Fanfics Brasil - Capítulo 9 Prometida - Uma longa jornada para casa (Levyrroni)

Fanfic: Prometida - Uma longa jornada para casa (Levyrroni) | Tema: Levyrroni [Adaptada]


Capítulo: Capítulo 9

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Depois daquela noite, William se tornou uma presença constante na vila. Nosso relacionamento foi se estreitando e, em pouco tempo, suspeitei de que nossas conversas haviam se tornado algo mais que amizade. Pelo menos para mim. Nós nos esbarrávamos com frequência, mas as coisas começaram a ficar realmente sérias quando ele teve de retomar os estudos e voltou para a cidade. E então começou a me escrever.


Quando a primeira correspondência chegou, descobri que, de posse de uma pena, ele também era um interlocutor interessantíssimo. Comecei a esperar por suas cartas toda semana. Ainda hoje eu as guardo.


Estão dentro de uma caixinha de doces. Um tesouro, uma linda lembrança da época em que tudo no mundo fazia sentido.


Maio, 1830


Cara srta. Maite,


Cheguei ontem à cidade. A viagem foi tranquila e entediante, como sempre. Creio que tenha cruzado com duas ou três carruagens durante o trajeto. Ou talvez tenham sido mais e eu não os tenha visto por ter cochilado sobre a montaria.


A cidade parece mais bonita nesta época do ano, todos dizem. Os ipês estão florindo e as flores se derramam sobre suas raízes como um tapete. Mas me deixe dizer uma coisa sobre os ipês: são ardilosos e gostam de ferir a vaidade de um homem.


Ontem mesmo passei embaixo de um deles a caminho da aula, e não reparei na maneira inocente como a árvore se comportava. Eu devia estar mais atento, porém meus pensamentos não me pertencem mais. Um dia lhe falarei sobre esse assunto com a atenção que ele merece.


Ao chegar à classe, ouvi risos e gracejos enquanto me acomodava em minha carteira. Tarde demais, percebi que trazia uma flor nos cabelos. Por isso eu lhe imploro: fique longe dos ardilosos ipês.


Como a senhorita tem passado? Sei que nos vimos há menos de vinte e quatro horas, mas algo interessante pode ter acontecido. E eu ficaria muito contente se me considerasse seu amigo e me escrevesse contando.


Seu admirador,


William Levy.


* * *


Junho, 1830


Cara srta. Maite,


Mal consegui dormir noite passada. A lua estava tão bonita que meus pensamentos não se aquietavam. Não faço ideia de como serei capaz de me manter acordado na aula de botânica. Se eu arriscar beber mais uma xícara de café, temo sofrer um ataque apoplético. Para aquietar minha cabeça, me arrisquei nos versos de Byron. Achei um particularmente interessante. Ele me fez pensar na senhorita, por isso tomei a liberdade de incluir nesta carta minha própria tradução em versos livres.


Fico feliz em saber que a senhorita passa bem, mas estou um pouco preocupado por ainda não ter lhe


perguntado algo de suma importância: a senhorita não seria uma daquelas pessoas que têm medo de médicos, seria?


“Ela caminha em encanto, como a noite


Sem nuvens e de céu cintilante;


E tudo que há de mais belo na luz e na treva


Encontra-se em seus olhos e em seu semblante;


Assim amadurecida à luz gentil


Que o firmamento nega ao dia extravagante.


Uma sombra a mais, um raio que faltasse


Teria danificado parte da indescritível formosura


Que em cada mecha negra ondula


Ou suavemente em sua face fulgura;


Onde pensamentos serenamente doces alardeiam


Como é querida sua morada, como é pura.


E nessa face, e nessa fronte


Tão suave, tão tranquila, porém eloquente,


Vencem os sorrisos, inflamam-se as cores,


Contam apenas sobre um passado benevolente,


Uma mente em paz com tudo,


Um coração cujo amor é inocente!”


Seu mais fiel criado e amigo,


W.L.


* * *


Junho, 1830


Cara srta. Maite,


Estou felicíssimo com sua resposta! E muito aliviado por não ter que procurar uma nova ocupação.


No entanto, ando pensando seriamente em mudar de escola. Encontrar uma que não tenha árvores por perto, talvez.


Ontem fui atacado novamente por aquele ipê-rosa.


Não sei como aconteceu. Eu o evitei! Passo tão distante daquela árvore demoníaca que chego a dar a volta no prédio. Acredito que ela e o vento tenham se juntado para me desmoralizar. Desta vez a flor ficou enroscada na gola do meu paletó.


Tomei a liberdade de lhe enviar a prova do atentado e espero que não me ache muito petulante pela embalagem, mas a única maneira que encontrei para que ela resistisse à viagem foi prensá-la dentro de um livro. Escolhi Byron, já que as palavras do poeta falaram com seu coração. Quem dera eu tivesse a sorte de fazer o mesmo...


Tenho uma pergunta para a senhorita: prefere o alvorecer ou o crepúsculo?


Seu mais fiel amigo,


W.L.


* * *


Julho, 1830


Cara Maite,


Fico feliz em saber que a srta. Anahí e seu primo se casaram. Suponho que tenha sido uma bela cerimônia. E não se preocupe tanto assim com os malestares da sra. Uckermann. É natural se sentir enjoada nos primeiros meses de gravidez. Pelo menos foi o que aprendi no curso.


Por falar nisso, estou às voltas com o hospital. Esta semana acompanhei um dos professores e pela primeira vez fui autorizado a operar sozinho. Pessoas, não porcos. Era uma pequena cirurgia, que comandei do início ao fim e prefiro não mencionar os pormenores, mas pensará que sou meio atoleimado da cabeça se eu lhe disser que gostei? Que fiquei feliz ao constatar a capacidade de minhas mãos? De saber que a cura habita nelas?


Retomando nossa discussão, entendo seus motivos para preferir o alvorecer, e concordo com eles. A maneira como o céu ganha tons de laranja e rosa, a expectativa de um novo dia... Sim, concordo com a senhorita. Até pouco tempo eu não discutiria. No entanto, sinto informar que passei a preferir o entardecer. Gosto da cor púrpura e do vermelho tingindo o horizonte, o sol ainda brilhando, as estrelas chegando. Mas, sobretudo, estou enfeitiçado pelo azul.


O firmamento pouco acima da linha do horizonte adquire um tom de azul único, belíssimo, que me deixa sem fôlego. Se a senhorita se olhar no espelho, irá vislumbrar bem no fundo dos seus olhos o tom exato ao qual me refiro.


Seu mais fiel,


W.L.


* * *


Setembro, 1830


Minha cara Maite,


Estou certo de que o mundo parou de girar. Não é possível que os dias se arrastem desta maneira. Anseio tanto que os ponteiros voem que se dá o efeito contrário. Já se sentiu assim?


Parece que faz um século desde que eu estive na vila. Meu único conforto até dezembro chegar é continuar a receber notícias suas. Quando avisto o mensageiro, quase o atropelo em minha afobação para saber se a senhorita me escreveu, e, sorte a minha, a senhorita sempre escreve.


Já lhe disse que é uma excelente escritora? A maneira como redige uma carta é de causar inveja a qualquer mortal, sobretudo a um aspirante a médico com pouco traquejo social.


Tenho me dedicado bastante às aulas, pois é para isto que estou aqui, mas quando estou ocioso, indo de uma aula para outra ou perambulando pelo corredor do hospital, meus pensamentos se dispersam e galopam para longe de mim, do prédio, da cidade e se prendem a uma pequena vila, agora tão querida para mim. Mal posso esperar para rever os amigos que deixei. A senhorita, em especial.


Seu,


W.L.


* * *


Dezembro, 1830


Minha cara Maite,


Minha felicidade não tem precedentes. Acabo de receber minha licença para exercer a medicina.


Finalmente posso me intitular médico. Eu lhe contarei os detalhes tão logo chegue à vila, o que deve ocorrer amanhã. Tentarei ir até sua propriedade assim que deixar as malas na casa do dr. Almeida. Se conseguir esperar tudo isso.


Seu muito ansioso e fiel,


W.L.


* * *


Dezembro, 1830


Querida Maite,


Lamento informar que não poderei cumprir a promessa que lhe fiz ainda ontem. Perdoe-me. Estava de partida quando recebi uma carta do meu pai. O pequeno Felipe, o caçula do meu irmão mais velho,


Saulo, caiu doente. Eles temem se tratar de tifo. Estou a caminho de lá para tentar ajudar como puder. Se posso lhe pedir qualquer coisa, é que reze por Felipe.


Seu,


W.L.


* * *


Janeiro, 1831


Querida Maite,


Estou absolutamente certo de que não existe alma mais bondosa nesta Terra do que a senhorita. Felipe passa bem e ficou muito contente com o livro que a senhorita enviou. Li O Barba Azul para ele todo fim de noite, e, como consequência, ele agora sonha com uma espada e está decidido a se mudar para um castelo. Acho que este é o sonho de todo menino de sete anos.


Graças ao bom Deus, não era tifo, mas uma indisposição estomacal severa, que, sinto informar, acometeu a todos na casa, inclusive a mim. O pior parece ter passado, e todos nos recuperamos bem.


Como pode imaginar, as Festas foram um tanto desanimadas este ano, à base de sopas, chás e muita reclamação pela falta de sobremesa da parte das crianças e, admito, um tanto envergonhado de minha parte também. Meu único consolo é saber que a senhorita desfrutou de momentos felizes com sua família.


E que notícia esplêndida saber que sua sobrinha nasceu. Ser tio ou tia é um maravilhoso presente, não?


Uma pena que eu ainda não conheça sua sobrinha.


Marina parece ser adorável por sua descrição.


Preciso dizer que suas cartas me alegram o coração.


Mesmo quando eu me sentia como se um cavalo sapateasse sobre meu estômago, me peguei sorrindo enquanto as lia. Apesar de distante, sou capaz de vislumbrar seu sorriso, com as adoráveis covinhas a lhe adornar as bochechas, enquanto se senta para me escrever. Seria atrevimento se eu dissesse que sinto muita saudade da senhorita?


Caso sua resposta seja afirmativa, terei de alegar que o delírio da febre me fez escrever algo tão impróprio.


Mas, no caso de sua resposta ser negativa, então, minha doce Maite, me permita dizer que sonho com o momento de reencontrá-la desde que a deixei, no ano passado. Esse foi o meu desejo de Natal. De Ano-


Novo. Da semana passada, de hoje, de amanhã, e continuará sendo até que eu a encontre outra vez.


Sempre seu,


W.L.


Janeiro de 1831 já chegava ao fim quando nosso reencontro aconteceu. Eu havia fantasiado aquele momento tantas vezes. Não era nada muito elaborado: ele se declararia, então sua boca se colaria à minha e... minha fantasia terminava aí, já que eu não tinha conhecimento do assunto para poder dar continuidade aos devaneios.


Obviamente, nada ocorreu como eu tinha imaginado.


Era uma tarde quente, e Marina chorava copiosamente. Enquanto eu perambulava pela casa com ela nos braços, me espantava que um ser humano de apenas vinte dias pudesse gritar com tanta estridência.


Christopher se orgulhava disso, é claro. Ele tinha descido até o estábulo para verificar uma das éguas que havia vendido. Dulce fora com ele, já que a filha estava dormindo e tinha acabado de mamar. Mas, ao que tudo indicava, Marina acordara faminta.


— Querida, aguente só mais um pouquinho — falei ao chegar à sala. — Sua mamãe deve voltar a qualquer momento.


Ela ficou em silêncio por um instante, os olhinhos úmidos reluzindo no rosto rosado. Suspirei de alívio. No entanto, fui precipitada; Marina estava apenas tomando fôlego. O grito que explodiu de seu pequeno corpo trovejou pela casa.


— Oh, Nina, por favor! Sabe que a titia não suporta vê-la chorar. Por favor, Nina. — Em completo desespero, comecei a cantarolar na esperança de que ela parasse antes que explodisse um dos pulmões. — Frère Jacques, frère Jacques, dormez-vous? Dormez-vous? Sonnez les matines! Sonnez les matines!


Din, dan, don. Din, dan...


Quando girei, ficando de frente para a porta, eu estaquei. William estava sob o batente, o chapéu na mão, encarando-me. Segurei Marina com mais força, pois meus joelhos fraquejaram e meu coração ameaçou pular pela boca.


— Eu anunciei minha presença — ele sorriu largamente —, mas as senhoritas não me ouviram.


Estava ainda mais bonito do que eu me lembrava. Sua pele parecia mais dourada e seu rosto havia ganhado definição, revelando malares fortes e um queixo marcante. Os cabelos haviam crescido um pouco, lhe caindo quase nos olhos.


Ele chegou mais perto, ficando a um passo de distância, o olhar escrutinando meu rosto, como que para se assegurar de que tudo estava como ele havia deixado. Vê-lo depois de tanto tempo apenas confirmou o que eu já sabia: suas cartas haviam feito com que eu me apaixonasse.


— Olá — disse em voz baixa, os olhos atrelados aos meus, os cantos da boca elevados.


— Olá — sussurrei, e ainda assim minha voz tremeu.


O grito de Marina me sobressaltou, quebrando o encantamento. William admirou a menina que berrava


em meus braços.


— Então esta é a srta. Marina Ukermann. — Ele tocou de leve a pequena bochecha. — Linda, como você havia dito.


— E faminta. Não consigo acalmá-la.


— Posso? — Ele indicou a bebezinha.


Fiz que sim.


Deixando o chapéu sobre o sofá, William estendeu os braços para pegá-la. Ao levar a mão sob o corpinho de Nina, seus dedos tocaram os meus, uma carícia rápida, mas que produziu um efeito devastador. Uma faísca percorreu meu corpo inteiro naquele precioso segundo, a mesma centelha que vi cintilar em seus olhos iridescentes.


Ele aninhou Marina de encontro ao peito com muita habilidade. O bebê parou de chorar por um instante, avaliando o colo novo, mas voltou a gritar.


— Ah, pequena, eu a compreendo — ele falou, calmamente. — Quando estou com fome também desejo cair em prantos. Aproveite enquanto pode. Não vai tardar para que digam que chorar de fome é deselegante. Como médico, eu diria que estão errados. A fome mexe com o humor de uma pessoa. Você não faz por mal.


Marina deu mais alguns gritinhos, mas a voz de William, calma e contida, despertou sua curiosidade.


— Creio que a guerra tenda a ser tão violenta por causa da fome — prosseguiu ele. — Os soldados ficam mal alimentados nos acampamentos e saem brandindo suas armas como selvagens. Eu tenho certeza de que, se estivessem com o estômago cheio, prefeririam sentar e resolver tudo civilizadamente. É o que eu recomendaria. A senhorita irá me dar razão assim que esta barriguinha estiver cheia de leite. — Seu indicador brincou com o pequeno abdome arredondado.


Abençoadamente, Marina parou de chorar. Ora, veja só!


— O senhor tem muito jeito com crianças.


Ele ergueu um dos ombros.


— Quando se está cercado de pequenos, é melhor aprender a lidar com eles antes que o enlouqueçam.


— Como estão seus sobrinhos?


— Famintos também. — Me mostrou um meio sorriso que fez meu coração dar uma pirueta. — Parece que querem recuperar em um só dia o peso perdido durante a indisposição. Não param de...


— Maite, eu tive a impressão de que ouvi Nina chorar... — Dulce irrompeu na sala, apressada, e se deteve brevemente ao avistar o rapaz com sua filha nos braços. — William! Você voltou!


— Sra. Ukermann. — Ele fez uma mesura curta. — Acabei de ser apresentado a sua filha. É uma linda criança.


A linda criança, ao ouvir a voz da mãe, abriu a boca e soltou o grito mais agudo que a garganta de um ser humano de menos de um mês de idade é capaz de produzir.


Dulce correu para pegá-la.


— Você devia estar dormindo, mocinha. Não é possível que tenha fome o tempo todo.


A menina se agitou em seus braços, virando a cabeça e a esfregando no busto da mãe.


Dulce riu.


— Está bem. Vamos resolver isso logo. — Olhando para mim, ela disse: — Valeu por tomar conta dela. E desculpa, William, mas eu preciso cuidar desta esganada.


— Por favor, não se detenha por mim, sra. Ukermann. Teremos outras oportunidades para conversar.


Ficarei na vila por um bom tempo.


Um bom tempo. Oh, eu queria dançar de alegria!


Quando William e eu nos vimos a sós, eu me sentia trêmula, excitada, ansiosa e tantas outras coisas que pensei que poderia sair voando a qualquer instante.


— O senhor não quer se sentar? — Indiquei o sofá.


Ele fez que sim e foi se acomodar no sofá grande. No entanto, ao levantar o chapéu, pegou alguma coisa sob ele e se virou para mim.


— Eu... trouxe algo para a senhorita. — Me estendeu um pacote, timidamente. — Comprei antes de deixar a cidade, quando pensei que a veria no Natal.


— Não deveria ter feito isso — falei, tocada, pegando o pacotinho.


— Não se anime muito. Não é grande coisa.


Desembrulhei o presente rapidamente e me deparei com a mais linda caixinha de doces. Era coberta por um delicado bordado dourado e castanho, arrematado por pequeninas pérolas que harmonizavam com o cetim rosado que cobria o restante da caixa. O vidro da tampa protegia o tesouro: perfeitos quadradinhos de caramelo. Abri a caixinha, e o perfume adocicado me chegou ao nariz.


— Como sabe que eu adoro caramelo? — Nunca mencionei isso nas cartas.


— Não sabia. — Estudando os doces, ele escolheu um deles, que me pareceu o mais apetitoso, e o levantou no ar, me olhando fixo. — Abra a boca para mim.


Eu tinha quase certeza de que não devia atender a seu pedido. Não parecia algo aceitável, pelas regras que conduziam a vida de uma moça solteira. Mas o caramelo... realmente — realmente! — parecia muito gostoso. Ainda mais levando em consideração a maneira como me era oferecido. Seria muito rude recusar.


Entreabri a boca levemente.


— Abra um pouco mais — pediu ele, com a voz rouca.


Assim que atendi a seu pedido, ele depositou o quadradinho em minha língua. A doçura do caramelo não se comparou ao roçar de seus dedos em meus lábios. Não foi intencional. Ao menos eu achei que não, mas percebi que nós dois ficamos imóveis.


O doce derreteu em minha boca, enviando sensações de prazer por todo o meu corpo. Ou poderia ser efeito do toque de William. Eu estava confusa.


— Maite... — Sua voz rouca me causou arrepios. Está certo, o prazer vinha do toque dele. — Há muito tempo que venho tentando encontrar as palavras certas para... — Ele se interrompeu e olhou para a porta. No instante seguinte, estava a cinco passos de distância.


Lancei a William um olhar questionador, mas ele apenas balançou a cabeça no mesmo instante em que Chistopher colocava os pés na sala.


Ah. Meu coração batia tão rápido, ansioso, implorando para saber como aquela frase terminaria, que eu não tinha ouvido meu irmão se aproximar.


Christopher estava um pouco desalinhado, com a gravata pendendo do bolso do paletó e um pouco de terra nas botas. Parou assim que viu William.


— Sr. Levy. Ou agora devo chamá-lo de doutor?


— Creio que primeiro precise conseguir alguns pacientes para merecer essa nomenclatura. Como tem passado, sr.Uckermann?


— Muito bem. Não sabia que tinha voltado. Quando chegou à vila?


— Hoje. Faz... meia hora — contou, sem jeito.


Meu irmão fechou a cara.


— E, naturalmente, o senhor preferiu visitar minha irmã em vez de desfazer as malas. — Christopher coçou a nuca. — Isso vai acontecer com frequência, não vai?


Enrubescendo, Lucas assentiu, com firmeza. Meu irmão murmurou baixinho algo que me soou como “por todos os infernos”, mas posso ter me enganado.


— Que alegria. Se me derem licença. — Christopher saiu pisando duro.


— Tenho a impressão de que ele não ficou tão contente assim — William comentou, achando graça.


Precisei me acomodar no sofá: minhas pernas e meu coração não aguentavam tanta agitação. William se sentou também, no mesmo sofá, tão perto que, se eu estendesse o braço, poderia tocar seu ombro.


— Srta. Maite — ele recomeçou, os olhos intensos e profundos. — Desde que deixei a vila, em maio passado, tudo o que faço é pensar...


— Querida Maite! — Madalena passou pela porta, com as bochechas afogueadas. Tinha uma pilha de roupas sujas nos braços e a touca torta. — Por que não avisou que tinha visita? Como vai, sr. Levy? Não sabia que o senhor estava na casa. O patrão acabou de me contar.


— Cheguei faz pouco. Como vai, senhora?


— Bem. Muito bem. Com licença. — Ela contornou a mesa e ficou olhando para o espaço vago entre nós. Lucas chegou mais para o lado a fim de que ela ocupasse o lugar. Ajeitando a pilha a seus pés, Madalena alisou a saia e endireitou a touca, olhando de mim para ele. — Vamos, podem continuar.


Finjam que eu não estou aqui.


Madalena nunca agira assim antes. Na verdade, eu não me lembrava de alguma vez ter visto a mulher se sentar naquele sofá. Sem entender o que estava acontecendo — e porque um de meus culotes estava sobre a pilha de roupas —, sugeri:


— Sra. Madalena, por gentileza, poderia preparar um lanche para o nosso convidado?


— Infelizmente não posso, senhorita. Ordens do seu irmão.


— Christopher não quer que eu sirva um refresco para a visita? — perguntei, confusa.


— Ah, imagino que ele não se importaria. O que ele não quer é que a senhorita fique a sós com a visita. O sr. Gomes deve aparecer daqui a pouco. Portanto, finjam que eu não estou aqui.


William me olhou com um horror crescente, os olhos tão esbugalhados que tive de conter o riso. Mas fracassei. A risada grave de William engrossou a minha.


— O que é tão engraçado? — Madalena quis saber, olhando de mim para ele.


— Nada, senhora — William disse, entre risos. — Realmente nada. Se rio agora, é por puro desespero, acredite.


Ela continuou olhando para ele, a testa encrespada, até que desistiu de tentar entender, cruzando as mãos sobre o avental.


— Bem, não importa. Podem rir quanto quiserem. Eu não irei a parte alguma.


E não foi. Nem naquela tarde, nem em todas as outras. O que quer que William quisesse discutir comigo ficou suspenso, pois não tive um único segundo a sós com ele durante semanas, que logo se transformaram em meses. Quando vi, o ano quase chegava ao fim.


Conseguimos ter um instante de privacidade na noite de 4 de novembro de 1831: aquela terrível noite que comemorava meu décimo sétimo aniversário, quando toda a minha vida mudou.



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Autor(a): Fer Linhares

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 32



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  • poly_ Postado em 13/09/2019 - 14:11:41

    Desculpa a demora pra comentar, tô com muitos trabalhos, mas finalmente consegui vir aqui. E Simmm, posta a continuação, vou adorar. Bjuss!!!

  • poly_ Postado em 05/09/2019 - 12:28:41

    Menina quem imaginaria que era o Matias? Fiquei pasma. Nem acredito que tá acabando, vou sentir muita falta. Depois desse vc podia fazer uma adaptação Levyrroni do livro A Lady de Lyon, tô louquinha pra ler esse livro, dizem que é muito bom. Bjuss!!!

    • Fer Linhares Postado em 07/09/2019 - 19:22:35

      Vou ler esse livro, assim que eu terminar eu posto, bjss ;)

  • tehhlevyrroni Postado em 02/09/2019 - 11:58:23

    continua amo esse livro e vou amar mais ainda adaptado para Levyrroni

    • Fer Linhares Postado em 03/09/2019 - 20:09:23

      Continuando linda, bjss ;)

  • poly_ Postado em 31/08/2019 - 00:27:37

    Certeza q é o Duarte q fez isso, esse nojento. Mas tenho fé que o Will vai salva-la, tomara que ele consiga e ninguém fique ferido. Q momento fofo deles dois, amei. Continuaaa

    • Fer Linhares Postado em 31/08/2019 - 11:40:07

      Eles precisavam de um tempo só pra eles bjss ;)

  • poly_ Postado em 30/08/2019 - 13:02:45

    Aí mds, posso bater no William? Kkkkkk Continuaaaa

    • Fer Linhares Postado em 30/08/2019 - 17:02:44

      Pode kkk , me chama pra ajudar tbm kkk bjs ;)

  • poly_ Postado em 27/08/2019 - 23:50:45

    Tomara que eles sentem e se resolvam, e q Maite fale logo a verdade. Continuaaa

    • Fer Linhares Postado em 30/08/2019 - 11:17:06

      Do jeito que eles são, duvido que eles se resolvam calmamente kkk bjs ;)

  • poly_ Postado em 27/08/2019 - 15:26:50

    Aí q ódio de td mundo, da Maite por ser inocente ao ponto de ir atrás do homem, do William por ser um teimoso e principalmente desse Alex. Continuaaa

  • poly_ Postado em 26/08/2019 - 22:19:08

    Não vejo a hora de saber o que vai acontecer, parou na melhor parte. Continuaaaa

    • Fer Linhares Postado em 26/08/2019 - 23:53:59

      Do próximo capítulo em diante as coisas vão começar a esquentar, amanhã eu volto a postar, bjsss ;)

  • poly_ Postado em 26/08/2019 - 01:05:46

    Tô amando mulher, continuaaa (OBS: Ri demais com a briga do William com o irmão KKKKKKKKK)

  • poly_ Postado em 24/08/2019 - 13:34:10

    Ahh não acredito que Berta interrompeu esse momento. Pelo menos já estamos tendo um sinal de redenção né. Continuaa

    • Fer Linhares Postado em 25/08/2019 - 01:13:21

      Berta não e o problema agr kk, tem coisa ainda pra acontecer bjs ;)


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