouco mais antes de, por fim, entrarem na carruagem e sumirem de vista. William e eu fizemos o mesmo. Ao chegar ao veículo, me surpreendi ao reconhecer o cocheiro.


— Eustáquio, que bom vê-lo. Irá trabalhar para o dr. Levy? — Sorri contente para o velho cocheiro dos Albuquerque.


— E para a senhora também. — Sempre muito educado, me felicitou com entusiasmo e abriu a porta para que eu subisse.


William entrou logo em seguida, acomodando-se no assento oposto. Mantive o rosto voltado para a janela conforme avançávamos, mas podia sentir seu olhar em mim.


— Eles parecem ter gostado de você — comentou. — Minha família.


— E eu deles.


— Foi realmente uma sorte não terem percebido sua hesitação. Pretendia me dizer não no altar. Não é?


Eu o encarei. E me arrependi instantaneamente. Não havia qualquer emoção em seu rosto. Nem mesmo raiva. Era o homem desprovido de sentimento que tomara o lugar do William que eu amei.


— Eu não pretendia... — Mas me detive. Eu não tinha mais que fingir para ele. — Me passou pela cabeça, sim.


— O que a fez mudar de ideia? — Inclinou a cabeça para o lado, me avaliando com atenção.


— Meu orgulho, eu acho. Já causei mais problemas à família Uckermann que todas as gerações juntas.


Os cantos de sua boca se curvaram para cima. Ah. Uma faísca de emoção, afinal. Mas que logo desapareceu. Seu rosto voltou a ficar sério.


— A partir de hoje, você leva o meu nome em seu dedo. — Fitou a aliança em meu anular. — Espero que se lembre disso e não tente me constranger publicamente outra vez.


Ele estava dizendo que... ele se atrevia a sugerir que...


— Está insinuando que eu tentei colocá-lo em uma situação embaraçosa de propósito?


— Abandonar-me no altar teria sido um pouco mais que “uma situação embaraçosa”. — Aquele sorriso cínico que eu odiava esticou seu rosto.


— Ser abandonada pelo noivo por três anos também!


Não sei como aconteceu. Em um instante, eu segurava o buquê em meu colo. No seguinte, as flores rodopiavam no ar, atingindo a cabeça de William.


Algumas pétalas e folhas se desprenderam, se enroscando em seus fios castanho-claros, antes de caírem no chão.


Com uma calma enervante, ele se abaixou para pegar as flores e as deixou de lado no banco antes de começar a retirar as folhas do cabelo.


— Eu não a abandonei, minha delicada noiva. Eu escrevi para você todo mês, como era esperado.


— Ah, belas cartas. O senhor sabe descrever o clima como ninguém.


Realmente é muito eloquente.


— Escrevi o necessário.


— Provavelmente escreveu. É por isso que sei por que escolhia aquelas joias espalhafatosas, ou que sei onde iremos morar?


Ele abaixou as sobrancelhas, me estudando.


— Não gostou das joias, querida?


Que Deus me ajudasse!


— Pretende me dizer aonde iremos morar? — eu quis saber. — Conseguiu enganar Christopher dizendo que era uma surpresa, mas eu sei que está fazendo isso apenas para me deixar nervosa.


— Não enganei seu irmão. — Seu rosto era uma máscara inexpressiva. — Nem estou tentado deixá-la ansiosa. Quero que seja uma surpresa.


— Então eu só posso supor que iremos viver em um lugar bastante desagradável, cheio de correntes de ar, com um pântano em vez de um jardim.


— Ah! Então conhece o lugar. — E lá estava aquele sorriso cínico de novo.


Bufando, voltei a olhar a paisagem, ou corria o risco de atirar mais alguma coisa nele. Se sua intenção era me irritar, estava conseguindo. Tudo o que eu queria agora era me mostrar tão controlada quanto ele. Mas como, se aquela sua indiferença fazia meu sangue fervilhar?


— Quem era o menino atrás do coreto? — Jogou pela janela as folhas que tirara do cabelo. Elas espiralaram no ar e acabaram voltando para dentro da


carruagem, algumas caindo em meu colo.


— Samuel é um assunto só meu. — Abanei a mão para me livrar da sujeira.


— Percebo que você não mudou nada nesses últimos anos, Maite.


— Não posso dizer o mesmo sobre você. Eu me casei com um completo estranho.


Ele arqueou as sobrancelhas, mas não fez qualquer comentário. Voltei a contemplar a estrada, me perguntando se seria assim de agora em diante. Se aquelas discussões se tornariam tão frequentes que em algum momento eu deixaria de me importar.


Ao chegarmos a minha casa, William não esperou que Eustáquio abrisse a porta e saltou. Sua mão surgiu no vão da porta, ainda que ele olhasse para o outro lado. Aceitei a ajuda e desci, tomando cuidado para não prender a delicada musselina. Inspirando fundo, ajeitei o vestido e tentei pregar um sorriso no rosto.


O espetáculo ainda não tinha terminado.


William me estendeu o que restara do buquê.


— Obrigada. — Empinei o nariz, tentando parecer o mais indiferente possível. E teria conseguido se não tivesse olhado para ele.


O riso me pegou desprevenida. Por mais que eu tivesse tentado detê-lo, não fui capaz.


— Qual é a graça? — ele perguntou, carrancudo.


— Você tem uma... — Apontei para o amor-perfeito que enfeitava seus cabelos.


Tateando a cabeça, ele encontrou a flor e a puxou com raiva, encarando-a como se ela o tivesse desafiado para um duelo.


— Por que vocês me odeiam tanto?! — resmungou.


Comecei a gargalhar. Tão alto e tão forte que tive de buscar apoio para não me desequilibrar. O braço de William me amparou, e ele me olhou de cara amarrada, a flor ainda na mão, piorando tudo. Mas os cantos de sua boca estremeceram e então se curvaram para cima lentamente, até surgir um sorriso que eu conhecia bem, mas que não via fazia muito, muito tempo. Aquele sorriso largo e franco, que lhe chegava aos olhos e sempre me fazia sorrir de volta.


— Acredito que eu tenha ofendido as flores de alguma maneira, Maite. Só isso explicaria esse motim.


— Pare... por favor — implorei, em meio ao riso.


Mas ele não parou.


— De fato, começo a me preocupar com esses ataques. Agora foi um inocente amor-perfeito. Antes, flores de ipê. Mas pense nas possibilidades. Pode ser que um cacto resolva cair na minha cabeça da próxima vez. E essas malditas plantas nem me dão a chance de me defender!


— Por favor... Minha barriga está doendo!


— Minha masculinidade também, ora essa! — Uma dissimulada indignação lhe retorceu as sobrancelhas. — Minha esposa... minha esposa de um dia!... me flagrou com uma flor nos cabelos! Nada poderia ser pior que isso. — Então, deliberou por um instante. — A menos que minha esposa de um dia me flagrasse aplicando um pouco de carmim nos lábios, creio eu.


— Oh... meu... hahahaha... Deus!


— De toda forma, acho que as flores conseguiram o que queriam. Estou desmoralizado.


As lágrimas que se empoçavam em meus olhos escorriam pelas bochechas.


Meus membros pareciam frouxos, e não foi uma surpresa eu ter tombado contra ele, os joelhos mal sustentando meu peso. Eu não ria assim fazia anos!


Minha cabeça pendeu para a frente, encontrando apoio em seu peito. William me segurou pelos cotovelos, sustentando meu peso. Sua risada grave reverberou pelo tórax e, oh, meu Deus, como eu senti falta dela. Tentei recobrar o controle, engolir o riso, mas a gargalhada teimava em escapar de vez em quando.


— Aqui é um bom lugar para ela. — Soltando um de meus cotovelos, ele levou a mão à coroa de trança, enroscando a flor em uma mecha. Um arrepio me fez estremecer de leve.


Ao erguer o rosto, encontrei seus olhos sorrindo para mim como os do William que conheci tanto tempo antes, as nuances verdes duelando com as marrons.


Uma quentura gostosa me inundou o peito, viajou rápido pelo meu corpo todo e se concentrou em minhas bochechas.


— Corada, sorridente e linda. — Seus dedos roçaram de leve em meu rosto, secando as lágrimas.


Seu toque varreu toda a diversão, e foi imediatamente registrado pelo meu coração, que começou a retumbar em meus ouvidos, um torpor inexplicável se espalhando pelos meus lábios.


— Devo desatrelar os cavalos... — disse o cocheiro, saindo de trás da lateral do veículo. Então nos viu e ficou de costas depressa. — Me perdoem. Não tive a intenção de interrompê-los.


William olhou para o empregado. Os dedos em meu cotovelo se contraíram de leve antes de me soltarem e ele dar um passo atrás. Com tristeza, vi desaparecer o William que eu conhecia.


— Leve os cavalos para o estábulo, Eustáquio. Depois venha comer alguma coisa. — Ele olhou para mim. Aquela indiferença parecia mais intensa que antes.


— Nossos convidados devem estar impacientes a essa altura. É melhor nos apressarmos. Quero que vejam o rubor em suas faces depois de ter tido um instante a sós comigo. Isso deve calar qualquer suspeita sobre sua hesitação durante a cerimônia.


Ele estava dizendo que... ele tinha me feito rir daquele jeito de propósito?


Que tinha evocado o antigo William apenas para me confundir e manter as malditas aparências?


Sem me dar chance de dizer qualquer coisa, William me acompanhou pelo gramado até o jardim, onde a festa acontecia e eu me peguei pensando que Dulce jamais esteve tão equivocada. Eu podia ter me casado com William na idade que ela previra. Mas não haveria final feliz para mim.




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Autor(a): Fer Linhares

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— Oh, Maite! Que festa magnífica. Seu irmão não poupou esforços! — disse Anahí, virando em sua cadeira para admirar o jardim. — Não. Não poupou. — Beberiquei minha taça de champanhe. Apesar dos protestos de William, Christopher não permitira que meu noivo pagasse pela despesa do casame ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 32



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  • poly_ Postado em 13/09/2019 - 14:11:41

    Desculpa a demora pra comentar, tô com muitos trabalhos, mas finalmente consegui vir aqui. E Simmm, posta a continuação, vou adorar. Bjuss!!!

  • poly_ Postado em 05/09/2019 - 12:28:41

    Menina quem imaginaria que era o Matias? Fiquei pasma. Nem acredito que tá acabando, vou sentir muita falta. Depois desse vc podia fazer uma adaptação Levyrroni do livro A Lady de Lyon, tô louquinha pra ler esse livro, dizem que é muito bom. Bjuss!!!

    • Fer Linhares Postado em 07/09/2019 - 19:22:35

      Vou ler esse livro, assim que eu terminar eu posto, bjss ;)

  • tehhlevyrroni Postado em 02/09/2019 - 11:58:23

    continua amo esse livro e vou amar mais ainda adaptado para Levyrroni

    • Fer Linhares Postado em 03/09/2019 - 20:09:23

      Continuando linda, bjss ;)

  • poly_ Postado em 31/08/2019 - 00:27:37

    Certeza q é o Duarte q fez isso, esse nojento. Mas tenho fé que o Will vai salva-la, tomara que ele consiga e ninguém fique ferido. Q momento fofo deles dois, amei. Continuaaa

    • Fer Linhares Postado em 31/08/2019 - 11:40:07

      Eles precisavam de um tempo só pra eles bjss ;)

  • poly_ Postado em 30/08/2019 - 13:02:45

    Aí mds, posso bater no William? Kkkkkk Continuaaaa

    • Fer Linhares Postado em 30/08/2019 - 17:02:44

      Pode kkk , me chama pra ajudar tbm kkk bjs ;)

  • poly_ Postado em 27/08/2019 - 23:50:45

    Tomara que eles sentem e se resolvam, e q Maite fale logo a verdade. Continuaaa

    • Fer Linhares Postado em 30/08/2019 - 11:17:06

      Do jeito que eles são, duvido que eles se resolvam calmamente kkk bjs ;)

  • poly_ Postado em 27/08/2019 - 15:26:50

    Aí q ódio de td mundo, da Maite por ser inocente ao ponto de ir atrás do homem, do William por ser um teimoso e principalmente desse Alex. Continuaaa

  • poly_ Postado em 26/08/2019 - 22:19:08

    Não vejo a hora de saber o que vai acontecer, parou na melhor parte. Continuaaaa

    • Fer Linhares Postado em 26/08/2019 - 23:53:59

      Do próximo capítulo em diante as coisas vão começar a esquentar, amanhã eu volto a postar, bjsss ;)

  • poly_ Postado em 26/08/2019 - 01:05:46

    Tô amando mulher, continuaaa (OBS: Ri demais com a briga do William com o irmão KKKKKKKKK)

  • poly_ Postado em 24/08/2019 - 13:34:10

    Ahh não acredito que Berta interrompeu esse momento. Pelo menos já estamos tendo um sinal de redenção né. Continuaa

    • Fer Linhares Postado em 25/08/2019 - 01:13:21

      Berta não e o problema agr kk, tem coisa ainda pra acontecer bjs ;)


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