Fanfics Brasil - Aluna Transferida Royal Blood

Fanfic: Royal Blood | Tema: Light Novel


Capítulo: Aluna Transferida

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Uma voz incessante chamava meu nome, meu corpo inteiro tremia e eu tinha a sensação de estar totalmente desprotegido, como um recém-nascido retirado do ventre da mãe. Alguma profecia em forma de sonho? Não, apenas minha irmã me acordando. Bianca Scarlet. Cabelos azuis - isso parece normal por aqui -, olhos negros, um corpo perfeito de pré-adolescente em crescimento, a mente de um gênio político, as pessoas diziam que ela era um perfeito espelho do meu pai, mas em corpo de garotinha. Diziam o mesmo de mim, mas no caso inverta pai por mãe. Assim como Bianca herdou a aparência e personalidade do meu pai, eu herdei os cabelos escarlates da minha mãe. Eu me refiro ao vermelho como escarlate porque é assim que as pessoas chamam minha mãe. Ela é a Rainha Escarlate e não Rainha Vermelha, logo o vermelho do corpo dela é escarlate e não vermelho. Na boa, qual a diferença? O ponto é que somos ruivos. As pessoas pensam que o olhar dela é escarlate também, mas eu sei que são castanhos como o meu, ela usa lentes pra incorporar o personagem. As pessoas também nos acham parecidos em personalidade, com olhares frios e enigmáticos, dizem que nunca sabem o que estamos pensando. Talvez eu fosse assim quando era mais novo, mas hoje sou apenas um cara normal. A maioria dos caras da minha idade ficam desesperados por algo pra mudar a vida deles pelo avesso, algum superpoder extraordinário, alguma viagem no tempo ou alguma garota misteriosa, às vezes isso vem tudo de uma vez. Mas esse não é o meu caso, tudo o que eu quero é a vida normal de um humano normal. As pessoas pensem como seria foda ter algum dom ou habilidade que os tornasse especiais, mas às vezes ser normal já é algo de especial. É tudo uma questão de ponto de vista. Meu nome é Pietro Scarlet e mesmo que eu tente negar isso, eu não sou apenas um humano normal, eu sou um Thaumaturgo.


Os Thaumaturgos são humanos como qualquer outro, mas com o diferencial do nosso Geschenk, o nosso dom, algo que nos separa de humanos normais. O Geschenk pode ser classificado de três maneiras: Korpers, aqueles com habilidades que alteram o corpo do thaumaturgo, deixando ele mais forte ou mais veloz, por exemplo; Geist, aqueles com habilidades que permitem a manipulação de coisas inanimadas, como a manipulação de elementos ou telecinese; E os Unterwerfungs, aqueles que conseguem exercer influência sobre a vida e mente dos outros seres vivos, eles são sem dúvidas os mais fortes e perigosos, eu sei por que minha irmãzinha é um deles. Só pra saciar os curiosos, eu sou um Korper. Nós, thaumaturgos surgimos e crescemos nos escondendo dos humanos normais enquanto éramos vigiados de perto pelo Vaticano. Com o tempo nos tínhamos nossa própria civilização, oculta dos humanos normais e foi quando alguns problemas começaram a surgir, enquanto alguns thaumaturgos procriavam com outros thaumaturgos, alguns ainda tinham relações com humanos, afinal isso nunca foi tratado com um tabu, mas sim como algo normal.


A questão foi que cerca de quarenta anos atrás os de “Puro Sangue” conhecidos como Vollblutpferds iniciaram uma guerra para exterminar os “Mestiços“, denominados de Halbbluts. Algo semelhante ao Holocausto, mas com os dois lados combatentes, uma guerra cuja “humanidade normal“ jamais ficou sabendo. Essa guerra acabou cerca de quinze anos atrás quando certa pessoa deu as caras, ela era tão poderosa que podia lutar contra qualquer um dos exércitos sozinha, na realidade ela poderia enfrentar os dois exércitos ao mesmo tempo. Seria uma vitória esmagadora para o lado que ela escolhesse, mas ela acabou por não escolher lado nenhum, apenas subjugou ambos e fez seu império a seu bel-prazer. Tornando os Vollblutpferds como a nobreza e os Halbbluts como cidadãos comuns, essa pessoa finalmente unificou os Thaumaturgos. Essa pessoa, conhecida como minha mãe.


Eu poderia ser o filhinho mimado tratado como príncipe desde criança, mas eu recusei ser o herdeiro da coroa assim que tive oportunidade, e quando digo “oportunidade“ me refiro ao nascimento da minha irmã. É claro que seria ótimo viver uma vida de luxo, foder com qualquer garota no reino querendo ser rainha, ser adorado pelo povo como o Rei Escarlate e etc., mas é nesse ponto que você percebe o lado bom de ser um cara normal, eu não gosto desse tipo de atenção, eu não gosto das coisas fáceis, poder ter qualquer garota não se compara a emoção de conquistar uma. Foi ai que deixei toda minha nobreza de lado e me tornei um simples estudante do ensino médio, apenas um cara qualquer na multidão, mas infelizmente como podem perceber eu nasci pra ser a merda do protagonista. Ahhhh Bianca continua me enchendo pra levantar, se tem um lado ruim de ser um cara normal é acordar cedo num dia normal, mas o que?!? Ela subiu na minha cama? Agora vai começar a sessão de joelhadas aéreas, ela é ótima nesse golpe, opa, hoje temos calcinha preta de renda.


 


*


 


“Bom dia maninho“ foram suas primeiras palavras dela depois que me levantei.


“Bom dia“.


Fui ao banheiro me lavar e quando desci o café já estava pronto. Bianca era ótima na cozinha, na verdade é difícil apontar os defeitos dela, se ela por acaso tem, talvez o fato que gosta de ser mimada, mas eu adoro fazer isso. Ela seria uma ótima esposa, mas infelizmente ela é minha irmã...


 


*


Chegando à sala de aula havia um Enzo esperando por mim. Parecia uma princesa emocionada por encontrar o heroi. Enzo Amore, também conhecido como meu algoz, foi mandado pelo Vaticano para me vigiar, e como é chato ter um stalker andando por ai acabei fazendo dele meu melhor amigo. Se eu perder o controle do meu poder ou algo do gênero, ele tem um punhal cravado no meu coração e quando falo isso não estou me referindo a um sentido figurado. Ele é meu melhor amigo e justamente por isso eu sei que ele o faria de bom coração.


“Soube da novidade?”


“Desde quando você virou uma garotinha fofoqueira?” Ops, acho que as garotinhas fofoqueiras da sala não gostaram do que falei.


“Temos uma aluna transferida no 2-C”.


“Ela é bonita?”


“Uma potencial garota mais linda do colégio, é o que dizem”.


“Isso é um sacrilégio”.  Não existe garota mais linda que a minha garota. Luna Gaigher. Qualquer garota que pense ser mais linda que ela é apenas uma vadia que não sabe seu lugar. Luna não é apenas linda, é a perfeição criada pelas mãos do homem, a dádiva divina nessa Terra sem dono, a razão do meu ser. Só existe uma garota pela qual meus olhos brilham e essa garota é Luna Gaigher. Só ela importa.


“Eu imaginava que você fosse dizer algo do tipo”


Realmente ele me conhece muito bem.


“Por sinal, sua Deusa acabou de chegar”.


Virei minha cabeça em direção à porta da sala e lá estava ela. Seus cabelos castanhos estavam presos em um rabo de cavalo com fita dourada, as mechas do seu cabelo cobriam seu olhar caloroso e seu rosto mostrou um lindo sorriso ao olhar na minha direção. Por alguns segundos senti meu coração escapando pela boca.


“Bom dia rapazes”


“B-Bom Dia” eu respondi com aquela pequena dose de vergonha.


“Bom dia Luna” - Enzo respondia normalmente enquanto acenava com a mão – “Ficou sabendo da aluna nova?”.


“Hm... Sim as meninas estavam comentando, vocês já a viram?”.


 “A única garota que me interessa é você, Luna”.


Ela não esboçou nenhuma reação escandalosa, só deu o leve sorriso de sempre, na verdade eu a fiz acabar se acostumando com minhas investidas.


“Ahh, mas eu acho que ela vai chamar a sua atenção também, Pietro”.


Enquanto Enzo falava isso ele apontou para o caderno em sua mesa, estava aberto em uma página aleatória e havia algo escrito com tinta preta, foi quando li que entendi porque Enzo teve o trabalho de virar uma garotinha fofoqueira. No caderno dizia:


“A ALUNA TRANSFERIDA É UMA THAUMATURGA”.


Hey, eu nunca virei uma garotinha fofoqueira!


 


*


 


Eu acho que demorou um pouco pra digerir a situação. Até pouco tempo atrás eu só encontrava outros Thaumaturgos em casa ou quando ia visitar minha mãe na Thaumaturgolândia cidade sede do governo dela. Os Thaumaturgos não são obrigados a se isolar da civilização “normal”, mas a maioria deles prefere viver entre seus semelhantes, existem escolas específicas pra treinar seus poderes, eles podem ser anormais livremente e vivem em segurança, entre outras vantagens, por isso é raro eles tentarem ter “uma vida normal”, eu sou um desses casos raros, e além do mais, todo Thaumaturgo que vive fora do domínio de minha mãe precisa de um exorcista do Vaticano o acompanhando e não pode utilizar os seus poderes, foi assim que eu conheci Enzo, o que significa que em pouco tempo vai ter um novo aluno transferido ou algum professor substituto. O ponto é que não encontro Thaumaturgos por ai como se encontra Pokémon selvagem no meio da grama, somos os únicos Thaumaturgos da escola e num raio de cem quilômetros a única que vai encontrar além de nós vai ser minha irmã, isso se ela estiver em casa, então existe uma questão a ser tratada, é como se a gente compartilhasse um segredo que o restante da escola não sabe, então como devo trata-la? Sermos grandes amigos? Sermos grandes amigos a tal ponto de sermos um casal? Ou devo apenas ignorá-la e fingir que não existo? Fiquei pensando nisso a aula inteira, não consegui decidir se fazia uma apresentação formal digna de um príncipe ou esperava pra observar ela de longe como um stalker. As duas opções não pareciam válidas.


Durante o almoço, Enzo e Luna perceberam a minha situação e começaram a tentar me aconselhar, mas eles não são exatamente as pessoas mais sensatas do mundo. Enquanto Enzo e eu discutíamos, Luna nos parou pra fazer uma observação.


“A Aluna transferida está olhando na nossa direção”.


 


*


 


“Como assim?” Enzo e eu nos aproximamos de Luna.


“Ela tá de olho na gente já faz uns cinco minutos”


“Como sabe que é ela?”


“As meninas comentaram da aparência dela, e além do mais eu nunca vi ela por aqui”. Faz sentido, eu acho. Enzo se afastou e perguntou enquanto olhava disfarçadamente.


“E onde ela tá?”


“Terceira mesa, da esquerda pra direita, primeira fileira, tem outras quatro garotas da com ela todas do 2-C, ela é a gótica olhando pra cá”.


Gótica? Como diabos ela chegou nessa conclusão? Tem alguma maneira tão fácil assim de se identificar? Quando eu olhei para ela entendi o porquê da conclusão de Luna. Sua pele era pálida, num tom de branco que eu não conhecia, mas era a única coisa pra contrastar a aura de trevas ao seu redor, seus olhos eram negros, seus cabelos eram negros, seu batom era negro, seu anel no dedo médio da mão direita era negro, sua tiara era negra, a sombra... Ah não, aquilo era olheira, seus brincos eram negros, CARALEO ELA NUNCA OUVIU FALAR DE REFLEXÃO DE LUZ?  Era uma estranha combinação, mas ainda era um belo rosto e de certa forma era agradável. Talvez não seja tão ruim ser o Rei Thaumaturgo, mas ela ainda não se compara a minha Luna.


“Talvez esteja interessada em alguém daqui...”.


Enzo maldito, não tente me tirar do caminho da salvação.


“Nem pense nisso, eu não vou ir pra cima de uma garota que não seja a Luna”.


“Pietro – ele me olhou seriamente – A Luna não te quer, mas ela quer o seu bem. Essa é a sua oportunidade de ser feliz”.


Olhei para Luna e para minha decepção ela sorria com o polegar levantado.


“Ver você me jogando pra cima de outras garotas me parte o coração”


“Talvez ela não esteja interessada em você como amante, mas sim como uma espécie de família, afinal vocês dois são thaumaturgos”.


“Ninguém olha daquele jeito pra alguém “da família””


Enzo me interrompeu.


“Pietro... VOCÊ OLHA DAQUELE JEITO PARA SUA IRMÔ.


“N-Não é esse o caso”. Alguns segundos de silêncio ficaram no ar.


“O que você tem a perder Pietro?”


“Minha dignidade”


“Qual dignidade?”


“ASSIM VOCÊS ESTÃO DANDO IDEIAS ERRADAS AOS LEITORES”


No fim os dois não conseguiram me convencer e eu também não consegui convencer Luna a sair comigo. Eu não gosto dessa situação, mas acho que estou bem com isso, enquanto dedico todo meu amor para a Luna não preciso me preocupar com as cartas de amor no meu armário. Poder não parecer, mas mesmo não sendo do gênero harém eu sou um protagonista que é popular entre as garotas. Já dei meu primeiro beijo, infelizmente não foi com Luna. Não sou tão adulto pra chegar naquele ponto, mas não acho que esteja muito longe, pelo menos para essa ocasião quero que seja com ela. Eu não sei exatamente o que Luna pensa de mim, mas enquanto se esquiva das minhas investidas ela ainda me trata como alguém especial para ela talvez ela me conheça tão bem que sabe que eu não amo ela de verdade, assim com ela é alguém especial para mim, mesmo que o amor não seja recíproco eu ainda não posso culpa-la e me sentir magoado por isso, ela é alguém que realmente gosto.


 


*


 


Eu decidi que não iria me aproximar da aluna transferida. Eu havia decidido isso. Mas como em qualquer história clichê eu sei que vou acabar trombando com ela pelos corredores do colégio. E foi exatamente isso que aconteceu. Eu estava subindo às escadas do Bloco A ao Bloco B, ela estava saindo do banheiro feminino e voltando para o laboratório de ciências. Malditos arquitetos. Eu literalmente trombei com ela, o impacto foi tanto que ela quase me jogou de volta rolando pelas escadas, pelo visto ela come bastante proteína. A princípio não havíamos nos notado, ela continuou de pé, pediu desculpas e começou a juntar meus livros caídos no chão esse papel não está invertido? Eu me coloquei de pé e acabei olho no olho de quem eu havia decidido evitar contato. O olhar dela parecia ferver. Antes que eu pensasse minha boca soltou automaticamente um “Vo - você”, eu realmente me odeio.


“Meu nome é Pietro, você é aluna transferida certo?”


“Meu nome é Mia Blaschke, sim, sou a aluna transferida”.


“Prazer em conhecê-lo?”


“Diga por si mesmo” ao falar isso virou levemente o rosto, como uma típica tsundere.


“Isso não foi necessário”


“Humpf”


“Você estava olhando para nossa mesa durante o intervalo certo?”


Ela corou levemente.


“Não é nada que você está pensando”


“O que eu estaria pensando?”


“Não é como se eu estivesse interessada em alguém” – entendo então ela realmente tinha interesse.


“Você fica fofa fazendo essa expressão de raiva”


Atingi o ponto vital do seu espírito tsundere, não é como se eu estivesse querendo encantar ela, eu só, eu só queria saber até onde isso iria certo?


“Idiota, você quer levar alguns socos?”


“Talvez, mas acho que aqui não é lugar pra isso”.


“Seu masoquista imundo”


Isso é mentira, quero deixar bem claro que sou um Sadomasoquista, tem diferença.


“Você não está sendo muito agressiva pra uma dama?”


“Não tem problema” enquanto falava isso fez uma pose estranha com a cabeça. O que era aquilo? Um ângulo de noventa graus?


“Porque não fazemos de novo essa cena e você tenta usar outro perfil? Acho que tsundere não vai encaixar muito bem com você”.


“Okay”


 


*


 


Corte 2:


“Meu nome é Pietro, você é aluna transferida certo?”


“Meu nome é Mia Blaschke, sim, sou a aluna transferida”.


Ela continuou falando.


“É um prazer conhece-lo, Senhor Pietro”.


Sua expressão era outra, gentil e dócil, tão dócil que um diabético passaria mal.


“Isso não foi necessário”


“Não, é um prazer conhecer pessoas tão formidáveis como você”.


Fiquei um pouco envergonhado com tanta admiração.


“Vo-Você estava olhando para nossa mesa durante o intervalo certo?”


“Ahh... É bem, é que...”.


“Tudo bem se não quiser falar”


“Eu estava encantada pela beleza de vocês! É isso, eu fiquei boquiaberta com tamanha grandiosidade, jamais vi algo tão lindo na minha vida, pronto falei!” - entendo então ela realmente tinha interesse.


“Você é tão fofa Mia”


Atingi seu ponto vital, era exatamente aquilo que ela queria ouvir.


“Idiota – dessa vez foi com vergonha e não raiva -, mas quem sabe, você queira fazer aquilo?”


Caralho por essa eu não esperava, eu poderia ter sido o bom e velho protagonista clichê de comédia romântica, ficaria envergonhado e começado a gaguejar, sairia correndo ou daria algum outro jeito de fugir da situação. Mas eu não quero ser apenas mais um protagonista clichê, e isso não é uma comédia romântica. Antes de julgar minha atitude quero lembrar que sou um adolescente virgem, e embora eu preferisse a Luna, essa não é uma oportunidade que se tem todo dia.


“Talvez, mas acho que aqui não é lugar pra isso”.


“Você tem razão, vamos para algum lugar deserto”.


“Você não está sendo muito ousada pra uma dama?”


“Não tem problema” enquanto falava isso fez uma pose estranha com a cabeça. O que era aquilo? Um ângulo de noventa graus?


Comecei a andar na frente dela, mas antes que pudesse pensar em algum lugar específico tive que lidar com a facada que vinha nas minhas costas, literalmente.


Yanderes são piores ainda, não consigo entender como alguém pode gostar desse perfil, com exceção daquela Deusa Medusa Que Engoliu Um Amuleto eu não consigo ver uma personagem desse tipo ser bem construída. Não temos tanto tempo assim de gravação, não posso me dar ao luxo de ficar testando até encontrar o papel certo, o próximo precisa ser o ideal. Na verdade era esse que eu tinha em mente, talvez por gosto pessoal ou por ser algo meio clichê, mas achei que seria interessante testar alguma outra possibilidade. Tentar fugir do clichê funciona muito bem, mas às vezes é algo inevitável, e às vezes consegue realmente sair algo bom, o problema é escolher uma linha que todo mundo já usou e não fugir disso, ser uma história previsível e de fraco conteúdo, é exatamente isso que estou procurando evitar, no fim das contas, vou usar clichês como bem entender contanto que não estrague a trama.


 


*


 


Corte 3:


“Meu nome é Pietro, você é aluna transferida certo?”


“Meu nome é Mia Blaschke”


Falou quase sussurrando. Sua expressão era fria, parecia um fantasma.


“É um prazer conhece-lo?”


Sua expressão era fria, parecia um fantasma.


“Isso não foi necessário”


Sua expressão era fria, parecia um fantasma.


“Você estava olhando para nossa mesa durante o intervalo certo?”


Sua expressão mudou? Não só impressão minha, ela continuou fria como o Himalaia.


“Tudo bem se não quiser falar”


Sua expressão era fria, parecia um fantasma.


“Você é tão fofa Mia”


Atingi seu ponto vital, mas a sua expressão ainda era fria, parecendo um fantasma.


“Talvez, mas acho que aqui não é lugar pra isso”.


Sua expressão era fria, parecia um fantasma.


“Você não está sendo muito ousada pra uma dama?”


“Não tem problema” ela finalmente falou, mas ainda não esboçou nenhuma emoção, na verdade desde o começo do terceiro corte sua expressão era vazia, não havia expressão naquele rosto.


E foi perfeito, esse realmente era o papel perfeito para ela, a garota quieta que apenas fica observando, talvez eu esteja reprimindo seu poder de atuação, mas encaixou tão bem nela que não fui capaz de fazer mais alterações, daqui pra frente vou deixar tudo por conta dela. Acabo de criar uma ótima personagem, mesmo sem nenhuma fala ela consegue passar seus sentimentos com o mesmo olhar frio e rosto sem expressão que parece uma boneca com cem anos. Talvez eu tenha fugido do foco no diálogo e não tenha evoluído em nada a nossa relação, ainda somos thaumaturgos estranhos um ao outro, ainda não sei seu passado ou a razão de ficar nos observando durante o intervalo, mas com esse poder de direção e senso de criatividade acho que consigo algum trabalho em Hollywood.


 


*


 


“Investigação Completa Sr. Pietro, todas as informações foram devidamente reunidas”.


“Ótimo trabalho meu caro Enzo”


Mia Blaschke. Ela havia se apresentado com seu nome completo, isso foi suficiente pra começar uma investigação sobre seu passado. Não é algo antiético, apenas uma questão de segurança, nunca se sabe quando vai encontrar algum maníaco achando que matar o príncipe do reino é uma maneira de começar uma revolução. Enzo possui a mesma idade que eu, mas ele já é um dos membros da elite do Vaticano, ele possui autoridade suficiente pra acessar arquivos com informações confidenciais, ou seja, ele pode descobrir tudo sobre qualquer thaumaturgo.


“Obrigado pela apresentação, agora posso começar o relatório?”


“Fique a vontade”


“Seu nome é Mia Blaschke, ela nasceu na região de Hamburgo na Alemanha, seus olhos e cabelos são pretos, sua pele é branca e recentemente saiu da zona dos thaumaturgos na busca por uma vida normal”.


“Tirando o fato que ela é estrangeira, não é nenhuma informação que eu não saiba”.


“Bem, nem mesmo o Vaticano sabe muito sobre ela...”.


Como eu falei, Enzo tem meios pra descobrir tudo sobre qualquer thaumaturgo e todos os thaumaturgos são observados e catalogados de maneira extraordinária até mesmo os membros da elite como eu ou minha mãe o meu cadastro deve possuir coisas que nem eu sei sobre mim mesmo, só existe apenas uma exceção.


“... afinal, ela é uma das Três Marias”.


Embora eu soubesse que essas palavras sairiam da boca de Enzo, ainda assim a surpreendente. Todos os thaumaturgos do mundo possuem suas vidas registradas no Vaticano, só existe uma exceção, apenas três pessoas não têm suas privacidades levemente invadidas, as Três Marias. Como o nome sugere, são três garotas. Enquanto minha mãe fazia a sua “Turnê Mundial” ela encontrou três garotinhas com potencial para se tornarem em rainhas como ela (bem, foi por isso que ela começou a “turnê”) e quando me refiro a potencial estou falando de poder. Essas três garotas são tão poderosas que poderiam estrelar aquele desenho animado na cidade de Towsville. Minha mãe as adotou e treinou para se tornarem seu exército particular.


“Se ela é uma das Três Marias significa que o papa vai ser nosso novo professor?”


“Quase chegaram a esse ponto, mas precisava ser alguém do mesmo sexo pra ficar no encalço dela, então escolheram uma das mulheres mais fortes do Vaticano para essa função”.


Eu só conheço dois membros do Vaticano, Enzo Amore e Milena de Gasperi, eles são meus amigos de infância, já que antigamente não sabia o quanto de segurança era necessária para mim, o Vaticano colocou um casal de prodígios para me matar se eu fizesse algo de errado. Poderia ser ela? Bem, a Milena sem dúvidas é mais poderosa que o Enzo, na verdade a única razão de ele ainda estar aqui foi porque ela assumiu o cargo dele, mas não sei se ela é poderosa a esse ponto.


“Quem vai ser?”


“Milena de Gasperi”


“PUTA MERDA”


Isso é mal, muito mal. A Milena é uma ótima pessoa, no entanto, ela possui certos gostos “peculiares”, melhor do que tentar explicar, vou exemplificar: quando nós três tínhamos uns doze anos de idade, ela me falou que havia uma amiga dela que estava querendo namorar comigo, ao invés de simplesmente me apresentar, ela me empurrou diretamente para um encontro no meio da noite. Ela me encorajou falando que a suposta amiga estava esperando que eu fosse um cara de atitude e chegasse mostrando para o que veio. Suas palavras tocaram no fundo do meu coração e eu tomei uma coragem que deixaria qualquer protagonista de comédia romântica com inveja, eu me aproximei da garota e sem falar nada roubei um beijo dela. Foi a pior coisa que já fiz na minha vida. Não era uma garota. Era o Enzo. Vestido de Garota. Milena de alguma maneira travestiu Enzo e me trapaceou para fazer aquilo. Ela gosta de BOYSLOVER, ela não simplesmente nos fez fazer aquilo, mas gravou como recordação e passou semanas assistindo com a cara de um velho tarado vendo pornô. Ela é sem dúvidas uma ótima amiga, mas também uma ameaça para a sociedade.


“Quando ela chega?”


“Ela precisa encerrar a papelada dela dentro do Congresso, vai demorar mais ou menos uma semana”.


“Então temos uma semana pra aproveitar o que nos resta de vida”


“No seu caso seria ficar agarrado com sua irmã durante a noite?”


“Ela tem medo de dormir sozinha”


“Não, ela não tem, eu sei que você a obriga”.


“Ela gosta”


“Mesmo quando você arranca a roupa dela?”


“Você não está sabendo demais?”


“Não tente fugir da conversa”


“Bem, não é isso que chamam de amor fraternal?”


“DOENTE”


 


*


 


No fim não consegui descobrir muito sobre a vida da Mia, mas a informação de que ela era uma das Três Marias tornou as coisas mais interessantes. Nessa altura do campeonato eu não conseguia negar, ela havia chamado minha atenção, eu queria saber mais sobre ela, torna-la em uma amiga ou quem sabe algo a mais, era uma mistura de medo e empatia, era a mesma sensação de curiosidade ao assistir um filme de terror. Enquanto andava perdido nos meus pensamentos encontrei Luna. Ela é sem dúvidas o amor da minha vida, o meu anjo da guarda, a luz da minha salvação. Ela estava indo na biblioteca devolver alguns livros, aproveitei a oportunidade para mostrar meus dotes como gentleman, mas não esperava que os livros dela fossem tão pesados. Ela pode não parecer com uma postura tão delicada, mas possui muita força nos braços. Depois de entregarmos os seus livros, Luna começou a fazer uma nova seleção, enquanto eu observava em silêncio sua beleza. Por algum motivo ela podia levar mais que um livro por vez, os títulos possuíam uma boa variedade, havia dois livros de física quântica, um de química, um sobre a história das linguagens, “Dispositivos Infernais” de K.W. Jeter e “A Máquina Diferencial” de William Gibson. Eu certamente estava perdido em relação aos seus gostos e interesses e acabei encarando ela com uma cara estranha. Quando ela me viu deu um pequeno sorriso de canto de rosto e então se sentou na cadeira em minha frente colocando a pilha de livros sobre a mesa, apoiou o braço direito na mesa e inclinou levemente a cabeça olhando pra mim, eu coloquei minhas mãos entrelaçadas sobre o queixo. Incomodado com aqueles segundos de silêncio, falei o primeiro assunto que me veio à mente.


“Desde quando você gosta de Steampunk?”


“Semana passada se não me engano. Encontrei um livro do gênero por acaso enquanto pesquisava sobre a época vitoriana, foi quando comecei a pegar alguns livros do Verne”.


“E é legal?”


“Melhor do que eu esperava”


Silêncio.


Ela está tentando me evitar? Não, não é isso, acho que esse é aquele tal silêncio proporcionado quando se encontra alguém especial, sabe, quando você consegue calar a porra da boca por um minuto e confortavelmente compartilhar o silêncio. Depois de uma olhada a volta eu entendi o real motivo, nós ainda estávamos na biblioteca, o meu amor pela Luna fez com que eu me perdesse totalmente no espaço. Eu gostaria que fosse assim, mas na verdade não era isso ocupando minha cabeça.


“Você parece distante hoje Pietro”


“Estou imaginando os detalhes do nosso casamento”


“O que faz você pensar que quero me casar?”


“Você não quer?”


“Talvez, mas porque a conclusão de que é necessário um casamento?”


“Bem, quando duas pessoas se amam elas acabam se casando não é mesmo?”


“Nem sempre Pietro, casamento não significa amor mútuo”.


Ela realmente sabia do que estava falando. Quem sabe fosse experiência própria ao conviver em uma família com pro – “Não é isso Pietro”.


“Meus pais sem dúvidas sempre foram um casal apaixonado, você não pode apontar todas as origens de um pensamento para o senso comum”.


“Então o que faz você chegar a esse tipo de conclusão?”


“É um conjunto de fatores, mas basta apenas observar a realidade a nossa volta. A vida real não é um romance clássico dos anos 30, existem várias adversidades que podem separar um casal apaixonado. Mortes, traições, dívidas, guerras, esse tipo de coisa não pode ser evitado por um Deus Ex Machina. Você pode fazer várias juras de amor no auge da sua juventude, mas nada garante que daqui a dois, cinco, dez, trinta ou cinquenta anos esse amor se acabe, e você se veja preso em uma relação perpetua”.


“Nesse tipo de situação o amor nunca existiu de verdade”.


“É o que todos falam, muito bonito por sinal, mas na prática são outros quinhentos. A questão não é o amor em si, mas a convivência em si, ela é uma faca com dois gumes”.


“Faca com dois gumes?”


“Sim, ao mesmo tempo em que conviver com uma pessoa pode tornar um tédio e suportar a sua existência se torne algo irritante, conviver com uma pessoa pode criar laços ou aumentar os já existentes. Os indianos, por exemplo, seus casamentos são definidos pelos pais e eles são jogados para amarem pessoas que nem conhecem direito, mesmo que isso não pareça ser algo muito ético de se fazer, eventualmente as pessoas realmente se apaixonam, é claro que isso não é uma regra, mas é algo que acontece, sendo assim, o que exatamente define que um casamento necessite de dois amantes?”


Fiquei sem palavras, eu poderia tentar pensar em algum argumento, mas ela já havia ganhado o debate de qualquer maneira.


“Casamento nada mais é do que um status, ou uma maneira de se manter os status. É claro que ainda existem pessoas românticas, e nesses casos toda a magia é válida”.


Suas palavras eram rápidas e certeiras, me senti sendo fuzilado de forma cruel, mas ao mesmo tempo entendi porque ela nunca havia me dado uma resposta válida sobre meus sentimentos. No entanto, essa foi a brecha perfeita para agir.


“Eu acho que esse é o meu caso Luna, então, você gostaria de casar comigo?”


Eu nunca estive tão sério na minha vida, até mesmo agora não entendo como tive a coragem para falar aquilo. Investir sem preocupações acabou sendo uma maneira de se descontrair, ela não levava minhas palavras a sério, e nem mesmo eu o fazia. Mas pela primeira vez era algo sério, pela primeira vez eu fiz esse pedido de casamento com honestidade do fundo do meu coração. Ela sentiu isso. Ela corou. Ela respondeu.


“Talvez”


 


*


 


Eu recebi um talvez, não foi um sim, mas também não foi um não. A magia do desconhecido é realmente sublime. Eu sentia que tudo na minha volta estava mais feliz, as pessoas sorriam, os chafarizes jorravam arco-íris, as flores possuíam uma enorme tonalidade de cores em cada pétala, os animais e insetos cantavam alegremente, as árvores dançavam, as nuvens eram de algodão e o sol tinha o rosto de um bebê, também havia quatro figuras estranhas me seguindo falando em alguma língua morta, mas preferi ignorar. Acho que esse é o famoso “poder do amor” ou o poder de drogas alucinógenas, mas como não me lembro de ser um delinquente, então deve ser a primeira opção. A minha resposta não foi um sim eu sei disso, mas por outro lado pela primeira vez eu não recebi um não. É um progresso. (~ ‘’ ^ ‘’)~.


Bianca notou minha felicidade quando eu cheguei a casa com um sorriso maior que a minha própria cara.


“Luna te respondeu com um ‘talvez’?”


NA MOSCA.


“Você realmente consegue interpretar o que aconteceu só pela minha reação?”


“Acho que sim”


“Mas com essa reação você não deveria imaginar que fosse um encontro?”


“Se fosse um encontro com a Luna você estaria soltando fogos de artifício pela boca”


Ela tem razão. Não sei como biologicamente falando eu conseguiria fazer isso, mas eu faria. Bianca estava sentada no sofá assistindo um documentário sobre o cosmos, ainda vestida com seu uniforme, eu sentei ao lado dela e ela imediatamente baixou sua cabeça no meu colo, como um felino pedindo por carinho. Enquanto acariciava seu cabelo comecei o assunto que realmente a interessava.


“Tem uma aluna nova no colégio”


“Uma das três, eu fiquei sabendo”.


“Enzo?”


“Lembre-se que eu sou uma das principais aristocratas do Império. Esse tipo de coisa não vai escapar do meu conhecimento. Ela ficou na mesma sala que vocês?”.


“Não, caiu na sala do lado. Acho que seria meio estranho ter ela na mesma sala”.


“Ela tem algum comportamento estranho?”


“Não diria estranho, mas é que bem, ela também é uma thaumaturgo”.


“Hipócrita, não é você que vive falando que não existem diferenças entre humanos e thaumaturgos? Mas assim que chega uma thaumaturgo no seu colégio começa a ficar pensando se deve evitar ou agir naturalmente, isso é o verdadeiro racismo”.


Fiquei sem palavras, mas eu já estava acostumado com esses choques de realidade.


“Você tá certa sobre esse meu ‘racismo’, mas esse não é o principal problema”.


“Ela tem algum comportamento estranho?”


“Ela fica encarando a gente durante o intervalo, quem sabe...”.


“Quem sabe?”


“Ela tenha se apaixonado por mim?”                                 


Ela ficou encarando a TV e após refletir por alguns segundos voltou a falar.


“Não deixa de ser uma possibilidade, você não é de se jogar fora – eu vi esse riso de canto de boca –, mas você é cheio de complexos, pra você todo mundo é apaixonado por você ou trama te matar”.


“Isso é mentira”.


“Você ainda acha que é o amor da minha vida?”


Adoro quando ela banca a tsundere, poxa vida ela realmente me ama.


“Bem, pense o que quiser, de qualquer modo seria bom você se aproximar dela”.


“Porque exatamente?”


“Ter uma Maria como aliada ou inimiga? Hm... eu prefiro a primeira opção”.


“Você tem ciúmes dela?”


Fiz merda, essas palavras foram perfeitas pra acabar com o clima. Esse é um daqueles momentos que você gostaria de voltar no tempo e dar uns socos em si mesmo. É óbvio que ela tem ciúmes das Três Marias, na verdade “ciúmes” é um termo leve, o mais correto seria ódio. Quando era pequena Bianca não brincava com bonecas, ela era a boneca, a filha artificial tentando chamar a atenção da mãe natural. Nossa mãe nunca foi muito exemplar, na verdade, ela sempre nos viu muito mais como “herdeiros” do que “filhos”, nosso pai era um cara legal, mas precisou sair de casa quando Bianca chegou aos quatro anos (não me pergunte o porquê, até hoje gostaria de saber seus motivos), sem dúvidas não foi o melhor presente de aniversário pra se dar a uma criança. Ao contrário das histórias clichês a nossa mãe saiu de casa antes dele, saiu pra fazer uma viagem ao redor do mundo em oitenta dias, mas acabou sendo oito anos. Foi nessa viagem que ela encontrou suas verdadeiras filhas, conhecidas hoje como Três Marias. Enquanto nossa mãe criava garotas estranhas como fruto do seu ventre, Bianca começou a se envolver nos assuntos políticos, e quando todos perceberam ela era um prodígio com espaço garantido na realeza. Ela já seria uma princesa por ter nascido com o sangue da rainha, mas usou dos seus esforços para tomar seu lugar, com apenas dez anos ela já era 5ª Regente do Governo Thaumaturgo, Senhora dos Campos Elísios, Guardiã da Chave do Tesouro Nacional, Diretora da Prisão Perséfone, Vice-diretora do Comando Especial Thaumaturgo e conhecida mundialmente como a “Dama de Ferro”, “A Ceifadora” e “Estrela da Morte”. Poderia ficar horas listando as conquistas dela, mas posso facilmente apontar uma que ela não tem: o amor da própria mãe. O motivo é muito simples, ela não carrega o título de Maria. Alguns a consideram como a quarta Maria, mas pessoalmente é um insulto pra ela. Ela odeia as outras três.


Como um espião veterano eu assassinei o clima com sucesso. As únicas palavras que saíram da boca de Bianca foi “hum”, “Okay” e “Boa Noite” antes de dormir. Momentos de silêncio como esse não foram feitos para serem compartilhados, mas para lembrar o peso que as palavras podem ter.


No dia seguinte as coisas voltaram ao normal, depois de uma noite chorando debaixo do edredom Bianca já era novamente minha irmãzinha meiga e dengosa. Fiz o melhor possível para me redimir, nosso colégio era algumas quadras da nossa casa, no limite entre o subúrbio e a região central da cidade. Nós separávamos ao chegar ao portão de entrada, não era uma questão de vergonha, mas em questões de segundos, Bianca era rodeada pelas suas amigas de classe e eu seguia para minha sala. Nesse dia em especial encontrei Luna na entrada e começamos a conversar sobre coisas aleatórias. Agora, deixe-me lhes dar uma dica que todos sabemos: tenha cuidado ao falar sobre outra pessoa. Existe uma força sobrenatural que reina no universo, essa força faz com que toda vez que o nome de uma pessoa seja mencionado as suas probabilidades dela surgir do nada no lugar em que foi mencionada aumentam gradativamente. Não sei exatamente por onde a conversa andou, mas em certo ponto Luna tocou sobre a outra thaumaturgo do colégio, se eu iria me aproximar dela ou não.


Foi ai que a mágica aconteceu e por algum motivo Mia Blaschke estava na minha frente, vestindo nosso uniforme de maneira desajeitada, suas olheiras nítidas como nunca e seu cabelo bagunçado, obviamente era alguém que dormiu demais e se arrumou o mais rápido possível para não se atrasar. No ombro direito sua mochila, no ombro esquerdo uma capa para sua espada de kendo e na boca uma torrada.


“Vocês estavam falando de mim?” Provavelmente foi o que ela falou enquanto estava com a boca cheia.


“Posso saber o que era?”


“Engula primeiro, fica difícil fazer tradução simultânea”.


“Você não responde minha pergunta”


Seus olhos frios como o Alasca estavam fixos em mim, afinal foi da minha boca que ela havia ouvido seu nome. Aquilo parecia ser um crime abominável.


“Siga-me, por favor,”.


Eu tentei evitar ao máximo essa conversa, mas se fosse pra acontecer algo aquilo não era um local adequado e mais importante, não deveria afetar Luna. Eu poderia simplesmente perder meu tempo dando uma desculpa aleatória, tentando explicar o mal entendido, mas naquela altura o que passava na cabeça dela era que eu e Luna estávamos tramando algo ou difamando seu nome. Na verdade, eu queria ter aquela conversa, eu me sentia incomodado com aquela situação desde o começo, eu realmente era um hipócrita e racista com a própria raça e precisava confessar isso.


Fomos aos fundos da escola (eu realmente espero que ninguém tenha visto aquilo e interpretado errado), depois de alguns segundos com ela me encarando ela começou a falar.


“Então, você planeja se confessar pra mim?”


“QUE PORRA DE IDEIA É ESSA?”


 


*


 


“Bem, é sobre o fato de você ser uma thaumaturgo...”.


Naquele momento senti uma pontada no meu abdômen como se algo estivesse me perfurando, eu sempre tive uma saúde impecável, então aquela era uma péssima hora pra um imprevisto. Não cheguei a sentir dor no começo, mas o susto de uma sensação inesperada me fez dar um passo pra trás. Eu abaixei minha cabeça por impulso e nesse momento me dei conta que realmente havia algo me perfurando.


Seguindo o pedaço de madeira encontrei as mãos de Mia, foi nessa hora que me dei conta que ela havia me perfurado com a sua espada de kendo. Como diabos ela fez aquilo? Pra começar aquela porra de espada nem tem sequer uma ponta pra perfurar.


“Por quê?”


“Como sabe que eu sou uma thaumaturgo?”


?


? ?


O quê?


Como assim? Como eu sei que ela é uma thaumaturgo? Da mesma forma que você sabe sobre mim não é mesmo? Espera, isso quer dizer que ela não sabe quem eu sou? Mas eu sou o príncipe dos thaumaturges, filho da Rainha Escarlate. Quer dizer que ela não sabia que eu sabia sobre ela?


Autor, como que você não avisou ela sobre mim?


“Bem, faz parte do suspense”.


“Eu fui avisado que uma garota thaumaturgo chegaria à escola”


“Por quem? E como você sabe sobre thaumaturgos?”


Ela não sabe quem eu sou. Isso parece uma pegadinha de programa dominical.


“Pelo Vaticano, porque eu sou thaumaturgo também, caralho!”


“Você?”


“Hey é sério que você não sabe quem eu sou?” Já estou até vendo alguém correndo dos arbustos com algum microfone na mão.


“Não”.


“REALITY CRASH”.


 


*


 


“A cor dos seus cabelos... Você é o príncipe?!”.


Tarde demais, já estou chorando de vergonha.


“Sim, meu nome é Pietro Scarlet, prazer em conhecê-la”.


“Ah, é tão bom saber, eu achei que quando finalmente poderia ter uma vida normal havia sido descoberta, mas se você é você não tem problema certo?”


Ela sabia do meu estilo de vida, logo sabia que eu apenas iria ignorar seu segredo.


“Você sabe, eu também quero ser apenas uma pessoa normal, então poderia tirar essa espada de bambu do meu rim direito?”


Falando com uma cara assustada ela começou a se desculpar por ter atacado o príncipe de maneira repetitiva. Não havia nenhum problema, afinal eu posso controlar meu sangue, logo é fácil concentrar plaquetas pra uma cicatrização instantânea. Eu também posso controlar meus glóbulos brancos e anticorpos pra atacar vírus e bactérias no meu corpo, então como eu falei antes, a minha saúde é impecável.


“Então Mia, se você não sabia quem sou eu, porque ficava encarando meus amigos?”


Silêncio, mas dessa vez eu estava na ofensiva, então ela acabou se obrigando a falar.


De forma desajeitada e quase gaguejando, as suas palavras começaram a saltar de sua boca e formar a frase “Eu estou apaixonada...”.


“pelo Enzo”.


Não sei exatamente quando Enzo se tornou o nosso protagonista, na verdade ele nunca se tornou então O QUE ACONTECEU POR AQUI?


“Eu sou o protagonista, você não deveria estar apaixonada por mim?”


“Isso não é uma comédia romântica”


“Falando nisso, você não ia ser a Kuudere da história?”


“Liberdade artística”


 


*


 


Depois que os maus entendidos foram resolvidos, cada um voltou para sua sala. Quando cheguei à minha encontrei uma Luna curiosa e um Enzo tímido.


Eu não pretendia contar sobre a declaração de Mia para Enzo, mas nem era necessário. Ele esteve todo o tempo nos arbustos vendo e ouvindo tudo.


“Porque não me ajudou?”


“Achei que estaria sendo inconveniente”.


“Ela enfiou uma espada de bambu no meu abdômen”


“Não estou vendo nenhuma prova”


“O ponto não é esse, nós não somos proibidos de usar poderes fora da nossa área?”


Enzo me olhou com um tom sério.


“Ela não usou nada além de força bruta”


Qual exatamente era a força necessária pra fazer algo desse tipo? Ela havia atingido uma área não vital de maneira proposital, usando apenas da própria força pra atravessar uma madeira sem ponta no meu corpo. A ficha caiu, eu havia esquecido que ela é uma Maria, então não dá pra duvidar de nada que ela não seja capaz. Talvez isso para ela nem chegou a ser uso de força. Mas uma questão não queria calar.


“Enzo, porque você está com o rosto vermelho?”


“Talvez... ela faça o meu tipo”.


Meu melhor amigo havia encontrado um amor mútuo, eu já havia sentido o desconforto dele quando eu levantava suspeita de que ela estava afim de mim, mas não havia me ligado que ele é quem estava afim dela. E naquele momento ele ouviu da voz dela que seria correspondido. Era um golpe sujo, afinal ele não ouviu de uma maneira muito honrada, mas significava que havia encontrada a garota perfeita. Era nitidamente um amor platônico se tornado real.


Não sei exatamente se ele se declarou ou não, mas daquele dia em diante Mia Blaschke fazia parte do nosso grupo e com o tempo eles começaram a ficar mais próximos um do outro. Aquela relação também me ajudou, pois agora era eu e a Luna segurando vela, o que resultava em momentos a sós e conversas mais íntimas.


O restante da semana decorreu bem e na outra haveria uma nova aluna transferida.


Enzo não estava do meu lado pra fofocar aquilo que eu já sabia, era Milena voltando para supervisionar Mia. Eu conhecia bem aquela descrição “perfeitamente linda”, “pele de porcelana”, “cabelos louros dourados”, “olhos caramelos”... Um segundo, até onde me lembre dos olhos da Milena eles eram azuis.


A garota que entrou na minha sala não era Milena de Gasperi.


Ela era perfeitamente linda, muitos mais do que Milena ou qualquer outra garota no mundo poderia ser, sua beleza era um absurdo.


Era algo inexplicável, ela era tão impressionante que parecia um demônio.



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Autor(a): killernokto

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

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Meu nome é XYZ. Meu nome é ABC. Meu nome é fulano. Meu nome é ciclano. Meu nome é Mia Blaschke. Quando nascemos nós recebemos um nome, algo que vamos levar para o resto da vida, aquilo que vai definir quem nós somos. Você já se perguntou o que as pessoas pensam sobre o seu nome? Ele representa quem voc&e ...



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