Fanfics Brasil - Capítulo 41 Prometida - Uma longa jornada para casa (Levyrroni)

Fanfic: Prometida - Uma longa jornada para casa (Levyrroni) | Tema: Levyrroni [Adaptada]


Capítulo: Capítulo 41

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Meu coração batia ensandecido. Graças aos céus as conversas e a música impediram William de ouvir meu murmúrio. Alexander, no entanto, pareceu ler em meus lábios o horror que senti ao revê-lo, o que ampliou ainda mais seu sorriso.


— Alex! — William o cumprimentou, um pouco mais composto. — Não esperava vê-lo aqui. Sobretudo porque recomendei que fizesse repouso.


— Já não sinto dor. Um pouco de distração vai me fazer bem. — Alexander ergueu o ombro, ajeitando a tala na tipoia, que, confeccionada em um tecido escuro, fazia seu traje branco parecer ainda mais reluzente. Ele não havia mudado nada nos últimos três anos. Nem um único fio do cabelo escuro e curto.


Ele olhou para mim com diversão.


— Não me apresenta a sua esposa, doutor?


— Claro. Maite, este é o sr. Alex Gandalf... hã... Dumbdore.


— É Dumbledore. Eu sabia que devia ter escolhido Potter — resmungou.


William encrespou a testa para ele.


— Como disse?


— Que é um prazer conhecer uma moça tão bonita!


— Humm... Certo. — William se virou para mim, parecendo um tanto incomodado. — Maite, este é o cavalheiro que se acidentou na estrada perto da nossa casa.


Alexander pegou minha mão trêmula, levando-a aos lábios.


— Encantado, senhora.


Tudo o que consegui fazer foi um discreto gesto de cabeça, do contrário desabaria. Meus joelhos haviam adquirido consistência de mingau.


O que ele faz aqui?


— Não sabia que conhecia Henrique, Alex. — William comentou.


— Conheço um amigo de um amigo de Henrique. Queria aproveitar minha última noite na região. Vou embora amanhã.


— Tome cuidado com esse braço — ouvi William dizer. — Mantenha-o na tipoia durante a viagem.


— Farei isso, doutor. — Aqueles olhos cinzentos se fixaram em mim. — Então, sra. Levy, o que está achando do baile?


Abri a boca, mas não consegui pronunciar um único som. Eu não conseguia pensar em muito mais do que O QUE ELE FAZ AQUI?!


Alexander não passava de um mentiroso. Ele me usara da maneira mais vil, fingindo ser meu amigo. E eu, muito ingênua, acreditei nele. Sabia muito pouco sobre aquele homem, mas estava convencida de que ele era perigoso. Sua presença só podia significar problema. Para mim? Para Christopher? Meu Deus, para


Dulce? Não. De jeito nenhum! Eu não ia permitir. Ninguém ia fazer mal a minha família, fosse ele o que fosse. Obviamente, ele não era uma pessoa comum. Um bruxo, um vidente, um físico poderoso, eu não sabia. Mas eu ia manter minha família a salvo, não importava o preço a pagar. Eu já tinha feito isso uma vez.


Não hesitaria em fazer de novo.


— Chegamos ainda há pouco — consegui dizer, por fim. — Mas, pelo que pude notar, os Bastos deviam ser mais cuidadosos com quem entra nesta residência.


William me dirigiu um olhar confuso e um tanto desconfiado. Sorri para ele da melhor maneira que pude.


Alexander, porém, gargalhou.


— Tenho que concordar. Acabei de ver um sujeito muito distinto afanar uma coxa de frango e metê-la no bolso do paletó!


— Perdoe-me, sra. Levy — começou Henrique, aparecendo do nada.


— Terei de roubar seu marido por um instante. César não acredita na teoria de Bassi, William. Eu tentei explicar a ele, mas, para ser franco, também não entendi algumas partes.


Tive a nítida impressão de que a última coisa que William queria fazer era se afastar. Se devido à presença de Alexander ou porque não se sentia animado em falar de trabalho em um baile, eu não sabia. Mas eu precisava falar com


Alexander sem William por perto.


— Está tudo bem — garanti a ele. — Eu vou esperá-lo aqui.


Ele abriu a boca para dizer alguma coisa, mas acabou desistindo e assentiu.


Depois de um cumprimento rápido, acompanhou Henrique — nada satisfeito, devo ressaltar.


— Pobre rapaz. — Alexander estalou a língua, seguindo com os olhos os dois amigos desaparecerem na multidão. — Você acaba de ferir os sentimentos dele.


William esperava que você lamentasse a ausência dele, sabia?


— O que faz aqui, Alexander? Se pensa que vou permitir que se aproxime de meu irmão ou de Dulce, está muito enganado!


— É mesmo? E como pretende me deter?


Eu me aproximei, encarando-o com todo o ódio que sentia.


— Tente e descobrirá. — Tudo aquilo era culpa dele. Minha situação com William, as fofocas, tudo!


— Não dá para negar que você é uma Uckermann, linda. — Sorriu daquele jeito que eu me lembrava: cheio de ironia e atrevimento. — Mas essa nossa conversa não pode acontecer em um salão de baile. Vem.


Caminhando sem pressa, Alexander atravessou o salão e desapareceu depois de entrar em um largo e pouco iluminado corredor.


Eu titubeei. Na última vez que acompanhei um homem para fora de um baile, acabei noiva. Alexander não era confiável, já que mentira para mim do primeiro ao último instante. Relanceei William, de costas do outro lado do salão, rodeado de jovens atentos a cada palavra que dizia.


Respirando fundo, fui atrás de Alexander. Ele nem ao menos olhou para trás para confirmar se eu o acompanhava, tamanha era sua presunção. Ou talvez o repicar de meus saltos contra o mármore me denunciasse. Abriu uma porta e entrou. Ao segui-lo, me vi completamente cega pela penumbra. O sílex chiou, uma pequena faísca clareando o ambiente. Alexander acendeu um candelabro, a chama na ponta da vela refletindo na vidraça. Observei a sala; um sofá verde sobre um tapete, uma mesa mais ao lado e uma infinidade de prateleiras que iam até o teto, repletas de livros. Eu definitivamente não deveria estar naquela biblioteca.


— Com medo? — ele provocou.


— Nem um pouco. — Empinei o nariz. — Exijo que me diga por que está aqui. E que seja franco comigo desta vez.


Meu tom inflexível o divertiu, mas ele acabou anuindo.


— Muito bem. Acho que eu devo começar explicando que eu não estou aqui por causa do Christopher e nem da Dulce. Estou proibido de chegar perto deles pelas próximas décadas se quero manter meu emprego. E, caso esteja se perguntando, sim, eu quero. Muito! E não, não adianta me perguntar sobre o meu trabalho. Não por nada, mas não é tão empolgante assim. — Deu de ombros. — Acredite.


— Acreditar em você? Depois de todas as suas mentiras? Está zombando de mim, senhor?


Ele ao menos teve a decência de parecer arrependido.


— Não tive alternativa, Maite. Você não devia ter encontrado a máquina do tempo. Eu a enviei para o Christopher. Você foi um acidente. Tudo o que fiz foi para manter você a salvo.


— Mentindo para mim?


— E de que jeito isso é diferente do que você está fazendo por Dulce? — Ele abriu aquele sorriso irritante.


— Mas é claro que é diferente. Eu... — Então me detive. Oh, meu Deus. — Como sabe disso?


Ele passeou pela biblioteca, examinando as lombadas dos livros.


— Eu poderia mentir outra vez. Mas você me pediu para ser franco. A esta altura, você já suspeita de que eu não seja um homem comum. E não sou mesmo. Sou inesquecível. — Deu uma piscadela. — Então, percebe? Não somos tão diferentes assim. Fazemos de tudo, certo ou errado, para proteger as pessoas que nos são caras.


— E Christopher é querido para você? — perguntei, cética.


— Ele me deu o que eu mais queria no mundo. É claro que eu amo o Christopher pra cacete.


Chegou mais perto, deixando o castiçal sobre a mesinha de apoio. A parca iluminação tocou parte de seu rosto, deixando o lado marcado nas sombras. Tive a sensação de estar encarando um anjo sombrio.


— Maite, eu interferi na vida do seu irmão para poder salvá-lo. Eu nunca quis nada além de ajudá-lo. E a você. Se existisse outro jeito de resolver aquela história, acredite, linda, eu teria tentado. O que eu não podia deixar era que a pneumonia da Dulce estragasse tudo ou que você se machucasse por um descuido meu. Os meus métodos foram pouco ortodoxos, mas funcionaram, e por isso hoje você tem uma bela família para amar e que a ama também.


Então as suspeitas de meu irmão estavam certas. Alexander enviara aquela máquina demoníaca para que Christopher pudesse encontrar o remédio que salvara a vida de minha irmã.


— Eu... — Eu queria continuar a odiá-lo. Mas não pude. Sem aquele medicamento Dulce não teria resistido. Por mais que eu condenasse seus métodos, ele permitira que Christopher a salvasse. — ... agradeço. Muito. Pelo que fez por minha família.


Deu de ombros.


— Não tem nada que agradecer. O que importa é que tudo acabou bem. — Então fez uma careta. — Bom, quase. É por isso que eu vim aqui, linda. Vou te contar uma coisa: danos colaterais são um pé no saco. E dói feito o diabo! — Ele movimentou o ombro, ajeitando a tipoia.


— Perdoe-me, mas não entendo.


— Eu vim aqui te dar uma mãozinha. E, veja bem, faço isso não apenas porque minhas ações atrapalharam o seu destino, mas porque eu gosto muito de você. Sendo franco, acreditei que o acidente seria o suficiente para remediar o estrago que eu fiz na sua vida, mas vocês dois não colaboraram! Juro que esperei até o último minuto antes de intervir, Maite. Tinha esperança de que o seu médico fizesse a coisa certa. E ele passou isso aqui de acertar! — Fez um gesto com os dedos. — Mas no último minuto estragou tudo. E, então, aqui estou eu! — Ele abriu o braço.


Ele só podia estar zombando de mim. Graças àquele “acidente”, como ele o chamara, minha vida se transformara em uma bagunça. Desde então eu não tive mais paz. Eu teria que estar completamente louca para aceitar sua ajuda.


— Eu não compreendi mais da metade do que você disse, Alexander. Realmente agradeço por tudo o que fez por minha família, mas não quero que tente me ajudar. Como você mesmo afirmou, seus métodos são pouco ortodoxos e eu já tenho problemas demais. Mas fico contente, de certa maneira, por tê-lo visto. Apesar de suas mentiras, a amizade que eu nutria por você era verdadeira e eu estava ansiosa para saber se tinha se recuperado daquele tiro. Agora que eu sei que está bem, espero colocar uma pedra sobre este assunto e nunca mais voltar a vê-lo. Adeus, senhor. — Fiz a volta e comecei a sair da sala.


Sua mão se enroscou em meu pulso, me restringindo.


— Antes de ir, apenas me escute. Vou te dizer como as coisas vão se desenrolar se eu não fizer nada. Você vai dizer que aceita a proposta do William. Apesar do que ele disse ter te ferido, você fantasia que isso possa aproximar vocês dois sentimentalmente. Só que você é diferente, Maite. Você precisa se sentir amada, querida, não apenas desejada. Ainda esta noite, quando o William for colocar o novo acordo em prática, você vai repensar sua decisão e ficar com medo de que ele possa machucá-la ainda mais. O William, por sua vez, vai se sentir rejeitado de novo. E ele não aguenta mais isso. O pobre coitado vai fechar o coração. Ninguém jamais vai voltar a alcançá-lo. Nem mesmo você.


Eu o encarei, a respiração acelerada, o medo e o desespero retumbando em meus ouvidos. Não queria acreditar nele. Ele já tinha mentido para mim uma vez, e podia estar mentindo de novo. Mas no fundo eu sabia que dizia a verdade.


O que ele dizia parecia bastante possível no que dizia respeito a mim. Além disso, a maneira séria como relatara tudo aquilo, como se visse tudo se desenrolar diante de seus olhos, me causou arrepios, a ponto de eu me perguntar se fora algo assim que acontecera com Christopher e lhe dera aquela certeza inabalável de que o segundo filho dele e Dulce seria uma menina. Alexander lhe contara o futuro. Ele fazia o mesmo comigo agora?


Inspirei fundo, apoiando as mãos em uma prateleira para me manter de pé enquanto meu coração afundava dentro do peito.


— Então não há nada que eu possa fazer que nos aproxime de novo — murmurei. — Eu o perdi de maneira irrevogável.


— Ah, a gente não precisa ser tão dramático assim. — Colocou a mão boa em meu ombro, me encarando. — Sempre existe uma solução. Por que acha que eu vim aqui? O que você precisa é de uma grande explosão. Cabum!


Cabum? — repeti, sem entender absolutamente nada.


— É. Um grande cabum! — Abriu um largo sorriso.


— E como vou conseguir esse cabum?


— E de que outro jeito seria, Maite? Como em todo conto de fadas, linda!


Com um beijo.


Pensei nos momentos em que estive nos braços de William. De fato, por mais de uma vez eu pensei que tudo ficaria bem entre nós. Mas não ficou. E, a julgar pelo que Alexander dizia, não ficaria.


— Então eu estou perdida. — Sacudi a cabeça. — William já me beijou e nós ainda não nos acertamos.


— Eu nunca disse que William é quem devia beijá-la. — Uma nota de desgosto dançou por sua voz. — Desculpa, linda. É por uma boa causa.


— O que quer di...


Ele me puxou para si, a mão voou para meu pescoço e então me beijou. A surpresa me deixou paralisada por um instante, mas assim que me recuperei comecei a lutar contra ele. Eu o empurrei, soquei seu peito. Tudo o que consegui foi que Alexander apertasse ainda mais a boca contra a minha.


Levantei o joelho abruptamente e acertei sua virilha com toda a força — que meu vestido e as anáguas que eu usava permitiram. Ele não chegou a cair, mas gemeu, curvando-se. Foi o suficiente para que eu conseguisse escapar.


— Como pôde? Como pôde me enganar desse jeito outra vez? Como ousa?


— Limpei a boca nas costas da mão.


— Eu expliquei — gemeu, encolhendo-se. — Era preciso.


— Fique longe de mim! Fique longe da minha família! Nunca mais apareça! Adeus! — Abri a porta com raiva.


— Mantenha as janelas fechadas durante a noite, Maite — falou, atrás de mim. — Adeus, linda.


Eu o olhei por sobre o ombro.


— Não me chame de lind... — Calei-me ao constatar que falava com as prateleiras e lombadas. Olhei ao redor da sala toda, atônita. Alexander desaparecera.


No entanto, quando meu olhar passou pela vidraça, avistei uma figura em traje negro, afastando-se.


William.


Ah, meu Deus. Será que ele tinha me visto ali com Alexander?


Estava tão atordoada que fiquei desorientada por um instante ao sair daquele cômodo. Olhei para os dois lados do corredor, procurando uma indicação de qual deles deveria tomar. Uma silhueta masculina seguia para a direita, de onde vinha a música e um pouco de luz.


Fui para aquele lado, andando tão depressa que meus cachos saltitavam feito um dos cavalos chucros de Christopher. Ao chegar ao grande salão, no entanto, detive o passo e tentei sorrir para as pessoas enquanto esticava o pescoço, procurando William.


Eu o encontrei ao lado de uma mesa, servindo-se de uma bebida.


— Eu estava procurando você — comecei.


Ele virou o uísque em um só gole antes de voltar o rosto para mim. Seu olhar percorreu meus traços, detendo-se em meu cabelo, que por culpa da corrida devia estar desalinhado.


— Diga-me, minha senhora. Pensou que eu estivesse escondido na biblioteca ou dentro da boca de seu amante? — Aquele tom implacável e frio havia retornado. — Estou confuso.


Sua fúria contida me fez recuar um passo.


Ele tinha visto Alexander me atacar e entendeu outra vez tudo errado.


Pensou que eu estivesse...


Detive o pensamento quando uma suspeita serpenteou por minha cabeça, envenenando tudo.


Era isso que Alexander pretendia ao me levar para aquela biblioteca, não?


Que William nos flagrasse. De alguma maneira, ele previra que William nos veria pela janela. Ele me atacara de propósito!


Durante todo o tempo em que passamos juntos, Alexander jamais olhou para mim com menos do que respeito, nunca me tocou, exceto para ajudar a entrar ou sair de um carro ou de um ambiente. Sua intenção esta noite era clara: ele queria que William visse aquela cena por algum motivo perverso que me escapava.


— Não é o que você está pensando — sussurrei, a cabeça girando muito mais do que quando bebi toda aquela cerveja. — Ele mentiu de novo. Eu sou uma tola.


— Então somos dois. Fui tolo o bastante para achar que pudesse confiar meu... nome a você.


Eu me encolhi, magoada, o peito apertado como se William tivesse as mãos ao redor de meu coração e o estrangulasse.


Devo ter deixado transparecer alguma coisa, pois ele fechou os olhos, balançando a cabeça. Então pousou o copo vazio na mesa e começou a se afastar.


— William, por favor — chamei, indo atrás dele. — Me deixe explicar.


— Imagino que tenha restado muito pouco a ser explicado.


— Não, está enganado. Por favor, pare! Você está agindo da mesma maneira que há três anos. Me condenando por algo que eu não fiz!


— A diferença é que quem a beijava na ocasião era eu — falou, sem deter o passo.


Aquilo me machucou tanto que eu avancei sobre ele. E ele me surpreendeu ao se virar e me segurar pelos pulsos, girando-me para que eu ficasse entre ele e a parede.


— Pare com isso! — cuspiu, com a mandíbula trincada. — Você já fez o suficiente por uma noite!


— Mas eu não fiz nada! Você está sendo injusto de novo. Está agindo como se eu fosse uma...


— O quê? Alguém sem nenhum escrúpulo? Que não pensa duas vezes em acompanhar um estranho a uma biblioteca escura? Você estava em meus braços menos de uma hora atrás! — O desespero e a raiva duelavam em seu semblante.


— Ele não é um estranho! Não sou tola o suficiente para me colocar, ou ao nome da sua família, em uma situação dessas. Eu acompanhei Alexander porque precisava de algumas respostas! Eu não imaginei que ele tivesse...


— Alexander? — Ele me soltou de repente. E com tristeza vi suas íris se tornarem escuras e sombrias.


— Oh, por Deus, William. Não é o que você está pensando!


Por quê? Por que, de todos os nomes no mundo, eu tinha de ter dito a ele que meu suposto amante se chamava Alexander?


— Não? — Sua voz não tinha qualquer entonação.


— Me deixe explicar. Ele queria que você nos flagrasse. Não faço ideia do porquê. Mas eu nunca quis que ele me beijasse. Ele me atacou!


Se é que era possível, a frieza ao redor dele pareceu se intensificar. Ele não acreditava em mim.


— William, meu caro! Aí está você! — alguém chamou. — Achei realmente fascinante seu esclarecimento sobre a teoria de Bassi. Mas fiquei intrigado. Há alguma prova concreta do que ele diz?


William manteve o olhar em mim. Era tão gelado quanto a neve que eu jamais vira. Ele se enganara. Neve tinha gosto de dor.


— Eu... estou interrompendo alguma coisa? — o rapaz perguntou.


William quebrou o contanto, virando-se para o amigo, uma expressão alegre no rosto.


— De maneira alguma, César. Bassi apresentou um ensaio em Paris há alguns meses. Terei prazer em lhe enviar uma cópia. Mas, se quiser, posso lhe dar uma ideia geral agora.


— Ótimo! Sinto que vou enlouquecer se não resolver esse dilema. Mas não quero privá-lo da companhia de sua adorável esposa. Posso esperar.


— Não se preocupe com isso. — Seu olhar, implacável e gélido, encontrou o meu. — Nós já terminamos.


César fez uma mesura, e eu me obriguei a manejar um cumprimento.


Observei, com o coração apertado, os dois se afastarem em uma camaradagem alegre que destoava das sombras presentes no semblante de meu marido.


— Querida Maite! O que faz aí, escondida? — questionou Isabela, bem atrás de mim. — Uma beldade como você não pode ficar relegada ao canto de um salão de baile. Venha. Vou lhe apresentar a um dos irmãos de Henrique. — Passou o braço pelo meu e começou a me guiar.


Obriguei-me a me recompor. Eu não conseguiria falar com William até o fim do baile. Teria de suportar as horas seguintes, sorrir, dançar e ser agradável com as pessoas, quando tudo o que eu queria era enterrar o rosto entre as mãos e liberar as lágrimas que brotavam em meu coração.


Não foi fácil. A todo momento alguém me perguntava se estava passando bem, e eu dava uma reposta vaga. William se manteve distante a noite toda, falando com os amigos como se nada tivesse acontecido. Apenas seu olhar o delatava. Não conseguia esconder as sombras. Por mais de uma vez eu o flagrei me encarando, mas, assim que nossos olhares se encontravam, ele virava o rosto e ria para quem quer que estivesse falando.


Eu estava impaciente. Queria um momento de privacidade com ele, poder explicar o que havia acontecido. E isso incluía dizer que eu mentira tantos anos antes. Não sabia como o faria entender tudo sem revelar a verdadeira origem de Dulce, mas tinha de tentar. Não podia permitir que ele continuasse a acreditar naquela história ridícula de que eu me apaixonara por outro homem por nem mais um segundo.


Quando o baile finalmente chegou ao fim, William foi o último a sair. Eu já estava dentro da carruagem, ansiosa. No entanto, em vez de entrar, ele foi para a parte da frente, disse algo a Eustáquio e então subiu, sentando-se ao lado do cocheiro.


— William! — reclamei, mas ele estalou as guias e o veículo começou a andar. Pareceu-me que semanas haviam se passado até a carruagem parar em frente a nossa casa. Ele foi o primeiro a descer. Inspirei fundo, tentando deter o tremor em meus dedos e reunir alguma coragem. A porta da sala se abriu e Saulo colocou a cabeça para fora, ainda em seu traje de noite. Deviam ter chegado havia pouco.


William me ajudou a descer. Porém, em vez de fechar a porta e me acompanhar degraus acima, ele entrou no veículo.


— Aonde você vai a esta hora? — perguntei, alarmada.


— Tenho um assunto a resolver. — Manteve o rosto fixamente voltado para a frente.


— William? — Saulo desceu alguns degraus, parecendo perturbado.


— William, por f... — comecei.


— Vamos — ele ordenou ao cocheiro.


Eustáquio sacudiu as rédeas e a carruagem começou a se afastar.


Oh, meu Deus, ele não ia me ouvir. Não me deixaria explicar. Tirara suas conclusões, e nada o convenceria. Jamais iria acreditar em mim.


— Maite, o que está acontecendo? — Saulo parou a meu lado, preocupado.


— Por que está chorando? Aonde meu irmão está indo?


Eu nem tinha percebido que chorava. Levei os dedos ao rosto, tentando secar as lágrimas, mas elas caíam rápido demais.


— Não sei, Saulo! Ele está furioso comigo e... e eu...


Não foi preciso que eu dissesse nada mais. Saulo entendeu, descendo as escadas aos pulos.


— Diabos! William, espere! — gritou.


A carruagem parou por um instante e ele conseguiu subir.


Dilacerada, assisti ao veículo desaparecer nas sombras da noite.


O soluço me pegou desprevenida. Foi alto e doloroso até mesmo para meus ouvidos. As lágrimas começaram a descer pela minha bochecha com mais rapidez. Meu corpo não aguentou mais aquela agonia e eu caí nos degraus, encolhida como uma bola em meio às saias vermelhas, permitindo que a dor me devorasse.


Tudo estava perdido.


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Autor(a): Fer Linhares

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— Ele está trapaceando — William comentou com o irmão, apontando o cavalheiro a três mesas de distância. — E quem se importa com isso? — esbravejou Saulo, sem se dar o trabalho de se virar. — Por que diabos estamos aqui? Uma jovem vestida apenas com uma chemise branca e um par de meias de seda pretas parou diante da ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 32



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  • poly_ Postado em 13/09/2019 - 14:11:41

    Desculpa a demora pra comentar, tô com muitos trabalhos, mas finalmente consegui vir aqui. E Simmm, posta a continuação, vou adorar. Bjuss!!!

  • poly_ Postado em 05/09/2019 - 12:28:41

    Menina quem imaginaria que era o Matias? Fiquei pasma. Nem acredito que tá acabando, vou sentir muita falta. Depois desse vc podia fazer uma adaptação Levyrroni do livro A Lady de Lyon, tô louquinha pra ler esse livro, dizem que é muito bom. Bjuss!!!

    • Fer Linhares Postado em 07/09/2019 - 19:22:35

      Vou ler esse livro, assim que eu terminar eu posto, bjss ;)

  • tehhlevyrroni Postado em 02/09/2019 - 11:58:23

    continua amo esse livro e vou amar mais ainda adaptado para Levyrroni

    • Fer Linhares Postado em 03/09/2019 - 20:09:23

      Continuando linda, bjss ;)

  • poly_ Postado em 31/08/2019 - 00:27:37

    Certeza q é o Duarte q fez isso, esse nojento. Mas tenho fé que o Will vai salva-la, tomara que ele consiga e ninguém fique ferido. Q momento fofo deles dois, amei. Continuaaa

    • Fer Linhares Postado em 31/08/2019 - 11:40:07

      Eles precisavam de um tempo só pra eles bjss ;)

  • poly_ Postado em 30/08/2019 - 13:02:45

    Aí mds, posso bater no William? Kkkkkk Continuaaaa

    • Fer Linhares Postado em 30/08/2019 - 17:02:44

      Pode kkk , me chama pra ajudar tbm kkk bjs ;)

  • poly_ Postado em 27/08/2019 - 23:50:45

    Tomara que eles sentem e se resolvam, e q Maite fale logo a verdade. Continuaaa

    • Fer Linhares Postado em 30/08/2019 - 11:17:06

      Do jeito que eles são, duvido que eles se resolvam calmamente kkk bjs ;)

  • poly_ Postado em 27/08/2019 - 15:26:50

    Aí q ódio de td mundo, da Maite por ser inocente ao ponto de ir atrás do homem, do William por ser um teimoso e principalmente desse Alex. Continuaaa

  • poly_ Postado em 26/08/2019 - 22:19:08

    Não vejo a hora de saber o que vai acontecer, parou na melhor parte. Continuaaaa

    • Fer Linhares Postado em 26/08/2019 - 23:53:59

      Do próximo capítulo em diante as coisas vão começar a esquentar, amanhã eu volto a postar, bjsss ;)

  • poly_ Postado em 26/08/2019 - 01:05:46

    Tô amando mulher, continuaaa (OBS: Ri demais com a briga do William com o irmão KKKKKKKKK)

  • poly_ Postado em 24/08/2019 - 13:34:10

    Ahh não acredito que Berta interrompeu esse momento. Pelo menos já estamos tendo um sinal de redenção né. Continuaa

    • Fer Linhares Postado em 25/08/2019 - 01:13:21

      Berta não e o problema agr kk, tem coisa ainda pra acontecer bjs ;)


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