Fanfics Brasil - Capítulo 32 Prometida - Uma longa jornada para casa (Levyrroni)

Fanfic: Prometida - Uma longa jornada para casa (Levyrroni) | Tema: Levyrroni [Adaptada]


Capítulo: Capítulo 32

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O sol nascera havia certo tempo. Eu estava assistindo ao gracioso balé de partículas de poeira em um feixe de luz que entrava pela janela entreaberta já fazia mais de uma hora e não conseguia me obrigar a sair da cama. Ao menos eu tinha parado de chorar.


Uma prostituta. William me comparara a uma de suas cortesãs enquanto tudo o que eu tinha feito fora amá-lo de todo o coração.


Deus do céu, como eu tinha sido estúpida!


Depois que ele saíra do meu quarto, eu me livrara do vestido furiosamente e o enfiara dentro do baú. Bem lá no fundo, como se com isso eu pudesse ocultar também minha vergonha.


Eu estava mortificada.


O beijo em seu laboratório tinha significado tanto para mim, a maneira carinhosa como ele me tratara depois, o calor em seus olhos... Cheguei a pensar que poderíamos nos entender. Acreditei que pudéssemos, quem sabe, superar as desavenças do passado. Recomeçar.


Quando eu desmaiara, não perdera a consciência de todo. Era como se ouvisse o mundo de um lugar pequeno, escuro e muito distante. Mas eu o ouvira falar comigo, carinhoso e preocupado. Como a tola que era, pensei que quem me chamava era o homem por quem eu me apaixonara. Mas não! Era apenas o médico tentando fazer uma paciente qualquer recobrar a consciência. E ele havia percebido meu engano. Zombara de mim. Estilhaçara meu coração em milhares de pedaços e depois sapateara sobre os cacos, até moê-los.


Da mesma maneira que eu tinha feito com ele anos antes, como se o universo estivesse me devolvendo o favor.


Gostaria de ser capaz de arrancar de dentro de mim todos os sentimentos que tinha por ele e de jogá-los na correnteza de um riacho, para que nunca mais voltassem. Ele já me magoara outras vezes, mas nunca tão profundamente quanto na noite passada.


E ainda assim... ainda assim meu coração tolo sussurrava que algo estava errado. Que o homem carinhoso que cuidara de mim depois do desmaio fora mais que um médico exercendo sua profissão.


Ele beijava a testa de suas pacientes? Isso fazia parte do tratamento? E a maneira como me olhara quando finalmente consegui recobrar a consciência, tão cheio de angústia e... algo mais quente? Ele olhava para as outras assim também?


Não. Eu estava sendo estúpida outra vez. Tentando encontrar uma brasa qualquer que pudesse manter acesas minhas esperanças onde não havia nada além de cinzas.


Uma movimentação sutil me fez olhar para a cômoda. Um vulto pequeno e marrom saltou dela para o tapete, correu pelo assoalho e subiu no colchão.


— Aaaaaaaaaah! — Dei um pulo da cama no mesmo instante, indo para o outro lado do cômodo, o peito subindo e descendo. O rato havia se escondido nos lençóis.


Mantendo as costas coladas à parede, peguei a primeira coisa que meus dedos tocaram — um candelabro — e fui me aproximando da cama, pé ante pé.


Tive um pouco de dificuldade para segurar o pesado objeto. O toco da vela, agora apagada, caiu quando apontei a peça maciça para a cama. A porta se abriu de repente. Uma sombra passou por ela. Joguei o castiçal com força.


— Mas que inferno, Maite! — William gemeu, esfregando a parte do ombro onde eu o atingira. — Por que está me atacando? E que diabos é toda essa gritaria logo cedo?


Ele estava uma bagunça. Ainda vestia as roupas sujas e rasgadas da noite anterior, as pontas do cabelo longo espetadas em todas as direções, cobrindo parte dos olhos. Aquela careta sugeria que sua cabeça lhe matava. Ótimo!


Mas eu tinha um assunto mais urgente que o sofrimento de William.


— R-rato! — Apontei para a cama.


Ainda friccionando o ombro, ele se aproximou da bagunça de lençóis e os puxou com um safanão. Dei um pulo para trás quando a bolota marrom saltitou no colchão.


— É só um esquilo — William resmungou.


— Tem certeza?


— Veja você mesma.


Ele tentou pegar o animalzinho, mas o bicho era rápido. Pulou na mesa de cabeceira e de lá para o peitoril da janela, correndo sobre as telhas até alcançar o galho da árvore e desaparecer na folhagem.


— Pronto. Já foi embora. — William encostou a janela. — Era só isso? Posso voltar a dormir?


— Não me lembro de ter chamado você. — Caí sentada sobre o baú, a mão sobre o coração, tentando acalmá-lo.


— E quem consegue dormir com todo esse escândalo? — Marchou em direção à porta, mas se deteve, me olhando com um dos cantos da boca curvado para cima. — Então você ainda tem medo de ratos. E de coelhos. E de esquilos.


Já parou para pensar que na verdade sente medo de animais com dentes fora do padrão?


— Pode, por favor, retirar essa carcaça asquerosa do meu quarto?


— O esquilo já foi embora.


— Eu não me referia a ele.


Fechando a cara, William grunhiu alguma coisa ininteligível antes de bater a porta. Quase no mesmo instante, Berta entrou pelo outro lado, disposta a preparar minha toalete.


— Oh, sim. Obrigada, sra. Veiga — eu disse a ela. — E eu ficaria muito agradecida se pudesse avisar Eustáquio de que vou sair daqui a pouco.


— Sair outra vez? A senhora anda passando muito tempo fora de casa, para alguém casada há apenas alguns dias.


Optei por ignorar o comentário e abri o guarda-roupa. Meus vestidos estavam pendurados metodicamente, separados por cores. Dos mais claros aos escuros, os antigos e os novos brigando por espaço. Toquei a saia de um deles, um azul-claro estampado com minúsculos buquês pálidos. Era um de meus vestidos preferidos. Ao lado dele estava um dos novos, de um xadrez vibrante em azul e vermelho, com decote de ombro a ombro e sem qualquer traço que remetesse à infância. Foi ele que escolhi.


Meu casamento podia estar uma bagunça, mas havia algo que precisava ser solucionado o mais rápido possível: o destino de Samuel.


Se eu não era capaz de colocar minha vida nos eixos, iria me certificar de que o menino teria um destino diferente do que imaginara até agora.


 


 


                                                   * * *


 


 


— Para onde a gente tá indo? — Samuel saltitava a meu lado enquanto atravessávamos a casa.


— Para a minha casa. — Terminei de abotoar a luva.


— Mas pensei que aqui fosse a sua casa.


Como eu gostaria que fosse assim.


— A casa onde eu morava antes de me casar — expliquei.


— E por que eu tenho que colocá gravata? Eu fico sufocado. — Ele coçou o pescoço.


— Não pode ser tão ruim a...


William surgiu no fim do corredor. Ele se deteve por um instante, me examinando de cima a baixo. Não foi uma surpresa vê-lo torcer o nariz para o vestido xadrez. Endireitei os ombros, mantendo o chapéu junto da saia. Tinha coisas mais importantes a fazer do que me importar com sua opinião sobre minha aparência de prostituta.


— Vai sair? — perguntou, quando passei por ele.


— Vou passar o dia na casa do meu irmão.


Arqueando as sobrancelhas, William abriu a porta da sala de música e olhou para Samuel.


— Samuel, espere na sala — ordenou ao menino. — Quero falar com Maite em particular.


— Posso tirá a gravata?


— É tão desconfortável assim? — perguntei a Samuel.


— Sim — William e ele responderam em uníssono.


— Oh, está bem, então. — Revirei os olhos. — Mas tente se manter limpo.


— Vou tentá. — Ele não perdeu tempo. Enquanto se dirigia à sala, a gravata já estava em seu bolso.


William fechou a porta tão logo adentrei a sala de música. Ficou me observando de cara amarrada por um instante, antes de dizer:


— Não sei se é boa ideia meter seu irmão nesse assunto, Maite.


— Que assunto? — indaguei, cautelosa.


Ele estreitou os olhos para mim, cruzando os braços.


— Você vai falar com Christopher sobre o que aconteceu ontem à noite... a respeito de Samuel —apressou-se, o rosto adquirindo um suave rosado.


— Acho que ele pode encontrar uma solução para que Samuel se liberte daquele brutamontes e o que aconteceu ontem à noite não volte a se repetir.


— Você sabe que a primeira coisa que ele vai fazer é ir atrás daquele calhorda, não?


Estava pronta para dizer que estava enganado, mas não pude. Ele tinha razão. Eu teria sorte se Ian me deixasse chegar até o fim da história antes de sair atrás de Duarte.


— Está bem. — Soltei o ar com força. — Eu não posso colocar meu irmão e minha família em perigo. Não vou mencionar a visita noturna.


William anuiu, parecendo satisfeito com a resposta.


— Mandei chamar meu advogado. Vou encontrar uma solução. Tem minha palavra.


Aquilo me surpreendeu. Em parte, pelo menos. Eu já tinha percebido sua preocupação com o menino, independentemente de seus sentimentos por mim.


Sua postura relaxou quando eu assenti. Então ele caminhou por entre os instrumentos, se detendo ao parar diante do piano e examinar as teclas com atenção.


— Por que se importa tanto com ele, Maite? Quer dizer, qualquer um se sensibilizaria com a história do menino, mas, para você, parece pessoal.


— E é. Eu também fiquei órfã quando tinha a idade dele. A diferença é que eu tinha Christopher para cuidar de mim, e Samuel não tem ninguém.


Mantendo os olhos no teclado, ele arriscou algumas notas — uma escala de dó maior supreendentemente bem executada —, parecendo imerso em uma profunda reflexão.


— Bem, até logo. — Me virei para sair.


Minha mão estava na maçaneta quando ele disse:


— Pensei que você daria um fim nesses vestidos infernais.


— Ah, não. Essa foi a sua sugestão, doutor. Eu nunca cheguei a concordar.


Ele se mantinha de costas, mas juro que vi seus malares se elevarem de leve. Ele estava sorrindo?


Deixei a sala de música, irritada e confusa. Menos de vinte e quatro horas antes, um vestido muito semelhante ao que eu usava fora o estopim para uma conversa regada a ofensas (da parte dele), mágoa (de minha parte) e tapas (também de minha parte). E agora a ideia de manter meu novo guarda-roupa o divertia?


Ora, quem podia entender os homens, afinal?


— Minha querida! — Rosália me interceptou tão logo passei pela sala. — Aonde vai com tanta pressa?


— Vou até a minha.... até a casa do meu irmão, sra. Levy.


— Ah. — Seu sorriso murchou. — Pensei que poderíamos nos conhecer melhor hoje. Estava planejando um passeio pelos jardins. A sra. Veiga me deixou intrigada. Disse que a antiga senhora da casa tinha um gosto muito exótico para plantas, e assim que se mudou para esta casa mandou destruir o jardim da antiga dona para acomodar suas flores. Como se fossem plantas de estimação, veja só!


— Miranda tem um gosto exótico de modo geral — falei, me recordando dos decotes que ela usava, que faziam meus novos vestidos parecerem tão ousados quanto o hábito de uma freira. — E realmente lamento não poder ficar, sra. Levy.


Lidar com Rosália agora, por mais amável que ela fosse, estava além dos meus limites. Eu queria matar um dos filhos dela. Imaginei que ela também não fosse me querer por perto se soubesse disso.


— Podemos marcar o passeio para amanhã? — sugeri, para não magoá-la.


Ela voltou a sorrir.


— Claro que podemos. Mande lembranças aos Uckermann. E, já que vai sair, poderia me fazer um imenso favor, querida? Peça ao cocheiro para levar uma carta minha até o correio.


— Claro, sra. Levy. Eu ia mesmo até a casa do sr. Bregaro. Tenho uma carta para Valentina. — Quem sabe essa ela responderia.


Depois de pegar a correspondência de Rosália, eu me juntei a Samuel no hall de entrada. Ele estava empolgado além da conta.


— A gente pode ir?


— Sim. E tenho sua primeira missão! — Mostrei-lhe os dois envelopes.


— Eu cuido disso. Sou muito bom em levá cartas ao seu Bregaro — falou, meio presunçoso, pegando os envelopes e os guardando no bolso com uma gravidade que me fez rir.


Ele nunca tinha entrado numa carruagem antes. E tinha muitas perguntas a respeito de tudo. Quantas pessoas cabiam nela? Ele poderia voltar da casa de Christopher do lado de fora? Podia conduzi-la? Apenas por alguns metros?


Em determinado momento, quando estávamos quase chegando à casa do correspondente do correio na vila, Samuel me avaliou por um longo tempo.


— Você tá zangada — concluiu.


— Como sabe disso?


— Porque seus olhos ficam da cor do céu nublado. O que aconteceu? Seu mingau não estava bom?


— Algo assim. — Acariciei a penugem em sua cabeça.


— Eu sabia. Só a fome deixa alguém com essa cara. — Enfiando a mão no bolso da calça, fez surgir um pãozinho doce, do pacote que eu dera a ele no dia anterior. — Guardei este para uma emergência. — Puxou alguns fiapos que haviam se grudado ao creme. — E esta é uma emergência. Toma. Pode comê.


Oh, como alguém algum dia ousou maltratar aquela criatura?


— Eu aceito se você dividir comigo — murmurei, emocionada.


— Está bem. — Ele partiu o pãozinho e me entregou metade.


— Obrigada, Samuel.


— Não precisa agradecê. É isso que os amigos fazem. Eles cuidam um do outro. — E deu uma dentada em sua metade.


Não pude evitar sorrir enquanto levava o pãozinho à boca.


 


 


                                                     * * *


 


 


— Não sabia que você viria! — Dulce disse quando nos sentamos no banco do jardim. — Christopher teria te esperado, se soubesse. Ele acabou de sair nem faz meia hora. Foi até uma fazenda aqui perto. Parece que um dos cavalos de lá tá dando trabalho e seu irmão é a única esperança para domar a fera.


— Eu não tive tempo de avisar. — Afundei os dedos nos pelos de


Bartolomeu, aninhando-o junto a meu quadril. Ele fechou os olhos e um purrrrrrrrr reverberou pelo seu peito. — Só queria vir para casa.


Uma das sobrancelhas de Dulce arqueou, os olhos totalmente atentos.


— Maite, tá tudo bem entre você e o William?


— Dulce... — Naquele instante, desejei poder contar tudo a ela. Pedir seus conselhos, saber o que ela pensava das atitudes incongruentes de William. Mas isso implicaria magoá-la, pois eu teria de explicar o motivo pelo qual William passara a me odiar. Reunindo toda a coragem de que dispunha, abri o sorriso mais radiante de toda a minha vida. — Estar com ele é tão maravilhoso que parece que estou sonhando. — Minhas bochechas enrubesceram conforme a vergonha por mentir para ela me inundava.


Ela interpretou meu constrangimento de outra maneira.


— Ah! — E sorriu.


Madalena apareceu com uma bandeja de refresco, um pouco esbaforida.


— Oh, querida Maite, que surpresa maravilhosa. Eu estava tão preocupada com a senhorita! Quero dizer, com a senhora. Oh, minha nossa, nunca vou conseguir olhar para você e imaginá-la como uma mulher casada. Você tem comido? As pessoas na casa do seu marido lhe tratam bem?


Acabei rindo.


— Todos são muito gentis. Mas eu realmente sinto sua falta, sra. Gomes.


Ela pareceu satisfeita com o comentário e me fez mais algumas perguntas.


Sua animação acabou despertando Bartolomeu, que desceu do banco e decidiu explorar o jardim.


— Ficará conosco até o jantar? — Madalena quis saber, depois que respondi a todas as suas perguntas.


— Claro que sim. Essa é a casa dela também — interveio Dulce. — E se dirigindo a mim: — Christopher provavelmente vai demorar, e vai ficar muito chateado se você for embora antes de ele chegar.


— Sim, vou ficar até o jantar. — Eu estava morta de saudade de Christopher. Morta de saudade de tudo. E, no entanto, quando eu chegara ali esperava aquela sensação reconfortante de estar em casa, mas não foi o que aconteceu. Não que alguém tivesse me tratado de maneira diferente, justamente o contrário. Eu é que estava diferente.


Gomes me recebera com surpresa, mas muita alegria. Samuel parecia desconfiado, mas tentara ocultar seu receio da melhor maneira que pôde, mantendo uma postura grave e quase austera. Laura fora a primeira a correr para mim. Marina viera logo atrás, e sua recepção fora tão calorosa quanto a da irmãzinha. No entanto, ela olhara para Samuel com a testa franzida.


— Quem é você?


— Sou o Samuel.


— Ele é meu amigo — expliquei, acomodando Analu em meus braços. — Samuel, estas são minhas sobrinhas, Marina e Ana Laura.


O menino fez uma mesura um tanto exagerada. Algo caiu de seu bolso.


Depressa, ele se agachou para pegar o objeto, porém Marina foi mais ligeira.


— O que é isso? — perguntou, virando o que parecia ser um ossinho de frango.


O que mais ele guardava ali?


— É o meu cavalo — respondeu, com dignidade.


Marina continuou a observar o osso por diversos ângulos. Por fim, algo fez sentido para ela, que assentiu, com toda a seriedade de seus quatro anos e meio.


— É bonito. Como se chama?


— Casco Fino.


— É um bom nome. — Devolveu o osso-cavalo ao menino. — Quer brincar de fazendinha? O Casco Fino pode brincar também.


Ele olhou de mim para a menina e de volta para mim. Eu o encorajei com um movimento de cabeça. Impaciente, Marina não deu tempo para que ele respondesse e o pegou pela mão antes de correr para o jardim.


Laura, ainda em meu colo, colocou as mãozinhas em minhas bochechas e pressionou os lábios contra meu nariz. Assim que eu a coloquei no chão, saiu aos pulinhos atrás das outras crianças.


— Samuel parece um bom garoto. — Dulce comentou, me arrancando do devaneio. — Ele está morando com vocês?


— Sim, por uns tempos. — Contei-lhe tudo sobre ele e o tio, exceto os acontecimentos da noite anterior.


Dulce estava furiosa quando terminei meu relato.


— E cadê a assistência social quando a gente mais precisa dela?


— Assistência social?


— Acho que ainda não foi inventada. Mas a gente tem que fazer alguma coisa por ele, Maite. O menino não pode mais sofrer maus-tratos. E aquele canalha não pode ficar solto por aí. Alguém devia prender esse cara!


— William vai se reunir com o advogado hoje. Tenho esperança de que eles consigam pensar em uma solução. Talvez exista outro parente que possa ficar com ele. — Então uma ideia me ocorreu. Fitei minha irmã demoradamente. — Dulce, já pensou em procurar sua família? Neste tempo? O que sabe sobre os seus ancestrais?


— Não muita coisa além do fato de que o meu tataravô espanhol casou com a minha tataravó brasileira e os dois foram morar na Argentina. Só depois de um tempo que a minha família voltou para o Brasil. Nem sei os nomes. Se passaram muitas gerações até chegar em mim. — Deu de ombros. — A história se perdeu com o tempo.


— Que pena. Seria maravilhoso se você tivesse a chance de recuperar ao menos uma parte da sua família, não é?


Ela passou um braço pelos meus ombros, me abraçando com força enquanto contemplava as filhas e Samuel escavando a grama.


— Mas eu já tenho uma família, Maite.


Deitei a cabeça em seu ombro e nós ficamos ali, admirando as crianças, até que o almoço foi servido. Então Christopher chegou e minha alegria podia ser comparada com a de minhas sobrinhas. Eu o abracei por tanto tempo que ele acabou rindo.


Assim como Dulce, meu irmão cancelou os compromissos daquele dia e passou a tarde toda comigo. Mas a noite chegou e eu não tinha mais desculpas para permanecer ali.


— Não parece muito animada para voltar para casa — meu irmão constatou ao me acompanhar até a carruagem. Claro que Christopher perceberia que algo não ia bem comigo. De todas as pessoas no mundo, ele era a que me conhecia melhor.


— Acho que é você quem não parece muito animado em me ver indo embora — tentei brincar.


Samuel já estava sentado na carruagem ao lado de Eustáquio, tentando convencê-lo a lhe deixar segurar as guias.


— De fato. — Meu irmão fez uma careta. — Tem sido difícil me acostumar com a sua ausência.


— Pois saiba que para mim também. E isso é culpa sua! Eu não estaria sofrendo agora se você tivesse sido um irmão egoísta e se preocupado mais com a sua vida do que comigo.


Seus olhos negros chisparam em minha direção.


— Ainda me preocupo com você, Maite.


— Eu sei, Christopher. — Eu o abracei bem apertado, escondendo o rosto. — Mas não é necessário. Eu escolhi o meu caminho e estou feliz com a escolha que fiz.


— O que o seu marido pensa dessas suas visitas longas logo após o casamento? — perguntou quando o soltei.


— Ele tem suas pesquisas. Se eu saio, é para não distraí-lo.


A explicação pareceu convencê-lo. Ao menos em parte, já que, depois de me ajudar a entrar na carruagem, ele disse:


— Sabe que esta casa sempre será sua, não?


Fiz que sim. Ele fechou a porta e nós partimos, graças aos céus, com Eustáquio no comando.


Afundei no assento conforme deixávamos a propriedade, soltando um suspiro pesado e melancólico. Christopher estava enganado. Aquela já não era mais minha casa. Por mais que todos tivessem se esforçado e me tratado com o mesmo carinho de sempre, eu me senti uma visita. Algo havia mudado dentro de mim.


Se ali não era a minha casa, e tampouco eu me sentia em casa junto dos Levy, então, onde era? Onde era o meu lugar no mundo?




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Autor(a): Fer Linhares

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— Infelizmente, doutor — dizia o sr. Andrada —, este bilhete não prova nada. Não foi assinado e, além disso, uma pedra atirada pela janela não é exatamente uma ameaça de morte. O senhor foi atingido por azar. Se o sr. Duarte insistir, poderá reaver o menino. A justiça ficará do lado dele. A g ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 32



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  • poly_ Postado em 13/09/2019 - 14:11:41

    Desculpa a demora pra comentar, tô com muitos trabalhos, mas finalmente consegui vir aqui. E Simmm, posta a continuação, vou adorar. Bjuss!!!

  • poly_ Postado em 05/09/2019 - 12:28:41

    Menina quem imaginaria que era o Matias? Fiquei pasma. Nem acredito que tá acabando, vou sentir muita falta. Depois desse vc podia fazer uma adaptação Levyrroni do livro A Lady de Lyon, tô louquinha pra ler esse livro, dizem que é muito bom. Bjuss!!!

    • Fer Linhares Postado em 07/09/2019 - 19:22:35

      Vou ler esse livro, assim que eu terminar eu posto, bjss ;)

  • tehhlevyrroni Postado em 02/09/2019 - 11:58:23

    continua amo esse livro e vou amar mais ainda adaptado para Levyrroni

    • Fer Linhares Postado em 03/09/2019 - 20:09:23

      Continuando linda, bjss ;)

  • poly_ Postado em 31/08/2019 - 00:27:37

    Certeza q é o Duarte q fez isso, esse nojento. Mas tenho fé que o Will vai salva-la, tomara que ele consiga e ninguém fique ferido. Q momento fofo deles dois, amei. Continuaaa

    • Fer Linhares Postado em 31/08/2019 - 11:40:07

      Eles precisavam de um tempo só pra eles bjss ;)

  • poly_ Postado em 30/08/2019 - 13:02:45

    Aí mds, posso bater no William? Kkkkkk Continuaaaa

    • Fer Linhares Postado em 30/08/2019 - 17:02:44

      Pode kkk , me chama pra ajudar tbm kkk bjs ;)

  • poly_ Postado em 27/08/2019 - 23:50:45

    Tomara que eles sentem e se resolvam, e q Maite fale logo a verdade. Continuaaa

    • Fer Linhares Postado em 30/08/2019 - 11:17:06

      Do jeito que eles são, duvido que eles se resolvam calmamente kkk bjs ;)

  • poly_ Postado em 27/08/2019 - 15:26:50

    Aí q ódio de td mundo, da Maite por ser inocente ao ponto de ir atrás do homem, do William por ser um teimoso e principalmente desse Alex. Continuaaa

  • poly_ Postado em 26/08/2019 - 22:19:08

    Não vejo a hora de saber o que vai acontecer, parou na melhor parte. Continuaaaa

    • Fer Linhares Postado em 26/08/2019 - 23:53:59

      Do próximo capítulo em diante as coisas vão começar a esquentar, amanhã eu volto a postar, bjsss ;)

  • poly_ Postado em 26/08/2019 - 01:05:46

    Tô amando mulher, continuaaa (OBS: Ri demais com a briga do William com o irmão KKKKKKKKK)

  • poly_ Postado em 24/08/2019 - 13:34:10

    Ahh não acredito que Berta interrompeu esse momento. Pelo menos já estamos tendo um sinal de redenção né. Continuaa

    • Fer Linhares Postado em 25/08/2019 - 01:13:21

      Berta não e o problema agr kk, tem coisa ainda pra acontecer bjs ;)


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