Fanfic: Prometida - Uma longa jornada para casa (Levyrroni) | Tema: Levyrroni [Adaptada]
Samuel e eu estávamos na sala de música, ainda presos às vogais. Não havíamos avançado muito em uma semana. Eu tinha recorrido ao piano para fazê-lo decorar o a-e-i-o-u, e ele se saíra muito bem. O ouvido do menino era ligeiro, e ele agora sabia as vogais de trás para frente. Ao menos enquanto as recitava para mim. Quando tentava encontrá-las no papel, porém, se perdia.
— Eu disse que era muito burro! — Ele empurrou a revista Espelho
Diamantino depois que pedi para circular todas as letras A que encontrasse nela.
— Você não é burro! Não quero que se refira a si mesmo assim novamente.
— Mas eu não consigo aprendê, Maite!
— Isso também não é verdade. — Separei uma folha e desenhei um grande A, depois comecei a rabiscar. — Você me trouxe tudo o que eu pedi durante a semana. Apontou cada objeto e sua letra inicial. E tudo estava certo. Também decorou as vogais direitinho.
— Isso não é ler. — Ele cruzou os braços, fazendo uma careta.
— É um começo, Sam.
Ele se curvou para a frente e observou com muita atenção o papel que eu rabiscara.
— Isto é uma amora?
— Sim. E esta letra é o A da amora que você me trouxe logo no início da semana. — Contornei a letra com o lápis. — Não vou desistir de você, Samuel, então, por favor, não desista de si mesmo. Vou pegar umas revistas novas. Talvez uma brincadeira nos ajude a superar esse obstáculo. Enquanto subo, quero que desenhe algo que comece com a letra A e a copie no caderno várias vezes.
O menino concordou, parecendo emburrado. Pegou a folha onde eu desenhara e a encarou com a testa franzida.
Subi até meu quarto e coloquei a mão na maçaneta, mas ela se abriu sozinha.
— Sr. Matias! — exclamei, surpresa ao vê-lo sob o batente. — O que o sr. faz no meu quarto?
— Senhora! Graças a Deus! — Seu rosto era puro alívio. — A sra. Veiga me pediu para ir até o laboratório do seu marido enquanto ia chamá-lo, mas já entrei em seis cômodos diferentes e não consigo achar.
— O laboratório fica no andar de baixo. Eu o levo até lá. — Indiquei as escadas, no fim do corredor. Ele começou a me acompanhar a passos lentos, como se sentisse dor. — O senhor está melhor?
— Graças ao seu marido, sim. Um grande médico! Foi Deus que o enviou à taberna naquela tarde.
— Lamento pelo acidente. O garçom parecia desatento.
— Eu é que me levantei na hora errada. Tinha um compromisso e já havia me demorado demais. O pobre não teve culpa. Quando a casa está cheia, é sempre mais difícil ser cuidadoso. Tudo em que se pensa é em ser rápido no atendimento para não desagradar ao patrão. Acredite em mim, ele não teve culpa. — Abriu um sorriso curto, o olhar um tanto perdido, como se se lembrasse da época em que servia as mesas. — E nem doeu tanto assim. Seu marido me deu um pouco de ópio e eu desmaiei antes que ele saísse do quarto. Nem tive tempo para agradecê-lo ou acertar o que devo.
— Estou certa de que William não esperava que o senhor fizesse nem uma coisa nem outra.
— Porque ele pensa primeiro no povo, para depois pensar no dinheiro. Isso é raro hoje em dia. É uma bela casa, não? — comentou, olhando ao redor, quando chegamos ao térreo e tomamos a direção do laboratório. — Nunca estive aqui antes. A antiga família não era muito tolerante com os novos ricos. Sobretudo aquela argentina. Só faltava cuspir quando eu passava.
— Miranda é uma... — assassina! — ... criatura peculiar.
— Foi o que eu ouvi dizer. Uma pena que a srta. Valentina tenha ido embora com a família. Uma jovem tão educada e amável. Deve estar sentindo falta da sua amiga, não?
Se ele soubesse...
O silêncio de Valentina estava me deixando em pânico agora que eu sabia a verdadeira causa da morte de sua mãe. As flores que William e eu encontramos não deixaram qualquer dúvida, e eu temia por minha amiga. Ela estaria bem?
Miranda poderia fazer mal a ela? O sr. Albuquerque sabia o que tinha acontecido?
Ou William tinha razão quando dizia que poderia ter sido um dos empregados a mando de Miranda? Mas qual deles? O sempre eficiente Baltazar? A prestativa sra. Veiga? Ou seria Eustáquio? Talvez Quinzinho?
Todas aquelas dúvidas estavam me deixando zonza. Graças aos céus eu tinha Samuel para ocupar-me a cabeça. Mas mesmo ele me causava preocupação.
Duarte havia desaparecido da vila, no entanto sua ameaça ainda pairava no ar.
Toda aquela calma me causava a mesma angústia que acontece com o tempo: ventos suaves e frescos antes de uma tempestade desabar.
— Sr. Matias! — a voz de William me chegou aos ouvidos, me despertando. — Creio que a sra. Veiga tenha se confundido e nós nos desencontramos. Como vai?
Ele manteve a porta do laboratório aberta e diminuiu a distância entre nós.
Não pareceu muito contente em me ver ao lado do rapaz, a julgar pelo franzir entre suas sobrancelhas e pela maneira como pressionou a boca.
Se o sr. Matias percebeu alguma coisa, não demonstrou, pois respondeu com amabilidade:
— Melhor, graças aos seus cuidados.
— Vamos dar uma olhada nessas queimaduras. Pode entrar. Eu irei em um minuto.
Diógenes se virou para mim e tentou fazer uma mesura. As queimaduras não permitiram.
— Foi um prazer revê-la, senhora. — Então entrou no laboratório, arrastando os pés.
William encostou a porta, me puxando para o lado.
— Maite, eu acabo de receber um convite. Para um baile. — Seu rosto reluzia com uma empolgação que ele tentava refrear. — Um antigo amigo da escola de medicina está visitando a propriedade que herdou de um parente. Henrique Bastos. Acho que devo ter mencionado o nome dele em uma de minhas cartas. Mas posso recusar se não estiver disposta a ir. Sei quanto os últimos dias foram difíceis para você.
William se provara um amigo inestimável. Deixara-me chorar em seu ombro, me consolara com as palavras certas, me ouvira quando eu mais precisava ou apenas ficara ali, segurando minhas mãos, quando a preocupação com Valentina as fazia tremer. Eu já não duvidava dele. O homem frio e indiferente desaparecera e agora eu o amava ainda mais do que no passado.
Percebi, pela expressão ansiosa de William enquanto aguardava a reposta, que o baile na casa do amigo parecia importante para ele.
— Eu... Não, não cancele, William. Um pouco de distração vai me fazer bem. E eu vou adorar conhecer Henrique.
— Imagino que não conheça ninguém lá, mas não se preocupe. Henrique é um bom anfitrião, e sua esposa deve ser uma santa, já que se casou com ele. Sei que se tornarão amigos muito depressa. — Então ele chegou mais perto. Tão perto que suas pernas foram engolidas por minha saia ampla. — Além disso, agora que somos casados poderemos dançar como se estivéssemos costurados pelas roupas sem causar escândalo.
— Está enganado. — Inclinei a cabeça para poder mirar seu rosto. — Pode imaginar? Duas pessoas casadas se divertindo uma com a outra? Oh, céus, que mundo perdido!
Seus lábios se esticaram lentamente, até que tudo o que eu podia ver era seu sorriso e aquele fogo selvagem crepitando em suas íris, me fazendo promessas que eu não sabia interpretar, mas que fizeram um arrepio me subir pela nuca, meu estômago dar uma cambalhota e meu pulso disparar.
— Será uma noite inesquecível, Maite. — Ergueu a mão, e seu indicador correu devagar pela lateral do meu pescoço, bem naquele ponto onde minha pulsação enlouquecia.
Ergui o rosto para ele, a boca formigando em antecipação. O fogo em seus olhos se transformara em fogueiras altas enquanto eu o via umedecer os lábios e inclinar a cabeça em minha direção.
— Maite! Eu estava procurando você, minha querida!
William se afastou e eu recuei um passo, engolindo em seco, o coração palpitando tão forte que me doía, enquanto Rosália avançava pelo corredor, um caderno nas mãos, sem parecer ter notado que nos interrompera.
Antes que ela nos alcançasse, William fez a volta e entrou no laboratório para atender seu paciente, mas sorria ao olhar para mim — as chamas ainda presentes em seu semblante — e encostar a porta devagar.
Soltei o ar com força, e só então percebi que o estivera prendendo, o coração ainda aos pulos.
— Minha querida — disse Rosália —, o sr. Baltazar me informou que você sugeriu cordeiro ao molho de alecrim no cardápio semanal, mas eu nunca preparei a receita. Poderia me explicar como gosta que seja preparado?
— Eu... — Clareei a garganta. — Lamento, sra. Rosália, mas eu não faço ideia. Por que não prepara uma de suas especialidades? Tenho certeza de que será maravilhoso.
— Ora... eu poderia preparar um pato com laranja. — Ela piscou, parecendo acanhada. — Não quero me gabar, mas é realmente saboroso.
— Parece ótimo.
— O segredo está em regar o pato... — Ela continuou falando e eu tentei controlar minhas emoções, mas como faria isso se a promessa de William rodopiava por minha cabeça como um furacão?
“Será uma noite inesquecível”, ele prometera.
O que, exatamente, isso significava?
* * *
Terminei de me arrumar e me olhei no espelho. Minha aparência não estava em seus melhores dias. As olheiras estavam um pouco evidentes, e minha pele parecia mais pálida que o normal. Torci os cabelos na parte da frente, e, como mais cedo tinha enrolado as madeixas com fitas, cachos pesados me caíam nas costas agora. Esperava que isso e o vermelho intenso do vestido que eu usava distraíssem William e ele não notasse meu aspecto abatido.
Toquei meu pulso, que ostentava a pulseira que ele havia me dado na noite em que retornara ao Brasil. Ele havia dançado comigo de maneira escandalosa naquela ocasião. E agora prometia fazer o mesmo. O que mais ele pretendia?, me perguntei ao sair do quarto. Meu histórico em bailes chegava a me causar calafrios, mas, agora que eu era uma mulher casada, não haveria nenhum inconveniente se ele decidisse me levar para o jardim e me tomar em seus braços. Eu não me oporia se ele trouxesse a boca para junto da minha e...
Trombei com o aparador. O vaso repleto de hortênsias rodopiou perigosamente, e tive de me esticar para ampará-lo. Um pouco de água respingou em minha saia.
— Porcaria. — Espalmei a mão enluvada na mancha, tentando secá-la. — De onde saiu esse vaso?
Se tivesse prestado atenção aonde estava indo, teria visto, meu cérebro recriminou. Se não estivesse tão ocupada pensando em beijos, teria visto!
— Cale a boca, ora bolas! — resmunguei.
— Mas eu não disse nada!
Eu me virei. Saulo me encarava com diversão, da porta de seu quarto.
— Perdoe-me, Saulo. Eu estava falando sozinha.
— Não me parecia uma boa conversa. — Chegou mais perto, ajeitando a lapela do paletó. — Que tal pegar uma taça de vinho? Isso sempre me ajuda a vencer uma discussão.
— Não posso. Seu irmão deve estar me esperando. Vamos...
— A um baile. Eu sei. Raios! Se mamãe não tivesse aceitado tão depressa o convite da sra. Moura para jogar gamão, eu iria com vocês. — Ele me ofertou o braço, me conduzindo escada abaixo. — Animada com a noite de hoje?
Tropecei na barra do vestido, mas consegui recobrar o equilíbrio antes que me precipitasse degraus abaixo. Por um momento, pensei que William tivesse dito alguma coisa a ele sobre o que havia planejado. Precisei de um minuto para entender que Saulo se referia ao baile.
— Não faz ideia de quanto, Saulo.
Avistei William ainda das escadas. Ele estava tão lindo quanto no baile de máscaras, com um traje negro e aquele cabelo indomável, mas agora seu rosto não exibia mais a frieza estudada nem a raiva.
Assim que me viu, levantou-se imediatamente, apressando-se aos pés da escada, o rosto tão perplexo que eu quase dei risada. Seus olhos percorreram minha silhueta por duas vezes.
— Esse vestido... — começou, assim que Saulo me entregou a ele.
— Eu sei. Infernal.
— Não. Diabolicamente infernal — enfatizou.
Senti o rosto esquentar, mas desta vez não desviei o olhar. Nem ele.
— Maite, minha querida! — ouvi Rosália dizer.
— Você parece uma fada! — exclamou Samuel.
— De fato — concordou o sr. Levy. — Uma belíssima fada saída de um poema de Shakespeare!
— Com tanto vermelho, seria mais uma das musas de By ron — murmurou Tereza.
No entanto, eu ainda estava presa ao olhar de William. Mesmo quando nos despedimos de sua família, seus olhos permaneceram travados nos meus.
Quando saímos e ele não permitiu que Eustáquio me ajudasse, abrindo ele mesmo a porta para que eu entrasse na carruagem, aquelas íris tão únicas ainda me encaravam.
O encanto se quebrou quando me acomodei no banco. Como na noite da taberna, ele se sentou a meu lado, mas olhou fixamente para a frente. Assim que tomamos a estrada, a tensão preencheu a cabine e eu não soube apontar o motivo, embora estivesse corando, com muito calor, e tivesse a respiração descompassada. William parecia senti-la também, já que mantinha as mãos cerradas sobre as coxas.
— Quer que eu abra a janela? — ele perguntou. — Você parece quente.
— Eu me sinto quente.
Virou a cabeça e lançou a força daqueles olhos em mim.
— Por quê?
— Acredito que seja todo este vermelho — improvisei. — Nunca usei nada tão chamativo na vida.
Seus olhos passearam por meu corpo, fazendo o calor aumentar. Então desviou os olhos para as mãos. E as uniu. Bem apertadas, até os nós de seus dedos ficarem esbranquiçados, como se as obrigando a ficarem onde estavam.
— Olhe só para você. — Apesar do tom brincalhão e do pequeno sorriso que erguia os cantos de sua boca, William parecia tenso. — Invadindo casas para resgatar garotinhos, enfrentando bêbados, se embriagando em tabernas, acordando com a pior ressaca de todas, usando esses vestidos infernais que podem fazer um homem perder o juízo.
Bem, agora que ele havia mencionado, até que minha vida andava bastante movimentada.
— Grande parte disso é culpa sua — eu disse, estudando seu perfil. — Alguma coisa em você mexe com alguma coisa em mim.
Ele voltou sua atenção para meu rosto, me observando atentamente, mas não fez pergunta alguma.
— Você desperta um lado meu que eu não sabia que possuía — expliquei. — Ou fingia não saber.
— Eu sei. Eu sinto isso — murmurou. — Há algo borbulhando sob a superfície recatada que você criou. Mas comigo você não precisa pensar no que vai dizer, medir suas palavras nem seus atos. Comigo, e apenas comigo, você se permite ser você mesma.
— Sim — concordei, um tanto atordoada que ele pudesse ter compreendido tudo aquilo quando eu mesma só compreendia agora.
— Por quê, Maite? — Algo maravilhoso reluziu naquelas íris misteriosas. —
Por que permite que apenas eu veja você?
Porque eu amo você. Porque eu quero que me veja como sou. Porque não quero mais mentir para você.
Mesmo agora, tanto tempo depois, minha decisão ainda seria a mesma. Não estava arrependida da escolha que fiz. Faria tudo para proteger minha família.
Mas havia aquela parte minha — aquela egoísta — que se ressentia e lamentava não ter encontrado uma alternativa para protegê-la e ao mesmo tempo manter o afeto de William.
Mas, se eu não podia dizer, podia tentar fazê-lo entender.
— Me beije, William. Me faça me sentir sua.
Antes que aquele tremular em seu rosto se concretizasse em uma expressão confusa, levei a mão a seu pescoço e o puxei para mim.
Fui muito bem educada. Aprendi desde muito cedo o que a sociedade esperava de mim, meus deveres e minhas obrigações. Sabia de cor como devia me comportar, o que me era permitido, obedecer às regras sem jamais questioná-las. Fui criada para ser uma dama refinada. Naquele instante, porém, tudo isso desapareceu da minha mente. Eu não era uma dama da sociedade. Era simplesmente uma mulher apaixonada.
William se sobressaltou quando meus lábios encontraram os seus. Mas sua hesitação durou apenas um instante. Ele encaixou uma das mãos em meu rosto, a outra deslizou por meu ombro, meu braço, até chegar a minha cintura e me puxar para mais perto. Sua língua serpenteou, sedutora, para dentro da minha boca. Dediquei-me àquele beijo como jamais me dedicara a coisa alguma. Cada carícia, cada toque, tinha um significado para mim.
Eu o amo. Eu nunca traí o nosso amor. Me perdoe. Eu o amo. Sempre o amei.
Não sabia se estava conseguindo me fazer entender, se ele compreendia tudo o que eu estava dizendo. E, pela maneira como ele retribuía — com paixão e urgência —, tive a impressão de que ele também tentava me dizer alguma coisa. Sua boca deixou a minha por um instante, apenas para se aventurar em meu pescoço enquanto suas mãos percorriam minha silhueta. Minha cabeça pendeu para trás, encontrando apoio na lateral da cabine, e eu enrosquei os dedos em seu cabelo sedoso. Com um puxão não tão sutil, eu trouxe William para minha boca.
Seu corpo caiu sobre o meu, pesado e quente, repleto de asperezas. Eu o senti em todos os lugares. Todos! E, oh, como era maravilhoso!
Meus dedos curiosos se aventuraram em uma exploração por seu pescoço, seus ombros. Arrisquei movimentá-los, conhecendo a força daqueles braços, experimentando a sensação daqueles músculos rígidos em suas costas, na base da coluna. William pareceu ter a mesma ideia, descobrindo com a ponta dos dedos minhas curvas, os lábios escorregando para meu queixo, o cavanhaque resvalando por todo o pescoço, os dentes capturando o lóbulo sensível de minha orelha.
—Você tem gosto de caramelo — ele murmurou em meu ouvido. — Minha doce Maite.
Eu não sabia o que estava fazendo. Não sabia se ficar ofegante daquela maneira era natural. Suspeitei de que, como William era médico, teria dito alguma coisa caso achasse que eu estava à beira de um ataque apoplético.
Mas ele não disse nada. Em vez disso, sua mão encontrou meu tornozelo e se enfiou por baixo do vestido, suspendendo o tecido ao mesmo tempo em que acariciava minha pele. Continuou subindo, até chegar ao meu joelho, depois minha coxa. Seus dedos afundaram ali, conforme ele pressionava um joelho entre os meus, incitando que eu os afastasse. Em outras circunstâncias eu teria ficado escandalizada, mas não consegui encontrar forças para isso com aquela língua atrevida delineando o decote de meu vestido. Sem pensar muito no que fazia, separei as coxas. Os quadris de William se encaixaram ali e, sem a barreira de minhas saias, restando apenas meus culotes e suas calças, eu o senti. Em toda a sua rigidez. Em todo o seu comprimento.
Aquilo teria me assustado se Dulce não tivesse me explicado algumas coisas.
No entanto, ela não explicara nada a respeito da dor latejante entre minhas coxas, que pareceu piorar quando ele envolveu os dedos atrás do meu joelho e empurrou o quadril de encontro ao meu, gemendo meu nome em meu ouvido como uma prece desesperada. E eu o entendia. Não conseguia compreender o que estava acontecendo comigo também, mas eu me encontrava em agonia.
Pensei que fosse morrer de constrangimento quando ele desencaixou meus seios do corpete e tomou um deles na mão. Estava prestes a empurrá-lo, mas então a ponta de seu nariz circundou meu mamilo antes de fechar os lábios quentes e macios sobre ele e sugá-lo com delicadeza.
Resmunguei alguma coisa. Não sei ao certo o quê. Estava perdida demais em todas aquelas sensações para me importar. Quando não aguentei mais aquela doce tortura, puxei seu cabelo e o trouxe para minha boca, agora faminta. Ele me abraçou pela cintura, seus quadris investindo contra os meus; a fricção produziu uma faísca em minha barriga. Arregalei os olhos, incerta do que aquilo significava. Fazia a dor entre minhas coxas aumentar. Mas, de certo modo, também parecia aliviá-la. A faísca voltou a se repetir. Colocando a mão em sua barriga chata para ter apoio, experimentei mover os meus quadris, e o efeito foi ainda mais intenso. Fechei os dedos no tecido de sua camisa.
— William, o que... oh, Deus! — Ele se moveu de novo, lentamente. Acabei fechando os olhos e gemendo alto.
Sua boca exigiu a minha, furiosa e faminta, quando ele passou um braço por minha cintura, me trazendo para ainda mais junto de seu corpo, e começou a movimentar os quadris em um ritmo cadenciado. Um frenesi correu por cada pedaço de mim e se concentrou em meu baixo-ventre. Eu me sentia viva, oh, tão viva!
E também muito assustada, especialmente quando tudo dentro de mim se retesou, ficou suspenso — meus pensamentos, minha respiração, as batidas do meu coração — naquele breve instante de um nada absoluto. E então eu arrebentei em centenas de pedacinhos brilhantes, me abraçando ao pescoço dele e enterrando o rosto ali, com medo do que estava sentindo e ao mesmo tempo temendo que aquilo acabasse.
A sensação pareceu durar horas, anos, e foi com tristeza que eu a vi desvanecer. Lânguida e ainda sem fôlego, me agarrei à lapela do paletó de William a fim de olhar para ele. Seu rosto ainda estava tenso, e as chamas haviam se tornado labaredas.
— Nós... você... nós... — Nós havíamos feito amor? Quer dizer, algumas coisas que Dulce me disse, sim, havíamos feito. Mas não tudo. Ele permanecera vestido o tempo todo, para começar, e eu também. E ele não chegou a... oh, eu estava confusa.
— Você me deixa sem palavras, Maite. — Então ele me beijou com delicadeza, depois seus lábios roçaram em minha têmpora, minha bochecha, minha boca uma última vez antes de sair de cima de mim com um suspiro melancólico e arrumar metodicamente minhas saias, puxar o corpete do vestido de volta ao lugar e espalmar uma das mãos em minhas costas para me ajudar a sentar.
Então arrumou as próprias roupas, a mandíbula trincada o tempo todo.
— Como eu lhe pareço? — Correu os dedos pelo cabelo.
— Hã... Zangado? — arrisquei.
Ele deu risada.
— Não estou zangado. Apenas frustrado. Perguntava sobre minha aparência. Pareço decente?
Ele não parecia decente. Parecia incrivelmente lindo com o cabelo levemente desalinhado e aquele fogo crepitando no fundo dos olhos.
— Sim — acabei dizendo. — E está frustrado com o quê?
A porta da carruagem se abriu de repente. Um criado em um libré verde e dourado fez uma profunda reverência.
— Bem-vindos à residência dos Bastos!
William abriu um sorriso torto que fez meus joelhos se chocarem.
— Com isso. — E desceu da carruagem.
Autor(a): Fer Linhares
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 32
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poly_ Postado em 13/09/2019 - 14:11:41
Desculpa a demora pra comentar, tô com muitos trabalhos, mas finalmente consegui vir aqui. E Simmm, posta a continuação, vou adorar. Bjuss!!!
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poly_ Postado em 05/09/2019 - 12:28:41
Menina quem imaginaria que era o Matias? Fiquei pasma. Nem acredito que tá acabando, vou sentir muita falta. Depois desse vc podia fazer uma adaptação Levyrroni do livro A Lady de Lyon, tô louquinha pra ler esse livro, dizem que é muito bom. Bjuss!!!
Fer Linhares Postado em 07/09/2019 - 19:22:35
Vou ler esse livro, assim que eu terminar eu posto, bjss ;)
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tehhlevyrroni Postado em 02/09/2019 - 11:58:23
continua amo esse livro e vou amar mais ainda adaptado para Levyrroni
Fer Linhares Postado em 03/09/2019 - 20:09:23
Continuando linda, bjss ;)
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poly_ Postado em 31/08/2019 - 00:27:37
Certeza q é o Duarte q fez isso, esse nojento. Mas tenho fé que o Will vai salva-la, tomara que ele consiga e ninguém fique ferido. Q momento fofo deles dois, amei. Continuaaa
Fer Linhares Postado em 31/08/2019 - 11:40:07
Eles precisavam de um tempo só pra eles bjss ;)
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poly_ Postado em 30/08/2019 - 13:02:45
Aí mds, posso bater no William? Kkkkkk Continuaaaa
Fer Linhares Postado em 30/08/2019 - 17:02:44
Pode kkk , me chama pra ajudar tbm kkk bjs ;)
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poly_ Postado em 27/08/2019 - 23:50:45
Tomara que eles sentem e se resolvam, e q Maite fale logo a verdade. Continuaaa
Fer Linhares Postado em 30/08/2019 - 11:17:06
Do jeito que eles são, duvido que eles se resolvam calmamente kkk bjs ;)
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poly_ Postado em 27/08/2019 - 15:26:50
Aí q ódio de td mundo, da Maite por ser inocente ao ponto de ir atrás do homem, do William por ser um teimoso e principalmente desse Alex. Continuaaa
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poly_ Postado em 26/08/2019 - 22:19:08
Não vejo a hora de saber o que vai acontecer, parou na melhor parte. Continuaaaa
Fer Linhares Postado em 26/08/2019 - 23:53:59
Do próximo capítulo em diante as coisas vão começar a esquentar, amanhã eu volto a postar, bjsss ;)
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poly_ Postado em 26/08/2019 - 01:05:46
Tô amando mulher, continuaaa (OBS: Ri demais com a briga do William com o irmão KKKKKKKKK)
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poly_ Postado em 24/08/2019 - 13:34:10
Ahh não acredito que Berta interrompeu esse momento. Pelo menos já estamos tendo um sinal de redenção né. Continuaa
Fer Linhares Postado em 25/08/2019 - 01:13:21
Berta não e o problema agr kk, tem coisa ainda pra acontecer bjs ;)