Fanfic: Prometida - Uma longa jornada para casa (Levyrroni) | Tema: Levyrroni [Adaptada]
Ainda era cedo, mas eu mantinha os ombros eretos e o queixo erguido enquanto caminhava pela vila. Era a primeira vez que ia até lá desde que deixara William.
As pessoas me lançavam olhares curiosos, compadecidos ou reprovadores. Eu não devia ter escolhido aquele vestido turquesa. Parecia chamar atenção demais.
Àquela altura, todos na vila sabiam que William brigara em um bordel por causa de prostitutas. No plural, gostavam de enfatizar.
— Você tá se saindo bem — elogiou Dulce, caminhando a meu lado.
— Não tenho essa impressão.
— Eu já teria mandado alguém ir pro inferno há muito tempo. Então eu acho que você tá indo bem demais.
Acabei rindo, um tanto nervosa. Estávamos a caminho do armazém. Dulce tinha de pegar uma encomenda e depois iríamos para o escritório do sr. Andrada.
Captei uma movimentação do outro lado da rua.
— Sra. Levy! Maite! — a sra. Henrieta sacudiu um lenço, os cabelos prateados escondidos embaixo de um imenso chapéu.
— Ah, merda... — resmungou Dulce. Eu concordava com ela. Interagir com a maior fofoqueira da vila não estava em minha lista de desejos daquela manhã.
— Não pensei que teria coragem de sair de casa tão cedo — disse a sra. Henrieta ao chegar mais perto. — Como está, minha querida?
— Muito bem. E a senhora?
— Ora, não quer que eu acredite nisso, quer? — Ela estalou a língua. — Uma mulher não consegue erguer a cabeça depois de uma traição dessas. Aquele tolo! Poderia ter mantido a vida dupla se tivesse sido um pouco mais discreto. Imagine, brigar por causa de prostitutas. No plural! — Uma expressão escandalizada lhe franziu o rosto já enrugado. — Veja o meu finado marido. Ele teve diversas amantes, mas nunca me envergonhou publicamente. Ele sempre teve muita consideração por mim! Os homens de hoje em dia, não! Nem se importam com esses detalhes. Aonde iremos parar, meu Deus? Só posso imaginar o tamanho do seu constrangimento...
Dulce bufou.
— Olha, dona Henrieta, a gente precisa ir agora. — Começou a me arrastar pela mão.
— Espere, Dulce. — Eu parei e me voltei para Henrieta. — O fato de o seu marido ter tido muitas amantes não devia ser motivo de orgulho, senhora. Eu sei que a maioria dos casamentos geralmente envolve fortunas e não sentimentos, mas tudo o que eu sempre esperei foi alguém com quem eu pudesse dividir os meus sonhos, os meus medos e as minhas alegrias.
— Então procurou no lugar errado, querida. Jamais encontrará isso tudo em um marido.
— Ué, eu encontrei. — Dulce abriu um sorriso largo.
— E mamãe também — contei. — Assim como Anahí. Então, não. Eu não estou bem, senhora. Não estou nada bem. Meu coração está partido; meus sonhos, todos desfeitos. E eu não sei o que será de mim amanhã. Mas eu tentei. Por mais que o meu coração esteja em pedaços agora, um dia eu vou olhar para trás e ter a certeza de que fiz tudo o que podia para ser feliz. Eu não tenho do que me envergonhar! E não vou! Bom dia.
Comecei a arrastar Dulce pela rua, deixando para trás uma boquiaberta sra. Henrieta. Minha querida cunhada me fez parar diante do armazém e me encarou.
— Eu estou tão, mas tão orgulhosa de você, Maite! Estou há anos esperando por este momento. O momento em que você iria dizer um grande foda-se para o mundo!
— Mas eu não fiz isso, Dulce! — Ou fiz?
Oh, suponho que fiz, sim. Não sabia o que me levara a dizer todas aquelas coisas, mas era a verdade do meu coração. Eu jamais fizera algo semelhante.
Era sempre educada demais para dizer o que se passava em minha cabeça e raramente entrava em confrontos. Exceto com William.
Quer saber? Eu me sentia bem. Livre! Uma mulher dona de sua vida e de seus sentimentos.
Mas tinha aquela parte minha...
— Será que eu a magoei? — perguntei, preocupada.
— É mais provável que tenha alimentado uma fofoca. Amanhã todo mundo vai estar repetindo o que você disse.
— Não me importo mais. O que de pior pode me acontecer agora?
— É isso aí, garota! — Ela ergueu a mão e a deixou parada.
Imitei seu gesto. Dulce riu, batendo a mão na minha.
A mercearia, um prédio antigo localizado na esquina, era repleto de portas altas na fachada de tijolos vermelhos que dava para os dois lados. Dulce passou por uma delas, e eu estava logo atrás quando alguém me chamou. Minha irmã se deteve, mas, quando vi quem era, fiz um gesto de cabeça para que ela fosse em frente. Eu não queria me atrasar para a reunião com o sr. Andrada.
— Minha senhora — falou o sr. Matias assim que me alcançou. — Que grata surpresa!
— Como vai, senhor?
— Muito melhor agora. Meus dias se tornam muito mais alegres quando tenho o prazer de encontrar uma beldade como você. Mas devo confessar que me partiu o coração ouvir as notícias. Seu marido não deveria tratá-la dessa maneira. Meu Deus, se envolver com prostitutas. No plural! — Balançou a cabeça. — Consigo imaginar como deve estar se sentindo envergonhada, solitária e rejeitada depois do que ele aprontou.
Bem, não era porque eu não me importava mais que aquilo não me irritava.
Abri a boca, pronta para lhe dizer que fosse cuidar da própria vida, mas ele falou antes.
— Você merece mais que isso, Maite. Merece um homem que tenha olhos apenas para você, que beije o chão onde pisa... entre outras coisas. — Seu olhar percorreu meu corpo, me deixando constrangida e desconfortável. Ele diminuiu a distância entre nós. — Eu adoraria ajudá-la a entender isso. Serei discreto. —
Seu tom mal passou de um zumbido.
Senti o rosto esquentar, irritada com seu atrevimento. Até mesmo eu, uma jovem sem qualquer experiência na arte da sedução, compreendi o que ele estava me propondo.
— Sr. Matias, o senhor é um bom homem. Imagino que não faça por mal, mas eu gostaria que parasse de flertar comigo ou me propor... essas coisas. Sei que algumas mulheres apreciam esse tipo de atenção, mas eu não sou uma delas. Agradeço a oferta, mas é melhor oferecê-la a alguém que fique tentada a aceitar. Tenha um bom dia, senhor. — Fiz um cumprimento apressado e entrei na mercearia, sentindo o olhar de Matias fixo em minhas costas.
* * *
Quando o relógio marcava dez horas, fui escoltada por Dulce até o suntuoso escritório do sr. Andrada. Seu secretário me recepcionou com uma alegria pouco apropriada para a ocasião, mas deduzi que fosse instruído a dar as boas-vindas aos clientes.
Não demorou para que fôssemos levadas para a sala com lambris de madeira escura e fina tapeçaria.
— Tem certeza de que é o que quer, sra. Levy? — perguntou o advogado, sentado do outro lado da mesa, o documento em mãos. — Não quer pensar um pouco melhor no assunto?
— Não tenho nada mais a pensar.
— Bem, se é assim... assine aqui embaixo, sra. Levy. — Estendeu-me o documento.
— Não, peraí. Leia primeiro, Maite. — Dulce pegou o documento das mãos do advogado e me entregou. — E depois me deixe dar uma olhada.
Assenti e comecei a correr os olhos pelas linhas, pouco compreendendo, já que meu cérebro se recusava a absorver as palavras. Contudo, ao chegar a determinado parágrafo, minha atenção foi fisgada.
— O quê?! — saltei da cadeira.
— Que foi? — Dulce quis saber.
— William está deixando metade do seu dinheiro para mim.
— De fato — começou Andrada —, não é uma prática comum em uma anulação. Mas o dr. Levy insistiu que fosse assim.
— Por quê? — exigi.
— Desconheço as motivações dele, senhora. — O sr. Andrada ergueu os ombros. — Apenas fiz o que me foi ordenado.
— Talvez seja remorso — sugeriu Dulce.
— Com esse montante? — Entreguei o documento a ela, para que pudesse analisar. — É dez vezes mais do que o meu dote, que ele nem aceitou, ora bolas!
Por que ele faria uma coisa absurda dessas?
Uma vozinha em minha cabeça começou a se tornar mais e mais barulhenta. Ela parecia saber o motivo.
William não me achava capaz de cuidar de mim mesma. E pensava que eu concordaria em viver à sua custa. Ora, de jeito nenhum!
— Suspeito que seja pelo inconveniente que a anulação causará à senhora. — O sr. Andrada cruzou as mãos sobre a barriga generosa. — Mas apenas ele poderá responder a sua pergunta, querida. Pode questioná-lo depois, se achar apropriado. Agora, se puder assinar na linha...
— Não assinarei coisa alguma! Isso não tem cabimento!
— Não achou o suficiente? — o sr. Andrada perguntou.
— Pelo amor de Deus — Dulce murmurou, olhando feio para o advogado.
— O que ele está pensando? — Comecei a andar de um lado para o outro. — Que viverei o restante dos meus dias sabendo que o dinheiro que coloca comida em meu prato veio dele? — O que ele pensava que eu era? Uma de suas prostitutas?
— Maite, acho que não foi isso, não. Eu sabia que tinha alguma coisa errada nessa... — Dulce começou, mas se deteve, os olhos dardejando. Então algo lhe pareceu fazer sentido.
— O que foi, Dulce?
— Ah, não foi nada. — Mas senti que ela escondia alguma coisa. — Você tem razão. William tá pensando que você é incapaz de se virar sozinha. Você vai aceitar isso, Maite? Vai deixar que ele continue... humm... comandando a sua vida?
— Não. Jamais! Redija outro documento, sr. Andrada. — Peguei o papel das mãos de Dulce e coloquei sobre a mesa. — Sem esta cláusula absurda. Da maneira como está eu não assinarei nada!
Ele ergueu os olhos para mim, alarmado.
— Minha senhora — começou, cauteloso —, eu lamento, mas não posso atendê-la. Não posso remover a cláusula sem consultar o dr. Levy. Posso tentar explicar a ele que a senhora se mostrou ofendida...
— Muito ofendida — corrigi.
— Está bem, muito ofendida. Mas devo alertá-la para não alimentar muitas expectativas. O dr. Levy foi muito enfático quanto a esse parágrafo.
Imagino que ele não vá ceder.
— Isso é o que nós vamos ver!
— É! — concordou minha irmã, animada. — Porque é muito... revoltante o William querer garantir o futuro de uma mulher que ele nunca amou, que ele fez questão de afastar. Porque ele sabia que se envolver com prostitutas daria nisso. Você tá certa, Maite. É óbvio que ele não se importa com você. Só está tentando... hã... te irritar. Você devia ir falar com ele. Tipo agora mesmo! — Apesar das sobrancelhas franzidas, tive a impressão de que ela tentava ocultar um sorriso.
— É o que eu pretendo fazer, Dulce. — Passei a mão no papel. — Posso pegar o faetonte emprestado?
— Claro. Eu alugo uma caleche mais tarde. A menos que queira que eu vá com você.
— Agradeço a oferta, minha querida irmã. — Dobrei e então guardei o contrato no bolso. Ajeitei as luvas, me certificando de que o boné estava bem preso em minha cabeça. — Mas esse assunto é entre mim e William. E eu vou resolvê-lo de uma vez por todas.
Autor(a): Fer Linhares
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 32
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poly_ Postado em 13/09/2019 - 14:11:41
Desculpa a demora pra comentar, tô com muitos trabalhos, mas finalmente consegui vir aqui. E Simmm, posta a continuação, vou adorar. Bjuss!!!
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poly_ Postado em 05/09/2019 - 12:28:41
Menina quem imaginaria que era o Matias? Fiquei pasma. Nem acredito que tá acabando, vou sentir muita falta. Depois desse vc podia fazer uma adaptação Levyrroni do livro A Lady de Lyon, tô louquinha pra ler esse livro, dizem que é muito bom. Bjuss!!!
Fer Linhares Postado em 07/09/2019 - 19:22:35
Vou ler esse livro, assim que eu terminar eu posto, bjss ;)
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tehhlevyrroni Postado em 02/09/2019 - 11:58:23
continua amo esse livro e vou amar mais ainda adaptado para Levyrroni
Fer Linhares Postado em 03/09/2019 - 20:09:23
Continuando linda, bjss ;)
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poly_ Postado em 31/08/2019 - 00:27:37
Certeza q é o Duarte q fez isso, esse nojento. Mas tenho fé que o Will vai salva-la, tomara que ele consiga e ninguém fique ferido. Q momento fofo deles dois, amei. Continuaaa
Fer Linhares Postado em 31/08/2019 - 11:40:07
Eles precisavam de um tempo só pra eles bjss ;)
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poly_ Postado em 30/08/2019 - 13:02:45
Aí mds, posso bater no William? Kkkkkk Continuaaaa
Fer Linhares Postado em 30/08/2019 - 17:02:44
Pode kkk , me chama pra ajudar tbm kkk bjs ;)
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poly_ Postado em 27/08/2019 - 23:50:45
Tomara que eles sentem e se resolvam, e q Maite fale logo a verdade. Continuaaa
Fer Linhares Postado em 30/08/2019 - 11:17:06
Do jeito que eles são, duvido que eles se resolvam calmamente kkk bjs ;)
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poly_ Postado em 27/08/2019 - 15:26:50
Aí q ódio de td mundo, da Maite por ser inocente ao ponto de ir atrás do homem, do William por ser um teimoso e principalmente desse Alex. Continuaaa
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poly_ Postado em 26/08/2019 - 22:19:08
Não vejo a hora de saber o que vai acontecer, parou na melhor parte. Continuaaaa
Fer Linhares Postado em 26/08/2019 - 23:53:59
Do próximo capítulo em diante as coisas vão começar a esquentar, amanhã eu volto a postar, bjsss ;)
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poly_ Postado em 26/08/2019 - 01:05:46
Tô amando mulher, continuaaa (OBS: Ri demais com a briga do William com o irmão KKKKKKKKK)
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poly_ Postado em 24/08/2019 - 13:34:10
Ahh não acredito que Berta interrompeu esse momento. Pelo menos já estamos tendo um sinal de redenção né. Continuaa
Fer Linhares Postado em 25/08/2019 - 01:13:21
Berta não e o problema agr kk, tem coisa ainda pra acontecer bjs ;)