Fanfic: Prometida - Uma longa jornada para casa (Levyrroni) | Tema: Levyrroni [Adaptada]
O sol bateu em minha pálpebra e pareceu perfurar meu crânio. Gemendo, virei-me para o outro lado. Não foi boa ideia, já que me cérebro parecia ter sido usado para lustrar os móveis. De todas as casas da vila!
Levei as mãos à testa e me sentei.
— Oh, minha nossa! — Caí de volta nos travesseiros, a pontada insistente dentro da minha cabeça ficando cada vez mais forte. Minhas costelas latejavam.
Também, pudera: eu dormira totalmente vestida, inclusive com o espartilho. Com algum custo, abri os olhos e notei que não estava em meu quarto, mas no de William.
Eu me sentei no mesmo instante. Meu cérebro pareceu não entender o movimento e protestou, latejando.
— Meu Deus — gemi.
Um ronco ressoou pelo cômodo. William dormia — em uma posição muito ruim para sua coluna — na poltrona.
Ele devia ter me levado até seu quarto quando chegamos da taberna, mas não se atrevera a tirar minhas roupas. Diante da dor nas costelas, desejei que ele não tivesse sido tão cavalheiro.
Girei as pernas para o lado e, na pontinha dos pés, comecei a atravessar o aposento. Estava quase na porta quando me detive, fitando William adormecido.
Não sabia quanto tempo sua transformação iria durar, mas esperava que fosse permanente e eu pudesse reencontrar o homem que me fizera rir tanto na tarde/noite anterior.
Ele inspirou fundo, gemendo enquanto tentava ajeitar o corpanzil na poltrona estreita, e eu corri para sair dali antes que ele despertasse.
Assim que estava em meu quarto, tratei de me despir, louca para me livrar do espartilho por alguns instantes. Mal havia acabado de desfazer os laços da peça e respirar aliviada quando Samuel entrou.
— Maite, Maite! Eu já estou pronto!
— Samuel! — Puxei o vestido que acabara de jogar sobre a cama para me cobrir. Eu estava só de chemise, pelo amor de Deus. — Fale baixo! E nunca entre em um quarto sem bater antes. Sobretudo no quarto de uma dama.
— Mas...
— Por favor, pode sair por um instante? Eu preciso me vestir, antes de mais nada.
Ele fez uma careta e, muito contrariado, deixou o quarto.
Eu me enfiei no vestido de qualquer jeito, fechando apenas alguns botões antes de ir para a porta. Samuel entrou antes que eu a abrisse totalmente.
— Eu tô pronto pra nossa aula! — gritou. Sua voz badalou como sinos em minha cabeça.
— Está bem. — Massageei as têmporas na esperança de fazer a dor desaparecer. — Começaremos daqui a pouco, mas antes eu preciso me arrumar.
Poderia, por favor, pedir para a sra. Veiga preparar a banheira para mim? — Fui me sentar na cama, gemendo.
Ele chegou mais perto, a testa franzida e o olhar preocupado.
— Você está doente? Qué que eu chame o dr. William?
— Não, querido. Eu só preciso... — ficar longe de cerveja de hoje em diante — ... de um banho quente.
— Está bem. Vou falá para a sra. Veiga esquentá a água. Qué que eu pegue alguma coisa pra você comê?
— Oh, não! Por favor, não é necessário. — A simples lembrança da palavra “comida” fez meu estômago se rebelar.
— Vou esperar você na biblioteca.
— Descerei em meia hora. Por favor, não bata... — Mas ele saíra correndo e fechou a porta com força ao passar por ela. O som se propagou em meu cérebro — ... a porta.
Deixei-me cair no colchão. Seria um longo dia.
* * *
Levei quase uma hora para conseguir me arrumar. O cabelo foi a parte mais difícil. Minha cabeça doía demais e eu não consegui prendê-lo como de costume, então puxei os fios para o lado e o trancei, não muito apertado.
Uma suave batida ressoou pelo quarto.
— Entre — eu me virei na banqueta da penteadeira.
A porta que separava meu quarto do de William se abriu e ele surgiu, lindo e corado, como se não tivesse dormido naquela poltrona pequena demais para seu corpo. Não era justo.
— Bom dia, Maite — falou bem baixinho. — Como se sente?
— Miserável. Nunca mais vou chegar perto de outra cerveja enquanto eu viver.
Ele engoliu o riso e colocou uma bandeja sobre o toucador. A xícara sobre ela tilintou.
— Vai ajudar com o enjoo e com o pandemônio em sua cabeça. — Indicou o chá
.— Oh, graças aos céus. Pensei que ficaria assim para todo o sempre.
Peguei a xícara e sorvi alguns goles. Gengibre, forte a ponto de arder. Mas não reclamei e tomei até a última gota.
— Não era minha intenção que se sentisse tão mal — ele falou enquanto eu pousava a xícara sobre o pires.
— A julgar pelo que já vi acontecer com Christopher, quando Dulce desapareceu e ele se entregou à bebedeira, devo melhorar em algum tempo, então não se sinta culpado por algo que eu mesma procurei.
Ele recostou os quadris na penteadeira, apoiando as mãos ao lado deles, e olhou para mim com expectativa.
— Se estiver se sentindo melhor mais tarde, gostaria de me acompanhar em um passeio pela propriedade? Acredito que você a conheça melhor do que eu.
Então a mudança persistia.
— Claro. Eu adoraria andar um pouco. Isto é, se este sino parar de repicar em minha cabeça.
Ele riu baixinho, se aprumando.
— Ele vai ficar quieto em uma ou duas horas. Até mais tarde.
William estava saindo quando meu cérebro latejante me lembrou de algo muito importante. Eu o chamei de volta.
— Sobre o que me disse ontem, William... que a sra. Albuquerque foi envenenada. Realmente acredita nisso?
Ele esfregou a testa, enquanto seus pés batiam suavemente contra o tapete ao se aproximar.
— Eu não tenho dúvida sobre a causa da morte de Adelaide, mas não posso provar nada já que Almeida discorda de mim. — Abriu os braços. — Além disso, já faz tempo demais.
— Mas, William — eu me levantei —, se existiu um crime, ele tem que ser investigado e os culpados devem pagar!
Ele pressionou os lábios até se tornarem uma pálida linha fina.
— Acho que eu posso ter exagerado ontem, Maite. Envenenamento acidental foi uma das situações que mais atendi em Lodi, sobretudo em crianças. Adelaide pode ter ingerido o veneno pensando que se tratava de outra coisa. Não seria a primeira nem, infelizmente, a última vítima.
Ouvir aquilo me trouxe um pouco de alento. Porque ainda pior que pensar que Adelaide tivesse morrido envenenada era pensar que alguém poderia ter planejado aquilo.
— Esqueça isso. — Ele estendeu a mão e tocou meu braço de leve. Minha pele se arrepiou em resposta. — Eu não devia ter dito nada. Não pretendia preocupá-la.
— Não, eu fiquei... não posso dizer que fiquei feliz, diante das circunstâncias, mas gostei que tenha dividido isso comigo, William. Você quase nunca me conta o que está pensando.
Uma faísca chispou em seus olhos, deixando-os esverdeados.
— Isso ficou para trás — murmurou. — Eu juro.
Assenti uma vez, e não pude impedir que meu coração tolo se enchesse de esperanças de que as coisas entre nós finalmente pudessem se ajeitar.
Depois de um instante, ele fez uma mesura elegante e me deixou sozinha.
* * *
As aulas não tinham começado muito bem. Iniciei sondando o que Samuel aprendera no período em que frequentara a escola, e a resposta foi: coisa nenhuma. Passei a tarde toda lhe apresentando as vogais. Enquanto debatíamos, ele foi rápido em suas respostas, me dando exemplos de palavras que começavam com as letras que eu pedia. Mas, quando as analisava no caderno, algo dava errado e ele se perdia. Sentindo sua frustração — e a minha própria —, encerramos a aula pouco antes do almoço, mas dei a ele a tarefa de encontrar um objeto para cada vogal.
Enquanto esperava William na sala em companhia de sua família, descobri que os Levy eram pouco convencionais e eu adorei ainda mais. Já sabia que Rosália gostava de cozinhar, e descobri que o sr. Alfredo tinha uma vasta coleção de insetos. Ele encontrara um besouro-bombardeiro em suas andanças naquela manhã e parecia dez anos mais jovem enquanto me explicava sobre o bicho. Tereza ficou um pouco enojada com a conversa do sogro, e começou a cantarolar baixinho, a cabeça balançando suavemente. Saulo, sentado em uma poltrona, olhava para ela com um dos cantos da boca repuxado em um sorriso muito semelhante ao de William. Eles eram felizes, cada um a seu modo.
Um pouco mais tarde, encontrei-me com William na entrada da casa. Ele tinha uma cesta pendurada no braço.
— Espero que não se importe de almoçar ao ar livre.
— Pelo contrário. Eu adoro piqueniques.
Andamos por algum tempo na trilha que margeava o riacho e que cercava quase toda a propriedade. Reconheci tantos lugares em que eu e Valentina costumávamos brincar que meu coração se encheu de saudade. Ela ainda não tinha escrito. Seu silêncio estava me deixando cada vez mais preocupada. Não sabia se devia escrever a ela contando das suspeitas de William. Uma parte de mim insistia que ela devia saber do destino da mãe. A outra dizia que isso só a faria sofrer ainda mais neste momento de mudanças, e que nada traria Adelaide de volta.
— Olhe! —William entregou-me a cesta e saiu da trilha. Abaixando-se, ele pegou alguma coisa na margem de terra dura. Uma concha de água doce. Levou a mão ao bolso da calça e pegou um pequeno canivete, um sorriso enviesado deixando seu rosto ainda mais bonito quando olhou para mim. — O que acha?
Será que terá sorte e ganhará uma pérola hoje?
Esperando que eu me aproximasse, William enfiou a lâmina na fenda da concha delicadamente e a passou por toda a extensão antes de torcer de leve.
Empurrou a parte superior com a ponta do canivete.
— Que pena — murmurei. — Nada de pérolas hoje.
— Não desanime. — Ele fechou a concha e a devolveu ao rio, então voltou o rosto para mim e tomou a cesta de minhas mãos. Seus olhos brilhavam, um sorriso travesso como se guardasse um segredo. — Talvez você ainda encontre alguma por aí.
— Uma moça sempre pode sonhar — brinquei. — O que estamos procurando, afinal?
— Uma campina. Tenho certeza de que vi uma quando estive aqui
conhecendo melhor a propriedade depois de comprá-la. — Existem algumas. Como ela era? Talvez eu possa ajudar.
— Tinha grama. E algumas árvores e... humm... — Ele coçou o queixo. — ... mais grama.
Dei risada.
— Não ajuda muito. Mas eu sei que o jardim é bem grande e há um gramado sob uma castanheira que seria um bom lugar para um piquenique.
— Excelente! — Esticou o braço para que eu lhe mostrasse o caminho.
Fizemos a volta e estávamos próximos da casa quando avistamos os portões do jardim.
William me encarou.
— A sra. Veiga me disse que Miranda mandou destruir as flores de
Adelaide. — Ele me puxou um pouco para o lado para que eu desviasse de um buraco no gramado.
— E trouxe as que tinha em casa — confirmei. — Valentina ficou muito chateada na época. Miranda fez questão de eliminar tudo o que pudesse lembrar Adelaide.
Ao chegarmos ao portão que cercava o jardim, William empurrou a grade, abrindo-a. Eu entrei primeiro e logo notei que as roseiras de Adelaide haviam sido substituídas por samambaias, copos-de-leite e antúrios. Conforme meus pés avançavam, esmagando a trilha de cascalho, as plantas foram se tornando mais estranhas, até que eu não reconhecia mais os nomes.
Estudei um largo vaso com uma planta bastante esquisita. Tinha um galho vermelho de onde pendia um cacho de bolotas brancas com uma pequena mancha preta ao centro, quase como um cacho de olhos. Ao lado havia outra, com talos finos e pequenas flores brancas espinhosas. Mais à direita, um pequeno arbusto exibia uma centena de flores delicadas em todos os tons de rosa. Eu me inclinei para a frente, desejando sentir seu aroma.
— Não faça isso! — gritou William.
Ouvi o ruído de algo caindo no chão e vidro se estilhaçando enquanto ele passava um braço pela minha cintura e me puxava para trás.
— Fique longe delas! Não quero você perto de nenhuma dessas plantas, especialmente desta! — Indicou o arbusto com a cabeça.
A cesta no chão se abrira, a garrafa de vinho se quebrara e o líquido rubro agora escorria pelo cascalho como sangue. Contemplei William sem entender. Seu rosto havia perdido a cor.
— Esta, especificamente, e aquela que se parece com olhos são extremamente venenosas quando ingeridas. Esse arbusto é um pé de flor-de-são-josé.
— Engoliu em seco, observando a planta em completo horror. — Também conhecida como oleandro.
Lutei contra a compreensão. Fiz tudo o que pude para impedir que ela se instalasse em meu cérebro, mas não adiantou, e as imagens começaram a explodir em minha cabeça. O rosto de Adelaide contorcido de dor, Miranda deixando a confeitaria, o sr. Albuquerque saindo da igreja com a amante. Era sórdido. Era vil! Tão cruel que meu estômago embrulhou e eu pensei que fosse vomitar.
— Não. William, não pode ser! Não pode ser verdade. — Levei a mão à boca, os olhos nublados pelas lágrimas.
William me puxou para si, passando os braços protetoramente ao meu redor, enquanto eu arrebentava por dentro e caía em prantos.
— Eu sinto muito. — Ele disse em meu ouvido. — Lamento tanto, Maite. Sinto muito. — Beijou meus cabelos.
As plantas de Miranda não eram apenas exóticas. Eram letais.
As suspeitas de William haviam se confirmado. Adelaide tinha sido Assassinada.
Autor(a): Fer Linhares
Este autor(a) escreve mais 10 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?
+ Fanfics do autor(a)Prévia do próximo capítulo
— Não podemos ser precipitados em fazer um julgamento, William. — Almeida olhava para o jardim e abanava a cabeça. — Pode ser apenas coincidência. William bufou feito um bicho enjaulado. Como é que aquele homem brilhante poderia ser tão teimoso? — Não estou sendo precipitado, Almeida. Eu atendi a sra. Albuq ...
Capítulo Anterior | Próximo Capítulo
Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 32
Para comentar, você deve estar logado no site.
-
poly_ Postado em 13/09/2019 - 14:11:41
Desculpa a demora pra comentar, tô com muitos trabalhos, mas finalmente consegui vir aqui. E Simmm, posta a continuação, vou adorar. Bjuss!!!
-
poly_ Postado em 05/09/2019 - 12:28:41
Menina quem imaginaria que era o Matias? Fiquei pasma. Nem acredito que tá acabando, vou sentir muita falta. Depois desse vc podia fazer uma adaptação Levyrroni do livro A Lady de Lyon, tô louquinha pra ler esse livro, dizem que é muito bom. Bjuss!!!
Fer Linhares Postado em 07/09/2019 - 19:22:35
Vou ler esse livro, assim que eu terminar eu posto, bjss ;)
-
tehhlevyrroni Postado em 02/09/2019 - 11:58:23
continua amo esse livro e vou amar mais ainda adaptado para Levyrroni
Fer Linhares Postado em 03/09/2019 - 20:09:23
Continuando linda, bjss ;)
-
poly_ Postado em 31/08/2019 - 00:27:37
Certeza q é o Duarte q fez isso, esse nojento. Mas tenho fé que o Will vai salva-la, tomara que ele consiga e ninguém fique ferido. Q momento fofo deles dois, amei. Continuaaa
Fer Linhares Postado em 31/08/2019 - 11:40:07
Eles precisavam de um tempo só pra eles bjss ;)
-
poly_ Postado em 30/08/2019 - 13:02:45
Aí mds, posso bater no William? Kkkkkk Continuaaaa
Fer Linhares Postado em 30/08/2019 - 17:02:44
Pode kkk , me chama pra ajudar tbm kkk bjs ;)
-
poly_ Postado em 27/08/2019 - 23:50:45
Tomara que eles sentem e se resolvam, e q Maite fale logo a verdade. Continuaaa
Fer Linhares Postado em 30/08/2019 - 11:17:06
Do jeito que eles são, duvido que eles se resolvam calmamente kkk bjs ;)
-
poly_ Postado em 27/08/2019 - 15:26:50
Aí q ódio de td mundo, da Maite por ser inocente ao ponto de ir atrás do homem, do William por ser um teimoso e principalmente desse Alex. Continuaaa
-
poly_ Postado em 26/08/2019 - 22:19:08
Não vejo a hora de saber o que vai acontecer, parou na melhor parte. Continuaaaa
Fer Linhares Postado em 26/08/2019 - 23:53:59
Do próximo capítulo em diante as coisas vão começar a esquentar, amanhã eu volto a postar, bjsss ;)
-
poly_ Postado em 26/08/2019 - 01:05:46
Tô amando mulher, continuaaa (OBS: Ri demais com a briga do William com o irmão KKKKKKKKK)
-
poly_ Postado em 24/08/2019 - 13:34:10
Ahh não acredito que Berta interrompeu esse momento. Pelo menos já estamos tendo um sinal de redenção né. Continuaa
Fer Linhares Postado em 25/08/2019 - 01:13:21
Berta não e o problema agr kk, tem coisa ainda pra acontecer bjs ;)