Fanfic: Prometida - Uma longa jornada para casa (Levyrroni) | Tema: Levyrroni [Adaptada]
William alcançou Maite antes que ela colidisse com o assoalho.
Imbecil. Ele era um maldito imbecil! Quantas vezes na escola de medicina tinha visto homens feitos, altos e pesados como o tronco de uma árvore, caírem ao menor sinal de sangue, um osso exposto ou uma ferida purulenta? Por que diabos ele incitara Maite a suturá-lo?
De fato, não queria ter de recorrer ao seu bom amigo Almeida por razões exclusivamente provenientes de seu orgulho. Era um corte de menor importância que, se tratado com descaso, deixaria uma cicatriz pouco atraente. Mas ele tinha dado a entender que corria algum risco, não? E Maite era boa demais para acreditar nele.
Talvez pudesse culpar o conhaque pela falta de discernimento. Ou os socos de Saulo.
Entretanto, a verdade era ainda mais embaraçosa: ele queria que Maite o tocasse, queria sentir as mãos delicadas dela em seu corpo, pouco importava o motivo.
Pegando-a nos braços, William a levou até a cama, afastando os lençóis sujos de terra antes de deitá-la. Ajeitou cuidadosamente a cabeça de Maite no travesseiro, empurrando as mechas de azeviche para longe do rosto, e levou dois dedos à lateral do pescoço da esposa. O pulso fraco aliado à falta de cor em sua face e à frieza de sua pele provocaram um aperto no peito de William.
— Me desculpe. Me perdoe, Maite. Volte para mim. — Ele trabalhou depressa, embora seus dedos tremessem. Arrancou os sapatos dela, esfregou seus tornozelos, depois os pulsos. Ali ele usou um pouco de conhaque para aquecê-la. Mas a jovem ainda estava desacordada.
Com extrema gentileza, passou um dos braços por baixo dos ombros dela, sustentando a base do pescoço e a cabeça com seu antebraço. Aproximou a bebida do rosto de Maite, sacolejando de leve o líquido ambarino para que o álcool fosse liberado. Quando avistou um ligeiro franzir no narizinho delicado, seguido de uma longa inspiração, sentiu o corpo desmontar de alívio. Deixou a garrafa sobre a mesa de cabeceira para tomar o punho dela entre os dedos de uma mão, friccionando a pele sobre a veia vital em seu braço. A pulsação ganhava força.
Os olhos de Maite tremularam. Quando se abriram, miraram direto nele.
— Olá — sussurrou ele.
— Olá. — Uma faísca de confusão relampejou naquelas íris turquesa. — O que aconteceu?
— Você perdeu os sentidos.
Ela encrespou a testa.
— Estranho. Não costumo sentir isso.
— Tampouco está acostumada a operar. — Ele afastou com os dedos alguns fios de cabelo que lhe caíam no rosto. — Perdoe-me, Maite. Eu não devia tê-la incitado a cuidar da minha perna. Fui extremamente...
— Irresponsável?
— ... estúpido. — Fez uma careta. — E irresponsável também.
— Ah, bem. Eu já estou me habituando a sua estupidez.
Ele riu.
— Ouvir isso alivia meu coração.
— Posso beber alguma coisa? Minha garganta está seca.
Ele não queria soltá-la. Sentia que a deixaria exposta, vulnerável aos perigos do mundo. Mas seu conhecimento era necessário ali, então, beijando sua testa — demorando-se um pouco mais do que deveria —, obrigou-se a acomodá-la no travesseiro.
William serviu um copo de água e, depois que ela bebeu, chamou Baltazar, pedindo que o mordomo providenciasse algumas bebidas açucaradas. Foi muito específico ao dizer que não deveria demorar. O sujeito assentiu, relanceando as roupas imundas de William, mas não fez qualquer comentário.
Em questão de sete minutos, a sra. Veiga colocava a bandeja na mesa de cabeceira e saía em silêncio. William adicionou duas colheres generosas de mel ao chá de erva-doce e o ofereceu a Maite.
— Mas eu só queria um pouco de água. — Ela se sentou.
— Beba mesmo assim. O açúcar vai ajudar a diminuir o mal-estar e a restabelecer seu ritmo cardíaco.
Maite foi uma boa paciente. Tomou o chá e permitiu que ele colocasse um punhado de açúcar sob sua língua. Foi com alívio que ele acompanhou o rosto dela adquirir cor, o pulso retornar ao normal, o suor desaparecer de suas têmporas.
Quando a jovem bocejou, William relanceou o relógio em seu bolso e se deu conta de como era tarde. Estava exausto, as costelas doíam e a queimação em sua panturrilha dificilmente lhe permitiria dormir. Mas Maite ainda estava abatida.
Tivera uma noite agitada. Um pouco de descanso a faria recuperar-se mais rapidamente.
— Eu preciso ir para a cama — murmurou ela.
— Você está na cama.
— Eu quis dizer a minha.
William desejou ter dito as palavras que a fariam ficar. Gostava de tê-la em seu quarto. E foi precisamente por esse motivo que não a impediu de se levantar, nem de ir para o aposento ao lado. Mas a acompanhou de perto.
— Estarei bem ali se precisar de mim. — Indicou seu quarto.
— Obrigada, mas me sinto bem. Realmente. — Ela exibiu as encantadoras covinhas.
Deus, como ele queria beijar aqueles dois lindos pontinhos. E depois ir um pouco adiante e lamber a boca pequena.
— Boa noite. — Ele precisou cerrar os punhos para manter as mãos longe dela e obrigar as pernas a se moverem.
— William — chamou ela, antes que ele se retirasse. O rapaz a olhou por sobre o ombro, e só então Maite prosseguiu: — Christopher costuma fazer uma mistura de babosa e arnica para cuidar dos hematomas quando algum cavalo o derruba. É uma antiga receita de família. Você devia usá-la nas costelas.
Ele girou sobre os calcanhares, os braços cruzados sobre o peito, e lutou para não rir.— Você está tentando ensinar um médico, com quatro anos de experiência, sendo dois deles em um caótico hospital na região da Lombardia, a cuidar de um hematoma?
Seu rosto se encheu de cor — o que deixou William ridiculamente aliviado.
Apesar do visível embaraço, ela empinou o nariz.
— Estou.
Ele sentiu uma fisgada no centro do peito diante do atrevimento.
— Suspeitei disso. Está bem, Maite. Me ensine sua receita milagrosa.
— Bem, você deve ferver as flores de arnica e deixar amornar. Amasse um pouco das folhas também e...
Enquanto ela explicava o preparo do unguento que ele mesmo utilizava havia anos, William não pôde deixar de dar razão a Samuel. Também gostava de ouvi-la falar. Sua voz era macia, nem aguda nem grave demais, e a doçura com que proferia cada sílaba conflitava com a firmeza com que as dizia.
E a boca. O movimento daqueles lábios provocava os sentidos de William.
Despertava nele sensações que ninguém jamais chegou perto de conseguir.
Aquecia seu peito, deixava seus pensamentos à deriva, e ele só conseguia pensar em beijá-la, bem ali, bem agora, do contrário iria explodir feito um barril de pólvora. Era assim que ele se sentia perto de Maite desde a primeira vez que a vira, cinco anos antes. Desde que colocara os olhos nela, William soube que a amaria porque sentira uma fisgada no peito e um zumbido nos ouvidos que o impedia de completar um racio...
Deteve o pensamento naquele ponto, assustado, e buscou no próprio corpo as respostas para a pergunta absurda que subitamente brotou em sua mente.
Sim, a fisgada ainda estava ali, sob seu esterno. E parecia ficar cada vez mais violenta.
Não. Não podia ter acontecido de novo. Ele não podia ter se apaixonado por Maite outra vez. Ele tinha fechado o coração, sobretudo para ela. Não era possível que ela tivesse conseguido derrubar suas barreiras.
— ... depois é só aplicar no ferimento. Se quiser, pode fazer uma compressa com o unguento. Posso ir até a cozinha preparar um...
— Não preciso de suas receitas — atalhou, categórico. — Não preciso de nada que venha de você.
Maite estacou, piscando diante da ira repentina. Ele mesmo estava surpreso.
Estava com raiva. Meu Deus, tanta raiva que queria chutar alguma coisa! Mas não era raiva dela. Era de si mesmo. Tinha sido tolo o bastante para se apaixonar por uma mulher que quase o destruíra uma vez.
Ele começou a andar pelo quarto, bufando, rindo sem qualquer humor.
Queria bater a cabeça na parede. Queria socar alguma coisa até moer os ossos da mão. Queria chorar em desespero.
— Eu só quis ajudar. — A voz dela mal passou de um murmúrio.
— Você já fez mais que o suficiente. — Precisava sair dali antes que a tempestade dentro dele arrebentasse.
— William, eu não quis parecer arrogante. — Ela o seguiu. — Desculpe. Só quis cuidar de você do mesmo jeito que você cuidou de mim.
A tormenta ganhou força ao ouvir a voz de Maite tremer. Dentro dele, tudo chacoalhou, ruiu, antes de ser engolido pelas ondas de desespero. A última coisa que ele queria era que ela o temesse agora. Tinha de ir para longe daquela mulher.
Ele se virou para ela.
— Não confunda minha profissão com outra coisa, Maite. Eu fiz um juramento: jamais negar auxílio a quem precisa de meus cuidados. Eu cuidei de você como cuidaria de qualquer pessoa.
Ela recuou um passo, a dor evidente nas íris azuis. Acabou batendo as costas em uma cadeira. Teria caído se não tivesse apoiado uma das mãos na mesa. No entanto, ao se firmar, o decote do vestido baixou um pouco, não oferecendo muita sustentação, de modo que um mamilo rosado ficou visível.
William quis sacudir Maite. Quis colocá-la para fora daquele quarto, daquela casa, da vida dele. Quis jogá-la na cama e beijá-la em todos os lugares.
Sobretudo naquele mamilo perfeito.
Sacudiu a cabeça feito um touro bravo. Ele a amava. Depois de tudo, não conseguiu tirá-la do coração.
— Pelo amor de Deus, Maite, livre-se desse vestido de prostituta!
Ela olhou para baixo, e só então percebeu que estava exposta. Corando violentamente, se recompôs, erguendo o rosto para ele, os olhos reluzindo com mágoa. E lágrimas.
William praguejou baixinho. Não queria ter dito aquilo. Mas estava fora de controle por descobrir que ainda amava a mulher que o fizera de bobo diante de todos. Teria rido, se não se sentisse tão miserável.
Ainda segurando o vestido de encontro ao peito, ela atravessou o quarto até ficar a meros centímetros dele. William devia ter previsto aquele tapa. Era o que merecia.
— Pois saiba que sou diferente das prostitutas com quem costuma lidar. — Apesar das lágrimas, havia agora raiva em seu olhar. — A mim você não terá nem se tiver o poder de transformar os pedregulhos do planeta em ouro! Agora saia do meu quarto!
Ele a obedeceu, batendo com força a porta que ligava um cômodo ao outro.
Bufando, perambulou pelo quarto, praguejando, chutando o que encontrava pelo caminho — e os belos pontos em sua panturrilha o lembraram de que chutar coisas não era uma boa ideia no momento. Parou diante da janela e a abriu, recebendo com alívio o ar fresco em sua face quente pela bofetada. Apoiou as mãos no parapeito e fechou os olhos, deixando a cabeça pender para a frente.
Ele nunca a teria. Estava tão certo disso quanto de que nunca seria capaz de deixar de amá-la. Porque ele tinha tentado. Meu Deus, por três anos ele tentara matar aquele sentimento dentro de si. Achou que tivesse conseguido. Mas voltar a ver Maite, conviver com ela, fez tudo despertar, reavivar e se intensificar.
No fundo, seu irmão estava certo. William dizia a si mesmo que tinha se casado com Maite apenas para não ter o peso da ruína da jovem apunhalando sua consciência, mas a verdade era mais complexa. Ele queria que ela o conhecesse, que o admirasse, talvez viesse a gostar um pouco dele e se arrependesse de ter brincado com seus sentimentos no passado.
Isso, como ela o lembrou, não iria acontecer nem que ele se transformasse no rei Midas. William socou o parapeito. A madeira — ou foram seus ossos? — estalou com o golpe. Passou a mão na garrafa de conhaque e a levou a boca.
Tinha de beber até cair. Do contrário, corria o risco de invadir o quarto de Maite, se ajoelhar a seus pés e implorar que ela aceitasse seu amor.
Autor(a): Fer Linhares
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 32
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poly_ Postado em 13/09/2019 - 14:11:41
Desculpa a demora pra comentar, tô com muitos trabalhos, mas finalmente consegui vir aqui. E Simmm, posta a continuação, vou adorar. Bjuss!!!
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poly_ Postado em 05/09/2019 - 12:28:41
Menina quem imaginaria que era o Matias? Fiquei pasma. Nem acredito que tá acabando, vou sentir muita falta. Depois desse vc podia fazer uma adaptação Levyrroni do livro A Lady de Lyon, tô louquinha pra ler esse livro, dizem que é muito bom. Bjuss!!!
Fer Linhares Postado em 07/09/2019 - 19:22:35
Vou ler esse livro, assim que eu terminar eu posto, bjss ;)
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tehhlevyrroni Postado em 02/09/2019 - 11:58:23
continua amo esse livro e vou amar mais ainda adaptado para Levyrroni
Fer Linhares Postado em 03/09/2019 - 20:09:23
Continuando linda, bjss ;)
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poly_ Postado em 31/08/2019 - 00:27:37
Certeza q é o Duarte q fez isso, esse nojento. Mas tenho fé que o Will vai salva-la, tomara que ele consiga e ninguém fique ferido. Q momento fofo deles dois, amei. Continuaaa
Fer Linhares Postado em 31/08/2019 - 11:40:07
Eles precisavam de um tempo só pra eles bjss ;)
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poly_ Postado em 30/08/2019 - 13:02:45
Aí mds, posso bater no William? Kkkkkk Continuaaaa
Fer Linhares Postado em 30/08/2019 - 17:02:44
Pode kkk , me chama pra ajudar tbm kkk bjs ;)
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poly_ Postado em 27/08/2019 - 23:50:45
Tomara que eles sentem e se resolvam, e q Maite fale logo a verdade. Continuaaa
Fer Linhares Postado em 30/08/2019 - 11:17:06
Do jeito que eles são, duvido que eles se resolvam calmamente kkk bjs ;)
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poly_ Postado em 27/08/2019 - 15:26:50
Aí q ódio de td mundo, da Maite por ser inocente ao ponto de ir atrás do homem, do William por ser um teimoso e principalmente desse Alex. Continuaaa
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poly_ Postado em 26/08/2019 - 22:19:08
Não vejo a hora de saber o que vai acontecer, parou na melhor parte. Continuaaaa
Fer Linhares Postado em 26/08/2019 - 23:53:59
Do próximo capítulo em diante as coisas vão começar a esquentar, amanhã eu volto a postar, bjsss ;)
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poly_ Postado em 26/08/2019 - 01:05:46
Tô amando mulher, continuaaa (OBS: Ri demais com a briga do William com o irmão KKKKKKKKK)
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poly_ Postado em 24/08/2019 - 13:34:10
Ahh não acredito que Berta interrompeu esse momento. Pelo menos já estamos tendo um sinal de redenção né. Continuaa
Fer Linhares Postado em 25/08/2019 - 01:13:21
Berta não e o problema agr kk, tem coisa ainda pra acontecer bjs ;)