Fanfic: Prometida - Uma longa jornada para casa (Levyrroni) | Tema: Levyrroni [Adaptada]
A residência dos Bastos ficava a uma hora da nossa e era absurdamente grande.
Os dois andares pintados de branco se estendiam por grande parte do gramado, onde a fileira de veículos se amontoava. Tochas foram acesas, formando um corredor de cascalho iluminado.
— Henrique sempre gostou de exibir suas posses. — William me contou quando chegamos ao hall, enquanto esperávamos na fila para cumprimentar os donos da casa. — É um dos homens mais ricos que eu conheço. Mas um dos mais desleixados com o próprio patrimônio também. Decidiu ser médico para não ter que cuidar de sua fortuna. Ele odeia números. A grande surpresa é que ele realmente leva jeito para a medicina. Sobretudo no que se refere a ossos quebrados. O pai dele quase o deserdou. Mas, depois que o marquês de Bourbon quebrou o pé em uma caçada e Henrique o ajudou a se recuperar, o velho sr. Bastos mudou de ideia.
Meu corpo ainda não havia se recuperado do... das coisas que William me fizera sentir. Minhas pernas não tinham firmeza e meu coração parecia que nunca mais voltaria a bater em um ritmo saudável. Mas eu tentava manter a compostura a todo custo e prestar atenção ao que ele dizia. Era uma boa coisa ter seu braço para me amparar.
No entanto, eu não conseguia olhar em seu rosto. Havia muita coisa acontecendo dentro de mim e eu temia que ele as compreendesse.
— Ele parece agradável — comentei quando consegui avistar seu amigo.
Henrique era um pouco calvo, apesar de jovem, e parecia alegre, distribuindo sorrisos e gargalhadas ao lado de uma das mulheres mais bonitas que eu já tinha visto na vida.
— Não diga isso a ele — sussurrou. — O orgulho de Henrique é ainda pior do que o de Bartolo...
— William, meu caro amigo! Não acredito que veio! — exclamou Henrique.
Os dois se cumprimentaram com entusiasmo. Trocaram algumas palavras antes de William me apresentar a ele e a Isabela Bastos.
— Então você é a famosa Maite Uckermann. — O rapaz me admirou por um momento. — Agora posso me convencer de que você de fato existe. Encantado em finalmente conhecê-la.
Devolvi seu cumprimento galante, observando William pelo canto do olho. Seu rosto adquiriu quase o mesmo tom do meu vestido.
— Ah, Maite — Isabela me disse —, como é bom conhecê-la! Sinto que, entre todas as mulheres que conheço, você é a única que irá compreender o tormento que é estar casada com um médico.
Pensando no que acabara de acontecer dentro daquela carruagem, não pude discordar. William provocara uma tormenta em mim.
— Devíamos nos tornar melhores amigas imediatamente e trocar confidências! — ela brincou, pegando minha mão.
— Eu adoraria, Isabela.
— O que houve com seu cabelo? — Henrique perguntou a William, estreitando os olhos para as mechas cor de areia um tanto bagunçadas. — Está ostentando essa juba apenas para me irritar, não é? Não acredito em tamanho insulto!
William abriu aquele meio sorriso.
— Um insulto tão grande quanto um sujeito que tem mais dinheiro do que consegue gastar ir para a escola de medicina apenas para fugir da tarefa de administrar sua imensa fortuna, Bastos?
— Ah, sim — Henrique gargalhou. — Tão ultrajante quanto isso!
A fila de convidados atrás de nós começou a crescer, de modo que, depois de mais uma provocação ou outra, William e eu os deixamos.
O salão decorado por enormes vasos com flores e velas estava cheio. As imensas pinturas nas paredes quase passavam despercebidas pelos convidados, assim como os cristais do gigantesco lustre pendente sobre a cabeça de todos nós.
Bastou uma rápida olhada no salão para que minha suspeita se confirmasse. Eu realmente não conhecia ninguém, coisa que William logo tratou de remediar, me apresentando a uma dezena de ex-colegas. Bastos e William eram os únicos casados.
— Então esta é a famosa srta. Maite Uckermann — disse um deles ao sermos apresentados. César Marcone. — Encantado, senhora.
— Agora o compreendo, William — comentou um outro.
Eu enrubesci e tive a sensação de que William também, embora não conseguisse olhar para ele. Essa situação se repetiu algumas vezes. Assim que ficamos sozinhos, houve um instante de silêncio embaraçoso entre mim e ele.
— Imagino que não lhe tenha passado despercebido — começou William, muito sem jeito — o fato de meus colegas a conhecerem pelo nome de solteira.
— Não.
— Imaginei que não. — Esfregou a nuca. — Pode ser que eu tenha mencionado seu nome uma vez ou outra enquanto estive na escola de medicina.
— Eu deduzi que tivesse sido algo assim. Embora não entenda por quê.
— Não? — Aquele olhar levemente esverdeado buscou o meu.
Meu estômago respondeu dando uma pirueta pouco sutil.
As pessoas ao nosso redor começaram a aplaudir quando os primeiros acordes repercutiram pelo ambiente. A dança iria começar. William se virou para mim.
— Sei que não é muito sofisticado ter a primeira dança em um baile com a própria esposa, mas me concederia essa honra?
Pouco me importava a sofisticação. Tudo o que eu queria era poder voltar para os braços de William, por isso concordei com a cabeça.
Como em outros bailes, que pareciam ter acontecido em outra era, ele levou minha mão aos lábios antes de descansá-la na dobra do cotovelo e então me acompanhar até o centro do salão.
— Lembra-se da primeira vez que dançamos? — perguntou, pouco depois que o minueto começou.
— Como poderia esquecer? Você me contou sobre os porcos.
Ele deu risada.
— Ainda não acredito que não me deixou falando sozinho. Outra jovem teria corrido, implorando ajuda. Eu teria.
— Mas, William, eu achei divertido. Foi inusitado e mais interessante que todas as outras conversas que já tive em bailes. Os cavalheiros gostam muito de falar de si mesmos nessas ocasiões. É um pouco entediante.
— Ah. Então será que devo começar a discorrer sobre as larvas do bichoda-seda? Porque, a esta altura, eu me tornei um especialista. — Fez uma cara engraçada.
— Eu adoraria ouvir sobre elas, mas talvez em outro momento. O que eu gostaria de ouvir agora é sobre os lugares onde esteve. As coisas que viu.
Um dos cantos de sua boca se ergueu de leve.
— Mas isso não me colocaria na mesma categoria que os outros cavalheiros que a entediam em bailes?
— Por favor, William — supliquei.
Ele revirou os olhos, me fazendo rodopiar uma vez antes de começar a falar.
— Muito bem. Lodi é uma província muito bonita. Há uma praça central onde se concentram os mais importantes órgãos. Igreja, prefeitura, uma torre com um grande relógio. Piazza della Vittoria. É sempre movimentada perto da hora do almoço. Eu gostava de caminhar por ali nos fins de tarde, quando conseguia uma folga no hospital. Gostei do tempo que passei por lá, apesar do clima. Muito quente no verão e frio demais no inverno. Neva, mas não é nada muito grandioso. Apenas o suficiente para congelar os pés dentro das botas.
— Eu nunca vi a neve. Como ela é?
Ele pensou um pouco.
— Gelada. Molhada.
— Você pode fazer melhor! — Não pude evitar o riso. — Que gosto tem?
— Eu temia que perguntasse isso. — Ele estalou a língua. — Lamento decepcioná-la, Maite, mas neve tem gosto de nada.
— Ah. — De fato, decepcionante. — E Veneza? Também é assim, de clima instável?
— Fiquei pouco tempo lá. Uma semana, e choveu praticamente todos os dias. Mas é uma cidade muito bonita. Você iria adorar. Para onde se olha há arte.
Vi o sol aparecer apenas uma vez, mas compensou toda aquela chuva. O céu ficou rosa no entardecer, e refletiu nos canais. Nesse dia eu desejei que você estivesse lá para ver. Estou certo de que mudaria de ideia quanto a preferir o nascer do sol.
Pisquei uma vez, surpresa que ele ainda se lembrasse das coisas que eu lhe escrevera havia tantos anos e por algo muito mais importante.
— Você pensou em mim enquanto esteve fora?
— Ah, Maite... — Seu rosto foi tomado pela angústia e urgência.
Só então percebi que havíamos parado de dançar. Ele me puxou para o canto, para longe do tumulto dos casais e das pessoas que os assistiam, antes de começar a falar, com uma intensidade que beirava a paixão.
— Maite, eu estou há dias ensaiando o que dizer, e mesmo assim não consigo encontrar as palavras certas agora. Perdoe-me se eu for direto demais, mas, como vê, eu me encontro em completa agonia. Sobretudo depois do que aconteceu na carruagem. — Soltou o ar com força antes de mirar os olhos (em toda a sua intensidade) em mim. — Eu peço desculpas. Não devia ter ido tão longe. Nós fizemos um acordo e eu não honrei minha palavra. E nem posso tentar me justificar e dizer que tentei lutar, porque não tive forças para isso. Eu me embriaguei com sua beleza, com seus beijos e seus gemidos... — Esfregou o pescoço, rindo, mas era um som diferente, atormentado. — A tortura na qual meu corpo se encontra agora é mais do que merecida.
Eu não entendia exatamente o que ele estava dizendo, mas compreendi que estava sofrendo por culpa minha.
— Também não honrei minha palavra, William — murmurei. — Eu não sei... o que deu em mim. Eu sinto muito.
— Não sinta! — Encaixou as mãos em meu rosto. — Jamais lamente por me dizer o que quer. E o que não quer. Já tivemos muitos desentendimentos. Não posso admitir que exista qualquer engano agora. Por isso eu vou ser franco, Maite.
E prometo que vou aceitar sua decisão, seja ela qual for. — Inspirou fundo. — Eu gostaria de mudar o nosso acordo.
— Mudar? — perguntei, com o coração aos pulos.
Ele fez que sim.
— Quero ser seu marido.
— Mas... mas você já é — falei, confusa.
Ele abanou a cabeça.
— Eu quero que sejamos marido e mulher. — Seus olhos se fixaram em mim, e, para que não restasse qualquer dúvida, acrescentou: — Na cama.
Abri a boca, mas parece que nada em mim estava funcionando direito.
— Sei que fui eu quem propôs um casamento platônico. — Ele falava tão depressa que eu cheguei um pouco mais perto, para não perder nada. — E você tem todo o direito de exigir que eu cumpra a minha palavra. E eu a cumprirei à risca, se for o que você quer. Mas sua reação aos meus beijos me deu esperança de que talvez você também queira algo mais. Não espero que você responda agora. Sei que é um passo importante demais para ser dado assim, no calor do momento. Mas me permita fazer uma pergunta. Você gosta quando ficamos juntos, como estivemos a caminho daqui?
Absolutamente constrangida, mirei os olhos no chão, mas assenti.
— Foi a impressão que eu tive. — Com gentileza, ele forçou meu rosto para cima a fim de que eu olhasse para ele. — Eu também gosto, Maite. Demais! Eu a desejo tanto que estou à beira de perder o juízo.
Pisquei algumas vezes. Eu não tinha entendido errado. O que ele me propunha era que... era... Eu não sabia ao certo. Natural? Indecoroso? Um completo absurdo? A melhor coisa que podia ter acontecido?
Eu amava estar em seus braços. Ele me fazia sentir mais viva do que nunca.
E as coisas que aconteceram naquela carruagem...
Mas fazia menos de cinco minutos que ele deixara claro que sentia algo por mim. Eu não sabia a natureza de seus sentimentos, mas conhecia bem os meus.
Se eu permitisse que ele fosse meu marido, me colocaria em uma posição ainda mais vulnerável do que eu imaginara três anos antes, quando abri mão dele para não acabar por destruí-lo. Esse risco ainda existia? Se eu permitisse que nosso relacionamento se estreitasse da maneira que William propunha, o que sobraria de
mim além de ruínas quando ele partisse para a Itália? Porque ele não mencionara mudar esse arranjo, apenas o que se referia à condição platônica do nosso casamento.
No entanto, mesmo ciente disso tudo, não consegui encontrar forças dentro de mim para recusar. Meu coração tolo não se cansava de amá-lo. Eu estava ainda mais apaixonada por William do que quando o conheci. Por mais que tentasse me convencer de que era forte o bastante para resistir a ele, a verdade era que eu sucumbiria ao menor dos toques. E acho que nós dois sabíamos disso.
Então...
Minha nossa, eu estava realmente pensando em concordar com aquela loucura?
Ora bolas! Sim, é claro que eu estava!
Então William acariciou meu queixo com o polegar e sussurrou algo que silenciou a euforia em meu coração.
— Eu sei que você queria um casamento embasado em sentimentos mais profundos, Maite. Mas a atração mútua é mais do que a maioria dos casais que eu conheço tem a sorte de ter.
Alguém chamou seu nome. William fechou os olhos diante da interrupção, a testa encrespada de tal maneira que suas sobrancelhas quase se uniram.
Tomando fôlego como que para manter a compostura, ele se virou.
Aproveitei sua distração para tentar me recompor e não permitir que as lágrimas que se empossavam em meus olhos transbordassem.
Não foram sentimentos que o fizeram mudar de ideia.
— Meu bom dr. Levy! Que prazer vê-lo aqui!
Apenas desejo. Talvez fosse isso, afinal, tudo o que ele sentia por mim.
— Alex! — William exclamou.
Forçando meu rosto a manter a fachada alegre, girei sobre os calcanhares para cumprimentar o recém-chegado. O olhar do rapaz, cinza feito metal, encontrou o meu. E então minhas pernas bambearam, meu coração começou a bater tão alto em meus ouvidos que os sons do salão se perderam e eu temi desmaiar. Minhas mãos suavam dentro das luvas. O frio na boca do estômago me deixou enjoada.
Lentamente, os lábios dele se esticaram sobre os dentes muito brancos. A cicatriz em sua testa também se espichou, sorrindo.
— Como vai, linda?
— Alexander.
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Autor(a): Fer Linhares
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Meu coração batia ensandecido. Graças aos céus as conversas e a música impediram William de ouvir meu murmúrio. Alexander, no entanto, pareceu ler em meus lábios o horror que senti ao revê-lo, o que ampliou ainda mais seu sorriso. — Alex! — William o cumprimentou, um pouco mais composto. — Não ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 32
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poly_ Postado em 13/09/2019 - 14:11:41
Desculpa a demora pra comentar, tô com muitos trabalhos, mas finalmente consegui vir aqui. E Simmm, posta a continuação, vou adorar. Bjuss!!!
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poly_ Postado em 05/09/2019 - 12:28:41
Menina quem imaginaria que era o Matias? Fiquei pasma. Nem acredito que tá acabando, vou sentir muita falta. Depois desse vc podia fazer uma adaptação Levyrroni do livro A Lady de Lyon, tô louquinha pra ler esse livro, dizem que é muito bom. Bjuss!!!
Fer Linhares Postado em 07/09/2019 - 19:22:35
Vou ler esse livro, assim que eu terminar eu posto, bjss ;)
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tehhlevyrroni Postado em 02/09/2019 - 11:58:23
continua amo esse livro e vou amar mais ainda adaptado para Levyrroni
Fer Linhares Postado em 03/09/2019 - 20:09:23
Continuando linda, bjss ;)
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poly_ Postado em 31/08/2019 - 00:27:37
Certeza q é o Duarte q fez isso, esse nojento. Mas tenho fé que o Will vai salva-la, tomara que ele consiga e ninguém fique ferido. Q momento fofo deles dois, amei. Continuaaa
Fer Linhares Postado em 31/08/2019 - 11:40:07
Eles precisavam de um tempo só pra eles bjss ;)
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poly_ Postado em 30/08/2019 - 13:02:45
Aí mds, posso bater no William? Kkkkkk Continuaaaa
Fer Linhares Postado em 30/08/2019 - 17:02:44
Pode kkk , me chama pra ajudar tbm kkk bjs ;)
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poly_ Postado em 27/08/2019 - 23:50:45
Tomara que eles sentem e se resolvam, e q Maite fale logo a verdade. Continuaaa
Fer Linhares Postado em 30/08/2019 - 11:17:06
Do jeito que eles são, duvido que eles se resolvam calmamente kkk bjs ;)
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poly_ Postado em 27/08/2019 - 15:26:50
Aí q ódio de td mundo, da Maite por ser inocente ao ponto de ir atrás do homem, do William por ser um teimoso e principalmente desse Alex. Continuaaa
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poly_ Postado em 26/08/2019 - 22:19:08
Não vejo a hora de saber o que vai acontecer, parou na melhor parte. Continuaaaa
Fer Linhares Postado em 26/08/2019 - 23:53:59
Do próximo capítulo em diante as coisas vão começar a esquentar, amanhã eu volto a postar, bjsss ;)
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poly_ Postado em 26/08/2019 - 01:05:46
Tô amando mulher, continuaaa (OBS: Ri demais com a briga do William com o irmão KKKKKKKKK)
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poly_ Postado em 24/08/2019 - 13:34:10
Ahh não acredito que Berta interrompeu esse momento. Pelo menos já estamos tendo um sinal de redenção né. Continuaa
Fer Linhares Postado em 25/08/2019 - 01:13:21
Berta não e o problema agr kk, tem coisa ainda pra acontecer bjs ;)