Fanfics Brasil - Capítulo 59 Prometida - Uma longa jornada para casa (Levyrroni)

Fanfic: Prometida - Uma longa jornada para casa (Levyrroni) | Tema: Levyrroni [Adaptada]


Capítulo: Capítulo 59

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Fui despertada por suaves beijos na palma da mão.


— Humm... só mais um segundo, Bartô — resmunguei, sonolenta.


— Devo entender isso como uma sugestão para que eu apare a barba?


Abri os olhos, sorrindo, e encontrei o olhar de William, quente e verde, reluzindo com diversão. Uma de suas mãos estava em meu quadril, o polegar preguiçosamente traçando um círculo lento que fez minha pele se arrepiar.


— Não apare, por favor — pedi. — Gosto dela assim. Do toque macio do seu cavanhaque quando beija meu pescoço.


Apoiando-se em um cotovelo, arrastando-se para ainda mais perto, ele se debruçou sobre mim e abaixou a cabeça para colar os lábios na depressão atrás da minha orelha, as pontinhas do cavanhaque roçando a pele sensível, provocando um vibrar lento e insistente em minhas entranhas.


— Assim? — murmurou ali.


— Humm... Exatamente assim. É como as bolhas do champanhe. Nem sei de qual dos dois eu gosto mais — provoquei.


— Você acaba de ferir o orgulho do meu cavanhaque. — Ele riu em minha pele, fazendo um frisson que àquela altura eu já conhecia tão bem me desestabilizar, de modo que eu sempre acabava afundando os dedos naquela cabeleira cor de areia tão sedosa. — Permita-me apresentar uma defesa.


Gemi baixinho quando sua boca capturou a minha. E era tão, tão melhor do que champanhe! Fazia cócegas, me deixava inebriada, quente e ofegante. Não demorou para que eu estivesse gemendo baixinho.


Puxando-me para mais perto até meu corpo se encaixar perfeitamente ao dele, William intensificou o beijo. Aquela parte dele que havia muito não me assustava mais pressionou minha barriga, arrancando-lhe um gemido. Então, ele deitou as costas no colchão, me puxando para cima de seu corpo.


A porta se abriu de repente.


— Tia Maite, você tem que...


— Nina! Não pode entrar no quarto sem bater! — ralhei, ao mesmo tempo em que William murmurava um palavrão.


Rolei para o lado, puxando rapidamente o lençol para me cobrir. William precisou colocar o travesseiro sobre os quadris para ocultar a tenda nada modesta que se formara ali.


— É que um potro acabou de nascer. Pensei que você gostaria de ir comigo conhecer ele. O que vocês estavam fazendo? — Arqueou uma sobrancelha bem desenhada.


— Nós estávamos... — Minha pele pegou fogo. Sobretudo a do rosto. — Humm... bem... eu... engasguei! — improvisei. — O tio William estava me ajudando a desengasgar.


— Meu Deus, Maite! — Ele começou a rir.


— E por que você precisou tirar a roupa? — Os olhos escuros de Nina se estreitaram como os de Bartolomeu.


— Humm... porque... é assim que...


— As mulheres adultas desengasgam — ele ajudou entre risos.


— Verdade, tio William?


— Em alguns casos, como os da sua tia, esse é o único jeito.


Ela ponderou por um momento, a testa levemente enrugada.


— É melhor eu não engasgar, então — concluiu. — Não vou querer que um menino veja minhas roupas de baixo.


— Continue pensando assim até ter trinta anos, Nina. — Tive a sensação de que ele não estava brincando.


— Nina, meu amor, eu vou adorar ver o potro — eu disse. — Mas vá indo na frente. Nós a encontraremos lá daqui a pouco.


Depois de hesitar por um instante, ela assentiu e saiu do quarto, encostando a porta. Embrulhei-me no lençol e corri para passar a tranca.


— Engasgada, Maite?


Eu me virei para William, que agora ria livremente.


— O que eu poderia dizer a ela? — perguntei, ofendida.


— Que tal que estávamos tentando fazer um priminho para ela e Analu?


— Oh, sim! — Revirei os olhos, voltando para a cama para me sentar no colchão. — Não conhece Nina? Ela iria sair gritando isso aos quatro ventos e eu morreria de tanto constrangimento.


— Por quê? — Ele ergueu os braços, dobrando-os atrás da cabeça, e apoiou as mãos na nuca, brindando-me com a bela visão daquele peito largo bem definido e daqueles mamilos pequeninos que eu adorava. — O que há de errado em um marido apaixonado amar a própria esposa com seu coração e seu corpo?


Não me parece nada constrangedor.


Bem, quando ele colocava a coisa daquela maneira...


— Mas confesso que mal posso esperar para que a reforma termine — continuou. — Gosto muito da sua família, Maite, principalmente agora que seu irmão parece não querer me matar o tempo todo. Mas estou louco para tê-la só para mim. A todo momento alguém precisa da sua ajuda ou deseja ter sua companhia. Agora que minha família voltou para o interior, minhas chances vão melhorar exponencialmente.


Fazia algumas semanas que os Levy tinham retornado para casa. Foi muito mais difícil dizer adeus a eles do que eu tinha imaginado. Sobretudo a Rosália e Saulo. Havia aprendido a amar cada um deles. William me consolara prometendo que em breve nós os visitaríamos na vinícola. Eu mal podia esperar.


— O sr. Domingos lhe deu um prazo para a entrega da obra? — perguntei.


— Não, mas adiantou que não será rápido. O telhado foi afetado e terá de ser trocado. Imagino que serão necessários uns seis meses até que possamos voltar. — Ele não conseguiu ocultar a melancolia.


— Está sentindo falta do seu laboratório, não é?


Ele franziu o cenho.


— Um pouco. Mas tem me sobrado tão pouco tempo ultimamente que eu não conseguiria trabalhar nele. Nunca pensei que teria tantas cartas para responder. Parece que o mundo todo tem perguntas a me fazer.


— É compreensível. Você fez uma descoberta e tanto, William.


Sua teoria se confirmara. O jarro que ele havia sacudido estava completamente azedo no dia seguinte, assim como o outro, que ele quebrara propositalmente para analisar uma amostra. O “chá” no jarro que ainda estava intacto continuava límpido.


Mas William teve dificuldade para transcrever seu experimento. Não por falta de inspiração, mas de tempo. A prisão de Matias fizera os dias passarem rápidos demais.


Ainda estávamos na casa de Eustáquio e sua mulher, Vera — que fora muito atenciosa comigo me oferecendo chá, comida e sais para me acalmar —, quando a guarda chegara. Eu relatara tudo o que Matias tinha dito sobre a morte da sra. Albuquerque, a noite em que o vi em meu quarto, e sua tentativa de me matar naquela manhã. Um dos guardas, ao averiguar a casa, encontrara os bilhetes com a caligrafia de Matias, além da faca que ele usara para ferir William e me ameaçar. O chefe da guarda decretara a prisão de Diógenes. Entretanto, eu tive de permanecer com Vera um pouco mais, já que William acompanhara a guarda até nossa casa. Seu rosto estava inexpressivo quando ele me contara que precisava fechar a ferida que eu abrira no ombro de Matias, e havia um brilho perigoso em seus olhos que me deixou inquieta. Mas minha preocupação foi infundada. Por mais que William quisesse matar Matias, manteve o juramento que havia feito na escola de medicina, de jamais negar socorro a quem quer que fosse. William falara outra vez com o chefe da guarda sobre suas suspeitas de envenenamento na época da morte de Adelaide. O dr. Almeida poderia confirmá-las.


E confirmou.


O problema foi que alguém da família da sra. Albuquerque deveria prestar queixa sobre o assassinato, e ninguém conseguiu contatar Walter. Tia Cassandra tinha conseguido falar com Doroteia, e em poucos dias a mulher estava na vila, arrasada como se tivesse perdido a irmã outra vez, formalmente prestando queixa contra Matias. Eu a visitara algumas vezes, sempre especulando sobre


Valentina, mas a sobrinha não tinha enviado nenhuma notícia a ela também.


Matias dissera que Miranda estava se escondendo dele. Pelo silêncio de Valentina, era o que parecia. O que me trazia um pouco de alento era saber que o sr. Albuquerque nada tinha a ver com a morte da esposa. Matias confessara que havia feito tudo sozinho. Que descobrira as plantas no jardim por acaso e que


Miranda não sabia que eram venenosas; apenas as achava bonitas. Quando compreendera o que o amante havia feito, ela tentara romper o caso e ele então passara a chantageá-la. O julgamento dele aconteceria dali a algumas semanas, e Christopher achava que ele não voltaria a andar pelas ruas nas próximas décadas.


Com tudo resolvido, William pôde então se dedicar ao relatório de seu experimento. Um documento de dezoito páginas que explicava passo a passo tudo o que ele havia feito e os resultados obtidos. O dr. Almeida foi o segundo a ler.


William insistiu que eu lesse antes de qualquer pessoa. Mesmo não tendo qualquer conhecimento médico, ele discorrera de maneira tão brilhante que acabei compreendendo a enormidade de sua descoberta.


E juro que vi lágrimas se empossarem nos olhos do mentor de William ao dizer a ele:


— Desde que pus os olhos em você, sabia que estava destinado a algo grandioso.


Depois disso, eu o ajudei a redigir um documento menos denso que foi publicado em um periódico e enviado a alguns amigos que o ajudaram a chegar até àquele resultado. Desde então, todo santo dia o sr. Bregaro aparecia com uma dezena de envelopes de todas as partes do mundo. William dedicava longas horas a responder todas as cartas, entretanto sempre arranjava um tempinho para me convidar para um piquenique, um passeio pelo jardim, uma volta pela vila.


Nunca pensei que diria isso, mas graças aos céus meus dias voltaram a sua rotina. Nada de invadir casas, costurar pessoas, atirar em assassinos. Apenas coisas seguras como bordar, tocar piano, ler livros. As aulas com Samuel, no entanto, me ocupavam toda as tardes.


Samuel e eu estávamos cada vez mais ligados. Apesar das dificuldades,


Samuel aprendeu a ler e a escrever. Usei tudo o que pude: música, jogos, brincadeiras. Dessa maneira seu cérebro conseguia gravar a lição. Ainda trocava algumas letras, invertia outras, e alguns fonemas o atrapalhavam muito. Tinha dificuldade para compreender um texto, mas, se eu lesse para ele em voz alta, absorvia cada palavra. O mesmo valia para a matemática. Ele se confundia para fazer as contas no papel, mas as fazia de cabeça com uma facilidade impressionante. Eu estava tão, tão orgulhosa dele!


Meu menino havia mudado tanto: seu vocabulário se ampliara, ganhara peso, andava limpo — ou limpo o bastante para um garoto de nove anos —, seu olhar perdera aquela desconfiança que tinha do mundo. Acredito que Duarte tivesse alguma coisa a ver com isso. Ele fora inocentado das acusações de tentativa de assassinato, mas continuava preso, pois teria de responder pelo roubo das joias da sra. Henrieta.


O futuro de Samuel ainda era incerto, e isso estava me tirando o sono.


Pensar que a qualquer momento alguém de sua família apareceria e o levaria embora fazia meu coração doer. William me acalmava dizendo que estava cuidando de tudo, que eu só precisava ser paciente, mas como poderia, se a vida de uma criança estava toda de cabeça para baixo?


Muito se especulou na vila sobre mim e os últimos acontecimentos — a noitada de William, a tentativa de assassinato de Matias, sua prisão, o tiro que eu acertara nele. Meu nome e o de William corriam à boca pequena com frequência.


A cada vez que aparecíamos na vila, éramos alvo de olhares e cochichos.


— Olhe, Ofélia! Parece que Maite perdoou o marido pela noitada com aquelas mulheres.


— Menina tola! Ouvi dizer que o libertino foi flagrado amarrado à cama com seis ou sete mulheres, Henrieta! Um verdadeiro pervertido!


— Dizem que agora ele se endireitou. Também, pudera! Parece que Maite o ameaçou com uma arma e jurou matá-lo se o vir perto de uma daquelas moças.


— Será verdade o que andam dizendo? Que o tal sr. Matias pretendia assassiná-la desde o começo e que a pobre Adelaide tomou o chá que era destinado a Maite?


— Só pode ser, Ofélia. Adelaide nunca fez mal a uma mosca. Imagino que Maite tenha brincado com o coração daquele rapaz e ele jurou vingança. Ela não é a moça recatada que nós pensávamos.


— Ela nunca me enganou, Henrieta.


Nesses momentos, William pegava minha mão e a levava aos lábios, me assegurando de que estava ali comigo, que enfrentaríamos aquilo juntos. Foi então que deixei de me importar. Sim, eu ainda me preocupava com o bom nome de minha família, com o futuro das meninas, mas aprendi algo muito importante: as pessoas só conseguem feri-lo se você permitir. Quando compreendi isso, passei a me divertir com as fofocas descabidas. E então — talvez porque não me importasse mais —, os boatos começaram a morrer.


Sempre tentei ser aquilo que esperavam de mim. Fiz o melhor que pude para corresponder às expectativas, e, mesmo sem nunca ter feito nada que pudesse comprometer minha honra, ela acabou comprometida, porque estranhos decidiram especular sobre minha vida. Mais de uma vez me perguntei por que eu dera tanto poder àquelas pessoas. Por que me esforçava tanto para ser o que elas esperavam que eu fosse. Minhas convicções não mudaram; a diferença era que agora eu as expressava. Tinha liberdade para ser eu mesma. E para ser amada pelo mesmo motivo. Fora isso que aprendera com William. Ele se apaixonara pela ilusão que eu representava, mas amara o meu verdadeiro eu. Sem máscaras ou disfarces, com todos os meus defeitos e minhas qualidades.


William me ensinara outras coisas também. Havia comprado um novo telescópio, e muitas vezes saímos pela propriedade de meu irmão caçando estrelas. Ele me mostrou mundos maravilhosos, coisas que eu jamais teria sonhado que existiam — e não me refiro só a planetas com anéis ou nebulosas coloridas repletas de mistérios, mas a algo que fazia meu coração palpitar e meu rosto ficar todo quente e vermelho.


Pela maneira como ele me olhava agora, a interrupção de Nina não o tinha desestimulado e parecia disposto a me levar até um mundo de paixão naquele exato momento.


No entanto, tornaram a bater à porta. Gomes avisou que o sr. Andrada esperava William no escritório de meu irmão.


— Diga que estarei lá em dez minutos. — gritou. Então olhou para mim de cara amarrada. — Estou pensando seriamente em nos mudarmos para a pensão até a reforma ser concluída. — E saiu da cama, murmurando uma imprecação que me fez rir.


— Por que o sr. Andrada veio aqui? Algum problema? — perguntei, preocupada.


— Espero que seja a solução — foi tudo o que disse.


Cerca de quinze minutos depois, deixamos o quarto, mas não fomos muito longe. Gomes vinha correndo, quebrando todos os protocolos, com uma carta balançando em uma das mãos.


— Chegou para a senhora. Pensei que gostaria de ser informada imediatamente.


Apanhei o envelope e observei o nome do remetente. Meu coração deu um salto. Eu conhecia aquela caligrafia quase tão bem quanto a minha. Rasguei o lacre às pressas.


Querida Maite,


Imagino que esteja preocupada com o meu silêncio. Tanta coisa aconteceu desde que nos vimos pela última vez que acredito que não me reconheceria agora. Eu mesma não me reconheço mais. Mas, tranquilizese: eu estou bem! Não quero que se preocupe comigo. A casa onde vivemos tem uma bela vista para o mar, mas o acesso é difícil, por isso suas cartas chegam com muito atraso, e imagino que você também demore para receber as minhas.


Tanta umidade afetou a saúde de papai, e uma terrível crise de asma o atacou. Tive que cuidar dele, já que Miranda pouco fez além de mandar chamar um médico e lhe preparar algumas infusões. Mas ele parece se recuperar bem. Estou confiante de que em algumas semanas terá se curado totalmente. Por causa da doença, mal tive tempo de conhecer a região, mas parece ser agradável. Soube que Najla, a sobrinha do sr. Estevão da joalheria, e o marido são nossos vizinhos, mas ainda não tive a sorte de encontrá-la. Quem sabe nesta semana eu consiga ir visitá-la.


Estou aguardando, ansiosa, por notícias do seu casamento. Espero que tenha sido tão bonito quanto sonháramos enquanto crianças.


Sinto muito sua falta, querida Maite. Espero que em breve possamos nos rever.


Sempre sua,


Valentina


— Graças aos céus! — Soltei um aliviado suspiro, olhando para William. — É de Valentina. Ela está bem. Estão morando em um lugar meio afastado, no litoral, por isso a correspondência demora a chegar.


— Menos mal. — E juro que vi alívio em seus olhos também. — Vá indo na frente, Maite. Já nos atrasamos demais. Sua sobrinha já deve estar impaciente para lhe mostrar o potro.


— William, espere — a voz de trovão de meu irmão ressoou pelo corredor.


Christopher vinha em nossa direção, abotoando o punho da camisa sob o paletó, os cabelos molhados e um sorriso torto que me disse que andara aprontando alguma coisa.


— Pensei que estivesse no estábulo — falei assim que nos alcançou.


— Acabei me sujando. Só vim trocar de roupa, mas já que os encontrei quero lhes mostrar uma coisa — indicou a porta da sala de artes.


Os dois homens se afastaram para o lado para que eu entrasse primeiro. A sala bem iluminada e muito arrumada — coisa realmente impressionante com três crianças por perto — era um de meus lugares preferidos na casa. Embora pensasse o contrário, Christopher era um grande artista. Eu nunca me cansava de admirar suas obras.


Ele e William mal tinham pisado na sala quando eu parei de repente, os olhos presos no quadro apoiado na mesa, a bela moldura dourada capturando os raios de sol e os refletindo como um prisma.


— Christopher! — arfei, levando a mão ao rosto, os olhos ainda na tela. — Meu Deus! É lindo!


No retrato de meio-corpo, Ian me imortalizara usando o vestido de noiva de mamãe, o véu encobrindo parte de meus cabelos, as mechas negras se destacando contra a palidez do tecido. Meu rosto estava levemente de lado e meu olhar abaixado, fitando o buquê de amores-perfeitos em minhas mãos. Os cantos de meus lábios se curvavam em um sorriso secreto, minhas covinhas aparentes.


A meu lado, William, tão real que era como se houvesse dois dele naquela sala, olhava para mim com uma expressão apaixonada, os olhos cintilando como duas estrelas.


— Esplêndido! — concordou William, aproximando-se da pintura e a analisando atentamente. — Você a retratou com perfeição. É tão real que estou aqui prendendo o fôlego, esperando que o sorriso dela se amplie.


— Considerem um presente de casamento um tanto atrasado — meu irmão falou. Eu me virei para ele e o abracei com força.


— Oh, Christopher, é o presente mais perfeito do mundo. Obrigada, meu irmão.


— Não me agradeça, Maite. Foi mais que um prazer pintar este quadro. Foi um alívio retratar aquele momento. Creio que isso encerre qualquer dúvida quanto ao seu futuro.


Eu o soltei e ergui o rosto para poder encará-lo. Havia triunfo em seu semblante, quase como se tivesse vencido uma batalha, o que me deixou muito confusa. E ele não ia explicar nada, a julgar pela maneira como contraiu as sobrancelhas e balançou a cabeça de leve. Mas me olhou daquele jeito que eu conhecia tão bem, que dizia que eu não precisava temer mais nada.


— Obrigado, Christopher. — William atravessou a sala e estendeu a mão para meu irmão. — De fato, não poderia ter me dado um presente que eu apreciasse mais do que um retrato de Maite.


— Apenas continue a fazer minha irmã feliz. — Christopher apertou sua mão, ao passo que William fazia um aceno firme de cabeça.


— Um retrato nosso — corrigi William.


— Nosso? — A surpresa estampou o rosto de meu marido e ele virou a cabeça, observando o quadro. — Ah. Sim, agora vejo.


Christopher e eu acabamos rindo.


William então foi falar com o advogado, e eu desci até o estábulo com meu irmão.


— Suponho que não vá explicar sobre o significado daquele retrato — comentei.


— Não é nada. Apenas uma coisa que vi quando estivemos no futuro e que me atormentou por muito tempo. Mas que, agora eu sei, não vai acontecer já que você se casou com William.


Não fazia ideia do que Christopher tinha visto e, a julgar pelo alívio que vi assentar em sua expressão, achei melhor não saber.


— Tia Lisa! Papai! — Analu veio correndo tão logo nos viu chegar.


Bartolomeu, deitado na grama, levantou-se quando minha sobrinha passou por ele, seguindo-a. Ela pulou sobre mim e eu deixei escapar um urf!


— Venha cá, srta. Ana Laura Saviñón Uckermann. — Ele a pegou pelos braços e, com um giro que a fez gritar de deleite, encaixou-a nos ombros.


Dulce, debruçada na cerca, acenou. Nina imitava sua postura e não tirava os olhos do potro, como era de esperar. Ian colocou Analu no chão quando nos juntamos a elas, e a caçulinha correu para perto da irmã e de Samuel.


— Maite, você está bem? — Sam me estudou com o olhar preocupado. — Marina disse que estava engasgada.


Eu enrubesci, evitando olhar para meu irmão.


— Estou ótima. Que tal o potro? — eu quis saber, louca para mudar de assunto.


— É bonito. E muito esperto. Meio desajeitado, mas já consegue ficar de pé sozinho. Venha ver! — Ele me pegou pela mão e começou a me puxar para perto do cercado.


— É de Lua? — perguntei a Dulce ao parar ao lado dela, pois o potro tinha a mesma pelagem da égua dela.


— E de Storm — contou, orgulhosa. — É o terceiro deles. Acho que estão apaixonados de verdade. — Então, analisou meu rosto com atenção e um sorriso deslumbrante se abriu. — E eles não são os únicos.


Cheguei um pouco mais perto dela.


— O que você viu realmente aconteceu, Dulce. Eu encontrei o meu “felizes para sempre”, do jeito que você disse que eu encontraria. — Eu nunca devia ter duvidado.


— Com algumas surpresas indesejadas. — Fez uma careta. Então se inclinou e cochichou: — Mas esse é só o começo do seu “felizes para sempre”.


— E me deu uma piscadela.


Quem precisa de uma fada madrinha quando se tem uma irmã como a minha?


— Melhorou, tia Maite? — Nina ergueu aqueles olhos escuros para mim.


— Estou bem. — Corei de novo.


— Já engasgou assim, mamãe? De ter que tirar a roupa para melhorar?


Oh, por Deus. Não sei qual foi a reação de Dulce nem a de Christopher, já que mantive os olhos fixos no potro, mas a voz de Dulce parecia bastante divertida ao dizer:


— Algumas vezes.


O que fez meu rosto já quente se incendiar e meu irmão ser dominado por uma crise de tosse.


— Cadê o William? — Samuel se pendurou na cerca outra vez.


— Aqui. — Veio a voz logo atrás. Ao me virar, me deparei com aquele sorriso iluminado. A reunião devia ter sido boa. Sorri de volta, contente por vê-lo feliz. — O que eu perdi?


— O poto não conseguia ficá de pé, tio William. — Analu começou, animada.


— Aí ele conseguiu, mas temia muito. Aí a mamãe dele lambeu ele.


— O papai explicou que ela estava dando banho — esclareceu Nina.


Samuel fez uma careta.


— Banho de lambida deve ser pior do que banho de banheira!


— Aí o potro tentou andar — continuou Nina, subindo para a tábua de cima —, mas parecia a Analu no começo. Caía toda hora. Mas aí ele aprendeu a se equilibrar e não caiu mais. Mas a mamãe dele ainda tá meio desconfiada e fica ali perto. Agora ele tá mamando.


— Parece que eu perdi tudo, afinal — lamentou William.


Samuel abaixou os olhos para as mãos enroscadas na cerca, e depois de um momento pulou no chão.


— Sam! Aonde você vai? — Marina quis saber ao vê-lo se afastar, os ombros curvados e a cabeça baixa.


Eu e William nos encaramos por um breve instante, e então saímos atrás dele.


— Samuel — chamei. — Espere!


Mas ele não esperou. Tive de correr para acompanhá-lo. William vinha logo atrás e, com as pernas mais longas que as minhas, logo me ultrapassou. Samuel entrou em casa, seguindo a esmo pelos corredores. William conseguiu alcançá-lo quando passava em frente ao nosso quarto e o empurrou para dentro.


— Não é justo, Maite. — O menino reclamou, os olhos enevoados de lágrimas, assim que eu entrei e fechei a porta. — Até o potro tem uma família. Só eu que não. — Ele se sentou aos pés da cama.


Olhei para William. Ele exibia um sorriso largo, que destoava totalmente do momento.


— Isso não é verdade, Sam. — Eu me sentei junto dele, passando o braço pelos seus ombros. — Você tem a mim e ao William.


— Nina, Analu, o sr. e a sra. Uckermann, minha família... — completou William ao se acomodar do outro lado do garoto.


— É diferente. — Ele cruzou os braços.


— Só se você quiser que seja diferente. — Acariciei seus cachos macios. — Algumas vezes nós nascemos em uma família, como aconteceu comigo. Em outras, nós a escolhemos, como aconteceu com a Dulce.


— E eu e Maite escolhemos você. — William puxou um papel de dentro do paletó, entregando-o ao menino, o sorriso ainda ali.


Samuel o abriu e leu algumas linhas, então ergueu os olhos para mim. Eu conhecia bem aquele olhar.


— Bem, deixe-me ver. — Peguei o papel e meu coração falhou uma batida.


Era um documento oficial, assinado pelo juiz Guilhermino Carvalho. O nome de Duarte vinha logo depois do cabeçalho. — Jeremias Duarte, residente neste Estado, único parente consanguíneo vivo do menor Samuel Duarte de Castro, de nove anos de idade, elegeu como guardião do menor o sr. William Levy, também residente neste Estado... — Encarei William, o coração batendo tão alto em meus ouvidos que eu mal conseguia ouvir o mundo. Seus olhos me sorriram.


— Eu não sei se entendi direito, Maite. Samuel buscou meu olhar, mas William abaixou o rosto para ele.


— Este documento faz de mim o seu guardião de hoje em diante, Samuel — contou. — Serei responsável por você até que chegue à maioridade. Mas, se você quiser, nunca mais terá de deixar esta família. A escolha será sua.


— Mas o tio Jeremias deixou eu ficar para sempre? — perguntou, desconfiado, mas havia uma faísca de esperança em seu rosto.


— Muito alegremente. — Sua expressão vacilou. Samuel não pareceu notar.


— Você não tem mais que se preocupar com ele. Eu disse que cuidaria de tudo.


Meu coração se inflamou naquele instante, tanto e tão violentamente que eu pensei que pudesse parar.


— Você não mentiu para mim! — Samuel passou os braços ao redor da cintura de William, afundando a cabeça em seu peito, os olhos apertados.


William deu risada, abraçando o menino com força, mas o olhar estava em mim.


“Obrigada”, fiz com os lábios.


“Sempre que precisar”, devolveu.


O menino o soltou, apenas para laçar meu pescoço com os braços.


— Você ouviu isso, Maite? Ouviu o que o William disse? Meu coração está tão feliz que parece que vai explodir!


— O meu também, Sam! — Nunca mais teríamos de nos separar.


Afundei o rosto em seu ombro, sentindo seu cheirinho de menino, suor e terra. Eu amava Samuel. E William e eu cuidaríamos dele, o amaríamos, daríamos tudo o que ele quisesse e merecia: uma vida feliz.


— Parece que agora você vai ter que desistir da ideia de que precisa ajudar em alguma coisa para morar conosco — zombou William.


— Mas eu não posso fazer isso — rebateu, me soltando e encarando William muito a sério. — Tenho os meus pacientes para visitar.


— Seus pacientes? — Achei graça.


— Se eu ajudo o William, então eles são meus pacientes também, Maite. — Revirou os olhos. — Vou poder continuar a visitá-los, certo?


William brincou com seus cachos crescidos.


— Desde que só eu manuseie o bisturi pelos próximos dez anos.


— Eu imaginei que diria isso. — O menino olhou para o alto, resignado. — Mas está tudo bem. Ainda posso escolher ser cavalariço. Agora eu tenho que contar a novidade para a Marina!


No instante seguinte, ele saía do quarto correndo como se as roupas estivessem em chamas. A gargalhada de William reverberou pelo aposento.


— Já percebeu que, de cada quatro palavras que ele diz ultimamente, duas são Marina?


— Eles se adoram. Como conseguiu que Duarte assinasse este documento?


— eu quis saber.


— Eu o fiz assinar uma carta passando a guarda de Samuel para mim. Mas achei melhor resolver esse assunto de maneira mais... civilizada, por assim dizer.


Não queria que você e Samuel vivessem com medo de o sujeito aparecer a qualquer momento. Então, quando estive na sede da guarda prestando queixa contra Matias, Duarte soube disso e mandou me chamar. Ele me fez uma proposta. Sua liberdade pelo menino. Ele está livre agora. Assim como Samuel — murmurou, em tom sombrio.


Cheguei mais perto e o beijei sem pressa até que algo saiu de controle — suponho que tenha sido eu —, e ele me afastou com delicadeza, rindo.


— Não me desconcentre assim agora, Maite. Há mais um assunto que eu gostaria de discutir com você.


Eu me endireitei, observando-o com atenção. Parecia ansioso e um pouco inseguro. Foi até a porta e a fechou, o que fez uma sineta vibrar em minha cabeça. O que era agora?


Ele voltou a se sentar na cama — o colchão afundando levemente sob seu peso — e então me encarou.


— Maite, eu vou para a Europa e...


— O quê? — atalhei, o coração ameaçando afundar em meu estômago. — Mas... mas eu pensei que... depois que nos acertamos... que você tivesse mudado de... que não pretendesse mais...


Ele colou um dedo sobre meus lábios.


— ... e quero que você venha comigo.


Coloquei a mão sobre o peito, tentando acalmar a palpitação.


— Uma faculdade em Paris me convidou para apresentar minha tese — contou, libertando minha boca. — A carta chegou na semana passada. Não respondi ainda porque queria definir o destino de Samuel antes. Mas, agora que tudo se resolveu, eu gostaria de aceitar o convite. E gostaria que você viesse comigo.


— A Paris?


— Na verdade, iremos a Paris depois. — Ele pegou minha mão e entrelaçou nossos dedos. — Ficaremos algumas semanas em Veneza.


Veneza?! — engasguei.


— Sei que não é muita coisa comparado a uma bela caneca de cerveja em uma taberna... — brincou —, mas pensei que você gostaria de continuar a ampliar um pouco mais os seus horizontes. Na verdade, quero lhe mostrar o mundo todo. Quero colocá-lo a seus pés, Maite.


— Oh, William! — Ele não percebia que já havia feito isso? Que cada vez que olhava para mim eu sentia como se o mundo todo me pertencesse?


Segurando meu rosto entre as mãos, ele colou a testa na minha.


— Venha comigo.


— Mas é claro que eu vou, William. Até a taberna ou a Veneza. Eu quero estar com você, pouco importa onde.


— Pouco importa. — Ele inclinou meu rosto levemente para cima e reivindicou minha boca.


De começo, o beijo foi suave e delicado, com carícias lentas e profundas.


Mas então algo deu errado — nós dois, desta vez — e logo eu estava arfando, o coração aos galopes e a pele arrepiada. Quando William se afastou, choraminguei um protesto.


— Minha nossa, acho que estou sendo negligente! — Ele tirou o paletó e o jogou em algum lugar. — Você ainda me parece engasgada!


— Pareço?


Seus dedos começaram a trabalhar nos botões na frente de meu vestido.


— Você parece perigosamente engasgada. Mas não se preocupe. Sei exatamente o que fazer em uma emergência como esta. — Ele se curvou sobre mim, forçando-me a deitar, e aplicou beijos molhados e demorados em meu pescoço enquanto começava a me despir.


— William...


— Humm... — resmungou contra a pele de meu ombro, a mão subindo pelas minhas costelas.


— Nós precisamos... — Mas eu me perdi quando ele escorregou a manga do vestido pelo meu braço e me beijou ali. Ah, aquele cavanhaque em minha pele...


— Eu sei. Eu sei, Maite. — Ele ergueu a cabeça e me encarou com intensidade, o rosto tomado de desejo... e amor. — Sei exatamente do que precisamos.




Esse livro tem uma continuação, vcs querem que eu posto?


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Autor(a): Fer Linhares

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Assim que William abriu a porta e se afastou para que eu entrasse, uma coisinha de pouco mais de um metro começou a saltitar diante de mim. — Como foi? Como foi? Ele gaguejou? — Samuel quis saber, fazendo sua camisola de dormir balançar ao redor do corpo. — Por que ainda está acordado? — ralhei, entrando em nosso apartamento n ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 32



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  • poly_ Postado em 13/09/2019 - 14:11:41

    Desculpa a demora pra comentar, tô com muitos trabalhos, mas finalmente consegui vir aqui. E Simmm, posta a continuação, vou adorar. Bjuss!!!

  • poly_ Postado em 05/09/2019 - 12:28:41

    Menina quem imaginaria que era o Matias? Fiquei pasma. Nem acredito que tá acabando, vou sentir muita falta. Depois desse vc podia fazer uma adaptação Levyrroni do livro A Lady de Lyon, tô louquinha pra ler esse livro, dizem que é muito bom. Bjuss!!!

    • Fer Linhares Postado em 07/09/2019 - 19:22:35

      Vou ler esse livro, assim que eu terminar eu posto, bjss ;)

  • tehhlevyrroni Postado em 02/09/2019 - 11:58:23

    continua amo esse livro e vou amar mais ainda adaptado para Levyrroni

    • Fer Linhares Postado em 03/09/2019 - 20:09:23

      Continuando linda, bjss ;)

  • poly_ Postado em 31/08/2019 - 00:27:37

    Certeza q é o Duarte q fez isso, esse nojento. Mas tenho fé que o Will vai salva-la, tomara que ele consiga e ninguém fique ferido. Q momento fofo deles dois, amei. Continuaaa

    • Fer Linhares Postado em 31/08/2019 - 11:40:07

      Eles precisavam de um tempo só pra eles bjss ;)

  • poly_ Postado em 30/08/2019 - 13:02:45

    Aí mds, posso bater no William? Kkkkkk Continuaaaa

    • Fer Linhares Postado em 30/08/2019 - 17:02:44

      Pode kkk , me chama pra ajudar tbm kkk bjs ;)

  • poly_ Postado em 27/08/2019 - 23:50:45

    Tomara que eles sentem e se resolvam, e q Maite fale logo a verdade. Continuaaa

    • Fer Linhares Postado em 30/08/2019 - 11:17:06

      Do jeito que eles são, duvido que eles se resolvam calmamente kkk bjs ;)

  • poly_ Postado em 27/08/2019 - 15:26:50

    Aí q ódio de td mundo, da Maite por ser inocente ao ponto de ir atrás do homem, do William por ser um teimoso e principalmente desse Alex. Continuaaa

  • poly_ Postado em 26/08/2019 - 22:19:08

    Não vejo a hora de saber o que vai acontecer, parou na melhor parte. Continuaaaa

    • Fer Linhares Postado em 26/08/2019 - 23:53:59

      Do próximo capítulo em diante as coisas vão começar a esquentar, amanhã eu volto a postar, bjsss ;)

  • poly_ Postado em 26/08/2019 - 01:05:46

    Tô amando mulher, continuaaa (OBS: Ri demais com a briga do William com o irmão KKKKKKKKK)

  • poly_ Postado em 24/08/2019 - 13:34:10

    Ahh não acredito que Berta interrompeu esse momento. Pelo menos já estamos tendo um sinal de redenção né. Continuaa

    • Fer Linhares Postado em 25/08/2019 - 01:13:21

      Berta não e o problema agr kk, tem coisa ainda pra acontecer bjs ;)


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